Quando voltei para casa e adentrei a sala, tive vontade de sair dali, dei meia volta e: tarde demais, ela já havia me visto.
- Desculpa querida, me desculpe – minha tia se assustou ao me ver. Rapidamente fechou alguns botões da camiseta social, que estavam abertos, e se levantou vindo em minha direção com os braços abertos.
- Não precisa se desculpar – respondi erguendo os braços dispensando o pedido de desculpas.
Ela ficou apreensiva por algum tempo enquanto esperava que eu dissesse algo.
- Eu vou para o meu quarto – falei um pouco sem jeito.
As coisas pareciam estar se repetindo, a única diferença é que ela é minha tia e não minha mãe. Mas de qualquer forma foi estranho entrar em casa e ver minha tia beijando um homem que eu nunca tinha visto antes na minha vida.
Eu estava um pouco atordoada. Que horas são? Não devem nem ser meio dia ainda. E o que minha tia fazia em casa à essa hora? E ainda por cima, com um homem seminu!
Deitei-me na cama por um tempo.
*
Houveram três batidas na porta, meia hora depois, enquanto eu assistia a um seriado na tevê.
- Pode entrar – falei em resposta, sem desgrudar os olhos da tela.
- Oi – minha tia entrou no quarto. – Precisamos conversar – ela se sentou na ponta da minha cama.
Assenti sem prestar atenção.
- Eu quero me desculpar pelo que aconteceu agora pouco – ela começou.
- Hum... – assenti novamente. Por que ela tinha que falar comigo logo quando o seriado estava na melhor parte?
- Eu vou me casar.
Emiti um som de concordância.
Espera aí. O quê?
Ela nem nunca me disse que estava namorando nem nada.
- Espera. O quê foi que você disse? – sobressaltei-me.
- O Wilmer. Ele me pediu em casamento – ela respondeu nervosa esfregando o polegar no dedo anelar. Espera, tinha um anel ali?
- Quem é Wilmer?
- Meu namorado. Bom, agora noivo – ela sorriu.
Eu não sabia o quê falar.
- Estávamos namorando há um ano e meio.
- E já vão se casar? – revirei os olhos involuntariamente.
Acho que ela se sentiu ofendida.
- Eu o amo – justificou.
Respirei fundo.
Sabia que nem sempre amor é tudo? Eu amava o Harry e ele dizia me amar, e olha que beleza está a nossa situação. Ele se divertindo com a nova namoradinha dele, e eu...
- Quando nós achamos alguém que nós realmente amamos, nós queremos viver com essa pessoa, se possível viver para sempre com ela. O Wilmer é uma pessoa incrível, ele disse que vai ficar aqui para almoçar e, bom, na verdade eu pedi para que ele ficasse porque acho uma boa oportunidade de vocês se conhecerem... O que você acha? – ela perguntou nervosa mordendo o lábio inferior.
- Claro, acho uma ótima ideia alias.
- Então vou arrumar as coisas e já te chamo, ok? – ela combinou.
- Ok.
- Ah Katherine, obrigada – ela estendeu os braços e nos abraçamos – eu te amo.
- Espero que vocês sejam muito felizes – desejei.
Quando ela saiu do quarto eu senti uma tensão imensa.
Eu não posso mais ficar aqui. A minha tia vai se casar, o tal de Wilmer provavelmente vai vir morar aqui, bom isso se eles não se mudarem... E o que eu vou fazer? Vou continuar vivendo aqui? E se eles se mudarem, eu vou me mudar com o casal? Não dá. Eu não posso continuar morando com eles, eles vão se casar, ter filhos, vão querer privacidade, e ter uma sobrinha em casa não é sinônimo de privacidade. Seria tão estranho para mim quanto para eles Além do mais, eu quero minha liberdade. Quero viver a sensação de morar sozinha.
*
Nós almoçamos juntos, Wilmer, minha tia e eu. Ele é um cara legal, engraçado, e pelo que parece faz minha tia feliz. Ficamos conversando durante o almoço e bom, posso dizer que gostei dele.
Depois do almoço eles ficaram sentados no sofá conversando e eu aproveitei para procurar o jornal que sabia que minha tia ainda não havia jogado fora.
- Eu vou para o meu quarto – anunciei ao passar pela sala. Escondi o jornal dentro do casaco. – Foi um prazer te conhecer – falei para Wilmer.
Já dentro de meu quarto, folheei o jornal até a seção de classificados.
*
- Katherine, olha só quem está aqui – minha tia bateu na porta entrando no quarto.
- Els! – gritei ao vê-la.
Ela correu até mim, meio saltitante e desajeitada por contas do salto alto, os braços cheios de bolsas do shopping.
Minha tia saiu do quarto.
- Você está diferente – Els comentou.
Diferente?
- Diferente como? – perguntei.
Ela apenas deu de ombros e jogou as sacolas em cima da cama.
- Eu estou sabendo...
- De quê? – perguntei.
- Você e o Zayn – ela respondeu como se aquilo fosse o obvio.
- Ah...
- Ah?
- Quem te contou? – perguntei desconfiada.
- O Louis.
Mas é claro.
- Ah sim.
- E então... você gosta dele?
- Ele é legal.
- Vou refazer a pergunta: você gosta dele? Tipo muito?
- Um pouco.
- Mais do que você gostava do Harry?
Essa pergunta não!
- Não sei, o Zayn é um bom amigo.
- Então você está com ele apenas pelo sexo bom? – ela perguntou risonha.
- Espera, como você sabe? – perguntei incrédula.
- Tsc, tsc, tsc, Katherine você só está com ele pelo sexo. Que vergonha – ela balançou a cabeça fingindo estar decepcionada.
- Não, eu quero saber como você sabe que a gente já... – expliquei.
- Louis disse que você não é muito silenciosa.
Oh céus, que vergonha!
- Essa não – envergonhada, cobri o rosto com as mãos.
- Calma, é mentira – essa riu se deliciando com meu momento de vergonha. – O que o Louis me disse foi que viu vocês dois entrando no quarto de Zayn e bom, o resto era como somar um com um, nós chegamos à conclusão de que vocês transaram.
- Ufa – suspirei.
- Então voltando a pergunta anterior. Agora deduzo que vocês têm uma amizade colorida, é isso?
- Bingo!
- Então ele é bom de cama, vocês são amigos, você gosta dele mas não o ama, a relação de vocês é uma grande amizade só que com sexo, certo?
- Certíssimo!
- Eba – ela comemorou – Mas e o Harry?
Não respondi.
Depois de alguns segundos de silencio ela resolveu quebrar o clima tenso.
- Tenho coisas para você – ela puxou-me pelo braço e sentou se na cama. Sentei-me ao seu lado. – Eu trouxe umas coisinhas de Nova York para você... – ela disse procurando as coisas dentro da sacola.
Suspirou irritada e por fim despejou, o que continha dentro das várias sacolas, em cima da cama.
- Isso é pra você, e isso também, e isso aqui também – ela falava enquanto separava umas peças de roupa para mim. – Isso daqui é pra você usar em uma noite especial – ela estendeu para mim um conjuntinho de lingerie vermelha de rendinha – E isso daqui você usa por cima, só que aberto – entregou uma espécie de roupão de cetim branco transparente.
- Que coisa ousada – eu ri.
- E tem mais cinco pra você mas eu não estou achando – ela informou enquanto atirava peças de roupas para todos os lados, na tentativa de encontrar as outras peças de lingerie.
- Pra que tudo isso? – perguntei quando ela encontrou as outras lingeries e as entregou para mim.
Ela não respondeu e então começou a me entregar mais roupas.
- Esses vestidos são pra você curtir a noitada – ela disse me empurrando mais roupas.
- Els, pra quê isso tudo? – perguntei.
- Eu viajei e trouxe roupa para minha melhor amiga, não posso? – ela perguntou quase ofendida.
- Pode – respondi sem graça.
*
Ela parou por alguns segundos com uma sacola preta nas mãos.
- Quê isso? – perguntei.
Ela hesitou por algum tempo e por fim entregou me a sacola.
- Calça lycra, camiseta de náilon? – perguntei ao retirá-las de dentro da sacola.
- Você aceita? – ela perguntou.
- Hã?
- Malhar comigo – ela explicou.
- Espera um pouco. – Pedi. - Isso daqui é pra mim malhar com você?
Bom, pelo menos não é um pedido de casamento como eu pensei que fosse.
- Sim.
- Está me achando gorda?
- Estou achando que você está definhando – ela respondeu risonha.
- Você acha que eu estou definhando e pra melhorar isso quer me mandar para uma academia onde o propósito dos que estão lá é emagrecer? – perguntei arqueando a sobrancelha.
- Kath, você chegou aqui em Londres como uma legitima brasileira, as suas pernas eram da grossura do meu corpo inteiro! Ok, exagero, mas você emagreceu muito, e a academia pode te ajudar nisso. Você vai criar massa corporal lá – ela tentou me convencer. – E ainda por cima, malharíamos juntas.
- Mas Els, porque você quer entrar em uma academia? – perguntei sem entender.
- Olá – ela acenou com a mão – massa corporal – e gesticulou para o próprio corpo. – Fui chamada pra ser modelo de biquíni, uma experiência de 30 dias, e eu andei olhando as fotos das outras garotas que irão ser modelos da mesma marca comigo e, Katherine, elas têm o corpo perfeito. Elas são gostosas! – ela se exaltou falando tudo de uma vez sem parar para respirar.
- E por isso eu tenho que malhar com você? Tipo, ter que acordar cedo, ter que fazer um monte de coisas cansativas... – comecei o meu discurso de sedentária.
- Ah pare de ser preguiçosa! Isso também irá lhe trazer benefícios. Olhe: exercitar-se faz bem a saúde, faz bem a aparência, faz bem a tudo – ela esperou por uma resposta que eu não dei – Vamos lá Kath – ela implorou.
- Quando a gente começa? – perguntei.
- Isso é um sim? – seus olhos brilharam.
- É o que parece né.
- Ah, Katherine, te amo! Te amo, te amo, te amo – ela me abraçou comemorando.
- Eu sei, eu sei.
- Podemos começar agora – ela sugeriu.
- O quê? – perguntei sendo pega de surpresa.
- É, achei que você não fosse se importar por eu ter pego uma ficha para você na academia. Eu já me inscrevi e só preciso da sua assinatura – ela comprimiu os lábios.
- Você é terrível Calder, já sabia que iria conseguir me convencer – balancei a cabeça.
Ela deu de ombros. Pegou uma caneta em cima da cômoda e me entregou.
- Só preciso da sua assinatura.
Suspirei derrotada, e por fim assinei.
- Vamos lá, logo – e então peguei as roupas de malhar. – Vou ir no banheiro me trocar.
- Estarei aqui esperando – ela certificou.
*
- Então as duas graciosas vão entrar na academia e não me avisam nada? Poderiam me chamar – minha tia estava sentada em cima de minha cama. Em seu rosto o beicinho mais inconvincente que já virá em minha vida.
- Alicia, posso lhe dizer que era minha intenção convidá-la para ir à academia conosco, porem Katherine disse que você é uma pessoa muito ocupada – Eleanor justificou.
Ah Eleanor, deixe de ser mentirosa, eu nunca disse isso.
- E Katherine está certíssima, por mais que eu queira manter uma vida saudável, é impossível, eu mal tenho tempo para mim mesma – ela explicou.
- Els, pode se trocar – comuniquei.
Eu que não vou sair com aquela calça colada no corpo sozinha. Eleanor vai me acompanhar nessa.
- Vou encher minha garrafinha – avisei à minha tia enquanto seguia para fora do quarto.
Enchi a garrafa, peguei as chaves do carro e voltei para o quarto.
- Vamos Els. – apressei-a já que ela ainda não havia saído do banheiro.
Minha tia me encarava perplexa.
- O que foi? Perguntei.
- Você pretende se mudar daqui? – minha tia perguntou incrédula, estendendo o jornal logo na página dos classificados onde eu já havia circulado três, aparentemente, bons apartamentos para dar uma olhada. – Responde Katherine! Você estava procurando apartamentos para ir morar? Você quer se mudar daqui? – ela perguntou incrédula.
Merda.
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