1. Spirit Fanfics >
  2. Pintando O Sete >
  3. Capítulo 16 - Hikari - Parte 5

História Pintando O Sete - Capítulo 16 - Hikari - Parte 5


Escrita por: andreiakennen

Notas do Autor


Agradecimentos especiais a todos que me deixaram reviews: Dani, Hansel, e a minha filhota linda, Bruninha Uzumaki.
Vcs fazem os meus dias mais coloridos. Obrigada.
A Blan pela betagem.
E agradecimentos especiais para quem também lê em silêncio, favorita, acompanha. Obrigada!

Capítulo 16 - Capítulo 16 - Hikari - Parte 5


 

Pintando O Sete

Revisado por Blanxe

Capítulo 16 – Hikari – Parte 5

 

A primeira etapa das Olimpíadas de Matemática ocorreu no período da manhã, paralela ao primeiro amistoso da Escola Nohara contra o time da Todori da região de Nagoya.

Uma escola que no último campeonato não se classificara nem entre as dez colocadas no ranking, e que, como o capitão da Kainan havia bem observado, parecia mais forte naquele ano. A força vinha das novas adições no time: dois jovens do primeiro ano que estavam no time principal. Um deles tinha o porte atlético e o estilo de jogar dos americanos. Hayate ouviu do treinador que esse novo ala da Todori morou três anos nos Estados Unidos e aprendeu basquete direto da fonte.

O segundo jogador novo do time, na posição de Armador, conseguia analisar os jogadores de forma eficaz e criar passes incríveis para eles em questões de segundos. Ou seja, ele tinha uma sincronia surpreendente com todos do grupo, e uma afinidade maior com o novo ala. Era quase como se fossem capazes de se comunicar com gestos corporais e olhares.   

A Nohara precisou de sua força total e o time principal completo para ganharem da Todori, e, mesmo assim, a diferença foi de apenas seis pontos.

No final daquele jogo, antes de começarem a segunda rodada, o treinador fez uma pequena reunião com o time para alertá-los, mais uma vez, sobre os pontos fracos deles e depois expôs o perfil dos jogadores principais da segunda escola que enfrentariam.

No total das seis partidas daquele primeiro dia de amistoso, o colégio Nohara venceu com folga de apenas dois times e passaram sufoco com os quatro demais. Mas ganharam todas as partidas do dia, mantendo o favoritismo.

— O- O- Otsukaresama d- deshita[1] — Kinizuna cumprimentava os componentes do time que deixavam a quadra, fazendo breves reverências e entregando a cada um deles toalhas limpas e garrafas com água. E recebia como resposta a abreviação “Otsukare”.

— Oh — exclamou admirado Murano, parando para observar o rosto de Kinizuna ao apanhar a toalha que ele oferecia, fazendo-o aumentar o tom rosado que se concentravam em suas bochechas. — Sabem o que percebi, pessoal? Até que o Kinizuna-kun dá um gerente bem fofo com esse jeito todo “timiduzinho” e essa gagueira, não acham?

Murano recebeu de Hayate uma pancada na cabeça.

— Ai, Taichou! Isso dói.

— Pare de fazer bullying com nosso gerente.

— Ah?! Mas eu não estava, Taichou! Estou falando sério. Ele é mesmo fofo.

A observação deixou Kinizuna mais envergonhado e ele acabou encolhendo os ombros, o que gerou algumas risadas no grupo.

— Pessoal, uma palavrinha antes de voltarmos para o ônibus — o treinador pediu, ganhando os olhares atentos dos jogadores. — Foi um dia bem cansativo, tivemos seis partidas e sei que estão loucos para descansar, mas quero deixar observado que, num geral, não tivemos um bom desempenho hoje. Todas as partidas foram entre os times que, no ano passado, ficaram entre a sétima e a décima segunda posição no Campeonato Nacional. Ou seja, as cinco partidas de amanhã serão entre os melhores, inclusive a Kainan, a atual campeã. Além disso, fui conferir as partidas da Kainan de hoje e posso garantir que eles ganharam com muita folga de quase todos os times com os quais vocês também jogaram. Eles estão realmente acima das expectativas. Por isso quero pedir mais empenho de vocês amanhã, mais concentração, sincronia, tal como time da Todori fez. Foco completo no jogo, entenderam? Vocês estão se distraindo demais, estão brincando em quadra, precisam levar as partidas mais a sério, porque esse amistoso é uma prévia de como o campeonato será e tenho certeza que boa parte dos times estão escondendo suas melhores armas.  Ao contrário da gente. Hoje usamos o time principal em quase todas as partidas, estamos expondo nossas armas e mostrando como elas estão fracas, e isso não é bom. Então, amanhã, iremos explorar nossos reservas: Yoshida, Otani, Iwamoto, Katayama e Amano, quero que fiquem preparados. 

— Sim, treinador! — os cinco reservas afirmaram com empolgação.

— Ótimo, é essa a empolgação que gosto de ouvir — e depois de dizer isso, o treinador se direcionou para o grupo principal. — Agora sobre vocês cinco. Rapazes, vocês possuem talentos individuais altíssimos, isso é fato. Mesmo assim passaram apertado pela Todori e pelos demais times. E sabem por que isso aconteceu? Porque eles estão sincronizando suas forças para se tornar uma. Se esses jogadores, que possuem um talento médio, ficaram fortes unindo suas forças, imaginem vocês, que são fortes de forma particular. Então, é isso que eu queria enfatizar. Pensem em como vocês cinco podem melhorar o trabalho em equipe, em como podem sincronizar suas jogadas — ele concluiu e bateu as mãos umas na outra, dispensando-os. — Por hoje é só. Vamos voltar para o alojamento, relaxem no banho, comam e durmam cedo.

— Sim, senhor.

Apanharam as mochilas, ajudaram a guardar os equipamentos e voltaram para a pousada.

Assim que chegaram, os rapazes da Nohara não esperaram para seguir direto para área de banho quente. Hayate foi o último a deixar o quarto, quis dar uma conferida no celular que ficara carregando antes de seguir para o terma. Abriu um sorriso grande para tela ao ver que recebera uma nova mensagem. Sustentando uma leve esperança de quem gostaria que fosse o destinatário, ele a visualizou depressa, e sentiu o coração dar um salto ao notar que seu desejo se concretizara.

 “Como foi o dia de hoje, Taishou-kun? Ops, é Hayate-kun, né? Gomen? Força do hábito. Aqui foi um pouco tranquilo no começo, mas percebi que responder problemas matemáticos com agilidade é bem tenso e mexe com os nervos de todos. Mas a nossa equipe está indo muito bem e passou para a última rodada amanhã. E como foi seu dia de amistoso? E como está o meu irmão? E o Hiro-chan está se saindo bem como gerente? Os meninos não estão judiando dele, né? Cuide deles por mim, Hayate-kun. Oyasumi[2].”

Leu a mensagem mais duas vezes, atentando-se no seu nome escrito duas vezes. Sorriu. Achou engraçada a forma como Bara escrevia, ela não usava emoticons como a maioria das garotas, mesmo assim, conseguiu sentir toda a simpatia dela no texto. Queria responder de imediato todas as perguntas, mas ouvia, dali do alojamento, os gritos de sua equipe e as perguntas de “onde está o capitão?”. Então optou por enviar uma mensagem breve.

“Acabei de chegar (^_^). Estamos acabados! ヾ(×_× ) ツ. Vou tomar banho e antes de dormir te ligo. Pode ser? (*^=^*)”.

A resposta veio quase instantânea.

“Que fofo seus emojis[3]. Vou esperar. Tenho algo interessante pra te contar. Bom banho!”.

Aquele “algo interessante pra te contar”, fez Hayate sentir-se ansioso.

— O que será? Agora fiquei curioso.

— Taichou! Venha logo!

— Estou indo!

...

Kinizuna sentia embaraço de ficar no mesmo espaço que vários garotos. Por essa questão, optou por esperar na recepção a região do banho esvaziar. Ele estava descalço; havia retirado toda a roupa suja no alojamento e guardado como a maioria fizera, por isso tinha somente a toalha em torno da cintura, o que também causava o incômodo extra: o de expor seu físico. Era muito magro e, apesar de ter uma estatura mediana, perto dos garotos com porte atlético, sentia-se mirrado.

Respirou fundo, tentando não se ater aquele fator, senão desistiria de entrar no banho. Ao seu lado colocara a cestinha com os produtos para o pré-banho disponibilizados pela pousada, além de outra toalha seca e a chave do armário onde guardaria o celular na hora que fosse entrar na água.

Estava trocando mensagens com a amiga Bara quando viu o capitão se aproximando.  

— Você não vem, Kinizuna-kun?

— Ah, s- sim, T- Taichou-san. E- estou r- respondendo m- meus e- e-mails e j- já vou.

Hayate pensou por um instante naquilo que Bara dissera na noite passada: que o irmão tinha medo de amar e ser censurado por seus sentimentos. Recordou-se também da sensação estranha que teve ao ver Hikari e Kinizuna interagindo depois do incidente com Toyo. Sentiu como se eles estivessem tomando um cuidado demasiado para não deixarem algo intenso fluir e vir à tona.

— Kinizuna?

— H- hai?

— Posso te fazer uma pergunta um tanto indiscreta? — o capitão solicitou, parando em frente ao gerente interino. — Não precisa responder se não quiser.

— Ah? — Kinizuna surpreendeu-se, ficou um pouco tenso, mas assentiu. — Hm. 

— Você gosta de alguém?

A pergunta o pegou desprevenido, mas os olhos do capitão transmitiam um conforto que o fizeram sentir confiança. Imaginava apenas que ele parecia uma pessoa gentil. Porém, um pouco receoso e, muito envergonhado, assentiu com a cabeça, afirmando que “sim”, gostava de alguém.

Hayate sorriu em compreensão.

— Eu tive essa impressão. É do Hikari, não é?

Agora, aquela outra observação, fora completamente inesperada. Kinizuna arregalou os olhos ao encarar surpreso o capitão. As bochechas pareciam em fogo vivo tanta fora sua vergonha.

— Não precisa ficar tão nervoso e vermelho desse jeito — Hayate sorriu desconcertado ao notar que o rapaz tinha mesmo algo de “fofo” como Murano comentara mais cedo. — Eu vou guardar segredo, pode ficar tranquilo.

— H- hm. E- está t- tão v- visível a- assim?

— Ah... Não sei bem se está tão visível, Kinizuna-kun. — Ele coçou a nuca, um tanto sem jeito. — Eu apenas senti algo no ar ontem. Foram pequenas coisas. Mas acho que não é qualquer um que consegue notar. Talvez apenas nós, apaixonados, acabamos deixando essas coisas no ar, mas que são notadas apenas por quem está apaixonado também.

Kinizuna recordou-se da chegada deles na pousada e da confissão do capitão perante o grupo de rapazes, inclusive dele, sobre seus sentimentos e suas intenções com Bara, a irmã gêmea do seu amigo e integrante de time.   

— T- Taichou-san g- gosta m- mesmo d- da B- Bara-chan, n- não é?

— Sim. Muito — Hayate confessou novamente, sem dificuldade. — E é legal quando a gente se conscientiza disso, pois nos dá mais disposição de lutar e se aproximar da pessoa. Eu comecei a conversar com a Bara ontem, sabe? Aquela confusão toda gerou uma troca de números. Estamos até nos comunicando por mensagens agora. Acabei de responder um e-mail dela e ela disse que tem algo interessante para me contar mais tarde. Estou bem ansioso e até um pouco esperançoso. Sei que é bobeira esperar uma retribuição repentina, mas quem sabe não são os deuses dando uma força, não é? Por isso, Kinizuna, que tal você começar a se posicionar também? Olha... Eu não entendo muito como é gostar de garotos, mas creio que é a mesma coisa de quando se gosta do oposto. Por isso que, se eu puder ajudar de alguma forma, o Hikari e você, conte comigo, está bem?

A simpatia que Kinizuna sentiu pelo capitão foi tão grande que sua vontade fora de retribuir as palavras gentis dele com um abraço bem forte. Era a primeira vez que estava tendo um apoio de um garoto “normal” e aquilo o animou, pois a impressão que sempre tivera é que os rapazes heterossexuais não conseguiam entender como é se apaixonar por outro garoto, pelo fato de a grande maioria tratar o assunto de forma pejorativa, negativa ou zombeteira.

Todavia, Hayate, com sua simplicidade, talvez não entendesse sua emoção e uma demonstração de carinho física poderia ser mal interpretada, optou apenas por assentir com seu melhor sorriso.

— H- Hm. V- vou p- pensar s- sobre m- me p- posicionar, T- Taichou-san. A- Arigatô.  

— É assim que se fala. — E fez um gesto de joia com dedão para Kinizuna, precipitando-se para a entrada do banho em seguida. — Vou indo. Não demore tanto.

— S- sim.  

O barulho de uma nova notificação fez Kinizuna olhar o celular, destravá-lo e abrir a mensagem que tinha chegado. Bara também havia dito para ele que tinha algo interessante para contar e que não conseguiria esperar para dizer pessoalmente. Pediu para que ela dissesse de uma vez e fora o instante que o capitão chegou.

Ficara preocupado com Hayate, pois ele estava esperando algo dessa “informação interessante” que a Bara tinha para contar, mas algo lhe dizia que não era referente a ele.

E bastou uma olhada rápida na mensagem que surgiu na tela do celular para ele compreender que seus receios estavam certos. A boca se abriu, suas mãos começaram a tremer e os olhos dobraram de tamanho. Não estava conseguindo acreditar naquilo.

“A Gi-chan e eu nos beijamos ontem à noite”.  

Ficou paralisado por um tempo, sequer conseguiu digitar uma resposta. Apanhou a pequena cesta com as coisas do banho e foi procurar um lugar reservado em que pudesse conversar com Bara pelo telefone.

Encontrou outra área de banho do lado de fora da pousada, um pouco afastada do prédio, no meio das árvores, e que estava quase vazia exceto por dois adultos que conversavam distantes. Teve a impressão que um dos adultos era o treinador do time da sua escola, mas preferiu não se atentar a eles.

Leu a placa grande com alerta de “lago com profundidade” ao aproximar-se do local. Não sabia nadar, mas não estava pensando em se banhar ali de qualquer forma, iria apenas falar com Bara pelo telefone e voltaria para área de banho interna.

Acomodou-se em uma das pedras, repousou a cesta com itens para o banho do seu lado e pôs os pés dentro da água, fazendo a ligação na sequência. A primeira coisa que falou quando conseguiu que a amiga o atendesse foi que não desse aquela informação para o capitão do time do irmão.

— Por que não, Hiro-chan? — Bara estranhou. — O capitão é uma pessoa confiável, nós nos tornamos amigos, sabia?

— E- e- e- e- eu sei q- que ele é c- confiável, B- Bara-chan. M- mas...

Kinizuna não tinha mesmo pensando em como explicaria aquele assunto para Bara sem denunciar os sentimentos do capitão por ela.

— Mas? O que está acontecendo, hein, Hiro-chan?

— N- nada. A- apenas a- acho q- que ele é m- muito a- amigo do s- seu ir- irmão e s- se ele acabar s- soltando s- sem querer essa in- informação p- para o- o Hi- Hikari-kun?

— Acho que ele não faria isso.

— N- não por m- maldade, e- entende? M- mas n- no calor do m- momento, n- no meio d- da conversa entre os o- outros ga- garotos. 

— Sim. Eu entendi sua preocupação. Mas não acho que o capitão soltaria uma informação assim do nada, sem querer. Afinal, eu teria que ser a pauta para algo assim acontecer, não acha? Seria estranho se em uma conversa normal entre o time ele falasse “Olha, pessoal, a Bara deu seu primeiro beijo com a melhor amiga”.

— S- soaria e- estranho — Kinizuna concordou.

— Não é? Além disso, eu já disse para ele que tenho algo a contar, se eu me calar, ele vai ficar chateado.

— S- sim.

— Vai descansar, vai. Você está preocupado sem necessidade. O capitão é uma boa pessoa, eu posso garantir isso.

“Eu sei, Bara-chan e é exatamente por ele ser essa boa pessoa que não queria que você o magoasse tão depressa”.

— E- entendo.

— Além disso, você sabe o quanto sou sincera. E, veja bem, se ocorrer de eu virar o assunto, mesmo que sem querer, de alguma conversa desses garotos e o meu irmão idiota vier a saber, eu não terei medo de encarar seja quem for.

— M- mas v- você está s- séria c- com a Gi- Giovana-san?

— Eu ainda não pensei no assunto. Apenas nos beijamos. Não trocamos confissão nem nada. A Gi-chan até disse que só estava fazendo aquilo porque me ouviu conversando com o capitão por telefone e veio com uma conversa boba sobre eu estar “traindo” ela com ele e “vou roubar algo precioso seu antes que outro venha e roube”.

— A- a Giovana-san é in- incrível.

— Também acho. Apesar de eu ser bem para frente, não sei se teria a coragem de roubar o primeiro beijo de alguém como ela fez — Bara riu. — E, sabe, Hiro-chan, eu gostei da ousadia dela e meio que me deixei levar. Mas acho que agimos mais por impulso e curiosidade. Não acho que vamos entrar em uma espécie de relacionamento. Para ter ideia, nada mudou entre a gente hoje.  

“Então a Giovana-san também já sabe dos sentimentos do Hayate-kun pela Bara-chan”, Kinizuna concluiu em seus pensamentos, sentindo-se um pouco mais aliviado pelo capitão.

— E- então, v- você n- não s- sentiu n- nada de d- diferente p- por ela?

— Fiquei um pouco nervosa no começo, é claro. O coração bateu rápido e deu uma baita dor no estômago, mas acho que foi mais pela surpresa do que por estar sentindo algo especial. Depois tudo ficou calmo, ficamos nos olhando um pouco, sorrimos uma para a outra de um jeito meio sem graça, sabe? De quando se acaba de fazer uma travessura. Daí dormimos.  

— E- entendo.

— Viu? Não tem com que se preocupar.

— A- acho q- que n- não.

— E, já que acabamos estendendo a conversa, chega de falar de mim, me conta de você, como estão as coisas aí com meu irmão? Vocês estão dormindo no mesmo quarto? Ele não está sendo estúpido com você, está?

Kinizuna sorriu quando a amiga encerrou o assunto e passou a falar dele. Acabou ficando mais de meia hora com ela no telefone e contou que nada de diferente ocorrera, fora o incidente da noite anterior, o qual ela ficara a par por Hayate. Também explicou que estavam dormindo todos no mesmo quarto e em futons no chão, mas que Hikari e ele estavam de lados opostos, e que só falavam o básico. Narrou o dia que tiveram no estádio de treinamento e como passou depressa. Confessou que estava achando divertido ser gerente e que os jogadores eram gentis e divertidos fora de quadra, mas que eram impressionantes em jogo, dinâmicos e ágeis.

Ele preferiu omitir a parte que se excitou um pouco ao ver tantos rapazes de porte atlético tirarem a camisa e exporem seus corpos suados, ao término dos jogos. Na verdade, até mesmo a forma como eles “lutavam” em quadra, mexera com seus sentidos.

Mas notou que estava ficando tarde quando os dois homens no lago saíram, deixando-o sozinho, e decidiu se despedir da amiga.

— A gente se fala amanhã — Bara respondeu. — Vou mandar mensagem para o Hayate-kun e verificar se já posso ligar para ele. Beijos, durma bem.

— O- oyasumi.    

Seu peito apertou quando desligou o telefone e pensar que, quando voltasse do banho, iria encontrar o capitão menos energético, talvez até cabisbaixo, por saber pela própria Bara que ela dera seu primeiro beijo com a melhor amiga.

Suspirou fundo e colocou o telefone dentro da cesta. Estava recolhendo seus pés de dentro da água quando braços envolveram seu pescoço.

— O que está fazendo aqui sozinho, meu lindo Megane-kun?

O susto da aproximação repentina, dos braços ao redor de sua pele nua, sem pedir permissão, e da voz sendo sussurrada ao pé do ouvido, fez com que Kinizuna escorregasse os pés molhados que apoiava para ficar de pé na pedra na beirada do lago e perdesse o equilíbrio, deslizando direto para dentro da lagoa.

Kentaro Toyo riu travesso ao ver o gerente do time adversário se atrapalhar todo com o seu contato e afundar dentro da lagoa como se fosse uma pedra. Mas a risada cessou ao notar somente bolhas de ar emergirem para a superfície.

— Merda! Será que ele não sabe nadar? — arrancou o roupão pós-banho da pousada e pulou na água atrás dele.

O lago era fundo, mas conseguiu alcançá-lo depressa, apanhá-lo e puxá-lo para superfície. Levou-o para a margem mais rasa, deixou-o apoiado nas pedras, saiu da água primeiro, depois o puxou para fora, após segurá-lo por debaixo dos braços.

Empalideceu ao deitar Kinizuna e ver que ele estava desacordado, deu tapinhas no rosto, o chamou, mas não teve reação. Aproximou o ouvido da boca dele e teve certeza que o rapaz não estava respirando. Inclinou a cabeça de Kinizuna para trás, tampou o nariz, abriu sua boca o máximo que pode, inspirou fundo e cobriu os lábios dele com os seus, soprando ar com força para dentro dos pulmões. Em seguida apoiou as duas mãos juntas sobre o peito do rapaz e, jogando parte do peso do corpo em seus braços, massageou a região duas vezes com força e voltou a repetir o processo do boca a boca.

Não demorou dar resultado, logo Kinizuna tossiu um bolo de água, e Toyo o virou para o lado para que jogasse para fora tudo que ele tinha engolido; depois o sentou, mantendo um dos braços como apoio nas costas dele.

— Você está bem, Megane-kun? — Toyo perguntou com a expressão realmente preocupada. — Eu achei que estivesse tomando banho aqui, eu não imaginei que não soubesse nadar. Por favor, me perdoe?

Kinizuna passou a mão na boca para limpá-la, ainda recuperando o fôlego.

— M- meus ó- óculos?

— É verdade. Bem que achei seu rosto diferente. Vou ver se consigo encontrá-los.

— E- espere — Kinizuna segurou o punho do capitão da Kainan, impedindo que ele saísse. — E- está t- tudo bem. T- tenho um p- par r- reserva l- lá dentro. A á- água está f- fria.

Toyo sorriu e repousou uma das mãos em um lado da face de Kinizuna, fazendo-o olhá-lo.

— Você é mesmo fofo, Megane-kun. Eu acabei de fazer uma maldade, quase o matei afogado, fiz com que perdesse os óculos e ainda está preocupado comigo?

— H- hm. M- mas n- não f- foi de propósito e- e v- você me s- salvou, i- imediatamente. N- não f- foi p- por maldade. F- foi um a- acidente.

— Tão fofo! Eu acho estou apaixonado por você. Por favor, saia comigo?

— C- como?!

...

Hikari estava com uma sensação estranha. Havia terminado de jantar e, como sempre, se incomodava com o barulho insuportável que os amigos faziam. Foi quando se deu conta que Hayate e Kinizuna estavam ausentes.

Viu Hayate saindo no banho quando ele estava entrando no refeitório, mas não lembrava de ter visto Kinizuna em nenhum momento desde que chegaram. Talvez fosse bobeira da sua cabeça, mas decidiu procurá-lo. Sabia que o time da Kainan estava jantando na sala de refeições ao lado da deles, conseguia ouvir a mesma bagunça vinda de lá, por isso achou que não era possível que Toyo estivesse cercando Kinizuna em algum lugar.

Mesmo assim quis ter certeza.

 “Daqui a pouco aquele Quatro-Olhos-idiota ficará sem jantar”, pensou, apertando os passos.

Procurou o amigo de Bara na área de banho, no dormitório, nas salas de descansos e nada. Estava começando a ficar preocupado, quando ouviu sem querer a conversa de dois rapazes altos, certamente do time da Kainan, que estavam pegando bebidas na máquina no saguão da pausada.

— Onde será que o capitão se meteu, hein?

— A última vez que o vi, ele estava indo na direção daquele lago mais afastado lá fora.

— Mas ele já não tinha tomado banho? O que ele foi fazer lá?

— Vai saber… — O outro deu de ombros. — Ficar um pouco sozinho, talvez.

Hikari não quis ouvir o resto da conversa, apenas andou rápido em direção a saída, com o coração disparando. Diferente da maioria dos amigos que estava com o roupão disponibilizado pela pousada, ele havia vestido uma bermuda e uma camiseta de malha leve, roupas dele mesmo, pois não se sentia a vontade usando roupas que foram usadas por desconhecidos.

Saiu descalço para fora e os pés deslizaram um pouco na grama úmida, atrapalhando-o andar mais rápido.

Entrou na trilha de pedras ladeada de arbustos e árvores grandes, passou pela placa com o alerta “lago com profundidade” e chegou ao lago. Viu que havia duas pessoas na outra margem.  Estavam sentados, estreitou os olhos na direção deles e notou que estavam estranhamente próximos.

Avançou rápido e a tempo de ouvir frases dispersas que eram, sem dúvida alguma, ditas pela voz de Kentaro Toyo: “Fofo”, “apaixonado por você”, “saia comigo”.

Deu a volta no lago e chegou do outro lado, mas não foi rápido o suficiente para ser percebido ou para impedir que Toyo abraçasse o garoto sentado, segurasse seu rosto com ambas as mãos e tomasse aquela atitude.

Aconteceu bem diante dos seus olhos: Kentaro Toyo, o capitão da Kainan, beijou Hiroki Kinizuna, amigo de sua irmã, na boca. 

Paralisou-se por um instante com a cena, sentindo algo que não foi capaz de distinguir ao certo; era um revirar no estômago, acompanhado de umas pontadas agudas. Apenas se deu conta que voltara a se mover quando estava atrás dos dois rapazes e agarrou Toyo por trás, puxando-o para longe de Kinizuna.

— Ei, mas que merda é essa? — reclamou o capitão da Kainan. — Você é maluco, cara?

— Você não me viu maluco ainda, Toyo! Você não sabe com quem está brincando.

— Ui. Está me ameaçando, Loirinha?

— Estou apenas te dando um alerta para que fique esperto, ou você será expulso do seu time quando eu contar do seu assédio para os nossos treinadores.

Toyo riu debochado.

— Tá — O capitão do time adversário cruzou os braços no peito desnudo, desafiador. Ele estava usando somente a roupa íntima. — E você vai provar como? 

Bastou um menear de cabeça de Hikari para o poste de ferro que sustentava uma das luminárias daquela área, para Toyo desfazer a postura de deboche. Não era só apenas um poste com luminária, havia uma câmera de vigilância ali.  

— Que tal as imagens daquilo? Será que elas não serão suficientes para provarem seu assédio?

— Certo — Toyo assentiu, respirando fundo. — Você venceu, Uzumaki. Fica calmo. Eu não estava...

— Cala a boca — Hikari ralhou, apontando o dedo para o rapaz. — Cale essa maldita boca. Eu não quero ouvir mais nada, só quero que nos deixe passar. — Estendeu a mão para Kinizuna e ordenou no mesmo tom raivoso que falava com Toyo. — O que está esperando para levantar daí, Hiroki. Vamos logo!

Kinizuna estava tão trêmulo que tentou, mas não conseguiu se levantar por conta própria e nem apanhar a mão que Hikari oferecia. Precisava das mãos para continuar cobrindo sua parte íntima e a nudez completa, pois a toalha havia se desprendido de sua cintura e ficado perdida em algum lugar dentro da lagoa. Ao olhar de soslaio a condição do outro, Hikari tirou sua camisa e jogou em cima dele.

— Vista isso — ordenou.

O amigo de Bara obedeceu, mas continuou sentado. Foi preciso que o próprio loiro tomasse a iniciativa e o apanhasse pelo punho para o ajudar ficar de pé. Não disse mais nenhuma palavra, apenas puxou Kinizuna, guiando-o para longe de Toyo que ficou para trás, de cabeça baixa.

Mas assim que o “casalzinho” se foi, após apanharem a cesta de Kinizuna que estava do outro lado, Toyo ergueu a cabeça e riu debochado, olhando para câmera.

— Merda de vacilo, tsc — reclamou sozinho e começou a rir alto. — Mas foi divertido ver o quanto você se desestabilizou só porque mexi com sua garota, Hikari-kun.

...

Não disseram mais nada depois que se afastaram de Toyo. Hikari apenas conduziu Kinizuna para a área de banho individual da pousada, onde tinha um ofurô menor, com água bem quente. Os dois lavaram os pés na região de pré-banho, a qual antecede a banheira e Kinizuna deu alguns espirros.

Hikari quebrou o silêncio.

— Entre na água quente de uma vez, antes que pegue um resfriado. Não entendo o que você tem na cabeça ao ficar andando do lado de fora, nesse relento, sem roupas e se banhando naquela água fria...

Kinizuna meneou a cabeça em concordância e obedeceu a ordem, estava tremendo de frio quando devolveu a camisa de Hikari. Porém, bastou pisar na água quente da banheira e sentiu ser invadido por uma gostosa sensação de alívio. Abaixou-se vagar devagar, reconfortado pela água morna, e sentou-se dentro da banheira de madeira, acomodando as costas na beirada dela.

Não tinha coragem de olhar Hikari, mas sentiu que ele estava do seu lado, os braços cruzados e parecia fuzilá-lo com o olhar. Tudo tinha acontecido muito rápido e o vapor que subia da água ajudou no aquecer do seu rosto ao lembrar que, como a amiga Bara, também teve seu primeiro beijo roubado e pior do que poderia acontecer: não fora com quem ele queria. Além disso, sua pessoa desejada, assistira tudo.

— Estou esperando, Kinizuna — Ouviu aquela fala tirá-lo dos seus devaneios.

— C- como? — ergueu os olhos para Hikari e o viu com os lábios juntados, as mãos crispadas tão fortes que as veias estavam aparecendo.

— Estou esperando uma explicação, e para de se fazer de tonto! — ele estourou. — Você sabe o quanto eu odeio isso em você. Ninguém é ingênuo, ou idiota, suficiente para não entender quando uma situação é perigosa. Você... você... você deixou aquele cara nojento beijar sua boca. Eu... eu... eu queria... Ahh!! — Hikari aproximou-se da banheira, juntou um punhado de água na mão e passou a esfregar a boca de Kinizuna. — Nem toda água do mundo vai mudar essa situação agora! Droga, droga! Era para sua boca ter sido primeiramente minha, seu quatro-olhos tapado!

 — H- Hi- Hikari-kun... — as lágrimas brotaram dos olhos castanhos e se derramaram depressa.

O loiro parou ao notar que Kinizuna estava chorando e, mesmo ele tendo sido o estúpido da situação, quem tentou se desculpar foi Kinizuna.

— G- gomen, Hi- Hi...

— Não se desculpe — Hikari interrompeu. — Eu quem estou sendo arrogante e grosseiro. Eu tenho um grande problema, Kinizuna. Eu sempre fui muito mimado e egoísta, exatamente como a Bara diz que sou. Ela me conhece melhor que qualquer um nesse mundo. E aquilo que eu considero meu, é meu e ponto. Eu odeio dividir ou que coloquem a mão no que me pertence sem minha permissão. Agora eu só estou muito puto com que aconteceu e eu preciso me acalmar. Então, por favor, não se desculpe, não chore, apenas termine seu banho, coma e volte para o dormitório. Eu vou te dar vinte minutos e enquanto isso eu vou vigiar o desgraçado do Toyo. Se você não voltar nesse tempo para o dormitório, Kinizuna, eu juro, eu vou desvincular você das coisas que me pertencem e nunca mais vou me dar ao trabalho de me preocupar com você, está entendendo?  

Apesar dos soluços, Kinizuna passou a mão no rosto e concordou. Não entendeu muito bem o que Hikari quis dizer com “coisas que me pertencem”, mas precisava apenas saber que ele não queria que o pouco contato que tinham fosse rompido de vez.

— H- hm.  

— Estou indo.

Porém, Kinizuna reagiu por impulso e não permitiu que Hikari se fosse, agarrou seu punho e o segurou. Pensava apenas que não queria que o outro saísse dali com aquele mal-entendido. Seu estômago doía, sua cabeça doía, seu corpo inteiro tremia mesmo debaixo da água quente, mas tudo que ele tinha certeza naquele mundo era que Hikari era o único dono dos seus sentimentos e ele não poderia deixar que o garoto que amava fosse embora bravo e em dúvida sobre seus sentimentos.

Desejou do fundo do coração que sua gagueira o permitisse falar, pois tinha muito a dizer, e, após respirar fundo, começou.  

— H- Hikari-kun, o T- Toyo-kun salvou a- a minha vida! Eu me afastei porque estava conversando um assunto particular com sua irmã no telefone e escorreguei na hora que ele se aproximou. O capitão quis fazer alguma brincadeira boba, mas quando viu que caí no lago e eu não sabia nadar, ele pulou para me salvar. Eu parei de respirar e o T- Toyo-kun me reanimou. Eu sei que ele me pediu em namoro e me beijou, mas foi pelo calor do momento. Ele sabia que eu iria recusar e por isso quis roubar de mim esse beijo. Mas foi um beijo roubado que não significou nada, porque ele pode ter tocado meus lábios, pode até tocar meu corpo, mas nunca alcançará o que está dentro de mim, ninguém nunca terá o que tenho no coração, pois meus sentimentos são unicamente seus, H- Hikari-kun!

Hikari encarou Kinizuna impressionado.

— Incrível... sua gagueira sumiu.  

Continua...  

 

[1] Otsukaresama deshita: é dito quando se termina algum trabalho ou quando estão se despedindo no trabalho. Normalmente traduzida como “bom trabalho” ou “obrigado pelo esforço”.

[2] Oyasumi: boa noite;

[3] Emoji e Kaomoji – Os emoticons são ícones emocionais usados para compensar a incapacidade de transmitir inflexões de voz, expressões faciais e gestos corporais na comunicação escrita. No Japão, os emoticons são amplamente usados em mensagens de texto em celulares, e-mails e redes sociais e levam o nome de emoji ou kaomoji, que literalmente significa: “kao” = face, “moji” = caractere). Referência: Curiosidades do Japão japaoemfoco - kaomoji-os-emoticons-japoneses/ de 23 21/07/2015 14:16


Notas Finais


Já sabem: se puderem, comentem!
Beijos!
Até o próximo!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...