— Pode sair mais cedo hoje, Rafael. – Disse Maria, se aproximando. — Tenho bingo às nove.
Tirei minha atenção da tela.
— Bingo de novo?
Maria abaixou os óculos.
— Eu não estou velha para me divertir.
— Tem balada pra isso Dona Maria.
— Vai-te catar, moleque! – Se aproximou. – Só tem vagabundo nesses lugares.
Eu ri.
— No bingo todo mundo presta?
— Lógico. - Apontou para si. — Veja a classe de quem frequenta o bingo!
Rimos.
— Ok, Maria. Falta eu anotar os livros da sua amiguinha.
— Lívia.
— É, essa daí. - Fingi trabalhar.
— Adoro aquela pequena. - Começou Maria. - Conheci a mãe quando estava grávida dela. São idênticas.
Continuei fingindo desinteresse.
— Hm.
A velha ficou calada. Virei o rosto de a encontrei chorando baixinho.
— Tá tudo bem?
Ela abaixou os óculos e enxugou as lágrimas.
— Nada menino. Vá cuidar da sua vida. – Levantou – se em seguida. Deixando-me mergulhado em questionamentos, sobre, de que raio de lugar, Maria conhecia aquela guria.
[…]
Foi um pulo até eu chegar em casa, tomar um banho e cair...
Na cama.
— Porra Rafael! - Reclamou Marcos quando me viu no beliche. - Carlos não te deu o endereço? Dá pra ir de busão e-
O interrompi.
— Não vou.
— Não?
— Não.
Marcos bufou.
— Você vai nessa porra. Agora. - O gordo tentou puxar meu braço.
Puxei de volta.
Ele desligou a TV. Levantei e bati a cabeça na cama de cima.
— Ai. Porra.
Ele me fitou.
— Que é cacete?- Grunhi impaciente.
— Rafa, sou seu amigo e tenho que te dar uns conselhos… - Lá vem. - Você tem 23 anos, um emprego de bosta e é meio nerd. E pra fuder, é virgem.
O observei continuar. Fingindo prestar atenção.
— Vai ao Kekoisa e pega alguém, coma alguém, grave e vire homem. Prove que você é mais do que um vendedor de livros com poeira.
— É um sebo. - O corrigi, irritado.
— Foda-se. Levanta essa bunda branca daí, coloca uma roupa e some!
Bufei quando ele bateu a porta
Toda essa palhaçada parecia seleção natural. Marcos deixaria de ser meu amigo caso eu negasse ir ao Kekoisa. E eu me perguntava à necessidade de não ser mais virgem. Eu não estava afim ainda.
Amizade zuada.
O problema é sair dessa situação. Parecia, na maioria das vezes, que minha sexualidade estava sendo questionada, em cada vez que este assunto vinha à tona.
E pra tentar mudar alguma coisa, levantei do beliche.
Procurei em meu armário uma camisa. Encontrei a minha antiga dos Strokes e fui pro espelho.
— Rafael, cê tá gordo. - Me contei.
A camisa coube, com dificuldade. Coloquei a calça e encontrei na mesinha de centro o papel do Carlos.
— Volto às seis.
— Vou tirar uma foto sua e colocar de legenda: Rafa comedor! - Satirizou Pedro, quando cheguei à sala. Estavam todos os quatro jogando no Xbox.
— Que orgulho do meu branquelo!- Disse Bruno mandando beijo.
— Vão se foder.
— Rafa. - Carlos tacou uns pacotes na minha direção. Quando caíram no chão reconheci: Camisinhas.
— Já tenho as minhas.
Riram.
— Não vale camisinha de posto que você ganhou na faculdade, Rafa.- Brincou Carlos.
Virei-me pra porta e ignorei.
Enquanto eu seguia para a escadaria da república, Aline estava subindo. Bati de frente com ela.
— Boa noite.
Ela me secou.
— Ora, ora. Se não é o punheteiro virgem do Alpha. - Aline se aproximou. Seu cabelo ruivo batia em seu rosto. - Tá cheiroso hoje, bonito até.
— Eu tento. - Virei pra esquerda, a fim de descer. Ela me bloqueou.
— Que tal perder a virgindade aqui?
Titubeei. Seria bom perder o cabaço. Mas seria bom com qualquer outra mina, menos ela.
Segurei seus ombros e a joguei para o lado.
— Tenho coisas a fazer agora, Aline.
— Vem cá. - Manhou com a voz rouca, e em seguida tentou me dar um selinho. O cheiro da cerveja barata me veio ao rosto. A encostei na parede outra vez e desci. Ainda escutando ao longe:
“Você é um cabaço babaca! Volta aqui!”
— Antes cabaço do que... - Suspirei. Não havia outra coisa em minha mente, capaz de diminuir a cabacice.
Peguei um ônibus e desci na Paulista. A rodei e não encontrei a porcaria do Pub/Bar ou seja lá o que for.
Resolvi, por fim, perguntar a um vendedor ambulante.
Era noite e eu mal vi seu rosto.
— Eai cara. - O abordei.
— Boa noite.
— Sabe onde fica o Kekoisa?
Ele levantou a sobrancelha.
— O que um rapaz da sua idade faz no Kekoisa?
Finque a expressão. Não entendi o que ele quis dizer com isso.
Porém, antes que eu abrisse a boca para perguntar, ele prosseguiu.
— Fica na travessa da Brigadeiro. Lá, você entra na primeira a direita. Vai cair na Rua das Marias. Fica no 119.
Ele me contou como chegar em gestos, me deu boa noite e mesmo depois de eu agradecer, senti seus olhos queimando minhas costas. Seria o Kekoisa um lugar para gays? Ou pior, travestis? Ou pior ainda! Um monte de nerd virgem?
Não precise me matar para descobrir o que o vendedor quis dizer com aquilo por muito tempo. Os frequentadores eram em sua maioria...
Velhos.
Idosos.
60/70 e 80 anos.
Marcos filho da puta!
Queria que eu pegasse uma velha!
Ou o Carlos que era ingênuo de mais e achava que eu só teria papo com idosas.
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