História My Best Nightmares - Pelo visto, a nova escola já me odeia.

         - Acorda, filha! Quer chegar atrasada no seu primeiro dia de aula em Nova Iorque? Duvido que os professores daqui sejam mais tolerantes que os da sua escola antiga!

        - Que horas são? – Se não fossem seis horas em ponto, eu ia voltar a dormir!

        - São dez para as seis, pode ir despertando, mocinha! – Responde o meu pai. Eu ignoro a última parte e já vou me aconchegar para dormir mais dez sagrados minutos, mas ele diz antes que eu mova um músculo: - Querida, eu sei que você está cansada, porém quanto custa fazer um esforço para ajudar o idoso aqui? – Ele ri – É que eu tenho aquele teste para fazer e preciso chegar mais cedo!

        - Tá, mas só hoje, hein? Se eu perder mais dez minutos de sono essa semana, eu caio fora! – Cedo, enquanto ele gargalha da minha cena para sair da cama e vai se arrumar. Levanto, vou ao banheiro, troco o pijama por uma calça jeans laranja e uma blusa básica preta (nesse novo colégio, o uso do uniforme é opcional; ainda bem, eu não vou usar aquele treco horrível nem que minha vida dependa disso!) e vou para a cozinha. Meu pai está lá, já pronto. Tá, mais ou menos pronto, ele vai ter que colocar o figurino depois.

          - Bom dia, pai! – Falo pegando uma tigela de cereais e um copo de suco de morango, meu preferido – Vai rolar uma carona pro shopping hoje ou vão te prender no trabalho até mais tarde hoje?

          - Acho que vou conseguir sair no horário, mas se não der, eu te ligo. Falando nisso, vê se atende o celular quando eu preciso falar com você! Guarde seus créditos para se comunicar com o seu pai, e não uma amiguinha qualquer! – Meu pai finge estar bravo. Ele convence: sendo um ator, ele representa quase tudo; mas depois de anos convivendo com ele, eu sei que ele está se controlando para não rir.

          - Como se você não me ligasse de vez em nunca... - Reviro os olhos. Ouço a risada dele, terminamos de comer e de nos arrumar e entramos no carro.

           - Minha pequena Pipes, saiba que eu estou muito orgulhoso de você por ter conseguido entrar nessa escola rigorosa, desde pequena eu sei que você quer muito uma vaga assim – Seu sorriso desaparece e ele fica sério – Porém saiba que não me orgulho de nada que você fez mês passado. Então vê se mantém essa boca calada, e não se mete mais em confusão!

            - Desculpa, pai... Também não gostei nem um pouco das paradas que eu fiz, muito pelo contrário, eu fui uma idiota! – Sinto lágrimas nos olhos - Juro que não vou repetir os mesmos erros, ou vou tentar! Eu... – Ele me interrompe beijando minha testa. Percebo que o carro está parado e na nossa frente, a entrada do colégio.

            - Eu sei, filhinha! Por isso eu ordeno que você entre na escola nesse momento e mostre a todos que você é muito linda. Mas falta uma coisa para ficar perfeita!  – Meu pai diz. Tira o boné vermelho que estava usando e o ajeita na minha cabeça.

         - Papai... – O abraço. Seria um momento muito bonito se algum motorista que estava passando ali não estivesse com pouca paciência e buzinasse incansavelmente. – Ok, ok! Eu te amo, fui!

         Eu ainda não conhecia a escola, só sabia o nome mesmo. Quando paro em frente ao prédio principal, meu queixo cai. Acho que não era para isso, mas o colégio é imenso! Olho para o enorme prédio com janelas prateadas, uma ao lado da outra, por toda a fachada, como em edifícios comerciais. O nome da escola (BMA School), que também aparece nas outras duas construções ao lado, brilha majestosamente no último andar, como um letreiro de hotel.  O dia está meio nublado, então fica muito maneiro.   

        Entro no primeiro bloco (segundo uma plaquinha que tem do lado) e sigo em direção ao pátio. Estou com tanta coisa na cabeça que só percebo que esbarrei em alguém quando sinto uma pancada no ombro.

      - Ei, olha por onde anda! – Ouço uma garota dizer, então acho que foi nela que eu trombei. Ela me lança um olhar de desprezo.  

      - Ui, nem pede desculpa! Isso que dá ser criada na selva! – O que essa metida acabou de falar?  Raiva começou a brotar em mim. Meu pai diz que eu sou barraqueira, não consigo levar desaforo para casa; e quem sabe eu seja mesmo, não deixo as pessoas curtirem com a minha cara bem na minha frente.

     - Dá um desconto aí, sou caloura! Até parece que você nunca esbarrou em ninguém! – Eu estou pensando em falar mais, porém sinto que meu braço foi agarrado.

     - Nossa, que irritada! Se eu fosse você, parava de gritar no corredor da escola e media as palavras para falar com a filha-irmã ou sei lá o quê da diretora! – Ai, que ótimo. Mais gente viu a minha “cena” e eu vou ficar com fama de zangada.

     Quem será que me parou? Nem cheguei a ouvir a voz direito, mas pelo que pude perceber, é um garoto. Espero que seja um daqueles bem tímidos e não dos arruaceiros donos de gangues, porque senão nunca vou ficar em paz por aqui. Viro em direção a ele.

     Não pode ser. Devo estar delirando. Pisco e esfrego os olhos com força, mas nada muda.

    O que ele está fazendo aqui?

     - Lembra-se de mim, gatinha?

    Luke.