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História Dois Pesos e Duas Medidas - Permeio


Escrita por: KiiinN

Notas do Autor


Depois de muito choro e de leitores me chacoalhando pela atualização de “Dois Pesos e Duas Medidas”, aí está! Eu ia demorar um pouco mais para publicá-lo, porque queria adiantar mais um capítulo, mas, então, eu pensei no tempo e a quantidade de comentários e incentivos que recebi (os mais lindos de todas as minhas histórias, por sinal) e eu decidi que vocês mereciam muito mais que o meu TOC de fazer tudo programado.
Para quem não acompanha “Dar-se Uma Chance”, eu passei uma longa temporada fora do país, por isso a demora exacerbada em atualizar o enredo, mas agora eu voltei e vou tentar ser mais rápida.
Eu acho que vou decepcionar alguns leitores acerca do capítulo, mas eu ainda preciso colocar algumas questões em pratos limpos na mesa, antes começar a fazer a poeira levantar. Eu quero que prestem atenção em todos esses personagens expostos agora, porque é em torno deles que a história vai girar. Eu tenho alguns planos definidos para eles ao longo do enredo, mas confesso que já estou recebendo algumas luzes de leitores que adoram divagar em comentários.
Estou anotando tudo em um caderninho.
Muito obrigada por cada comentário quilométrico, lindo e motivador que me mandaram, eu nunca recebi tantos feedbacks antes. Rolaram até algumas lágrimas por aqui, HAHA! Brincadeiras a parte, obrigada de coração, eu estava precisando ler cada palavra colocada ali, porque estava realmente desanimada. Obrigada!
Repararam na capa nova? Presente da Coeur Pirate para a Fanfic. Obrigada, gata, não canso de dizer o quanto você acertou nesse design, no tratamento das imagens, na disposição das informações, da mensagem perfeitamente alinhada com a essência da trama... Sério, amei tudo!
Bom, espero que vocês tenham gostado, Vejo vocês nos comentários?! :X
Beijocas

Capítulo 2 - Permeio


"Queremos ter certezas e não dúvidas, resultados e não experiências, mas nem mesmo percebemos que as certezas só podem surgir através das dúvidas e os resultados, somente através das experiências." - Carl Gustav Jung.

 

Capítulo 2 – Permeio

 

(10 anos depois)

Ele esfregou o rosto pela quinta vez em menos de quarenta minutos.

Naruto estava exausto, pois passara a noite inteira editando um comercial, que começaria a rodar já na próxima semana. Ele ainda tinha que enviar o arquivo para a aprovação e, não havia tempo a perder, quando ainda existia uma rasa possibilidade de lhe pedirem alterações. O Uzumaki não era um irresponsável, embora fosse extremamente desligado, mas o trabalho foi lhe passado de última hora e ele não pôde negar a oportunidade, mesmo que significasse correr contra o tempo.

O editor precisava daquele dinheiro, agora mais que nunca.

Com um suspiro cansado, ele voltou seu foco para o computador bem equipado. O homem tinha à sua disposição, três monitores grandes para poder passar os detalhes das cenas e não perder uma imagem importante e significativa sequer de uma propaganda. Ali, naquele pequeno estúdio caseiro, que morava em seu quarto, ele fazia a mágica acontecer.

Naruto tinha autonomia o suficiente para poder trabalhar em casa, sem ser incomodado. Ele tinha competência e excelência para que as empresas o procurassem através de indicações e marketing "boca-a-boca". Eram 13 anos de carreira longos, que lhe deram a chance de construir um nome dentro da sua área. O Uzumaki simplesmente amava o que fazia, mesmo que lhe significasse passar noites e mais noites em claro.

Eram raros os momentos que aconteciam, mas quando era obrigado a abdicar de seu sono, ele quase se sentia exultante, pois significava que a campanha lhe renderia uma boa quantia em dinheiro. Naquele momento de sua vida, o qual era responsável em alimentar outra barriga, qualquer ganho monetário era importante. Quando era somente ele e seu melhor amigo, Itachi, o homem não tinha que se preocupar em guardar uma grana, mas agora que tinha Nagato para cuidar, seu único pensamento era no bem-estar do garoto.

Ao se lembrar do afilhado, Naruto teve um sobressalto; ele tinha que levar o garoto para a escola!

Olhando o relógio, ele constatou com pesar, que já havia passado uma hora desde que a aula começara. O moleque não iria reclamar em ter um dia de folga, mas o fato de ter esquecido algo significativo, fê-lo se sentir impotente. Ele era um péssimo pai. Sempre perdia pequenas coisas essenciais para o ruivo pequeno, e se não fosse pelos seus amigos e parentes próximos, o Uzumaki não sabia o que seria de Nagato.

Ele podia não ser irresponsável com o trabalho, mas com relação ao menino, ele era inútil.

Nagato Uzumaki era filho de seu primo, Yahiko com uma mulher chamada Konan. Ambos morreram em um acidente de carro logo que o garoto havia nascido e a justiça americana decidiu que, por ser o único parente vivo do garoto, Naruto deveria ficar com a guarda da criança. Havia o seu pai, Minato, mas como o velho senhor estava em um relacionamento estável com outro homem, Kakashi, o juiz achou que o editor seria um bom guardião, uma vez que possuía uma boa renda e índole.

"Se o cara abrisse um pouco mais a mente, ele jamais teria tomado essa decisão", eram seus pensamentos, “preconceituoso do caralho”, ele xingou em silêncio reflexivo.

Com outro suspiro, ele cobriu o rosto com as mãos mais uma vez, pagando atenção para os olhos cansados e ardidos, esfregando-os firmemente com as pontas dos dedos.

Agora só lhe restava levantar, ignorar o desgaste físico, acordar o menino e o fazer tomar um café da manhã reforçado. Talvez, ele o levasse para uma biblioteca e ensinasse algo para substituir a lição perdida na escola. Agora, com quatro anos de idade, era de suma importância se preocupar com a educação de Nagato. Poderia ser um mero detalhe, mas nessa idade, o cérebro começava a formar o seu caráter e, o fato exigia um pouco mais de atenção.

No fundo, ele só estava se propondo a fazer isso, para minimizar a sua culpa - "Se Yahiko soubesse a forma como estou cuidando do seu filho, voltaria do mundo dos mortos só para me arrebentar!", reclamou mentalmente.

Uma voz suave e doce o puxou de volta para a realidade, fazendo-o se virar rapidamente para olhar o dono daquele timbre tão inconfundível:

- Você parece exausto.

Naruto sorriu, vendo a forma bem-vestida. Os cabelos longos e negros estavam soltos, deixando-o com a aparência quase selvagem. Era raro vê-lo dessa forma, tão descontraída e descompromissada, mas o loiro percebeu que combinava com o homem bonito. Itachi parecia quente naquela camiseta de algodão e malha cinza, que cobriam o seu tronco delgado e longilíneo e desenhavam os músculos definidos. Os fios de ébano construíam um contraste interessante contra o tecido claro. A calça jeans preta com a lavagem desbotada agarrava o quadril estreito como uma luva.

O Uchiha era um espécime interessante...

- Eu ESTOU exausto. - declarou com um meio sorriso sacana, encostando-se em sua cadeira giratória de couro e reparando na expressão leve no rosto pálido. Os dedos do homem mais velho apertavam uma caneca laranja com um conteúdo fumegante.

- Você não deveria me olhar assim... - contestou, ignorando a conversa anterior como se fosse nada, enquanto observava aquela expressão maliciosa que sempre tomava conta da face cheia de marquinhas de bigode de raposa. Itachi gostava, porque enaltecia o ego, mas ele jamais admitiria isso em voz alta.

- Você sabe que eu não consigo resistir, sou uma pessoa sexual, 'tachi, sou atraído para qualquer bunda bonita que paira ao meu redor. - ele brincou, apontando o objeto nas mãos do moreno. - O que está fazendo com a MINHA caneca?

O Uchiha revirou os olhos, entediado com o ataque possessivo do homem para com a SUA caneca laranja, que nem mesmo Nagato poderia tocar.

- Eu lhe trouxe leite quente, quem sabe isso o ajude a relaxar e dormir. Você não prega o olho há dois dias. - murmurou suavemente, andando até o homem e lhe estendendo a bebida.

Os olhos azuis, que antes brilhavam em diversão, adquiriram um valor mais aquecido e carinhoso. Naruto sabia que o homem só estava preocupado, porque era raro o ver perder boas horas de sono, por causa de trabalho. O Uzumaki não era preguiçoso, muito pelo contrário, mas ele valorizava cada pouco minuto de descanso que tinha.

- Talvez, você pudesse me dar uma massagem para me ajudar a dormir. - ele sacudiu as sobrancelhas sugestivamente, pegando a caneca estendida e assistindo o moreno balançar a cabeça negativamente para as suas brincadeiras de cunho sexual.

- Eu levei o Nagato para a escola. Desculpe não avisar antes, mas você estava tão concentrado, que não quis atrapalhar. - disse, mal segurando a diversão na voz e, ao ver a expressão surpresa no rosto bronzeado, ele quase riu. O homem havia parado com o copo a meio caminho da boca e os olhos arregalados, dando ainda mais destaque para os orbes azuis cerúleos.

- Você fez o que...? - Naruto não pôde deixar de se sentir meio perdido. - Itachi... - começou, mas foi interrompido.

- Não comece, Naruto. - contestou com a voz firme, vendo-o murchar em sua cadeira. - Eu já sei o que você vai dizer. Você não precisa lidar com tudo isso sozinho. Não faço só por você, faço por ele também. - explicou com um timbre que demandava finalidade. Ele estava farto de terem aquela conversa todas as vezes que decidia fazer algo pelo menino.

- Eu sei, mas... - tentou mais uma vez, mas foi novamente calado.

- Sem "mas", Uzumaki, apenas me agradeça e vá descansar. - retorquiu com simplicidade.

Os olhos azuis o escanearam com profundidade e, em um silêncio resignado, o loiro agarrou um punhado da blusa cinza de manga comprida, que o moreno vestia, e o puxou a fim de abraçar a cintura estreita. Ele encostou o rosto na barriga plana e suspirou com a familiaridade do perfume do Uchiha, cuja fragrância o lembravam a sensação de estar em casa; era suave, com base de baunilha e notas de bergamota, para não tornar o odor adocicado, mas macio como um toque de seda.

- Obrigado, não sei o que eu faria sem você. - murmurou com a voz ainda mais rouca, devido ao timbre mais baixo.

Itachi sorriu com satisfação.

- Apenas vá dormir. – finalizou com o comando firme, afastando-se com leves batidinhas no topo da cabeça dourada.

- E a minha massagem? - o Uzumaki jorrou, recebendo um dedo do meio em retaliação à sua pergunta estúpida. - Filho da puta! - rosnou, bebendo o conteúdo da caneca em um único gole e se levantando para caminhar até a cama. - Um dia você vai precisar de mim para aquecer a sua cama e eu vou negar, Uchiha, você vai ver... - resmungou sozinho no quarto, jogando-se no colchão macio e abraçando um dos muitos travesseiros espalhados.

Não demorou nem meio minuto até que ele caísse no sono, tão desgastado que se sentia fisicamente.

 

(***)

 

- Pai?

Uma voz infantil chamou baixinho, um tanto temerosa, fazendo com que o homem referido apertasse os olhos, em uma vã tentativa de fazer o que atrapalhava o seu sono, ir embora.

- Pai?!

A voz disse mais alto e ele virou de costas para o incômodo, ao mesmo tempo em que colocava um travesseiro sobre a sua cabeça, resmungava sob a respiração e coçava o lado direito da bunda.

- Pai, é melhor o senhor levantar, antes que Ino-chan venha...

Isso chamou a atenção do loiro, que levantou a cabeça descabelada para olhar em volta, totalmente confuso. Os olhos azuis perdidos olharam em volta e encontraram o familiar cabelo vermelho de Nagato. O menino parecia meio ressabiado e preocupado por ter de acordá-lo, mas havia feito, justamente por saber do temperamento da "quase" mãe adotiva. Naruto e Ino estavam juntos há tanto tempo, sem se assumirem como um casal, que mesmo o ruivo tinha dificuldades em dizer que eles não tinham uma relação estável.

O Uzumaki mais velho esfregou as pálpebras e se sentou em posição de meditação na cama espaçosa. Com alguns tapinhas ao seu lado, o editor indicou que o garoto deveria se acomodar ao seu lado, fazendo-o subir no colchão sem segundos pensamentos. Ele sabia que estava negligenciando o moleque nos últimos dias, devido ao trabalho, e agora que havia entregado tudo, podia se dedicar um pouco ao afilhado.

Nagato estava descalço. Por uma exigência de Itachi, que viveu no Japão por grande parte da sua vida, todos naquela casa tinham que tirar os sapatos assim que passassem pela porta de entrada. Mesmo tendo descendência japonesa, Naruto não seguia muito os costumes orientais, pois sempre vivera na Califórnia, mas ele realmente não ligava quando o Uchiha assumia as responsabilidades e regras da casa, porque sabia muito bem que, se dependesse dele, aquele apartamento seria uma baderna.

- Ino te buscou na escola. - não era uma pergunta, mas uma constatação. Mentalmente ele agradeceu a mulher por ajudá-lo sempre que podia também.

- Hn. Ela está na cozinha, fazendo o jantar. - explicou, sentando-se na mesma posição do mais velho. - Eu não queria te acordar, porque eu sei o quanto o senhor está cansado... - ele murmurou de forma insegura, brincando com os dedos da mão.

Naruto suspirou e depois sorriu, passando o braço direito pelos ombros pequenos e os apertando em um meio abraço.

- Eu sei. - murmurou, depositando um beijo duro no topo da cabeça vermelha. - Não se preocupe com isso, Naga-chan, eu realmente precisava acordar, já descansei tempo o suficiente. - tranquilizou-o, passeando as mãos pelos fios rubros e vendo-os como estavam compridos. - Você precisa cortar um pouco desse cabelo, essa franja no seu olho está me irritando. - comentou, empurrando todo o cabelo do garoto para trás, a fim de poder ver os olhos azuis, quase lilases.

- Ah, não, pai! - exclamou, afastando as mãos dos seus cabelos. - Eu gosto do meu cabelo assim, mesmo que os outros meninos digam que ele pareça um tomate.

Naruto riu com essa última parte.

- Eu gosto do seu cabelo também, mesmo que eu não goste muito de tomates. - murmurou. - Em breve você estará com o cabelo tão comprido quanto o de Itachi.

Um sorriso se desenhou no rosto infantil.

- Então, eu vou ficar tão bonito quanto o tio 'tachi! - disse, atraindo outra onda de risos do homem.

- Eu tenho certeza que sim, já que seu pai e sua mãe também eram. - disse carinhosamente, notando o semblante alegre se apagar um pouco com a menção dos pais biológicos. Naruto fazia questão de lembrar o menino sobre Yahiko e Konan, pois não queria que a memória deles se apagassem definitivamente na cabeça da criança, mesmo que o garoto já não lembrasse deles, fora o que lhe era contado.

- Eu tenho os cabelos mais escuros que o do papai. - comentou, olhando os fios rubros como sangue com desgosto.

- Você herdou as mesmas características dos outros Uzumaki. Eu e seu pai somos um tanto diferentes, mas, assim como ele, eu também posso ter filhos ruivos. Minha mãe tinha o cabelo vermelho como o seu e ela era a mulher mais bonita que já vi na vida, mesmo que seja só por fotos. - sorriu consolador, ajeitando a gola levantada da camisa polo do uniforme escolar do menino. Nagato não entendeu muito bem o que ele quis dizer, mas futuramente, quando aprendesse sobre genética, ele iria perceber que não era tão anormal quanto achava, ter os cabelos mais escuros e os olhos mais claros que do pai biológico.

- Mais bonita que a Ino-chan e a mamãe Konan? - ele perguntou com ansiedade e os olhos arregalados em expectativa. Nagato tinha um semblante tão inocente como todas as outras crianças, que o fato lhe dava vontade de pegar o menino no colo e protegê-lo, impedir que qualquer coisa pudesse tirar aquele brilho puro e angelical da face rechonchuda.

Como se ouvisse o seu nome, a mulher apareceu na porta, cruzou os braços e assistiu, com um sorriso leve no rosto, os dois meninos conversando, sem reparar que ela estava ali.

- Tão bonita quanto as duas. - respondeu, pegando uma foto de Kushina, que estava dentro da sua mesa de cabeceira e entregando-a para o garoto. Na imagem, a Uzumaki estava grávida, sorria e olhava para a barriga, enquanto a acariciava, totalmente alheia à câmera e ao seu pai, que havia batido a foto.

- Quem é tão bonita quanto eu?! - Ino perguntou, fingindo raiva e chamando a atenção dos dois para si. Os dois sorriram para ela e Nagato se levantou, mostrando a imagem da avó com um semblante feliz.

- Tão bonita quanto a mamãe Konan e a vovó. - disse, pulando no colchão e estendendo a foto para ela. - A vovó tinha o cabelo igual o meu!

- Ah, bom... Eu achei que fosse outra mulher mais bonita que eu! - o menino parou como se tivesse ficado ofendido com a sugestão.

- Não existe outra menina mais bonita que vocês três! - retrucou indignado. - Nem na escola!

Tanto Naruto quanto Ino riram da declaração do menino.

- Fico feliz em saber disso! - a Yamanaka sorriu, agarrou o rosto rechonchudo e bicou os lábios rosados em um beijinho carinhoso, fazendo-o corar. - Eu te amo, sabia? Continue tão gracinha desse jeito e todas as meninas vão se apaixonar por você.

- Não engrandeça o ego da sua mãe, Nagato, ou ela vai se tornar ainda mais narcisista e insuportável que já é! - recomendou, esperando receber um tapa, como sempre acontecia. Mas, o tapa nunca veio e o que sucedeu após a sua declaração, foi uma Ino Yamanaka o olhando, paralisada.

- Você nunca disse que eu era mãe do Nagato também. - murmurou, com a voz trêmula. O ruivo olhava os mais velhos sem entender absolutamente nada, principalmente a parte em que a mulher dizia sobre ser sua mãe; ele já a considerava dessa forma há muito tempo.

- E eu preciso dizer, Ino? Você cuida desse moleque tanto ou mais que eu! - respondeu como se dissesse o óbvio para alguém retardado.

- É, mas você nunca disse... - ela murmurou com a voz embargada.

Naruto imediatamente se arrependeu de ser tão rude, ele entendia a conotação das palavras que ela só não dizia, devido à presença do garoto. Eles não tinham um relacionamento real para ser delimitado esse tipo de ligação como mãe, pai e filho; ambos eram apenas amigos que se fodiam sempre. Embora o envolvimento que tinham não os incomodasse antes, talvez tivesse abrido porta para algumas dúvidas, quando Ino se apegou ao Nagato de forma a querer ser parte da família também. Ela nunca o forçou, mas deve ter se sentido tocada com o convite indireto.

- Hey, desculpa. - ele pediu, puxando-a pela parte traseira da coxa e a fazendo subir na cama também. Uma olhava rápida para o lado e ele percebeu o olhar confuso nos orbes azuis de Nagato. - 'tá sentimental, bebê? - ele perguntou em tom de troça, abraçando a cabeça platinada e acariciando os fios claros com os dedos, atraindo um riso choroso.

- Cala a boca! - ordenou, fingindo raiva.

- A bebê está sensível, Naga-chan, dá um beijinho nela para ela parar de chorar. - Naruto pediu, vendo o menino se aproximar com o olhar preocupado e depositar um beijo molhado na bochecha corada, devido ao esforço para conter os soluços.

- Por que a Ino-chan está chorando, pai? - ele perguntou com o rosto contorcido em remorso e tristeza.

- Porque ela está naqueles dias... - sussurrou a mentira, fazendo o menino concordar com a cabeça, um tanto apreensivo. Ele já havia presenciado as mudanças repentinas de humor da mulher "naqueles dias", como o Uzumaki costumava chamar, e não era muito bom. Ora ela chorava sem motivos, ora gritava como uma louca.

Mulheres sabiam ser assustadoras, quando queriam.

- Eu já estou bem, Nagato, não precisa ficar preocupado. - fez questão de tranquilizá-lo, vendo-o acenar positivamente com a cabeça e pegar a foto esquecida em cima do colchão.

- Ela está no céu como a minha mamãe, não é? - ele indagou, mostrando a imagem e recebendo apenas um aceno afirmativo como resposta. - Então, somos iguais, né? Só que você ainda tem o vovô Minato.

- Sim, nós somos iguais. - sorriu, ainda acariciando os fios finos e claros da mulher, que agora estava praticamente deitada em seu colo.

- Posso ficar com a foto da vovó? - ele perguntou com ansiedade.

- Claro, eu tenho outras guardadas aqui na gaveta. - respondeu, vendo o menino sorrir e correr porta afora. - Enquanto ele é criança, ainda tem o temperamento elétrico do pai, mas espero que, futuramente, ele não seja tão sério quanto a mãe, porque eu não saberia me acostumar a viver sem esse jeito agitado.

- Ele tem sorte de ter você para lembrá-lo de como ser hiperativo, então. - a loira sorriu, levantando-se. - O jantar está pronto.

- Passou o ataque de mulherzinha? - indagou, bicando os lábios rosado em um beijo suave.

- Passou. - ela deu um riso pequeno, antes de começar a pentear os cabelos com os dedos, para ajeitá-los.

- Vamos conversar sobre isso mais tarde. - murmurou com simplicidade, olhando a mulher de cima a baixo. Ela usava um vestido justo preto de mangas compridas, que marcava todas as suas curvas sinuosas. O decote em "U" mostrava um pouco a junção entre os seios colados. Naruto tinha quase certeza que Ino viera com um daqueles sapatos altíssimos que lotavam o armário feminino.

Mais tarde ele a faria calçar o sapato, porque ele a comeria daquele jeito: totalmente vestida.

O olhar de fome não passou despercebido pela Yamanaka, que só sorriu maliciosamente e endireitou o tronco.

- Gostando do que vê, Uzumaki? - ela faria todo um teatro para instigá-lo, se ele não tivesse escolhido aquele momento para agarrá-la pela cintura e jogá-la em cima da cama.

Ino nem teve tempo de gritar, antes que sua boca fosse atacada por um beijo voraz. Naruto era um amante faminto, daqueles que devoravam a sua alma, se lhe permitisse. Mesmo depois de quase 14 anos juntos, ela não parava de se sentir sedenta pelos toques firmes e necessitados. Talvez fosse seu relacionamento impessoal que havia conservado aquele desejo e lascívia, a possibilidade de ter a sua própria individualidade, sem perder a chance de um sexo estável, deveria ter fomentado esse envolvimento que fugia à regra.

Quando ela sentiu o Uzumaki puxar a gola do seu vestido para baixo e lamber a junção entre seus seios, Ino suspirou, mas ao contrário do que pensava, ele não continuou o que estava fazendo. O loiro se levantou um pouco, depositou um beijo casto no lugar que havia lambido e se afastou.

- Vamos jantar. - abriu um sorriso ao ver a mulher descabelada e espalhada por toda a sua cama, com uma expressão que mesclava raiva e confusão.

- Porra, Naruto, eu sou a pessoa que deveria te deixar na mão aqui! - xingou, levantando-se e ajeitando a barra do vestido, que havia subido.

- Calcinha bonita, amor. - elogiou com uma piscadela, fazendo-a bufar em aborrecimento. - Nagato já deve estar com fome e Itachi em breve vai sair daquele quarto, vamos deixar para transar mais tarde. - murmurou, ajudando-a a ajeitar o cabelo.

- Idiota. - rosnou, enquanto saia do quarto e tentava ignorar o som do riso grave e debochado.

 

(***)

 

Os dois já estavam acordados há algum tempo, mas estavam preguiçosos demais para se levantarem da cama. Naruto com as costas apoiadas em alguns travesseiros e Ino alinhada em seus braços. O quarto não estava mais escuro, pois o loiro havia puxado as cortinas para que a claridade do dia pudesse iluminar o ambiente. Já havia passado das 11h30m e nenhum deles davam sinal de que sairiam daquela posição.

Nagato viera e lhes desejara "bom dia", conversara um pouco, mas saíra novamente para assistir algum programa infantil na TV da sala de estar. O menino, mesmo tendo apenas quatro anos, havia preparado seu próprio desjejum e ainda perguntara se os adultos não estavam dispostos a comer alguma coisa, mas nem isso fizera com que seus pais adotivos saíssem da letargia típica do final de semana.

Naruto penteava os fios finos com os dedos, desembaraçando os nós com cuidado para não machucar, arrancando suspiros deleitosos da mulher deitada em seu peito.

- Ino? - chamou em um timbre baixo.

- Hm? - ela grunhiu preguiçosamente.

- Podemos conversar sobre o que aconteceu ontem? - jorrou sem titubear.

No relacionamento deles, não havia espaço para hesitações. Desde o começo, ambos foram envolvidos por uma ligação direta, quase agressiva. Eles eram retos e certeiros como um arqueiro treinado; se sabiam o que queriam, não hesitavam em conseguir seus objetivos, entre caminhos um pouco tortuosos, mas de maneira sincera.

Os anos de relacionamento também contribuíram para que alcançassem um nível de intimidade maior. Os dois viveram, passando por altos e baixos ao longo de 13 anos e, embora o envolvimento entre eles fugisse do padrão, o fato apenas reforçava o elo que dividiam.

- O que aconteceu ontem? - ela indagou com um leve tom de troça.

- Você sabe o quê, Ino, não se faça de desentendida! - rosnou com impaciência, ele odiava aquele jogo e a Yamanaka sabia muito bem disso, por isso vivia o provocando.

- Relaxa, Naruto, eu só estou um pouco sensível. - tentou tranquilizá-lo, sem entrar em muitos detalhes. Ela não estava disposta a se abrir dessa forma ainda.

O loiro a empurrou de costas na cama e deitou sobre ela, a fim de encontrar e encarar os orbes azuis pálidos. As íris claras brilhavam com diversão, acompanhadas de um sorriso singelo. Um minuto ou dois de análise depois, ele finalmente se deu por vencido; Ino não estava mentindo.

- Você não é mulher de ficar sensível, Ino, e ainda é muito cedo para você estar no seu período... O que está acontecendo? - insistiu.

A declaração, ao invés de obter mais seriedade, reivindicou uma gargalhada por parte da psicóloga.

- Você conta os dias para o meu período, Naruto? - indagou, revertendo o tópico do diálogo. A pergunta fez o Uzumaki corar um pouco e olhar para o lado, desconcertado.

- Mais ou menos... Você é uma mulher um pouco psicótica, quando está "naqueles dias", além disso, é melhor fazer algumas prevenções extras na hora do sexo... - explicou, fazendo-a revirar os olhos.

- Quanto a esse último ponto, pode ficar despreocupado, eu tenho total controle sobre a minha natalidade, Naruto. - retorquiu como se explicasse o óbvio. - Nagato já está bom demais para você? - perguntou em meio ao riso, já sabendo a resposta.

- Já, e você sabe muito bem disso! - respondeu com um muxoxo.

- Você é um ótimo pai, Naruto, muito melhor do que pensa. - acariciou os cabelos dourados, massageando o couro cabeludo do homem com as unhas compridas, fazendo-o cantarolar de prazer e fechar os olhos.

- Você ainda não me disse o porquê de estar sensível. - ele avaliou, tentando mudar o foco da conversa para o ponto inicial, a fim de não ter que responder as questões futuras, que ele sabia que viriam com esse diálogo enfadonho.

- Você sabe o porquê... - murmurou, mordendo o lábio inferior, atraindo o olhar do Uzumaki. Os orbes azuis profundos a encararam com intensidade, fazendo-a suspirar; ele tinha olhos lindos em um sentindo além do estético, mas emocional. Aquelas íris eram a janela escancarada da alma do homem, você podia lê-lo, mas era incapaz de entrar naquela miríade de sentimentos, porque ele não havia aberto a porta para deixar que as outras pessoas o decifrassem.

Naruto era um mistério, mesmo sendo tão exposto.

- Você não acha que já está na hora de amar outra pessoa? - ele perguntou, movendo-se para arrastar as pontas dos dedos nas laterais do tronco delgado, a fim de sentir a curva sinuosa da cintura fina.

- E você acha que eu já não tentei? Na verdade, eu tento todos os dias. - ela o olhou de forma significativa, sentindo pequenos arrepios nadarem por sua pele. - Mas, eu não consigo, ele é uma presença constante em mim, na minha vida...

Ele sorriu e passou a beijar a pele sob o pulso com delicadeza, passando os lábios em uma carícia suave e fazendo sua respiração bater de encontro à tez pálida, levantando ainda mais os folículos da pele.

- Não adianta tentar, Ino, você não me ama dessa forma, talvez deva encontrar outra pessoa para amar... - sugeriu, não percebendo o quanto sua declaração a deixou chateada, pois estava ocupado demais tocando todas as partes que poderia alcançar.

- O amor não é um produto, que se sai à procura em qualquer lugar, e se tem a certeza que ficará com ele para sempre, Naruto. - retrucou ainda mais irritada.

Percebendo o tom alterado, ele se ergueu e se sentou em cima dos tornozelos. As pernas longas da mulher, que circundavam sua cintura, apertaram-se para evitar que ele saísse.

- Naruto...

- Tsk, você é teimosa! - ele rosnou.

Ino sabia muito bem que ele não via o amor como um produto adquirível, mas sim como um sentimento mutável e trabalhado. Ela não o amava da mesma forma que o fazia com Shikamaru, porque ele era uma pessoa diferente, tratou-a diferente e a fez viver situações diferentes. O Nara tinha um grande peso na vida da Yamanaka, enquanto ele era apenas o melhor amigo, que lhe dava alguns benefícios extras. No entanto, ela poderia abrir o coração para outra pessoa e aprender a amar esse alguém com a mesma intensidade que o fazia com o professor de matemática.

A loira era tão obcecada pelo homem, que mesmo o cara estando em um relacionamento estável com Temari No Sabaku, ela ainda nutria esperanças de que, de repente, o moreno a visse como alguém além de uma irmã de consideração. Estava na hora de excluir essa fase eterna na vida dessa mulher, porque se passaram anos e a situação continuava estática. Naruto não aguentava mais vê-la sofrer, uma vez que a via como uma pessoa muito especial e querida em sua vida também.

- Só estou defendendo os meus pontos de vista. – ela se defendeu, passando as mãos pelo pescoço masculino e o puxando pela nuca, para fazê-lo deitar novamente.

- E me deixando louco com eles! - rebateu, levando a mão direita para curva das costas pálidas e erguendo o quadril arredondado para encaixá-los, mas sem fazer outro movimento que denunciasse o passo seguinte dos seus atos.

- Promete que nunca vai me deixar sozinha? - ela perguntou, contrariando o acesso de raiva do homem, correndo as mãos pelo peito firme e liso, esfregando os mamilos com os dedos experientes e o instigando a tomar a atitude que esperava.

Naruto a encarou profundamente de novo e suspirou, antes de sorrir e reivindicar a boca rosada. Suas línguas se entrelaçaram e se esfregaram insinuantes, lentas e sedutoras, quase exploratórias para redescobrir um caminho tão conhecido. Sugando e mordendo o lábio inferior da mulher com firmeza, ele rompeu o ósculo e passou a distribuir pequenas sucções e lambidas na clavícula.

- Promete que vai pensar sobre o que eu disse? - ele insistiu, fazendo-a soltar um suspiro.

- Você também é um teimoso, filho de uma... - não conseguiu terminar, pois sua boca fora novamente reivindicada por um beijo intenso.

- Cala a boca. – ele murmurou, de encontro os lábios cheios, começando a explorar o corpo feminino com as mãos.

No entanto, antes que ele pudesse fazer mais que subir as palmas para os seios redondos, a campainha tocou, parando-os. Os dois se entreolharam confusos e um pouco irritados, perguntando-se quem seria o visitante inesperado.

Com um suspiro resignado, ele se levantou, a fim de atender a porta. Não sabia se Itachi estava acordado e não queria que Nagato abrisse a porta para qualquer estranho. Andando pelo quarto, ele deu um olhar de desculpar para a mulher esparramada em sua cama e pegou uma calça de moletom larga, que estava jogada no chão. Vestiu-se sem qualquer cuidado no mundo, deixando a peça de roupa ao Deus-dará, caída no quadril estreito. Ino sorriu e apoiou a cabeça nas mãos, como se dissesse: estarei esperando.

Naruto parou no final do corredor, com a visão da porta escancarada para o completo estranho. Seu afilhado parecia confuso e a primeira coisa que o Uzumaki notou, além de ser alguém do sexo masculino, foram as malas enormes, estacionadas ao pé do rapaz. Quando seu olhar se ergueu e ele encontrou um par de orbes escuros, ele perdeu o compasso de sua respiração...

Eram os olhos mais bonitos que já tinha visto em toda a sua vida.

Eram negros, profundos e expressivos; ficara nítido que seu visitante também estava surpreso em vê-lo, mesmo que ele ainda não soubesse exatamente o porquê, afinal, ambos não se conheciam. O Uzumaki nunca havia visto esse homem em sua vida, pois se tivesse feito, ele lembraria, afinal, o cara era bonito. Tão ou mais bonito que Itachi. A pele de alabastro parecia macia ao toque e o cabelo, preto azulado, fazia um contraste bonito com a brancura de suas características.

Ele era alto, um pouco mais alto que o próprio Naruto, cerca de dois a três centímetros, no mínimo. O corpo estava escondido sob as roupas escuras, uma calça jeans azul marinho, uma camiseta preta simples e um blazer de veludo preto, mas o loiro quase podia imaginar os músculos firmes abaixo de todo aquele pano.

O cara era uma verdadeira obra-prima.

- Posso ajudar? - ele perguntou com a voz involuntariamente rouca. Praguejando mentalmente, ele pigarreou. - Nagato, pode deixar que eu atendo esse senhor.

- Okay, pai. - o garoto respondeu, fazendo o estranho arregalar os olhos minimamente.

A pequena demonstração de surpresa passou tão rápida pelo rosto do estranho, que se Naruto não estivesse tão atento em cada pormenor do homem, ele não teria pegado. Estranhamente, o Uzumaki estava sentindo que conhecia aquela pessoa de algum lugar, mas não poderia descobrir sozinho de onde.

- Posso ajudar? - ele perguntou novamente, atraindo a atenção daqueles olhos magníficos e a sensação de reconhecimento ficou ainda maior. Ele conhecia aquele olhar...

- Você não lembra de mim, Naruto?

A forma como o homem disse o seu nome, como se saboreasse as palavras na ponta da língua e sentisse sua forma nos lábios, fez com que ele se arrepiasse por inteiro. O loiro não sabia se ele era consciente do efeito que tinha, mas o moreno estava o virando do avesso com aquela voz profunda e grave, recitando o seu nome com aquele tom divertido, quase malicioso, que pingava sexo líquido.

Ele lambeu os beiços.

- Hm? - perguntou, sentindo-se meio perdido de repente, tão concentrado que estava em como seria...

Seus pensamentos foram interrompidos:

- Sou eu, Sasuke Uchiha. - ele deu um sorriso atrevido, cruzando os braços e se apoiando no batente da porta. - Não vai me convidar para entrar?



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