POV Himawari:
Fixei a orelha direita na porta de madeira bruta e já um pouco gasta pelo tempo. Ouvi algumas palavras necessárias serem ditas, o que me deixava ainda mais ansiosa. A voz do Tio Shikamaru ecoou mais alto, ouvi um pergaminho ser aberto, e já o imaginava lendo de frente para meu pai. Eram palavras difíceis, que somente um Kage as usaria para escrever em uma simples resposta. Mas ao terminar de lê-las eu sorri de satisfação.
- Quer dizer que ele concordou? – ouvi a voz de meu pai ecoar até meus ouvidos.
- Hai, é o que está escrito aqui.
- Quando eles chegarão?
- Daqui alguns dias. Colocarei a Mirai como responsável. – foi a palavra final de Tio Shikamaru até ouvir seus passos se aproximarem da porta. Antes que soubessem que estive escutando a conversa saí correndo atrás do Bolt.
[...]
Bolt havia saído cedo esta manhã, voltou meio conturbado depois do treino ontem. Estava inquieto e pensativo desde então. Esteve assim no decorrer de alguns meses atrás, e eu sabia exatamente o motivo. Bolt também sabia, mas se recusava a aceitar. Alguns podem até dizer que uma garota de quinze anos não entende nada sobre amor e essas coisas, mas é totalmente o contrário quando isso se refere á mim. Eu sou uma especialista nesse assunto, sempre observei as pessoas de longe por ser meio tímida, e com isso acabei descobrindo coisas sobre elas. E uma das mais predominantes é como reconhecer uma pessoa apaixonada, e uma dessas pessoas era Bolt.
Mamãe havia saído também e disse que não fazia ideia de onde Bolt havia se enfiado. Andei por várias ruas á procura da cabeleira loira e meio desgrenhada, mas não havia nenhum sinal dela. Por alguma coincidência, ou talvez não, resolvi procurar justo na rua da Floricultura Yamanaka, uma das mais frequentadas e populares. Mesmo sendo ainda cedo para o comércio ser aberto, a Floricultura já se encontrava aberta e com alguns clientes. Observei a vitrine, onde se traziam variadas flores de diferentes cores e espécies, algumas consideradas até raras.
Eu sei que Bolt jamais cruzaria pela floricultura, mas por obra do destino, ou da minha insistente mania de observar as pessoas, vim até aqui observar uma das pessoas mais fascinantes que já encontrei. Algumas pessoas poderiam até considera-lo meio estranho ou frio, mas eu o achava gentil e fascinante. Então entrei na loja, mesmo não tendo nenhum dinheiro para contribuir na compra de algumas de suas flores.
O corpo de cor pálida se encontrava ajoelhado no chão, em sua cintura estava amarrado um avental branco e sujo de terra. Suas mãos estavam ocultas pelas luvas amarelas que usava para não sujá-las no manuseio com as flores, que eram tocadas delicadamente por ele.
- Yo Inojin! – saudei e isso o fez virar sua face até mim. Com seus dezoito anos, seu rosto havia adquirido traços maduros e bonitos, seu sorriso era sincero quando dirigido á mim e seu cabelo comprido amarrado lhe dava ainda mais charme.
- Ah, oi Hima. Vai levar alguma coisa hoje? – essa pergunta era sempre dirigida á mim em todas as vezes que entrava na loja e sempre saía sem comprar nada.
- Ainda estou decidindo. – falei como se escolhesse as flores á minha volta, quando na verdade nem me dei ao trabalho de olhá-las.
- Posso ajudar a escolher conforme a ocasião e pessoa que for entregá-las. – ele se levantou e ficou á minha frente. Era um pouco mais alto que eu, minha cabeça batia em seu queixo, e eu morria de vergonha de encarar seus olhos verdes meio opacos. Eu corava com facilidade e nesse momento senti a maldita queimação nas bochechas.
- Ah, sim, tudo bem. – meu tom saiu baixo, e era notável a vergonha na minha fala. Mas diferente de todas às vezes, ele se dirigiu para o balcão e pegou seu caderno de desenhos, virou algumas páginas que continham seus belos desenhos até achar uma folha branca. Pegou um pincel e mergulhou no pote de tinta preta no canto do balcão. Então começou a fazer vários traços, eu tentei ver o que era, mas ele bloqueou minha visão com um dos seus braços e sorriu.
- O que está fazendo? – perguntei, mas o mesmo demorou responder. Ainda mantinha seu sorriso discreto nos lábios e uma face serena. Segundos depois finalizou sua obra e a mostrou para mim. Na fina folha de papel, bem no centro, o belo desenho de um girassol se encontrava.
- Isso!
- É lindo! – exclamei. Inojin fez alguns selos e colocou a palma da mão em cima do desenho. Na hora o desenho criou vida, adquirindo três dimensões. Sua mão envolvendo o girassol foi estendida á mim.
- Pra você, uma flor para uma mais bela ainda. – eu a peguei, ainda receosa. Corei instantaneamente e ele sorriu ainda mais fechando os olhos.
- Arigatou. – me encolhi um pouco, envergonhada pela aproximação de Inojin.
- Assim você não sai novamente sem comprar nada.
- Ah, é me-mesmo. Be-bem, preciso ir. – acenei e ele retribuiu. – Até mais.
Minhas bochechas estavam ainda mais quentes, na verdade todo meu rosto estava queimando de vergonha. Recostei-me atrás da árvore enquanto ofegava descontroladamente. Olhei para o girassol em uma das minhas mãos, mesmo sem cores era belo e bem desenhado.
[...]
Eu ainda corria atrás de Bolt mesmo segurando o belo girassol em minhas mãos. Passei até pelo cemitério, já sem criatividade para adivinhar onde ele estava, e por incrível que pareça, ele estava lá. Jamais havia visto Bolt entrar num cemitério, muito menos ficar diante de uma lápide. Aproximei-me e fiquei ao seu lado. Seu rosto não se moveu um centímetro. Olhei o nome gravado e uma sensação de aperto me dominava. “Neji Hyuuga”. Mesmo não tendo tido a oportunidade de conhecê-lo, eu sentia um enorme carinho por ele. Sentia saudade de alguém que havia morrido muito antes de eu nascer, mas mamãe e papai falavam tanto dele que era como se tivéssemos passado a vida inteira ao lado dele.
- Nunca imaginei te encontrar aqui um dia. – ele me olhou assustado, como se só agora tivesse notado minha presença. – Muito menos nessa lápide.
- Por incrível que pareça eu venho aqui com alguma frequência. – ele correu os olhos até minhas mãos, fez bico com a boca e desviou o olhar. – Você foi lá de novo, não é. – sorriu de canto.
- Fu-fui. – corei e desviei o olhar. O ouvi suspirar e sua voz ecoar segundos depois.
- Queria me falar alguma coisa, Hima?
- Ah sim! – falei entusiasmada já me lembrando da noticia que escutara. – Acabei de saber que será realizado o exame jounin aqui na vila. – falei ainda mais entusiasmada. Eu havia me tornado uma chunin recentemente, e ficava maravilhada de ter a oportunidade de participar do jounin.
- Sério? Quando? – perguntou ele com um brilho nos olhos.
- Os ninjas da areia virão daqui alguns dias, ficarão instalados por aproximadamente um mês na nossa vila, até que seja realizado o exame. – finalizei relembrando as coisas que ouvi hoje cedo.
- Ninjas da areia? – perguntou Bolt e parecia curioso.
- Hai. Eu estou louca pra participar! – exclamei fechando as mãos em punho de felicidade.
- Eu não acho uma boa ideia. – ele cruzou os braços.
- Por que não?
- Eu acho você ainda muito nova pra participar desses torneios, ainda mais com ninjas de fora da nossa vila.
- Mas Bolt, eu estou preparada! Mirai-sensei me ensinou direitinho! – falei decidida.
- Como soube disso? – eu iria respondê-lo até que uma voz feminina ecoou próxima de nós. Virei-me e retraí-me com a pessoa á nossa frente.
- Ouvindo conversas atrás da porta. – disse ela.
- Mirai-sensei?
- Estava ouvindo atrás da porta, Hima? – repreendeu-me Bolt, mas não respondi por vergonha.
- Eu a vi saindo rapidamente quando estava indo ver o Hokage. – ela riu. – Então já sabe sobre os novos exames?
- Ha-hai. – gaguejei. – Você mesma irá coordená-lo, não é?
- Hai, meu padrinho Shikamaru me convidou. Será uma honra. – ela sorriu de canto. – Conto com a sua participação também, Himawari, e todos da nossa equipe.
- Mas ela ainda é muito nova, Mirai-sensei. – disse Bolt, me fazendo ficar irritada.
- Ela está mais do que preparada. – afirmou com certeza a mulher.
- Arigatou.
- Como será a prova? – perguntou Bolt curioso.
- Eu não posso revelar, gomen. – ela virou de costas e caminhou até uma das lápides, deixou algumas flores e um maço de cigarros, que só agora notamos. Eu sabia que era para seu falecido pai, que foi o sensei do antigo Ino-Shika-Cho. – Até mais. – acenou ela.
- Venha, precisamos contar sobre o exame. – disse Bolt caminhando para fora do cemitério. Eu o segui.
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