História Bad Reputation - The Last Voice

Berkeley College, Nova Iorque — Estados Unidos 08h00min

Megan POV

Eu havia acabado de chegar ao colégio, apenas acenei rapidamente para Logan, que respondeu-me com um longo sorriso e em seguida seguiu para o hospital. Estava de frente para o colégio em que estudava. Eram paredes rochosas enormes envolvidas de cercas elétricas, em algumas paredes as heras naturais tomavam espaço deixando as paredes graciosas. Os dois grandes portões de ferro eram zelados pelo Senhor Wondy — o melhor porteiro do mundo. 

Passei pelos portões e cumprimentei gentilmente o Senhor Wondy, que fez questão de me abraçar tão forte que me deixou com as bochechas coradas. Já podia avistar alguns estudantes sentados nos bancos de madeira do pátio, alguns correndo, outros indo em direção aos banheiros, e alguns até discutiam entre si sobre algum assunto que não prestei muito atenção. Haley estava sentada em um dos bancos acompanhada de dois garotos — os irmãos gêmeos Rony e Ronald — que insistiam que ela fizesse seu trabalho.

— Eu preciso entregar ele hoje, por favor Haley! — Rony balançava o corpo de Haley, que estava risonha com aquela situação.

— Mas porque eu iria fazer para vocês? — Interrogou Haley.

— A gente te dá o dinheiro do nosso lanche! — Exclamou Ronald de joelhos expondo alguns dólares.

Eu consegui ver rapidamente o Rony olhar para o seu irmão com os olhos semicerrados, como se não quisesse aquilo. Eles perceberam minha risada nasal e questionaram o motivo.

— Ora, não posso rir? — Questionei — Vocês estão quase se matando para a Haley fazer um trabalho para vocês, se eu fosse ela... — Nem consegui terminar minha frase, interrompida por um dos irmãos.

— Mas não é! — Rony disse em um tom mais agressivo. 

— Por favor, me entreguem o dinheiro de vocês e eu irei fazer o trabalho. Prometo que entrego ás três da tarde. — Citou Haley passando suas leves mãos sobre o palmo de Ronald, que possuía o dinheiro. Como sempre, Haley adorava sair ganhando sobre os meninos.

— Muito obrigado Haley! — Celebraram os dois irmãos simultaneamente. Saíram alegres correndo para o corredor central do colégio.

Fiquei rindo da situação com Haley por alguns minutos e relembrando as vezes que ela saiu por cima dos meninos. Já eram oito e meia e a professora não havia chegado — eu estava comemorando com Haley , até que a antipática da coordenadora chegou com aquela sua voz fina e irritante.

— Vamos, vamos! Não quero ver vocês no pátio, para as salas! Vamos amores! — Ela berrava em seu velho tom de falsidade.

— Tudo bem Bella. — Sussurrei indo em direção a minha sala. 

Que ironia essa vida, a mulher mais feia que eu conheço se chama Bella? Nossa, coitada. Acho que ela sofria quando pequena, deveria ser uma criança gorda que não tinha amigos, devia feder e tudo mais. Não consigo passar um segundo se quer olhando para aquele sorriso todo desordenado — ela nunca deve ter conhecido um dentista —. seus cabelos cacheados mal cuidados. Ela era um pouco baixa, sua pele cafeinada deixava ela um pouco elegante. Ela poderia ser bem irritante e ter seu sorriso torto, mas ela sempre andava com ótimas roupas.

— Professor Freddie siga as meninas, elas estão sem professor em sala! — Ordenou — Vocês ai, para a sala! — Seguiu para a coordenação ordenando que todos que estivessem no pátio fossem para suas salas.

O professor Freddie é o nosso professor de história, ele é bem divertido e amigo, nossas aulas são sempre receptivas e bem humoradas, eu sempre entendo todo o assunto que ele passa. Ele leva a aula de uma forma diferenciada, deixando a gente bem à vontade, mas mantendo o respeito em sala.

— Gostei da sua roupa hoje Megan! — Elogiou-me.

— Obrigada professor, são emprestadas. — O respondi já entrando na sala e me deparando com todos conversando.

Eu amo a minha sala, nós somos uma das melhores de todo o colégio, somos inteligentes, temos facilidade em trabalhos e em gincanas, estamos sempre mais a frente de alguns e somos elogiados quase todos os dias. Por mais que nós fossemos pequenos, somos caprichosos. Estou falando isso em relação a toda a parte juvenil do colégio, porque os adolescentes daqui também são bem espertos.

— Bom dia classe! — O Senhor Freddie cumprimentou assim que entrou na sala. Em seguida, todos os alunos se direcionaram para suas carteiras e responderam o professor em um belo coro.

— Bom dia professor! — Exclamamos em coro.

Retirei meu livro e um de meus cadernos da bolsa. O professor começou a dar a sua aula, onde abordamos a história dos Estados Unidos da América. Ele falou sobre sua colonização e sobre seu desenvolvimento, passou algumas atividades — eu tinha grande facilidade em fazer atividades dessa matéria. Estávamos resolvendo as questões perfeitamente, a Haley também era muito estudiosa e tinha uma facilidade imensa. Assim que terminamos, entregamos ao professor e ajudamos algumas pessoas que tinham dúvida.

Uma hora se passou e eu já sentia o intervalo se aproximar, Haley tinha o dinheiro dos gêmeos e já havia começado a fazer o trabalho. O sinal tocou e os alunos se levantaram rapidamente e entregaram a atividade mesmo incompleta para o professor. Eu e Haley esperamos o tumulto e seguimos para o banheiro.

— Megan, como está a Emmy? — Insistiu Haley.

— Está ótima, ela só precisa de tempo para se recuperar e já já estará em casa novamente. — Respondi sem dar muitos detalhes.

— Tudo bem, te conheço e sei que não quer falar muito sobre isso. — Respeitou-me.

Haley arrumou-se em frente ao espelho do banheiro e em seguida caminhamos até o pátio, que estava cheio. Vários alunos espalhados com seus lanches em mãos, alguns nem tinham lanche, por exemplo, eu.

— Não quer nada mesmo Megan? — Haley questionava apontando para alguns salgados que estavam na lojinha do pátio.

— Não, obrigada. — Respondi dando as costas.

— Tudo bem, me espera que eu vou comprar um X-Burguer para mim. — Disse.

Fiquei apoiando meu corpo na parede vendo as pessoas passarem. Me deparei com uma das garotinhas adolescentes que haviam me xingado outro dia, me chamaram de bebê intrometida e tudo mais. Eu não ligo muito para as opiniões dos outros, mas carrego um pouco de nojo dessas garotas.

— O que foi Megan? — Perguntou Haley mordendo seu pedaço de pão gorduroso.

— Aquelas garotas lá que falaram mal de mim outro dia. Elas passaram rindo, apenas isso. — Respondi.

— Não liga para elas, já já vão sair do colégio.

— Se não repetirem novamente...

Permaneci apoiada na parede do pátio enquanto Haley comia o seu lanche. Eu estava sem fome, só estava com vontade de voltar para casa e de receber notícias sobre Emmy. O Logan deixou-me aqui e não ligou para o colégio para me informar nada. Quero chegar em casa e me deparar com Rochelle e saber como está o estado da sua sobrinha. Quero realmente voltar para a casa do Logan, mas não quero avistar o filho dele. 

Eu me encontrava pensativa todo o primeiro intervalo, realmente o Logan vai me ajudar, ninguém iria cuidar de uma pessoa que não gosta assim. Ele realmente pode gostar de mim e se identificar comigo, não sei, só sei que eu sinto que ele vai me ajudar. O Logan é um homem que precisa de ajuda também, ele é muito preocupado com os outros, mas se esquece dele. Eu estava até relembrando o que escutei noite passada, ele deve ser um homem cheio de problemas.

— Onde você dormiu ontem? — Perguntou Haley atrapalhando meu pensamento.

— Na casa do Logan. — Respondi rapidamente.

— Logan? Quem é Logan? — Interrogou-me. Senti que Haley iria começar mais uma daquelas sessões de perguntas, ela sempre foi muito curiosa.

— Eu esqueci de falar sobre isso com você. — Respondi — É o dono do hospital em que minha irmã está, ele é quem está pagando todos os custos do tratamento dela, já que não temos condições. Eu estou um tempo na casa dele, ele realmente está me ajudando. 

— Mas, tem a minha casa. — Disse.

— Eu sei, eu até pensei em ficar lá, mas acho que vou causar muito prejuízo. — Menti.

— Você também vai causar prejuízo para esse Logan. — Insistiu.

— Tudo bem, vou te falar a verdade. Como você sabe, sou curiosa também. Eu escutei na noite passada o Logan falando várias coisas que não tinham nada haver. Como sou curiosa, eu quero saber mais sobre isso e para isso terei que passar um tempo lá. 

— Tudo certo, somos duas curiosas. Fiquei louca para saber mais sobre o que é isso e quem é ele, sabe que eu super te apoio nessa investigação, né? — Citou com um ar de curiosidade que estava me sufocando.

— Ha! Você é hilária Haley! — Soltei um berro um pouco alto, seguido de uma gargalhada.

— Não fica rindo, eu realmente quero saber de tudo. — Completou.

Eu já tinha aquela cena martelando em minha mente, agora ter a Haley me apoiando para saber mais sobre o Logan era o que eu precisava para despertar ainda mais meu lado curiosa. 

O dia passou rápido e as aulas dos professores foram bem cansativas, eram quase cinco da tarde e eu esperava o Logan em frente ao colégio. Alguns estudantes estavam indo em direção ao metrô, outros estavam conversando com seus pais, outros estavam entrando no ônibus escolar e alguns partiam a pé para casa. A Haley já havia indo embora e minha única companhia era os irmãos.

— Conseguimos entregar o trabalho Megan! — Sorriu Rony, sua voz soou com um tom bem alegre.

— Parabéns! Ótimo, onde está a mãe de vocês? — Questionei.

— Ela está vindo, sempre atrasada. — Ronald respondeu.

— É horrível esperar. — Disse.

— É, muitas vezes mamãe demora mesmo. — Pronunciou Ronald.

— Por que não usam o ônibus escolar? — Perguntei, um pouco curiosa para variar.

— Mamãe acha ruim, ela prefere vim buscar na frente do colégio. Ele tem medo que a gente cresça como nosso pai. — Ronald respondeu-me. Rony permanecia calado o tempo todo.

— Que pena. — Disse — Tenham um ótimo fim do dia, até amanhã garotos! — Acenei percebendo a aproximação do carro de Logan.

Os garotos acenaram enquanto eu entrava dentro do carro pela porta traseira. Logan permaneceu-se calado até sairmos da frente do meu colégio. Logan começou a me perguntar sobre o meu dia, sobre meus amigos, sobre as atividades — até parecia meu pai — me questionou se eu fui para a coordenação. Ele até me mostrou uma sacola de compras, dentro dela havia vários materiais escolares de marca.

— Obrigada Logan. — Agradeci. — Gostei desse caderno novo, a capa é muito bonita. Eu realmente estava precisando de materiais, muito obrigada.

— Nada. — Respondeu-me. Ele deslizou seus longos dedos sobre o rádio do carro e a música baixa tomava conta do espaço. 

— Belo gosto musical. Gosto do Sam Smith. — Comentei.

Lay Me Down — Uma das minhas músicas preferidas do Sam Smith — senti a música e fiquei curtindo-a enquanto Logan voltava a me perguntar como foi o meu dia. Eu estava respondendo apenas as que eu entendia — a música estava tão boa que eu nem me dei conta do que Logan estava conversando, até que ele falou sobre o hospital.

— ... O hospital ...

— Como é? O que aconteceu? — Interroguei. 

— Nada, só falei que o hospital estava bem movimentado hoje e que está tudo bem controlado. — Respondeu-me.

— Ah, tudo bem. Como vai a minha irmã?

— Está ótima, seus batimentos estão excelentes, ela respira muito bem. Seus ferimentos estão melhorando. — Ele retirou um retrato que estava sobre o banco da frente do carro e me entregou.

— O que é isso? — Questionei vendo o retrato. Eram duas imagens, uma estava meio roxa e outra mais clara, quase um tom avermelhado claro.

— São os ferimentos dos braços de Emmy. — Explicou.

— Estão melhorando, graças a Deus. — Fechei os olhos e beijei a imagem.

Senti minhas lágrimas deslizarem no meu rosto e colidirem no retrato. Me senti mais aliviada com a melhora de Emmy, eu conseguia ver eu, ela e o Logan comemorando em um jantar. Meus pelos arrepiaram-se e eu conseguia escutar de longe uma voz já reconhecida dos meus sonhos. 

"Esse é o começo da volta dela, mas também é o começo da minha ida." 

Eu fiquei tentando interpretar elas, eu não sabia quem era essa voz feminina em minha mente, eu achei que estava ficando louca, e por causa disso, não me abri com ninguém. A última vez que essa voz ecoou em minha mente foi dessa vez. Quando chegamos na casa do Logan eu desci do carro rapidamente e me direcionei ao quarto, joguei as coisas sobre a cama e fui tomar um banho, eu estava cansada demais, chega por hoje, chega por tudo. Eu tenho que saber quem é essa voz sem me abrir com ninguém, não quero as pessoas me dizendo que estou enlouquecendo.