História Dont Let Me Go - Maluquices de Ano Novo

Cinco minutos. Era o que faltava para o relógio finalmente marcar meia noite e o novo ano, tão esperado, começar. Eu deveria estar empolgada, assim como todas aquelas pessoas que se dirigiam para o enorme jardim, no fundo da casa de Liam, onde a festa de réveillon dos meninos estava acontecendo.

Mas, na verdade, eu me encontrava sentada em uma das pequenas mesinhas espalhadas pelo grande cômodo que era a sala de estar da casa, porém tudo o que se via ali era uma enorme mesa cheia de copos vazios e bandejas com comidas diversas, enquanto o chão estava todo coberto com papel laminada prateado, que de acordo com Harry, fora ideia do Niall.

A taça de champanhe que um garçom baixinho me entregou, convidando-me para assistir à queima de fogos na área externa da casa, girava em minhas mãos enquanto eu encarava a sandália branca de salto que eu usava.

Por que eu estava tão “para baixo”?

Na verdade, eu só estava entediada demais, pois eu me encontrava em uma festa onde não conhecia ninguém e minha melhor amiga tinha me jogado de lado para poder ficar com Zayn. E com os meninos tendo que dar atenção para os milhares de convidados que chegavam a cada minuto, acabei ficando ali, apenas ouvindo as músicas agitadas e pensando se Simon estaria fazendo o seu ritual de ano novo: chamar os amigos da faculdade para jogar RPG.

Quando contei para Hazel sobre o convite de Harry para festa, pensei, por um segundo, que ela subiria no teto e começaria a dançar tango, mas claro que a reação dela foi um pouco menos exagerada, mas só um pouco. E eu estava tão empolgada quanto ela, enquanto tentava fechar o zíper do meu vestido branco de renda, sem mangas, ao mesmo tempo que via Hazel se matar com a chapinha.

Mas, agora a ideia de passar a noite comendo besteiras e ouvindo cantadas de nerd dos amigos de Simon não parecia uma má ideia.

Eu estava parecendo uma velha ranzinza, mas meu nível de frustação estava ficando bem alto desde que Hazel interrompeu aquele “quase beijo” entre Harry e eu, na noite de filmes.

- Finalmente te encontrei! – A voz rouca de Harry, atrás de mim, fez minha mente sair dos pensamentos deprimentes. – Estou te procurando fazem horas.

Levantei meu rosto, dando de cara com Harry parado bem ao meu lado, segurando uma taça de champanhe igual a minha. Ele se vestia de modo simples, com uma camisa social branca com inúmeros botões abertos, deixando a mostra grande parte do seu peito, que tentei não ficar encarando muito, junto com a calça social preta e os sapatos de couro, também pretos.

- Ah, eu só estava aqui... – Mas deixei a frase morrer, pois na verdade eu não estava fazendo nada, apenas morrendo de tédio.

- Encarando uma taça de champanhe? - Ele puxa uma das cadeirinhas vazias e a coloca ao meu lado, se sentando e apoiando os braços na mesa. – O que houve, Nora? Não está gostando da festa?

- Oh, não! A festa está maravilhosa, só estou tendo um momento depressão pré-ano novo. – Digo, levando a mão até um dos colares de Harry, com forma de cruz, e começo a brincar com o mesmo, ainda sem encarar os olhos verdes do garoto que me estudava atentamente.

- Vamos lá, Nora, se anime! – Ouvi a risada rouca de Harry. – Faltam poucos minutos para a queima de fogos e todos estão lá fora, você não vai querer ficar aqui dentro trocando olhares com seu champanhe, vai?

Um sorriso involuntário se abre em meu rosto e quando percebo, estou rindo baixinho; levanto minha cabeça e olho para Harry que tinha um sorriso tão grande, que deixava visível suas covinhas.

- Tudo bem, vamos lá. – Finalmente cedo, levantando-me do banquinho e arrumando o pequeno cinto marrom que marcava minha cintura.

Vou até Harry, que já estava de pé me esperando, e engancho meu braço no dele, deixando-o que me levasse até a parte externa da casa.

- Não falei antes, mas você está linda, Nora. – Harry sussurra, empurrando a enorme porta de correr de vidro e me puxando pelo gramado, já cheio de pessoas.

Tudo que consegui fazer foi sorrir bobamente, enquanto observava a simples decoração que tinha ali. Nada muito extravagando, apenas lanternas japoneses quadradas penduradas pelas árvores baixas que nos rodeavam.

Olhando entre as milhares de pessoas que vestiam branco, consegui encontrar Hazel junto com os meninos, que pareciam estar em uma conversa animada até o momento em que nos juntamos à eles.

- Ah, que bom que Harry te encontrou! – Hazel grita, jogando os braços para o ar. – Por que você sumiu?

- Faço a mesma pergunta à você, Haz. – Digo, fuzilando-a com o olhar, mas ela apenas revira os olhos.

- Ei, Nora, vamos lá! – Niall joga seu braço sobre meus ombros e me puxa para perto de si. – A contagem regressiva já vai começar.

- Horan, acho que você não está mais dando valor aos dentes. – Louis diz, fazendo todos rirem, mas só percebi do que se tratava quando olhei para Harry, que encarava Niall com cara de poucos amigos.

Olhei para baixo, tentando conter a quentura em meu rosto.

Agradeci mentalmente quando, o som das pessoas contando animadamente do dez para baixo fez com que aquele assunto acabasse, dando lugar à Niall e a sua contagem embaralhada, resultado de alguns copos de vodca.

- Não conseguimos controlar ele hoje. – Sussurrou Liam em meio ao número cinco, me fazendo rir baixinho no quarto.

Vi Hazel pulando animadamente no um, e um coro de vozes gritou “Feliz Ano Novo!” quando o relógio finalmente marcou a chegada de um novo dia. Niall tinha me soltado e agora pulava nas costas de Zayn, gritando coisas aleatórias. Louis e Liam tinham se afastado e percebi que, eles abraçavam suas namoradas.

Hazel e Harry também se abraçavam e pulavam ao mesmo tempo, o que foi engraçado, pois a maior parte do tempo, Haz ficou com os pés distantes do chão devido à sua pouca estatura comparada com a de Harry.

Olhei para o céu quando vi os coloridos fogos de artificio tomando conta da noite escura de Londres e, atrás dos diversos telhados cor de terra, era possível enxergar a Tower Bridge iluminada com luzinhas brancas.

Fiquei assistindo aos shows de luzes enquanto as pessoas ao meu redor se abraçavam e desejavam felicidades para a novo ano. Hazel correu até onde eu estava e quase me derrubou quando envolveu-me em um abraço de urso.

- Aposto o que você quiser que esse ano vai ser o melhor de todos! – Ela berrou em meu ouvido, fazendo-me rir.

- Vai fazer seu ritual de Ano Novo? - Pergunto, abrindo um sorriso malicioso.

- Talvez. – Hazel volta seu olhar rapidamente para Zayn, que abraçava Liam. – Vou cumprimentar os outros, não apronte!

Balanço a cabeça, pensando no “ritual” de Hazel, que era praticamente ficar com um garoto antes que primeiro dia do ano acabasse, de acordo com ela dava certo, mas nunca tive vontade de colocar em prática.

Zayn e Liam vieram até onde eu estava e me abraçaram, fazendo todo um discurso sobre como as coisas iam dar certo para nós. Louis chegou gritando, de mãos dadas com sua namorada, beijou meu rosto e brindou comigo, apresentando-me Eleanor, que me abraçou. Niall, que já estava um pouco maluco, me abraçou, girando-me no ar.

- Nora, você é demais! – E depois de gritar isso, o irlandês seguiu para a próxima pessoa da sua “lista de abraços malucos de Ano Novo”.

Tentando controlar minha risada, levei a taça em minhas mãos até os lábios, deixando a bebida borbulhante descer pela minha garganta, enquanto tentava não me esquecer de ligar para papai assim que chegasse em casa.

- Feliz Ano Novo, Nora. – A voz de rouca de Harry perto do meu ouvido me fez estremecer e, olhando para o lado, vi que ele se encontrava atrás de mim.

Mas o que realmente fez meu coração sair pela boca, foi o demorado beijo que Harry depositou em meu ombro nu, fazendo um pequeno choque percorrer todo o meu corpo. Fechei meus olhos por breves segundos.

- Feliz Ano... – Mas não consegui terminar a frase, pois todo o ar dos pulmões sumiram quando senti os braços de Harry envolvendo minha cintura. Ele passou sua taça, já vazia, para a outra mão, colocando a livre sobre as minhas mãos, que deviam estar um pouco suadas naquele momento.

Meus batimentos cardíacos estavam tão acelerados, que eu provavelmente poderia ter um ataque a qualquer momento, meu cérebro gritava coisas aleatórias em minha cabeça e todo o meu corpo estava arrepiado com o contato de Harry.

- Estou... Feliz que esteja aqui. – Ele sussurrou novamente perto do meu ouvido, fazendo sua respiração quente bater na pele do meu pescoço.

Tentei falar alguma coisa, mesmo sabendo que eu gaguejaria, mas gritos chamam a minha atenção. Olho para o lado e percebo que Niall estava correndo sem a camisa em direção a piscina, coberta por velas que flutuavam sobre a água. Liam e Louis corriam atrás dele gritando coisas como “Pare agora seu irlandês maluco!” ou “Você vai acabar se matando, Niall!”.

- Pelo amor de Deus, vá ajudar seu amigo, Harry! – Hazel surge magicamente ao nosso lado, nos assustando.

Sem jeito, Harry me solta devagar, passando a mão pela nuca enquanto me lançava um pequeno sorriso de lado.

- Corra, antes que Niall acabe se afogando. – Digo, rindo enquanto via o garoto loiro saltar sobre os pequenos arbustos do jardim.

Assim que Harry se afasta, suspiro pesadamente, pensando que sempre iria ter alguma coisa que iria estragar os nossos momentos... Íntimos?

Aquela palavra parecia um pouco “forte” para mim.

- Eu vi tudinho. – Hazel cantarola, arrastando as letras ao falar.

- Você não viu nada, fique quieta, Haz. – Bufo, puxando-a pelo braço, em direção a piscina, que agora estava rodeada de pessoas que observavam Niall nadando como um criança feliz em um dia de sol na praia.

Depois de, finalmente, conseguirem tirar Niall de dentro da piscina, todo mundo voltou para dentro da casa enquanto os meninos levaram o nadador de plantão para se secar.

Músicas animadas voltaram a tocar e eu me encontrava no centro da pista, me mexendo ao som da batida, com Hazel a meu lado, pulando e balançando a cabeça como se não ouvesse amanhã.

E eu dancei pelo resto da noite. Dancei com Hazel, dancei com Louis, dancei com Zayn e dancei com Harry, mesmo o clima entre nós estando um pouco estranho.

E eu só parei quando comecei a sentir meus pés doloridos e nisso, metade das pessoas já tinham ido embora.

- Acabei de ligar para o Simon. – Hazel anuncia, enquanto eu tirava as minhas sandálias. – Ele me xingou por acordá-lo, mas já está vindo.

- Você tinha que ligar para ele as três e meia da manhã? Nós poderiam pegar um táxi. – Digo, gemendo, quando percebo que eu ficaria com aquela dor nos pés pelos próximos dias.

- Nós podemos levar vocês até em casa, acho que o Zayn não está tão bêbado assim. – Louis diz, dando de ombros.

- Não precisa, Simon é o nosso motorista particular. – Bato em Hazel ao ouvir aquilo.

- Nora, posso falar com você? - Harry pergunta, fazendo todos virarem o rosto para ele.

- Ok, galera, vamos deixar os dois sozinhos. – Grita Niall, e rapidamente todos já tinham se disperso pela casa.

- O que foi, Harry? - Agradeço mentalmente por não gaguejar.

- Bem, amanhã... – Ele pensa por alguns segundos. - ... Ou hoje, enfim! Você disse que visita o orfanato todos os sábados e eu queria saber se eu poderia ir com você hoje, queria muito ver Cassie.

- Claro que você pode ir comigo, Cassie e as outras crianças vão adorar sua visita. – Abro um sorriso e encaro seus olhos verdes.

- Ótimo, então o que você acha se eu passar para te pegar? Assim podemos ir juntos. – Era engraço ver que Harry parecia um tanto nervoso.

- Parece um boa, pelo menos não precisarei pegar o metrô. – Ouço ele rir.

- Certo, então eu te mando um mensagem, ok?

- Ok. – Fico em silêncio por um tempo, mas, sem jeito, vou até Harry e lhe dou um abraço. – Obrigada, adorei a festa.

Harry não responde, apenas sorri e, nesse momento Hazel aparece avisando que Simon já estava nos esperando lá fora. Nos despedimos dos meninos, e fiquei olhando enquanto Hazel abraçava Zayn, que lhe lançou um sorriso fofo.

Um vento frio me fez estremecer assim que passamos pelas grandes portas da casa de Liam. Não foi tão difícil encontra Simon, pois o carro dele era o único ali que não se parecia com uma Ferrari ou um Porshe.

Percebi que ele tinha saído com pressa de casa, pois usava uma regata branca, por baixo do casaco pesado de frio, e sua calça era o seu amado pijama do Star Wars, com os pequenos mestres Yoda espalhados pelo tecido.

- Tchau, meninas! – Niall gritou, enquanto corríamos em direção ao Simon, que carregava mais dois casacos de frio nas mãos.

- Desculpe acordar você, Simon. – Disse, depositando um beijo em sua bochecha gelada.

- Não tem problema. – Ela dá de ombros, ajeitando os óculos. – Trouxe blusas para vocês, pois imaginei que iriam estar congelando.

- Você é o melhor.  – Digo, entrando pela porta do passageiro.

Hazel se acomodou no banco de trás e Simon ligou o carro, saindo para rua e se afastando da casa de Liam.

- Como foi a festa? - Ele pergunta, parando em um sinal.

- Bem, mas aposto que a Nora foi a que mais aproveitou. – Hazel diz, abrindo um sorriso.

- Nem vem! – Me viro no banco. – Foi você quem sumiu a festa inteira com Zayn! Afinal, o que aconteceu?

Sabia que mesmo Hazel e Simon tendo voltado a se falar normalmente, aquele assunto ainda era um pouco arriscado, mas eu não iria aguentar até chegar em casa.

- Não aconteceu nada entre nós. – Sussurrou Hazel, mas foi o suficiente para que tanto eu quanto Simon arregalássemos os olhos, soltando um “O que?” em uníssono. – Nós apenas conversamos, e até rolou um clima, mas sei lá, ficou apenas naquilo.

- Então... – Digo, enquanto via Simon encarar Hazel pelo retrovisor.

- Então que nós somos apenas amigos. – Hazel dá de ombros, olhando pela janela do carro. – Zayn é muito legal, mas não vai rolar nada.

E o silêncio toma conta do carro, enquanto eu tentava entender o que se passava na cabeça da minha amiga, pois eu apostava todas as minhas fichas que ela iria ter alguma coisa com Zayn, devido a todas aquelas frases safadas, olhares e mensagens trocadas ao longo da semana.

Simon para em frente ao nosso prédio e, rapidamente, eu retiro o sinto e lhe dou um abraço rápido, deixando sua blusa no banco.

- Obrigada, Simon, não sei o que seria de nós sem você. – Digo, mas em vez de uma frase sacana, ele apenas dá um sorriso fraco. – Hazel, você não vem?

Vi que ela não tinha movido nem um dedo ainda e tudo aquilo estava se tornando muito estranho para mim.

- Pode ir, eu já subo, quero falar uma coisinha com o Simon. – Ela diz, tirando seu cinto e pulando para o banco onde antes eu estava.

- Certo... – Eu estava desconfiada, mas apenas olho para os dois e dou de ombros, correndo em direção a porta do prédio.

E antes de entrar para a recepção, dou uma olhada em direção ao carro e fico sem acreditar no que meus olhos estavam vendo.

Lá estavam eles, meus dois melhores amigos que viviam implicando um com o outro pelo simples fato de respirarem, se beijando.

- Ah, Hazel, você vai ter muita coisa para explicar. – Murmuro para mim mesma, enquanto um sorriso se formava em meus lábios e eu entro no elevador, ainda sem acreditar nas coisas malucas que tinham acontecido naquela noite.

Continua...