História More Than This - Uma carta com todo o amor do mundo.

  - Ué, pensei que você fosse demorar – disse eu enquanto sentava-me na cadeira à sua frente. – Você pediu para que eu viesse na frente e no entanto chegou primeiro – ri. – Você é meio idiota, não acha?

Silêncio.

Remexi-me desconfortável na cadeira.

  - Matt?

Nada.

  - Ah, você tá de sacanagem né, Matheus? – revirei os olhos impaciente.

Comecei a ficar preocupada com a ausência de resposta.

  - Você está dormindo? – balancei seus ombros.

  - Que demora, Gemma – resmungou ele quando se levantou. Limpou a baba que escorria no canto da boca e tirou o capuz da cabeça. Ele deu um pulo repentinamente assustado. Acho que eu não era o que ele esperava.

Arfei surpresa dando um encontrão nas costas da cadeira. Tão forte que quase me fez virar para trás.

  - O que você está fazendo aqui? – perguntei tentando controlar a respiração.

  - Vim encontrar a minha irmã, mas e o que você faz aqui? – ele parecia desconfiado.

  - Vim encontrar com meu irm... com o Matt.

  - Ah – revirou os olhos.

 - Talvez... talvez você esteja a esperando na mesa errada. – Sugeri.

  - Ou talvez seja você quem esteja na mesa errada.

  - Posso lhe garantir que estou na mesa certa – arquei a sobrancelha.

  - Então há um engano – concluiu.

  - Um engano – repeti.

Um engano... talvez...

  - Mas onde está seu namorado?

  - Onde está sua irmã?

  - Eu perguntei primeiro.

  - E eu respondi. – cruzei os braços.

  - Não, você me perguntou.

  - Eu respondi, mas você não costuma pensar muito.

  - O que quer dizer com isso? – semicerrou os olhos.

  - Que da mesma maneira que você não sabe onde está a sua irmão eu não sei onde está o meu.

O meu?

  - O meu, o meu amorzinho – completei. Droga, vou acabar me entregando dessa maneira.

Ele me olhou desconfiado.

  - Irei espera-lo lá fora – despedi-me.

  - Não, espere – pediu detendo-me enquanto segurava meu pulso.

Uma corrente elétrica percorreu meu corpo no momento em que ele me tocou.

  - O que há? – perguntei como uma criança mimada.

  - Fique – pediu.

Hesitei, mas, por fim voltei à cadeira.

  - Bem, já que estamos aqui...

  - Seja direto, por favor. – pedi.

  - Acho que, bom, que podemos conversar, você sabe – ele lutava para encontrar as palavras certas.

  - Eu acho que tudo o que tínhamos para dizer já foi dito.

  - Penso o contrario, creio que ainda há muitas lacunas vazias.

  - O que quer dizer com isso?

  - Eu ainda não consigo entender porque você não consegue me perdoar.

Você me traiu, me humilhou, partiu meu coração em pedaços, me deixou desamparada, sozinha e com medo de amar. Será que eu esqueci de algo? Acho que não. Isso é o suficiente pra você ou ainda quer mais?

  - Oras, já não é óbvio? – revirei os olhos.

  - Para mim não – respondeu convicto.

Suspirei sabendo que não irei me safar dessa.

  - Você me traiu – lembrei o que ele parecia ter esquecido.

  - Eu estou tentando me redimir, mas isso parece impossível.

  - Não se conserta um cristal quebrado, então não pense que pode consertar meu coração.

  - Isso foi profundo.

  - Não tanto quanto as feridas que você abriu – cuspi para ele.

  - Não foi minha intenção.

  - Nunca é – rebati.

  - Nunca quis te machucar.

  - Acredito em você.

  - Parece que não.

  - Pense o que quiser – dei de ombros.

Queria que ele fosse capaz de sentir o que estou sentindo agora, talvez ele fosse capaz de entender. Talvez.

  - Você age com tanta indiferença que eu chego a pensar que se esqueceu de tudo o que vivemos juntos.

Meu caro, só eu sei o quanto queria ser capaz de esquecer isso. Ah sim, eu quero ser capaz de esquecer absolutamente tudo, se possível até o seu nome.

  - Pode acreditar que nunca esqueci, essas lembranças me torturam a todo o instante – confessei.

  - Eu não queria que as coisas fossem assim...

  - Foi você quem provocou isso tudo.

  - Eu não pensei no que poderia acontecer com você...

  - Isso só prova que você não se importa comigo.

Ficamos em silêncio, provavelmente ele tentava absorver tudo o que joguei para ele. Depois de um minuto concluí que ele precisava ouvir mais um pouco:

   - Você se foi, e me deixou sem chão, com saudade e medo de amar de novo.

   - Se eu pudesse voltar atrás... – ele balançou a cabeça como se imaginasse como seria.

  - Mas não pode. Nós não podemos.

  - Eu te amo – ele sussurrou.

Um silêncio perturbador se iniciou naquele instante.

Sei exatamente o que ele espera, que eu caía de joelhos aos seus pés, mas tenho medo de que me entregar signifique cutucar a ferida. Ele já me traiu uma vez, o que custa trair de novo? Eu o amo mas tenho medo e sou orgulhosa. O pacote completo para a infelicidade.
Eu sei que devo arriscar mas... e se for o errado? Bom, também se não arriscar nunca irei saber se é o certo ou se é o errado, e com isso me encontro presa num paradoxo.
Meu pai costumava dizer: quem arrisca não petisca.

Com esse pensamento e o meu modo de ser impulsiva acabei soltando sem pensar:

  - Eu te amo.

Seus olhos se encheram de esperanças e os meus de lágrimas. De felicidade, pra que fique bem claro.

Ficamos estáticos por uma fração de segundos. Não sabíamos que atitude tomar, o que fazer ou o que falar.

  - Cheguei – anunciou alguém passando pela divisória da ala reservada.

Matt!

Pude ver um fogo ardendo nos olhos de Harry, e quando ele olhou para meu irmão pude ver que essa chama aumentou ainda mais e de repente sua expressão ficou confusa e incrédula.
Tive de me virar para olhar o que lhe causou tanto espanto.

  - Matt! – eu o repreendi.

Ele estava com o braço ao redor da cintura de Gemma, que parecia feliz com aquilo.
Ignorou-me completamente.

  - Garçom – chamou Gemma.

Em menos de cinco segundos o homem estava conosco.

  - Sim, senhora, no que posso ajudar?

  - Mais duas cadeiras, por favor – ela pediu.

Harry e eu nos entreolhamos.  Sinto que ele está pensando o mesmo que eu: “bela hora para chegarem.”

Eles sentaram-se e eu não conseguia parar de pensar no que poderia ter acontecido caso eles não tivessem chegado... Talvez tenha sido bom, porque infelizmente ainda não me sinto segura e pronta para amar.

  - Então esse é seu namorado? – Harry perguntou assim que Matt cometeu a besteira de colocar uma mecha do cabelo de Gemma atrás da orelha.

Matt me olhou como se dissesse “Você quem sabe, se quiser continuar com essa farsa, estarei com você, mas tenho certeza que irá fazer o certo. Você sabe o que é certo.”

Respirei fundo, esta na hora.

  - Ele é o meu irmão – confessei.

  - Irmão? – Harry me encarou boquiaberto.

Incrédulo, pasmo, confuso, surpreso, o que mais ele está? Ah, e não devo esquecer de mencionar que, óbvio, ele parece bem mais feliz agora.

  - Você me disse que era seu namorado – ele disparou e seu tom raivoso me fez recuar.

  - Eu nunca disse que é o meu namorado – lembrei.

  - “Ele é o amor da minha vida” – citou ele tentando imitar minha voz.

  - Sim, meu irmão é o amor da minha vida,  do mesmo modo que a sua irmã deve ser o amor da sua vida, ela é, não é? – perguntei desafiadora.

Fico feliz de nunca ter mencionado a palavra namorado em relação a Matt, isso me contribuiu para minha vitória nesse quesito.

  - Você fez isso de proposito, queria me confundir – cruzou os braços exasperado. – Se sua intenção era me deixar enciumado... – balançou a cabeça com pesar – você conseguiu.

*
Não nos falamos muito depois daquilo, jantamos em silêncio e tive que aturar os olhares furtivos e raivosos em direção à meu irmão a cada vez que ele dava uma cantada em Gemma.
Foi cansativo.

Quero falar tanta coisa, mas infelizmente não sei como, não tenho coragem e as palavras me faltam como se eu estivesse dentro do mar procurando por oxigênio.

  - Vou ao toalete – disse eu alguns minutos depois de termos pedido a sobremesa.

Tenho uma ideia, só espero que dê certo.

Segui até ao balcão te atendimento onde um homem ranzinza lia uma revista sobre vinhos.

  - Senhor? – chamei-o.

Ele levantou os olhos por sobre os óculos e gesticulou com a cabeça para que eu prosseguisse.

  - É, hm, o senhor teria uma caneta para me emprestar? Uma caneta e um papel. – pedi.

  - Só isso? – perguntou impaciente.

  - Só isso, sim senhor.

  - As quero de volta – disse ao me entregar.

Sentei-me em uma mesa vaga e comecei.

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Povs Harry.

Parece que faz uma eternidade desde que Katherine disse que ia ir ao banheiro. Cogitei ir atrás dela, porém não posso entrar no banheiro feminino por ser um homem, se tentasse acabaria saindo de lá na base do tapa.

O garçom chegou com as nossas sobremesas. Três?

  - Somos quatro e no entanto você só trouxe três – eu o repreendi.

  - Senhor, fui solicitado para entregar-lhe isto – ele disse e me entrou uma folha de papel dobrada em quatro pedaços.

Matt e Gemma não perceberam a movimentação. Continuaram flertando, eles deveriam saber o quão isto está me irritando. É minha irmã! Natural que eu tenha ciúmes.

Levantei-me e me afastei dali.
Fui para perto do banheiro masculino e me encostei na parede do final do corredor.

Desdobrei o papel e descobri uma carta com uma bela caligrafia, corrida, porém bela.

 “   Quero dizer que tenho pensado muito em você. E isso me deixa triste. Não pensar em você, não quero generalizar, ah você entendeu o por quê pensar em você me deixa triste.
Sempre que eu penso em nós sinto um aperto num coração, um calor emanando dele, esse calor sobe até a minha garganta e eu me sinto sufocada, não é algo agradável, por isso eu evito pensar nisso. Mas as vezes, sem querer, eu o faço e acabo chorando. Mas não se preocupe, sempre passa rápido. Sei que você odiava me ver chorando.
  Você foi muito especial (e ainda é), sei que você sabe disso, e acho que talvez seja esse o fator de eu sentir tanto saudade de nós. Você foi uma das melhores coisas que me aconteceu, uma das melhores pessoas que já conhece nesta vida. Preciso lhe contar o que creio que já sabe: você é a pessoa mais divertida deste mundo, eu poderia dar a volta ao mundo a procura de alguém igual a você e sei que nunca acharia.
  Não foi difícil me apaixonar por você, acho que foi a coisa mais fácil que já fiz na minha vida, a melhor parte de você é que a cada dia me surpreende com uma novidade, seja ela boa ou ruim, descobri que você conta as piores piadas e que é o pior jogador de futebol do mundo e sei o quanto inveja Louis pela habilidade num campo de jogo. Sei que você é protetor e ciumento e que não demonstrar tristeza a não ser que realmente não consiga se segurar. Você ri de coisas idiotas e talvez seja por isso que você ria quando eu tentava ser engraçada.
  Você me deixa vulnerável. Eu não gosto de me sentir assim. Mas tem uma coisa da qual eu gosto: gosto de gostar de você. Ah sim, disso eu realmente gosto. Também gosto de passar dias pensando em você, não tanto quanto adormecer pensando em você. Isso até pode parecer masoquismo da minha parte, já que quanto mais penso em você, mais triste ao lembrar o que fomos um dia e a forma como tudo acabou.
E antes que você pare de ler está carta, quero que saiba que não estou escrevendo para dar um sermão ou atirar todas minhas magoas sobre você, longe disso, quero dizer tudo o que não tenho coragem para dizer pessoalmente.
Retomando: Gosto dos seus defeitos, algum deles, pra que fique bem claro, porque eles fazem a diferença: imagine como seria chato se você fosse todo certinho... Urgh, não imagine! No meu ponto de vista seria extremamente entediante.
  Eu realmente queria escrever palavras bonitas para você. Queria saber o que dizer e até mesmo como contornar toda essa situação. Preciso dizer uma coisa, mas não quero que fique triste, acho que jamais poderia suportar vê-lo assim novamente. Ah sim, sobre o que eu quero dizer: Não encare está carta como um “Sim”, como uma taboa de salvação. Não. Ainda estou profundamente machuca e tenho medo de pertencer a você novamente. Então por favor, vá com calma. Eu preciso de um tempo para e acostumar com a ideia de aceita-lo novamente na vida. Ainda tenho meus ressentimentos por você, mas espero que me entenda porque creio que você estaria da mesma forma se fosse você no meu lugar.
  Quero lhe agradecer, por exatamente tudo. Mas se por acaso você não fizer a mínima ideia do que significa exatamente tudo, bem, irei dar uma ajudinha: Obrigada por ter ficado ao meu lado independentemente se eram dias bons ou ruins. Por não achar meus desejos bestas e por rir das minhas piadas mesmo quando eram extremamente sem graças. Obrigada por ter sido você e por ter feito existir um nós... embora por pouco tempo.
 Resumindo essa carta: o que na verdade eu quero dizer é que posso dizer que te amei, que te amo, e dessa mesma forma irei amar até o fim dos meus dias. Porque amor de verdade não acaba. Ele se renova. E nos acompanha até o fim de nossas vidas.
Espero que tenha captado a mensagem.

 
                                                                                 Com todo o amor do mundo, Katherine.”