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História Pintando O Sete - Capítulo 17 - Bara - Parte 6


Escrita por: andreiakennen

Notas do Autor


* Capítulo sem revisão, minha revisora amada está com alguns problemas pessoais, então, se encontrarem erros, já sabem, apontem. ;D
Boa leitura!

Capítulo 17 - Capítulo 17 - Bara - Parte 6


 

Pintando O Sete

Revisado por Blanxe

Capítulo 17 – Bara – Parte 6

— Incrível... sua gagueira sumiu.  

O amigo de Bara soltou do punho de Hikari e voltou a se encolher na banheira, após aquela confissão vergonhosa.

Entretanto, esperava uma reação diferente de Hikari, não só o comentário sobre sua gagueira. Na verdade, ela não tinha se curado, era que em momentos de estresse conseguia se expressar sem gaguejar.

— S- só a- acontece e- em p- picos d- de estresse.

— Hm — Hikari assentiu. — É verdade. Já voltou.

— S- sim.

Hikari aproximou-se de Kinizuna e apoiou a mão na base da ofurô de madeira, mas se deteve diante do rosto afogueado que o encarava. Queria beijá-lo. Muito. Tanto que chegava doer. Principalmente depois da confissão apaixonada que recebera. Sentia seu estômago se contorcer. Mas suas mãos se apertaram na base de madeira criando um ponto de equilíbrio. Era simples fazer como Toyo e deixar-se guiar pelos instintos.

Mas e o depois como seria?

Ainda não estava certo sobre seus sentimentos. Muito menos sobre ser homossexual, como os pais, e ter que passar a vida se escondendo para não ser apontado como uma aberração e mesmo assim ser apontado pelos poucos que souberem.  

Havia muito mais em questão para que deixasse se guiar por impulsos tão levianamente. Por isso buscou respirar fundo e se controlar. Além disso, não queria encostar sua boca naquela que havia sido beijada pelo insuportável capitão da Kainan. Era possessivo e ciumento suficiente para não aceitar aquela afronta. E mesmo com a explicação de Kinizuna, se sentia traído e, por aquele fato, iria punir o rapaz deixando-o no vácuo de propósito.

Recuou.

— Não demore — declarou por fim e deu as costas para a banheira, seguindo para fora daquela área reservada.  

...

Kinizuna havia sido último a tomar banho e a jantar. Quando voltou para o quarto, os outros garotos passaram a importuná-lo por seu sumiço, principalmente Murano, que queria saber em detalhes onde ele havia se metido todo aquele tempo.

Kaneda, que não gostava de Hikari, e tomava o gerente interino como amigo do loiro, mesmo que eles não demonstrassem serem próximos, o encarou desconfiado, principalmente por ser o primeiro a notar que ele estava sem os óculos.

— F- foi um a- acidente — Kinizuna respondeu a pergunta de Kaneda sobre o que tinha acontecido com o objeto. — E- e- ele caiu na água do t- terma. A- amanhã e- eu o- o procuro. T- tenho o- outro r- reserva.

— Ah, foi por isso que demorou então, Kinizuna-kun? — observou Shino, dando aquela sugestão de resposta no lugar do gerente, a qual foi confirmada por um afirmar de cabeça vindo dele.

— Eu te ajudo a procurar amanhã — se propôs Murano, apanhando suas coisas do lado de Kaneda e indo para o lado onde estava o futon de Kinizuna.

— Aonde você vai? — Kaneda quis saber.

— Hoje não quero dormir do seu lado não, Kaneda-kun. Você solta pum — reclamou, arrancando risadas dos que ainda estavam acordados e constrangimento do próprio do colega. — Vou dormir do lado do Kinizuna. Olha a pele dele como está reluzindo, parece tão macia, convidativa, é quase certeza que cheira a perfume de bebê. E o Kinizuna-kun não faz coisas nojentas como você.

Kaneda crispou os punhos e cerrou os dentes, olhando ameaçadoramente na direção do colega que levantava acusações fedorentas sobre sua pessoa.

— Murano-temeee! Quem disse que solto pum?!

— Não precisa dizer, meu amigo, basta sentir o fedor.  

— Nossa, te trocando na cara dura, hein, Kaneda? — brincou Eichiiro e o amigo Shino apoiou com uma grande risada e outro comentário sórdido.

— Estão rompendo o relacionamento por uma coisa tão banal como gazes? — Shino também entrou na brincadeira. — O amor de vocês é mesmo fraco.   

— Pare de falar idiotices, idiotas! — estourou Kaneda, ficando com o rosto vermelho. — Vá com o diabo, Murano! Eu que não quero ficar ao lado de você, que ronca parecendo um porco!

— Como é que é?!  

Kinizuna encolheu-se e continuou mexendo em sua mochila a procura da escova de dente. Mas antes de sair do quarto notou que Murano estava mesmo acomodando o futon dele entre o seu e o de Amano.

Não quis pensar naquilo. Apenas saiu rápido ouvindo Murano pedir para que não demorasse. Acabou dando de cara com Hikari que o olhou desconfiado.

— Agora é o Murano? — o loiro o interrogou ciumento.

— Hm. E- ele c- colocou o f- futon d- do meu lado. C- com l- licença. V- vou escovar os dentes — e passou por Hikari evitando olhá-lo nos olhos.

O rapaz loiro coçou a nuca e fez um bico devido a reação evasiva de Kinizuna. Abriu a porta do dormitório e viu a discussão abrasante entre Kaneda e Murano, que estavam de lado opostos, enquanto Eichiiro e Shino parecia estarem colocando combustível na fogueira.

Amano havia colocado o travesseiro sobre a cabeça, tentando abafar o barulho para conseguir dormir. Hayate estava ausente e os demais estavam em sono pesado.

Pensou em voltar para trás, mas acabou sendo puxado sem querer para discussão.

— Olha a prova viva, né, Hikari-kun? — Murano o apontou.   

— Do que está falando, idiota?

— Eles estão me acusando de querer dormir ao lado do Kinizuna-kun porque estou com segundas intenções, mas eu disse que só dormimos ao lado dos nossos camaradas, não significa que temos algum tipo de atração gay, não é? — perguntou ele para o loiro.

Hikari estreitou os olhos para Shino e Eichiiro que abafavam risinhos debochados, enquanto Kaneda o encarava do outro lado com um olhar de cima, malicioso, como se quisesse ter certeza que o loiro conseguiria fugir daquela insinuação embaraçosa.

— Hm — afirmou simplesmente. — Pois se fosse com segundas intenções podíamos dizer que Eichiiro e Shino formam um casal, exatamente como você e o Kaneda, pois ambas as duplas não se desgrudam.

Os risinhos pararam imediatamente. Hikari, que ainda estava detido na entrada, adentrou o dormitório, mas deixou a porta corrediça entreaberta, queria acompanhar se haveria algum movimento estranho nos corredores até Kinizuna estar de volta. Depois disso puxou o travesseiro de Amano e bateu com ele na cabeça de Murano.

— Volta logo pro seu macho e deixa o Amano dormir sossegado.

— Ah, merda, Hikari! Isso doeu.

Levou outra travesseirada.

— É para doer mesmo e fale baixo, idiota. Estão todos querendo dormir, inclusive os outros hospedes. Aliás, vamos todos dormir ou o treinador vai vir até aqui e aí sim a coisa vai ficar feia para o nosso lado — disse, encerrando as discussões ao apagar a luz.

— Arigatô, Hikari-kun — agradeceu Amano, com a voz sussurrada ao receber seu travesseiro de volta, enquanto Murano continuava resmungando baixinho ao recolher seu futon e levá-lo de volta para onde estava antes.

Eichiiro e Shino também se deitaram, após se olharem estranhamente constrangidos, e ouvirem aquela afirmação de que formavam mesmo um casal. E, entrando na onda da brincadeira, colocaram a mão um no rosto do outro e interpretaram olhares apaixonados.

— Suki da[1], Shino-kun — Eichiiro declarou.

— Hm. Suki da yo, Ecchii-kun.

— Não me chame de “ecchii[2]” em uma hora dessas, perde todo romantismo, baka!

— Hai, hai. Mas importante do que isso: você está usando roupas de baixo?

— Shino-kun! E eu que sou o ecchii, né?

— Calem-se — Hikari repreendeu-os em tom baixo ao passar por eles.

Murano alojou suas coisas de volta ao lado de Kaneda.

— Você me aceita de volta, Kaneda-kun? Vamos esquecer esse assunto sobre os puns por enquanto? Diga que ainda me ama, por favor? 

— Não encoste em mim, Murano, ou vou te encher de porrada!

— Ah? Violência doméstica?

— Não somos um casal!

— Olha, lá, Shino-kun, eles não fizeram as pazes, o laço entre eles não é mesmo forte e verdadeiro como o nosso — brincou Eichiiro, enlaçando o pescoço do colega.

— Hm — assentiu ele, alisando os braços que envolviam seu pescoço. — Pior para eles, não vai ter sexo essa noite.

— Verdade.

— Eu quero sexo — reclamou Murano fazendo biquinho de emburrado com os lábios para o colega do futon ao seu lado.

— Vocês querem parar com essa gayzisse?! Está me dando ânsia de vômito! — bufou Kaneda cobrindo a cabeça. 

Os risos e as conversinhas, apesar de mais contidos e abafados, ainda continuaram por um tempo no dormitório da Nohara.  

...

Hayate estava voltando para o dormitório, mas achou melhor passar no banheiro antes, sentia seu rosto em brasa depois da conversa com a gêmea de Hikari e precisava jogar um pouco de água fria nele antes de dormir.

Acabou por enfiar a cabeça inteira embaixo da torneia. Quando a ergueu, encarando sua imagem no espelho, ouviu o barulho de descarga. Sacudiu a cabeça tirando o excesso de água e pegou um pouco de papel toalha no suporte ao lado da pia, para se recompor diante do outro hóspede que imaginara ser um estranho, foi quando notou que era Kinizuna quem estava ali e ficou um pouco mais aliviado.

— Oi, Kinizuna.

— T- Taichou-san, t- tudo bem?

— Sim. Um pouco de calor somente.

— E- entendo — comentou em aceitação e abriu a torneira ao lado de Hayate para lavar as mãos.

Apesar de calmo, Kinizuna sentia-se um tanto ansioso, estava curioso para saber se Bara havia contado sobre o beijo com Giovana para o capitão. Mas pensara ser indiscreto da sua parte perguntar algo daquele clivo de maneira aleatória. Fora que o capitão não parecia abalado, cabisbaixo, nada do que havia pensado.

Ergueu os olhos para o espelho e notou pelo reflexo que o capitão o encarava.

— T- Taichou?

— Kinizuna, pode me responder algo com sinceridade?

— E- eu?

— Sim. Um conselho, na verdade.

Kinizuna assentiu com a cabeça, mesmo achando que ele não fosse a pessoa adequada para dar conselhos para alguém, ainda mais para um veterano do terceiro ano.  

— Agora, mais do que nunca, estou pensando em me declarar para Bara — Hayate explicou, com uma calma invejável, enquanto ele próprio abalado ansioso com a notícia. — Veja, eu não queria fazer, porque achei que Bara não pudesse levar a sério. Bem... por inúmeros motivos. Não exatamente por ela não ser uma garota séria. Mas, depois de analisar um pouco mais, eu cheguei a uma conclusão contrária, baseada em alguns pontos. Posso te falar esses pontos?

— C- claro.

— Certo. Primeiro: a Bara é uma garota inteligente, dinâmica, livre de preceitos e preconceitos, porém, eu percebi que para coisas relacionadas a sentimentos que estão voltados para ela, ela é meio distraída. Então, se eu não for direto ao assunto talvez ela nunca perceba o que eu sinto de verdade. Concorda?

— C- concordo.

— Segundo ponto. Esse é mais breve. Eu penso que, se continuarmos seguindo da forma como estamos, tenho a impressão que acabarei me tornando mais um “melhor amigo” dela, porque a Bara já começou a se confidenciar comigo como se fossemos isso, sabe? Ela está me contando coisas que provavelmente ela deva contar a você e a Morita-san.

— A- acho que s- sei d- do que e- está f- falando — ele assentiu novamente, tendo quase certeza que o capitão se referia a questão do beijo.

— Então, eu estou começando a ter receio de pegar esse caminho como atalho para me aproximar dela, porque eu sei que se eu me tornar amigo de verdade da Bara, isso vai acabar se tornando um empecilho futuro para que eu possa me declarar. Além de acabar sendo uma justificativa para futura rejeição dela: “Não vou aceitar seus sentimentos porque não quero estragar a nossa amizade”. Entende como esse ponto é arriscado?

Kinizuna anuiu de novo, impressionado em como Hayate era racional àquele ponto.

— Terceiro ponto e não menos importante: eu achei que deveria esperar um tempo para poder me aproximar. Isso, para que ela não achasse que minha declaração fosse repentina ou baseada em algo supérfluo, como: “não a conhecê-la de verdade”. Porém, não deve haver regras para a forma como o amor nasce, não é? Meu sentimento não nasceu do nada. Há muito tempo estou interessado na Bara, desde que fui apresentado a ela por intermédio do Hikari. E também acho que o tempo não importa desde que eu tenha certeza do que estou sentindo. Fora que, estou no terceiro ano, eu simplesmente não posso esperar mais, pois o ano que vem estarei indo para faculdade, se eu não conseguir ingressar em nenhum curso, vou trabalhar e fazer o pré-vestibular e talvez a minha chance se perca. Eu preciso agir agora — determinou e fixou os seus olhos nos de Kinizuna. — O que acha, Kinizuna-kun?

— A- acho que s- seus p- pontos e- estão t- todos c- corretos, T- Taichou-san. E- e- eu apoio s- sua d- decisão.

— Mesmo, Kinizuna-kun? Não acha que estou pensando demais?

— N- não — ele balançou a cabeça de um lado para o outro. — A- apenas a- acredito no s- seu v- verdadeiro in- interesse p- pela B- Bara-chan. P- precisa mesmo s- se focar no q- que deseja d- de verdade c- com ela.  

O capitão abriu um grande sorriso.

— Obrigado. Era isso que eu precisava ouvir. Apoio.

Hikari estava do lado de fora, encostado na parede ao lado da porta, e acabou por ouvir toda a conversa. Tinha saído para averiguar o porquê da nova demora de Kinizuna e acabou sendo surpreendido com aquela posição do seu capitão. Não que fosse da sua conta de verdade, aquela informação apenas aumentava a sua inveja pela irmã e a possibilidade cada vez mais evidente de ela ser uma “garota normal” com relação ao amor. De poder se casar legalmente, andar em público de mãos dadas com seu futuro marido e ter filhos da forma convencional.

Desencostou-se da parede decidido a voltar para o dormitório, porém ficou no mesmo lugar ao ouvir que Hayate ainda tinha algo a dizer.

— Kinizuna, a Bara disse que te contou algo, por isso eu posso tirar essa outra dúvida também. Apesar de estar um pouco constrangido com essa ideia.

— Q- qual i- ideia, T- Taichou-san?

— Será que devo considerar a Giovana uma rival?

— P- por que e- está p- pensando nisso?  

— Bara me contou que as duas se beijaram ontem à noite no alojamento da Universidade que estão hospedadas. Você soube?

— Ah? Hm.   

Hikari arregalou os olhos e quase se engasgou com a própria saliva com o susto daquela informação, mas tentou conter a crise de tosse que quis assolá-lo para tentar ouvir os detalhes.

“Bara, sua estúpida! Por que você tem a chance de ser normal e fica querendo jogá-la pela janela? Ainda por cima com a minha ex?! Agora sim a merda daqueles boatos que eu perdi a Giovana para você vão se tornar verdadeiros!”

— Então o que acha? — Hayate voltou ao foco do que precisava saber. — É meio bobo pensar algo assim, eu sei. As duas são melhores amigas. Seria como pensar em Hikari e eu nos tornando namorados de repente. Não que seja impossível, eu acredito que pode nascer amor de uma relação de amizade. Todavia, sou daqueles que acredita que amizades verdadeiras são tão fortes quantos laços sanguíneos, por isso creio ser mais difícil de ocorrer, não impossível.

­— T- talvez não d- deva d- descartar a p- possibilidade de a G- Giovana s- ser s- sua r- rival, n- nem que s- seja algo para m- motivá-lo a agir mais d- depressa.

O capitão deu um sorriso sem graça.

— Você tem razão. Não é somente pelo o fato das duas serem amigas que não pensei em considerar a Morita como rival, mas também pensei que seria estranho considerar uma garota rival no amor. Mas, os tempos são outros afinal.

— Hm. A G- Giovana-san f- foi m- minha r- rival n- no p- passado t- também. P- por isso n- não acho que d- deva s- subestimar o p- potencial dela.

— Bem lembrado. Ela foi namorada do Hikari e foi mesmo sua rival antes. Pelo jeito, para conquistar esses gêmeos, temos como regra passar por ela, não é?   

— H- hm. E- e não se e- esqueça q- que a B- Bara-chan t- tem d- dois p- pais t- também. E- e um d- deles, o s- senhor S- Sasuke, é b- bem in- intimidador.

— Agora estou achando que você está querendo me fazer desistir, Kinizuna.

Os dois riram e Hikari revirou os olhos, desistindo de continuar ouvindo aquela conversa de “tias”. Seguiu de volta para o quarto, um tanto constrangido, principalmente por aquela insinuação de Kinizuna sobre os pais.

“Será que ele está querendo dizer que terá que enfrentar meus dois pais para ficar comigo? Era o que faltava! Só espero que você não esteja pensando que farei o papel de donzela dessa história, seu Quatro-Olhos de uma figa!”, resmungou irritado, rangendo os dentes, enquanto voltava para o dormitório pisando duro.

...

 Sayako Arai era a acadêmica responsável por aquele grupo de meninas do Colégio Nohara nas Olimpíadas de Matemática. Acompanhá-las contaria como horas complementares do seu curso.

No começo desprezou o que considerou ser uma tarefa chata. Imaginou que sua professora estava apenas dando para ela o trabalho de ser babá de um grupo de adolescentes irritantes. No entanto, acabou se surpreendendo com o quanto se envolvera naquela atividade, principalmente naquela etapa final. 

Não era somente a empolgação da disputa, as próprias participantes eram, de uma forma ou de outra, interessantes. Uma em especial tomara completamente sua atenção desde o primeiro dia em que a conhecera.

Devido aos cabelos curtos, o pijama largo que escondia seus atributos femininos, Sayako surpreendeu-se ao ver Bara no primeiro dia que fora conhecer a equipe da Nohara e deduzir erroneamente que um menino viera com o grupo e estava alojado no dormitório feminino. Mas se acalmou quando a confusão foi desfeita e Bara se apresentou como menina. Todavia, não evitou aquela vontade imensa que teve de agarrá-la.  

Tinha verdadeira obsessão por meninos fofos, baixinhos e com carinha de anjo. E, mesmo Bara sendo uma menina, não conseguiu vê-la de maneira diferente. Bara Uzumaki também contribuía para confusão, como naquele momento, em que ela vestia calça jeans, tênis, a camisa do evento de um número maior que ficava folgada em seu corpo, um crachá grande no peito, boné e a prancheta nas mãos. Era quase impossível evitar a confusão e em consequência o assédio. Toda vez que ela se aproximava, não continha a vontade de abraçá-la e a agarrava.

— Ai, Arai-san, me solta, merda! Está me apertando — Bara reclamou ao ser pega pela universitária novamente.

— Você é tão fofa. Mesmo falando coisas sujas, Bara-chan. Queria tanto adotá-la como minha irmã mais nova. Por favor, more comigo.

— Meus pais jamais permitiriam — Bara respondeu tranquilamente, tentando se soltar da universitária. — E eu vou fazer o quê morando em uma universidade?

— Mas é seu último dia, Bara-chan! Meu coração está se partindo em pequenos pedaços, não consigo parar de chorar.

— Nem tem lágrimas nos seus olhos, Arai-san! Larga de ser mentirosa.

— Senhoras e senhores, agora haverá a pausa para o almoço e voltaremos para a final — a voz do locutor anunciou, interrompendo-as.

— Terminou? Mas, já?

— Vamos, vamos, Arai-san! — Bara soltou-se do agarre da universitária e a apanhou por apenas uma das mãos, puxando-a para saída das equipes para recepcionar as meninas da Nohara. — Otsukaresama deshita! — cumprimentava uma a uma de forma empolgada.

— Obrigada, Bara-chan — Giovana sorriu na sua vez e encarou com desconfiança a moça mais velha ao lado da amiga. — E por que a Arai-san está com essa cara de choro sem lágrimas?

— Por que seria? — a própria universitária respondeu. — Porque minha querida Bara-chan vai embora hoje.

— “Sua”, “querida”? — Giovana arqueou uma das sobrancelhas. — Ainda com isso, Arai-san? Será que não entende que a Bara já tem dona.

Sayako endureceu o olhar na direção de Giovana, tornou sua postura mais ereta, e cruzou os braços sobre o busto que eram tão volumosos quanto os da adolescente.

— E essa dona seria? — desafiou.

Antes que Giovana começasse aquela discussão de novo, Bara interrompeu as duas.

— Será que dá para pararem com isso? Primeiramente, eu não sou um objeto para ter dona, estamos entendidas?

A professora de matemática que acompanhava equipe foi a última a se juntar ao grupo e tomou a palavra para si.

— Meninas, Otsukare — falou contente, por terem acabado de passar para etapa final, e, após conferir o horário no celular, anunciou: — Vamos fazer uma pausa para o almoço e aproveitar o tempo de intervalo em um passeio rápido pela cidade. Voltamos para final que será às 15h. Depois da final e da premiação, tenho uma novidade: pegaremos a estrada que passa por Nagoya e faremos uma pausa lá.

As meninas exclamaram e começaram a falar ao mesmo tempo.

— Calma, meninas, deixem eu terminar de explicar — a professora pediu e voltou a explicação. — O treinador do time de basquete nos fez um convite, ele disse que hoje haverá um festival no templo Atsuta[3] e ele levará os meninos dele para encerrarem com um momento de laser essa viagem. Achei o convite interessante visto que nossos dois grupos estão voltando para casa ao mesmo tempo. Serão duas horas de viagem e eu acho que não custa passarmos lá e nos divertirmos um pouco depois de toda essa tensão do campeonato. O que vocês acham?

As meninas ficaram paradas por um tempo processando a informação e olhando uma para as outras. Até que uma delas, que tinha ficado com o rosto ruborizado ao ouvir a novidade, declarou ansiosa:

— Será um encontro com os meninos do basquete?

Foi o estopim para empolgação explodir.

— Minha nossa, eu não trouxe uma Yukata!

— Meu Deus, os meninos do basquete!

— Ai, ai!

— Fiquei nervosa agora.

— Jamais pensei que isso poderia acontecer, estou ansiosa.

Sayako cutucou Giovana que, como ela, não pareceu nada empolgada.

— O que tem demais nesses meninos?

— Somente o fato de que o irmão gêmeo da Bara, Hikari Uzumaki, faz parte do time e é o ídolo da nossa escola.

— Bara-chan tem um irmão gêmeo?! — Arai exclamou impressionada, formando em sua mente a imagem de um menino com a mesma feição de Bara, fofo, tímido e com as bochechas rosadas. Não conseguiu se conter. — Ah, eu preciso ver isso! Eu também vou nesse festival — Sayako entrou no meio da comemoração das adolescentes. — Eu também nunca fui à Nagoya. É o melhor momento para se conhecer o lugar.

Giovana balançou a cabeça em um gesto de negação, encostou-se ao lado da amiga Bara, que apesar de contente com a notícia, não ficou tão eufórica como o restante do grupo de meninas. Simplesmente por não entender o que tinha de tão especial no time de basquete e não acreditar que eles mereciam todo esse estrelismo.  

— Né, Bara-chan? — Giovana a cutucou. — Você trouxe uma yukata?

— E por que eu traria? Nem gosto de yukatas, Gi-chan.

— Por que você não quer parecer um menino na hora que se encontrar com o Kimura-kun, não é? — respondeu Giovana como se dissesse o óbvio e finalizou com um revirar os olhos. — Na hora que estivermos passeando pela cidade, vamos providenciar uma para você.

— Mas por que isso? Para quê eu tenho que me vestir com Yukata para ver o Hayate-kun?

Giovana suspirou.

— Amiga, como você é lerda para esse tipo de coisa, meu Deus! — estapeou a própria testa. — Só está na cara que esse será o momento perfeito e se aquele capitão não for tão tapado como penso que ele não é, ele vai aproveitar essa chance sem dúvidas.   

O rosto de Bara corou por ser chamada de “lerda” e não pela parte do capitão a qual ela ainda não havia assimilado a insinuação de Giovana. Porém, antes que pudesse reclamar com a amiga, foi agarrada por Sayako, que a abraçou por trás e passou a esfregar o rosto dela no seu.  

— Quero muito um encontro com a Bara-chan e o Uzumaki-kun-kawaii!

— Ai, ai... Sinto informar, mas está criando uma imagem que não existe do meu irmão, Arai-san. E, pode, por favor, desgrudar de mim? Está me sufocando. Não consigo nem respirar direito mais!

— Arai-san, precisaremos de Yukatas — informou Giovana, puxando a universitária pela camisa. — Pode nos ajudar nas compras, por favor?

— Sim — respondeu prontamente. — Você também vai usar uma, Bara-chan?   

— Nem morta.

Giovana desenroscou os braços da universitária do pescoço da amiga e a afastou, tomando ela o braço de Bara, passando a caminhar.

— Vamos pensar nas Yukatas depois. Estou faminta. Quero comer logo, senão nossos neurônios não irão se recuperar para a final.

— Hai! — todas as meninas concordaram em coro.    

...

   Como combinado com o grupo de meninas, após o almoço elas saíram para visitar alguns pontos turísticos de Kyoto e aproveitaram para comprarem roupas para o festival.

Mesmo dizendo que não queria, Bara acabou voltando para Universidade com uma Yukata, graças a toda a pressão que recebera das demais colegas.

Por causa do passeio e das compras, as meninas quase chegaram atrasadas para etapa final das Olimpíadas, mas tiveram sorte de chegarem dentro da tolerância e por isso não foram penalizadas.

Estava no início dos primeiros problemas matemáticos quando o telefone de Bara tocou. Olhou para o visor e ao ver que era o pai, pediu licença para professora e Sayako e se afastou para atendê-lo.

— Oi, papaizinho.

— Como estão indo as coisas por aí, Bara?

— Tudo bem. Estamos na etapa final. Eu também assisti as fases anteriores do outro time e acho que ele não é páreo para o nosso.

O som de uma buzina alta, a qual anunciava o término do tempo para resolução dos problemas expostos e a exclamação eufórica, acompanhada por gritos de comemoração da equipe Nohara, fez Bara crer que haviam vencido aquele primeiro problema.

— Olha, acho que já começamos vencendo ­— Bara observou orgulhosa, voltando a falar com o pai. 

— Fico contente. Vocês voltam hoje?

— Sim. Daqui a pouco, quando terminar a final. Mas, papai, vamos fazer uma pausa em Nagoya, a professora de matemática e o treinador do time de basquete tiveram a bela ideia de juntar os grupos em um evento que vai acontecer no templo Atsuta. As meninas da equipe até me fizeram comprar uma yukata.

— Yukata? Mas você não usa yukata, Bara.

— Eu tentei dizer isso para elas, mas ninguém quis me ouvir. A Gi-chan principalmente. Disse que precisava estar bonita para o encontro com os meninos, principalmente para o capitão.

— Capitão? Que capitão? Quem é esse, Bara?

— O capitão do time de basquete, papai. O Hayate Kimura-kun.   

— Qual é o interesse desse rapaz em você?

— Como assim “interesse”? — ela arqueou a sobrancelha para o telefone. — Somos amigos, somente.  

— Desde quando você é amigo desse rapaz? Ele é como Kinizuna?

— Papai, eu entendi o que você está perguntando? Está querendo saber se o capitão é gay?

— Sim.

Bara coçou a cabeça.

— Sabe que eu não sei. Eu até consigo perceber quando os rapazes são gays. O capitão ficou todo envergonhado uma vez que viu o Hi-... — Bara deteve sua fala ao lembrar que o pai não sabia que o irmão havia se vestido de maid no festival da escola. Naquela ocasião Hikari tinha que se vestir somente de mordomo e ficou aliviada por ter percebido sua gafe antes de concluí-la.

— Bara, o que foi?

— Ah, pensei ter visto uma lagartixa andando na parede. E Branca! Lagartixas brancas são tão fofas! Então, como eu estava contanto, papai, o capitão ficou todo envergonhado quando viu o Hiro-chan vestido de maid no festival — ela mentiu.   

“Por que estou mentindo para o meu pai por causa do Hii-chan?! Que droga!”.

— Sim. Lembro. Então é isso, ele gosta do Hiroki?

— Não estou dizendo isso! — Bara retificou, sentindo algo estranho ao pensar naquela possibilidade. — Só estou dizendo que não é impossível.  

— Então por que a Giovana quer que você vá de Yukata nesse festival para se encontrar com ele?

— Eu já disse que não sei também.

— Bara, você gosta desse garoto?

— Ah?

Bara afastou-se do telefone e olhou para a tela como se fosse um objeto bizarro, como se a pergunta do pai fosse algo ainda mais estranho. Mas após aquela observação ela parou para pensar nas falas de Giovana e então conseguiu entender.

Provavelmente era aquilo que a amiga vinha insinuando: que existia algum interesse seu no capitão do time de basquete da Nohara. Lembrou-se do beijo que Giovana roubou depois de alegar que estava com ciúmes dele.

Era isso? Sua amizade pelo capitão estava sendo confundido com interesse amoroso?

Juntou as sobrancelhas, sentindo algo que há muito não sentia: irritação. Aproximou o ouvido do fone novamente, onde o pai não parava de chamar por seu nome.

— Bara? Bara? Bara, você está aí?

— Estou.

— O que está acontecendo?

— Fiquei brava, otou-san, só isso.

— Brava? Por quê?

— Por muitas coisas. Não quero conversar agora, muito menos por telefone. A gente se fala quando eu chegar.

— Bara, sobre esse rapaz...

— Papai, por favor. Não faça mais nenhuma insinuação está bem? Eu não tinha entendido nada até agora, mas o senhor me ajudou a compreender, então, obrigada, eu vou cuidar disso.

— Você está me deixando preocupado.

— Não precisa ficar. O senhor sabe muito bem que sei me cuidar. Beijos, papai. Te amo.

— Espere, Bara, eu não...

A loira desligou o telefone e voltou para a tarefa de auxiliar a equipe da Nohara na competição de matemática. Depois pensaria melhor sobre Hayate e a amiga Giovana.

...

A equipe de basquete estava aquecendo para o início do último amistoso daquele dia. Não era permitido levar os celulares para os jogos oficiais, mas como era um amistoso e os jogadores estavam carregando as mochilas para quadra, a maioria deles estavam levando seus aparelhos também.

Foi por causa disso que um dos colegas percebeu que a mochila de Hikari não parava de vibrar e pediu para que ele averiguasse.

Hikari pensou em ignorar, como sempre fazia, mas ele mesmo estava começando a ficar incomodado com o barulho. Decidiu verificar, com certo receio que fosse alguma emergência, e apanhou o celular bem no momento que a ligação parou. Notou uma quantidade absurda de ligações perdidas do pai Sasuke e sentiu seu estômago gelar.

Estava pensando em retornar quando recebeu uma mensagem de texto. Abriu rápido e leu somente com os olhos.

“Assim que puder me retorne, Hikari. Quero saber exatamente quem é esse Hayate Kimura e quais são as intenções dele com a Bara. E não ouse a desligar o celular ou me ignorar ou eu viajo até Nagoya atrás de vocês”.

O adolescente arregalou os olhos surpreso. “Mas como diabos meu pai já sabe de tudo? Será que ele tem poderes sobrenaturais? E que tipo de mensagem terrorista é essa? Você está no trabalho errado, oyaji. Deveria estar na máfia japonesa”, suspirou.  

Respondeu para o pai que ligaria assim que terminasse o jogo e guardou o celular.

— Vamos, Hikari-kun!

Ergueu-se e encarou o capitão que o chamava enquanto sacudia os braços no alto, achou prudente tratar daquele assunto com Hayate após o amistoso.

Tinha pena do amigo, ele não fazia ideia do território perigoso que estava adentrando.

Continua...

Notas e Vocabulário:

[1] Suki da: Eu gosto de você. Mas esse “eu gosto de você” no Japão é uma declaração com a intensidade do nosso “Eu te amo”. Porém, “eu te amo” em japonês é “Aishiteru”.   

[2] Ecchi - é relacionado a temas eróticos e que ao ser usado como adjetivo pejorativo significa algo como “safado”, “pervertido”, etc. Murano faz um trocadinho com o nome do amigo que se chama “Eichiiro” e ao invés de chamá-lo de “Eichii” (abreviação de Eichiiro) ele chama de “Ecchi-kun” quando está bravo ou quer zoar o amigo, seria como chamá-lo de: “Safado-kun” ou “Pervertido-kun”.

[3] O Santuário de Atsuta (熱田神宮, Atsuta-jingū?) é um templo xintoísta tradicional que teria sido estabelecido durante o reinado do Imperador Keikō (71-130), localizado em Atsuta-ku, Nagoia, província de Aichi, no Japão. O templo é conhecido como Atsuta-Sama (Venerável Atsuta) ou simplesmente como Miya (o Templo). Desde tempos antigos, ele foi especialmente reverenciado, ficando lado a lado com Grande Santuário de Ise. O complexo de 200 000 m² atrai mais de 9 milhões de visitantes anualmente. (Wikipédia)


Notas Finais


Como de praxe, se puder, comentem! o/
Até o próximo!


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