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História Falling in love for the last time. - Love Wins.


Escrita por: gimavis

Notas do Autor


Olá, meus amores! Como estão? Espero que bem. Trago pra vocês o penúltimo cap de Falling in love. Se estou triste? Sim, estou. Mas também estou feliz, por essa estória ter trago tantas coisas boas pra mim e pra vocês. Escrevi com carinho, como sempre. Espero que gostem, se emocionem e fiquem felizes. Me digam o que acharam depois aqui ou no Twitter, gosto de ler seus comentários. Vocês podem ouvir "Sia - Lullaby" quando começar o show, okay? A música não tem nada a ver, mas eu escrevi essa parte a ouvindo, achei que a melodia combinou. Vou deixar o link nas notas finais, caso queiram. Vou deixar o lindo do trailer da fic também, pra caso alguém não tenha visto. Qualquer erro, conserto depois. Amo vocês! Estava com saudades. ♥

Capítulo 61 - Love Wins.


Fanfic / Fanfiction Falling in love for the last time. - Love Wins.

 

10 de Julho.

Camila POV.

 

Eu não sabia ao certo como nomear aquela longa semana, nem mesmo como reagir a tudo. Parecia que estávamos enfrentando um terremoto por minuto, onde rachaduras enormes se formavam embaixo de nossos pés. Sair de casa ou do hotel, sem ser para cumprir nossos compromissos havia se tornado impossível. Uma única notícia transformou uma indústria inteira em um verdadeiro caos. Todas as câmeras e microfones estavam voltados para Fifth Harmony, ou para o que sobraria de nós. Nossos fãs, obviamente revoltados, passaram a fazer campanha no Twitter, Facebook, Tumblr, fazendo com que todos os sites ficassem quase interditados. Por um lado, eu estava apavorada, mas pelo outro, estava enormemente orgulhosa de poder chamá-los de fãs, e apreciar a forma valente com a qual eles lutavam por seus interesses. E bem, eles estavam lutando por nós. Há algo no mundo mais bonito do que isso? Eu desconheço. Minha mãe sempre me disse que uma boa luta jamais deve ser recusada, que se a vida lhe der uma oportunidade de lutar com dentes e garras por um sonho, devemos abraçar a causa sem pensar duas vezes. Primeiro a tempestade, depois a bonança. É a lei da vida.

Naquela manhã de 10 de Julho, sentadas na varanda de casa, Ally, Mani, Lauren e eu falávamos sobre os acontecimentos da semana, e discutíamos sobre o que fazer em relação a tudo. Nossas entrevistas e qualquer coisa vinculada com a mídia foi cancelada até segunda ordem, e pelo o que eu bem sabia, L.A queria evitar que nós abríssemos a boca e falássemos diretamente sobre nossa saída do grupo. Todos sabiam o motivo pelo qual teríamos que ir embora, e era exatamente isso que estava causando a maior repercussão. Homofobia? Sim, claro. Um preconceito enorme que não via coração. Acusações de todos os lados, cada manchete em revistas era uma queda. As coisas estavam loucas e de modo geral, não era ruim. Não para nós.

: - Talvez nós possamos acalmá-los um pouco, digo, nossos fãs. – Ally comentou enquanto esticava suas costas na poltrona na ponta da varanda, recebendo olhares de todas nós. – Vocês sabem, se nos pronunciarmos, eles vão se acalmar.  

: - Não vão não. – Lauren soltou a fumaça do cigarro que fumava com toda calma, curvando a coluna para poder apoiar os cotovelos nos joelhos. Minha vontade era de jogar aquela merda fora, mas sabia que, naquele momento, a única coisa que a deixaria tranquila era aquela maldita nicotina. – Esta não é uma situação que requer calma e nem eu quero que eles tenham. Não creio que toda essa revolta vá adiantar alguma coisa, mas por que não deixá-los fazer? Eles sempre lutaram por nós, não vamos tirar essa oportunidade deles também.

: - Lauren tem razão, Ally. – Mani suspirou, abraçando os joelhos sobre o sofá. – Não há nada que possamos fazer em relação a isso. Você sabe que se falarmos para eles pararem, ainda vamos levar milhões de foras. Eles são assim, nós os criamos assim. -  Ela riu sem humor, apenas sacudindo os ombros. – E preciso dizer que me orgulho muito disso.

: - Eu também. – Eu disse deitando minha cabeça no ombro de Lauren, que carinhosamente depositou um beijinho em minha testa. Entortei o nariz par ao seu hálito de cigarro, mas ainda sim senti vontade de beijá-la. – Se não fosse por eles, não estaríamos aqui hoje, portanto, não vamos impedir que eles façam o que querem fazer. Já fomos egoístas o bastante escondendo tudo isso deles, certo? E não há nada pior nesse mundo que ingratidão.

: - Só tenho medo de que as coisas saiam do controle deles. – Vi nos olhos de Ally toda a preocupação que ela sentia, seu incômodo estava mais do que claro em sua testa enrugada. – Não quero que no final fiquem mais machucados do que já estão agora.

: - Eles são Harmonizers, Ally. – Lauren tragou novamente, entrelaçando os dedos da mão livre com os meus, em cima de sua coxa direita. – Estão preparados para qualquer coisa, seja lá qual for a situação. E quando tudo isso acabar, iremos dever tudo a eles. Talvez nunca superem a minha saída e a de Camila, mas ainda terão vocês para lembrar que sempre estaremos presentes.

: - Odeio falar sobre isso.

Mani negou com a cabeça, fechando os olhos por um momento.

: - Eu também, Mani, mas não podemos fugir disso para sempre. Falta pouco para o último show, 15 de Agosto é logo ali. E quando chegar a hora?  

A voz de Lauren me pareceu um pouco quebrada, ainda que ela tentasse passar segurança. Eu sabia que ela queria ser forte por todas nós, sempre gostou de mostrar essa imagem de durona. Mas para quem conhecia aquele coração mais do que qualquer outra coisa, eu tinha consciência de que por dentro ela estava chorando. Apertei seus dedos com delicadeza, acariciando as costas de sua mão com o dedão.

: - Vai ficar tudo bem. – Eu disse com um sorriso triste. – Nós vamos superar isso.

: - Não sei não, Mila. Pela primeira vez eu não tenho certeza de que ficará tudo bem.

Ally respirou fundo e se levantou, um olhar perdido que me fez meu coração se apertar dolorosamente. Quando Ally não tinha a certeza de que as coisas acabaria bem, havia algo de muito errado. E eu sabia o que estava errado, eu só queria e precisava acreditar que nós ficaríamos bem.

: - Onde você vai?

Mani perguntou com uma expressão cansada.

: - Deitar um pouco, não estou muito disposta hoje.

Ally respondeu com os ombros baixos, me deixando ouvir o som de seus chinelos se arrastando pelo piso limpo e gelado. Lauren terminou seu cigarro, jogando o que restou no jardim e me acomodando melhor em seus braços. Deitei a cabeça em seu peito, fechando os olhos. Queria parar de pensar um pouco, por dias toda aquela intensidade me fez dormir e acordar com dores de cabeça. Ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas ouvindo o canto dos pássaros no jardim, embalando aquela manhã de céu azul como se a vida fosse tudo, menos complicada. Por fora, nada parecia estar fora do lugar, mas por dentro...

: - Gente! - Me assustei ao ouvir o grito de Dinah, fazendo com que eu tirasse a cabeça do peito de Lauren tão rápido que fiquei tonta. Olhamos para a figurada assustada na porta da varanda ao mesmo tempo, vendo-a se aproximar tão rápido que fez o coque presente em seu cabelo se desfazer. – Vocês têm que ver uma coisa.

Dinah esticou o braço esquerdo e apontou para dentro de casa. Sua respiração estava ofegante e seus olhos arregalados.

: - O que foi, amor?

Mani perguntou a ela colocando os pés para fora do sofá, se preparando para levantar.

: -  A televisão... – Dinah engoliu a saliva rapidamente. – Vão ver o que está passando na televisão.

: - O que aconteceu, Dinah?

Lauren me empurrou para o lado devagar e se levantou, calçando os chinelos para começar a andar com pressa para dentro de casa. Mani fez o mesmo, dando uma última olhada para ela antes de seguir minha namorada. E eu? Eu fiquei ali sentada encarando minha melhor amiga como quem vai encarar Jesus no dia do último julgamento.

: - Que porra está acontecendo? Por que você está assim?

Perguntei em um tom baixo, com medo da resposta.

: - Vai ver a televisão, Mila.

Dinah coçou a nuca, seu rosto vermelho me indicava que a coisa não estava boa.

: - Você está me assustando.

Eu me levantei tomando cuidando para não tropeçar.

: - Só vai logo antes que acabe.

Atendendo seu pedido, eu comecei a caminhar para dentro de casa em passos mais rápidos. Um frio na minha barriga me fez sentir como se eu estivesse prestes a entrar no palco, e eu não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim. Podia ouvir os passos de Dinah atrás de mim, o que me deixou ainda mais nervosa. Quando entrei no ambiente gelado, pude ver as meninas de pé no meio do tapete, uma ao lado da outra, encarando a enorme televisão encaixada na parede do outro lado sala.

: - O que é isso?

Perguntei ao parar ao lado de Ally, olhando para todas elas antes e voltar a encarar a televisão. Nela, a apresentadora de um programa de fofocas falava, e ao mesmo tempo um vídeo aparecia atrás dela.

: - Uma matéria sobre... Nossos fãs.

Ally comentou sob uma respiração longa.

: - Eles foram paras ruas, Mila. – Mani disse levando a mão até a boca, rindo de forma incrédula. Eu ergui as sobrancelhas, arregalando os olhos. – Os Harmonizers... Eles foram para as ruas com cartazes, faixas e muito mais. Aquela revolta toda virou uma passeata enorme contra a saída de vocês do grupo.

: - Ai, meu Deus!

Eu quase engasguei com minha própria saliva, sentindo minhas pernas tremerem quando o vídeo que passava em segundo plano tomou conta da tela. Nele, milhares de pessoas vestidas com camisas, segurando cartazes e pôsteres, gritavam e cantavam nossas músicas. Repórteres entrevistavam alguns fãs, que emocionadamente deixavam claro toda a sua revolta e desgosto com a decisão tomada por L.A e companhia. O vídeo que vimos foi de N.Y, de frente para o prédio onde ficava localizada a EPIC. Mas segundo a apresentadora, passeatas como aquela também estavam acontecendo em outros Estados dos EUA, como na América Latina, inclusive no Brasil, onde o caos era ainda maior. Eu sabia que os harmonizers eram capazes de tudo por nós, mas eu confesso que aquilo jamais havia se passado pela minha cabeça.

: - Agora tudo se encaixa, tudo faz sentido. – Lauren começou a rir de nervoso, deslizando os dedos pelo cabelo. – Todos aqueles códigos que eles estavam usando, a criação de um fórum que eu vi rolando pela TL, tentei entrar, mas não consegui. Eles estavam organizando isso tudo na encolha para não levantar suspeitas e nenhuma tentativa nossa de detê-los. Eles não cansam de me surpreender.

: - Eles estão fazendo um barulho do caralho. – Dinah comentou atrás de mim, rindo em seguida, assim como Lauren. – Eu estou chocada e assustada. Estão chamando a atenção, estão realmente fazendo isso. Não sei o que pensar.

: - Eu vi isso acontecer uma vez, com aquela banda Mexicana chamada RBD, vocês lembram? – Mani perguntou enquanto caminhava na direção do sofá. – Foi exatamente desse jeito, pelo o que posso me lembrar.

: - É verdade. – Suspirei desviando os meus olhos da televisão quando a reportagem chegou ao final. – Nunca imaginei que fosse passar por isso do outro lado da moeda.

: - Espero que Deus os proteja nas ruas.

Ally juntou as mãos na frente do rosto, fazendo uma oração rápida demais para que eu pudesse entender. Suspirei e abaixei meus ombros, com uma sensação estranha de déjà vu.

: - Se as coisas já estavam sinistras antes, agora então...

Dinah estava certa, e pior era saber que o controle não estava em nossas mãos. Seria como tentar separar um bando de leões de sua presa recém capturada.

: - Eu estou achando isso o máximo, se querem saber. – Lauren jogou as mãos para ao ar, sentando-se no braço do sofá. Me encarando com um meio sorriso, ela bateu em suas coxas com as mãos silenciosamente, me convidando para uma aproximação. Sem hesitar, caminhei até ela, me encaixando de costas entre suas coxas abertas. Seu queixo se apoiou em meu ombro esquerdo, e seus braços longos e quentes rodearam minha cintura.

: - Mas é tão perigoso, Laur... Eles na rua assim, sem uma segurança.

: - Não vai acontecer nada. – Mani assegurou, sorrindo para Ally com cautela. – Eles são loucos, mas sabem o que fazem. Não se preocupe. Precisamos ter calma agora, não podemos pirar. Temos que permanecer unidas até o fim e com a cabeça no lugar.  

: - É interessante ver o ponto que as coisas chegaram, não? Há um ano atrás, quem diria que hoje estaríamos aqui, vendo o mundo tentando decidir o que acontecerá conosco, sem que possamos intervir.

Meus olhos estavam fixos em algum canto daquela sala, meus pensamentos estavam a mil por hora.

: - São consequências de escolhas. Na vida temos que decidir pelo o que é melhor pra gente, e nem sempre isso quer dizer que será fácil.

Lauren deu um pequeno beijo em minha nuca, me abraçando com mais força.

: - Se fosse fácil, não seria a vida, começando por ai. Fácil é morrer, fugir dos problemas como o Diabo foge da cruz. Viver que é difícil, escolher, abrir mão das coisas que amamos, lutar, cair mil vezes e levantar mais mil. Nós bem sabemos o que é estar por baixo e logo depois estar por cima, e nada nunca foi fácil. Acho que não há exemplo maior do que o nosso. Fifth Harmony se tornou grande sob dificuldades, foram elas que nos trouxeram até aqui. 

Ally terminou de falar e olhou rapidamente para nós, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha antes de começar a se retirar da sala, subindo as escadas para o corredor que levava aos quartos. Nós ficamos em silêncio, não por não ter o que dizer, mas refletindo. Sempre há aquela pessoa que possui as palavras certas na ponta da língua, e Ally é essa pessoa. Ela sempre sabia o que dizer, não importava qual era a situação.

--

Ficar submersa em água quente e relaxar sempre me encheu os olhos, mas naquela hora, envolvia muito mais que apenas um bom relaxamento. Parecia que minha cabeça havia eliminado de uma vez só todos os problemas, os tornando tão distantes e insignificantes que até cheguei a cochilar. A voz de Paolo Nutini no fundo ao som de “Don’t let me down” me transportou para outro lugar, fazendo daquela banheira muito mais que um recipiente cheio de água. Eu poderia passar a semana toda ali.

: - Ah, amor, mais pro ladinho... – Mordi o lábio inferior com um gemido, suspirando. – Hmmm, isso, isso... Bem ai.

Separei os lábios e soltei um gemido prazeroso, curvando um pouco a cabeça para trás e a deitando na borda da banheira.

: - Está gostoso?

: - Uma delícia. – Respondi com um sorriso de canto, abrindo os olhos para encará-la. Lauren me olhava com olhos brilhantes sob a iluminação alaranjada que as velas deixaram no banheiro. Suas mãos, macias e quentes, trabalhavam em meus pés e tornozelos, massageando com dedicação. Sentada de frente para mim, do outro lado da banheira, ela me fazia sentir falta de seu corpo próximo ao meu. – Merda! Como você é boa nisso.

: - Muita prática. – Lauren soltou uma risadinha baixa, subindo seus dedos por minha panturrilha, atrás dos joelhos... Suspirei. – Sou boa em tudo, na verdade.

: - Hmmm, convencida. – Eu ri de forma preguiçosa, bocejando.

: - Realista.

Com calma ela ergueu meu pé direito na altura de seu rosto, depositando um beijo no meu tornozelo. Me arrepiei com aquele gesto, era bom sentir sua boca macia em contato com a minha pele.

: - Sedutora também.

Resmunguei ao ganhar outro beijo, dessa vez no tornozelo esquerdo. O barulho que meus pés faziam cada vez que eram retirados e colocá-los na água gerou uma áurea aconchegante.

: - Posso seduzir você por todos os minutos do meu dia, Camila.

Seus beijos ganharam os meus joelhos, que permaneceram de fora da água quando dobrei as pernas. Primeiro o direito, depois o esquerdo.

: - Não precisaria de muito para isso, qualquer ser humano seria facilmente seduzido por você. Pior que você sabe, e se aproveita disso.

: - Essas são acusações pesadas demais, sabia?

Sua boca ganhou o meu colo, onde ela passou a distribuir beijinhos calmos. Suspirei, abrindo as coxas para acomodá-la melhor, relaxando mais ainda com o movimento da água quente ao nosso redor.

: - Você pode lidar com isso.

Sussurrei, sentindo meu corpo vibrar sob as carícias daquela mulher. Lauren beijou minha clavícula, meu pescoço, meu queixo e logo sua língua pedia passagem em minha boca. Iniciamos um beijo gostoso e lento, matando toda a vontade do dia. Não importava o tempo que passasse, jamais me acostumaria com a capacidade que ela tinha de beijar tão bem. Me sentia sugada, como se minha alma pudesse sair pela minha boca. Lauren tinha um efeito muito devastador sobre mim, e qualquer pessoa sã o bastante temeria isso, mas não era o meu caso. Eu era louca, e sempre seria louca por ela.

Terminamos o beijo com alguns selinhos e pequenas mordidas no lábio inferior, onde ajoelhada entre as minhas pernas, ela se curvou sobre mim para encostar nossas testas. Ficamos assim por alguns segundos, sentindo a respiração uma da outra e o calor da água aquecer nossos corpos. Sua pele molhada escorregava em minhas mãos, que sedentas, mantinham uma carícia intensa. Meus mamilos estavam entumecidos, os dela também. Aquela era mais uma reação ao que causávamos uma na outra, uma mistura de toda aquela paixão avassaladora e o prazer de quando ficávamos sozinhas em qualquer canto.

: - Casa comigo.

A voz de Lauren saiu abafada contra a minha testa, deixando que seu nariz se arrastasse pelo topo da minha cabeça, inalando o cheiro do meu cabelo. Eu sorri de olhos fechados, deslizando a ponta do indicador pela tatuagem que ela tinha embaixo do seio.

: - Amanhã.

Eu disse risonha, jogando um pouco de água nas laterais de seu corpo. As chamas das velas a deixavam ainda mais bonita e sexy, e eu custava a acreditar que aquela mulher era realmente minha.

: - Eu estou falando sério, Camila. Casa comigo.

O tom sério de Lauren me fez perceber que aquele pedido não era uma brincadeira, o que automaticamente fez meu coração bater mais rápido. Ofeguei um pouco, chamando sua atenção. Com calma ela se abaixou, sentando-se na minha frente, colocando minhas pernas ao redor de sua cintura. Sentei-me em seu colo, fazendo aquele contado de olho por olho quando sempre queríamos decifrar nossos pensamentos. Sua testa estava um pouco suada, e eu ergui a palma da mão para secá-la. Mordi o lábio inferior, estava surpresa. Eu iria me pronunciar, mas Lauren foi mais rápida e tomou a minha vez.

: - Eu sei o que você está pensando e eu concordo, somos novas demais para isso. Mas eu não estou lhe pedindo para que case comigo agora, ou amanhã, estou apenas lhe pedindo em casamento, sem marcar uma data. – Lauren ia dizendo com toda a calmaria existente no mundo, me acariciando as costas, as coxas. Fui suspirando a cada palavra, a cada toque, ouvi-la se tornou a coisa mais importante naquele momento. – Quero construir uma vida com você, algo mais sólido do que isso que temos agora. Quero que tenhamos uma família, quero que seja a mãe dos meus filhos. Não importa o tempo, sei bem o que eu quero, e eu quero você, sempre quis você. Desejo viver a minha vida ciente de que um dia vou subir ao altar contigo, fazer planos, ansiar pelo futuro. Para mim tanto faz se será em dois ou dez anos, eu apenas quero ter a certeza de que lhe darei meu sobrenome algum dia. Então, apenas responda-me: Quer casar comigo?

Eu estava tremendo quando ela terminou, em seus olhos uma sinceridade e um carinho tão grande que eu separei os lábios mil vezes para respondê-la, e acabei perdendo a fala. Me sentia revigorada, aquela sensação de amar e ser amada, de sentir que não é mais a gravidade que prende teus pés no chão, mas sim a pessoa que faz teu coração bater mais forte. Ela não queria pressa, ela queria apenas uma certeza, e sem sombra de dúvidas, eu a daria.

: - Sim. – Eu disse ao pegar seu rosto com as duas mãos para encostar nossas testas de novo. – É claro que eu quero casar com você. Como não poderia? Será o grande êxtase, afinal. Quem liga de ficar noiva por anos? Eu só ligo em ter você por toda a vida.

: - Você é minha.

Ela disse ao abraçar minha cintura com força, enterrando o rosto em meu pescoço.

: - Sim, eu sou sua.

: - Minha noiva?

Eu ri com a forma doce que o termo se encaixava para nós. Éramos duas jovens aos olhos da sociedade, com almas velhas e experientes, amando e fazendo planos sem medo de interrupção. Há algo no amor que faz com que as pessoas arrisquem, pulem de cabeça no poço mais fundo, entrem sem medo na cova dos leões. Há algo no amor que faz os amantes enlouquecerem, mas ao mesmo tempo ficarem cientes de que aquela é a maior loucura que já viveram. Há algo no amor que faz os dias parecerem mais longos, as peças se encaixarem, os ventos soprarem em outra direção. Há nas extensas prateleiras do amor aquela antiga honra de amar e a sorte de ser amado. Nem todo mundo consegue os dois ao mesmo tempo.

: - Sua noiva, sua namorada, sua mulher. Eu serei para você qualquer coisa que você quiser que eu seja, Lauren.

Enfiei meus dedos entre seus cabelos, iniciando uma carícia leve, e ela me olhou como se fossemos ficar presas naquela cena para sempre.

: - Quero que seja a minha Camila centrada, a minha Karla perigosa como uma tempestade e com toda a certeza, a minha sensível e doce Camz. Seja você e nada será mais certo do que isso.

: - Eu te amo.

Estava envolvida e emocionada demais para dizer outra coisa, eu só precisava senti-la e extravasar, de alguma forma, aquele amor que sentia por ela.

: - Eu te amo.

Lauren sussurrou de volta, abrindo um sorriso lindo antes de tomar minha boca com a sua, nos levando para o mar sem volta que chamávamos de desejo. Nossa bolha estava lá, firme e forte, preenchida por beijos, carícias, juras de amor, gemidos, murmúrios e acima de tudo, certezas. As dúvidas já não faziam mais parte da nossa relação.

--

: - Ai, gente, será que vocês poderiam decidir logo a porra do filme que querem assistir?

Lauren resmungou sentada no chão o meu lado, atacando um pote cheio de morango com nutella. Ainda me perguntava como alguém que não gosta de chocolate pode comer tanta nutella. Não é quase a mesma coisa? Dei de ombros.

: - Não quero ver nada de terror, da última vez que deixei para vocês escolherem quase morri de pavor.

Ally revirou os olhos, se jogando de costas sobre a cama de Dinah. Falando em Dinah, estávamos no quarto dela para uma noite das garotas, a fim de esquecer o estresse do dia, mas a mesma parecia mais do que tensa. Eu podia ver o suor em sua testa, e olha que o ar condicionado estava ligado. Vira e mexe ela andava de um lado para ao outro, com os olhos de Mani acompanhando todos os seus movimentos. Eu estava ficando incomodada com aquela agitação.

: - Dinah, quer alguma coisa?

Perguntei de sobrancelhas erguidas, ajeitando a calça do pijama em meus tornozelos.

: - Quê? – Ela negou com a cabeça rapidamente, enfiando as mãos nos bolsos detrás do seu moletom. Mani abaixou os ombros. – Não, não, está tudo bem.

: - Certeza?

Todas olharam para ela, até mesmo Lauren parou de comer para prestar atenção no que falámos, e deixar a comida de lado para Lauren era completamente inaceitável.

: - Tenho. – A olhei por mais um tempo, tentando ler seus olhos de alguma forma. Dinah abaixou a cabeça sob meu olhar, bufando. – Okay, tem algo em questão.

: - Sabia! – Puxei o cabelo para cima, dando um nó. – Diga o que quer.

: - Quero aproveitar que Ally e vocês estão aqui para termos uma conversa. – Comecei a ficar meio tensa. Dinah sentou-se na cama ao lado de Mani, na frente do local onde Ally estava deitada. – Não queremos mais ter que esconder isso, então...

: - Misericórdia!

Lauren lambeu a colher suja de nutella e a largou dentro do pote, limpando a boca com as costas da mão. Seus olhos se arregalaram um pouco e eu me perguntei se ela estava pensando o mesmo que eu.

: - Ér... Ally... – Mani começou, engolindo a saliva e coçando a nuca. E naquele momento, Lauren e eu soubemos sobre o que se tratava. Mordi o lábio inferior, ansiosa e um pouco nervosa. – Pode sentar aqui na poltrona, por favor? Queremos lhe falar algo.

: - O que aconteceu, gente? – Ally levantou assustada, andando com certo receio na direção da poltrona. Sentou-se depois de olhar para Lauren e eu, que abaixamos os olhos. Não era assunto nosso, mas se Dinah e Mani queriam que ficássemos ali, então ficaríamos. – Alguém está doente? Por que essas caras?

: - Não, ninguém está doente, não se preocupe. – Dinah sorriu amarelo, trocando um rápido olhar com Mani. – Não gosto de enrolar, nunca gostei. Sou mulher de ir direto ao ponto e irei. Mas antes, quero que saiba que só estamos contando agora porque ficamos com medo de sua reação, mas chegou a um ponto que não queremos e nem achamos necessário esconder.

: - Você está me assustando.

Um silêncio horrível se formou, e a única coisa que ouvi por 15 segundos foi o suspiro longo que Lauren soltou. Observei de onde estava sentada Dinah pegar a mão esquerda de Mani, com sua direita, deixando-as entre seus corpos. Ally seguiu o gesto, e eu prendi a respiração por alguns segundos.

: - Ally, Mani e eu estamos mantendo uma relação. – Dinah apenas respirou rápido antes de continuar. Foi a vez de Lauren pegar a minha mão com certa força, e eu sabia que ela estava orgulhosa das meninas por criarem coragem de falar. Em nossa vez, há alguns meses atrás, também sentimos medo da reação de Ally, mesmo que tenhamos saído surpreendidas no final. – Sendo mais clara, estamos ficando. Nós nos gostamos, não foi algo que escolhemos, acabou acontecendo. Durante nossa passagem pelo Brasil, acabamos ficando e depois disso, não conseguimos mais manter distância uma da outra. Terminei meu namoro com Siope por conta do que comecei a sentir pela Mani e acima de qualquer coisa, estou feliz pelo o que temos.

: - Estamos, Dinah. Estamos.

Mani reforçou, acariciando a mão de Dinah com delicadeza. Eu quis chorar, sorrir, eu sei lá. Eu queria qualquer coisa que mostrasse o quanto aquele momento era importante.

Ally ficou ali, parada por um tempo, intercalando olhares entre as mãos unidas das duas e seus rostos. Abriu a boca, fechou, se ajeitou na poltrona, mordeu o lábio inferior. Quando achei que ela nada falaria, finalmente se pronunciou.

: - Caramba! Eu acho que sobrei nesse grupo. – Ela disse de forma incrédula, descontraindo a situação tensa que havia se formado e arrancando uma risada alta minha e das meninas. – Nossa!

: - Você não cansa de surpreender, Allycat.

Lauren disse ao passar um braço ao redor dos meus ombros, me puxando para ela.

: - Eu preciso de um momento. Minha nossa! Ah, meu Deus! Eu estou mesmo sem um par aqui.

Um pouco trêmula, Ally esfregou as mãos pelo rosto, nos arrancando mais risadas.

: - Você tem o Troy, não precisa de mais nada.

Dinah brincou, chegando mais perto de Mani.

: - Ally... – Mani ficou séria outra vez, curvando-se para frente, pegando as mãos da nossa baixinha entre as suas. – Está tudo bem para você? O que está pensando?

: - Eu estou pensando que sou muito tapada mesmo por nunca ter notado. – Ela riu sem graça, erguendo os ombros. – Vocês são boas em esconder, fizeram tudo o que Camren não fez por todo esse tempo.

: - Ei!

Lauren e eu dissemos juntas, falsamente ofendidas.

: - Bem, essa é a verdade. – Ally deu de ombros. – E sim, está tudo bem. Confesso que vou precisar de uns dias para assimilar isso, foi meio que um choque porque eu não esperava. É como se a história estivesse se repetindo. Mas estou feliz por estarem felizes. Vocês sabem que para mim tudo o que importa é a felicidade, e o amor. O resto é resto.

: - Ah, Ally... – Mani choramingou, descendo da cama para se ajoelhar em frente a poltrona, deitando a cabeça no colo dela. – Você é maravilhosa.

: - Eu só amo vocês demais. – Ally fungou e eu vi que ela estava chorando. – Vem aqui você também, Dinah.

Dinah secou os olhos e se colocou de joelhos ao lado de Mani, imitando seu gesto. As duas passaram a receber um pequeno cafuné na cabeça, como se estivessem sendo abençoadas.

: - Eu estou aqui, e vou apoiar vocês assim como apoio Lauren e Camila. Sou a mais velha e meu dever é cuidar de todas. Jamais ficaria contra as pessoas que mais amo nessa vida.

Lauren e eu fungamos juntas, admirando aquele lindo momento a nossa frente. Elas mereciam aqueles minutos de afeto, assim como tivemos nossa vez no passado. Ally era mesmo um anjo, e ai de quem falasse ao contrário.

: - Parece que tudo acabou bem, não é?

Sussurrei para Lauren quando ela virou meu rosto em sua direção, me perdendo naquele verde que tanto me deixava sem ação.

: - Acabar? Ainda está só começando, Camz. – Com calma ela selou meus lábios umas três vezes, me tomando em um abraço forte logo depois. – A felicidade está só começando.

 

20 de Julho.

Lauren POV.

 

Não é interessante observar uma tempestade? As gotas de chuva que parecem cair sobre a Cidade completamente grudadas, mas de forma curiosa batem ao chão, nos telhados e corpos separadas. Chuva que limpa e restaura, chuva que causa enchentes e perdas. Tudo se torna um verdadeiro mar de lamentos, e o interessante vai ficando distante. O desespero preenche todos os lugares, deixando assim de ser apenas um estado de espírito. Está chovendo, a água está levando tudo para longe, correndo as ruas, as casas, mas durante sua passagem, vai causando um nível de destruição muito grande. Nada fica pelo caminho, tudo, completamente tudo vai embora. A chuva então causa revolta, há vozes se erguendo aos céus em orações e reclamações, há gotas, dessa vez de lágrimas, por todos os cantos e uma gente tentando entender o por quê. A água, então, abaixa e tudo o que resta é o barro, a dor e a sensação de que não resta nada. Mas o curioso nisso tudo é que, mesmo enquanto a tempestade caía sobre a Cidade, o sol continuava lá por trás das nuvens negras e carregadas, esperando para voltar a brilhar e aquecer os corpos, os corações, a colocar esperança no lugar do desespero. Independente do céu negro que se instala durante um longo tempo, o sol, mais cedo ou mais tarde, voltará a aparecer. Não haverá nem mesmo um dia que ele deixe de nascer, mesmo que exista nuvens carregadas cobrindo a sua luz. É tudo questão de tempo, e do tempo de cada um só Deus sabe.

: - Por que não se junta a nós?

Por trás dos meus ombros, a voz de Camila me acariciou a nuca. Seu tom era baixo, calmo, assim como há alguns meses atrás, naquele mesmo lugar, mas eu sabia que por dentro ela tinha a mesma sensação que a minha. Nós estávamos naquele prédio no Centro de Los Angeles, aquele em que, meses atrás, nosso destino no grupo foi decido. Havia uma reunião marcada para ajusteis finais. Depois dali, faríamos apenas um último show em 15 de Agosto. Para as meninas, férias com data para voltar à rotina, para Camila e eu... Não existiria volta.

: - Gosto de observar a chuva.

Eu disse a ela em um tom melancólico, com uma das mãos aberta contra o vidro embaçado. Chovia lá fora, o dia frio enviou uma onda a mais de aperto para o meu peito. Camila abraçou-me por trás, descansando seu queixo em meu ombro esquerdo. Me acomodei a ela, suspirando ao ver os pingos de chuva escorrerem pela janela fechada. As ruas lá embaixo, molhadas e frientas, pareciam um lugar bem mais convidativo que dentro daquela pequena sala de espera.

: - Nós podemos fazer o que você quiser quando sairmos daqui. – Eu sorri, fechando os olhos para sentir melhor o cheiro gostoso que emanava de seu cabelo. Me acalmava, Camila era toda a minha calma. – Vamos comer um japonês, assistir filmes de terror. Ou nós podemos dar uma volta no seu carro ouvindo aquelas suas músicas góticas no último volume.

Soltei uma risada descansada, a ouvindo rir baixinho no pé do meu ouvido. Me arrepiei.

: - Eu gostei disso, é uma boa ideia. – Respirei fundo, me apertando mais nela, em seu corpo, seu calor. Queria senti-la dentro de mim, não de forma sexual, mas espiritual. Queria ter onde me segurar. – Camz...

: - Oi!

Seu coração acelerou, e eu soube que estávamos de volta ao incômodo, a dor, a aquele desespero que tanto tentamos evitar nos últimos meses. Havíamos chegado ao fim, e eu não estava preparada para lidar com ele.

:  Lá dentro... Não solta a minha mão.

Eu pedi com toda a agonia que sentia dentro de mim, apavorada com a ideia de ficar sozinha no meio daquelas pessoas. Eu precisava dela para me puxar de volta, assim como da outra vez.

: - Eu não vou a lugar algum. – Camila me apertou com força, descansando a testa em minha nuca. Automaticamente tombei um pouco a cabeça para frente. – Vou te segurar o tempo todo, como segurei da última vez que estivemos aqui. Eu estarei lá, ao seu lado, não tema. Eu estarei lá, Lo. Vai ficar tudo bem, nós vamos aguentar.

: - Eu...

Minha garganta se fechou, uma vontade absurda de chorar encheu o meu peito. Ao fundo, eu ouvia as vozes das meninas, dos meus pais e dos pais de Camila, mas pouco me interessava o que eles falavam. Queria ir embora, acabar logo com aquilo. Queria esquecer daquele momento e só lembrar da glória.

: - Shiiiiu! – Camila esfregou a mão direita entre os meus seios, dando pequenos beijos em minha nuca, por cima das mechas do meu cabelo. – Respire! Eu estou aqui. Eu te amo... – Ela respirou fundo, deitando a cabeça em minhas costas. – Eu te amo.

Aquela força que ela passava me invejava, novamente era eu a que demonstrava fraqueza. Segurei o choro com todas as minhas forças, respirando fundo algumas vezes. Minhas mãos, por cima das mãos de Camila em minha barriga, tremiam desesperadamente.

: - Eu também te amo, Camila. – Engoli a saliva, ergui a cabeça e olhei para a janela. A chuva não parava, desejei que ela levasse minha agonia junto com ela. – Muito.

Ainda ficamos um bom tempo ali esperando, trocando olhares cúmplices e meias palavras. Normani, Ally e Dinah estavam um pouco estranhas, ao menos eu achava. Talvez fosse pela proximidade da separação, afinal, eu e Camila também estávamos. Os dias que se passaram até ali foram de muita pressão. Nossos fãs não pararam com as passeatas, elas duraram a semana inteira, as redes sociais continuavam tumultuadas. Gracie, nossa nova e fofa manager, recebia ligações diárias dos superiores com ordens e mais ordens. Será que eles não entendiam que não falaríamos nada, de qualquer jeito? Nem sair de casa, saíamos.

Eu já estava ficando entediada quando, finalmente, nos chamaram para entrar na sala. Senti um frio na barriga quando pisei naquele ambiente intimidador ,já havia vivido aquela parte antes. Novamente, no topo da mesa, estavam L.A, os mesmos senhores da outra vez e Simon, que veio até nós, onde trocamos um abraço calmo. De todos, Simon era o único que se importa conosco, e o único que importava pra gente. Nos acomodamos praticamente nos mesmo lugares de antes. Camila segurou minha mão e eu troquei um olhar cheio de angustia com ela. Seus lábios me ofereceram um sorriso pequeno, e eu vi que não estava sozinha, nunca estivesse sozinha. Nossos pais pareciam bem nervosos, estávamos ali para assinar o acordo final em custos e outras coisas e, para eles, aquilo parecia bem mais perturbador do que reconfortante. Para gente também.

L.A limpou a garganta, batendo os papéis que tinha em mãos, na mesa. Respirei fundo, fechando os olhos rapidamente quando ele começou a falar.

: - Primeiramente, boa tarde a todos. – Me ajeitei na poltrona, apertando os dedos de Camila com força. Saber que iríamos ter de partir era uma coisa, chegada a hora de assinar as linhas que marcava o fim era outra completamente diferente... E dolorosa. – Agradeço a presença dos senhores, e como da primeira vez em que estivemos aqui, não pretendo enrolar. Vou falar de uma forma bem clara, para que não haja confusão.

Normani, Dinah e Ally olhavam-se entre si, suas expressões, de alguma forma, me passavam uma certa calma, apenas por breve segundos. A mão trêmula de Camila logo voltava a me deixar nervosa.

: - Nós temos acompanhado toda a repercussão que esse caso está tendo, e preciso dizer, não estamos nenhum pouco contentes com isso. Temos consciência de que foi a senhora Jodi, que hoje está presa por motivos que todos vocês conhecem muito bem, quem jogou a notícia na mídia sobre a saída de Lauren e Camila. – Ergui minhas sobrancelhas. Não imaginei que Jodi acabaria por falar sobre isso aos quatro ventos, afinal, ela não ganharia nada mesmo, e nem nós tínhamos mais o que perder. – Acontece que com isso, as coisas saíram um pouco do nosso controle. As pessoas estão falando, comentando, os meios de comunicação estão transformando tudo em uma bomba que será usada contra nós. A movimentação dos fãs tornou tudo muito pior, transformando a causa em muito mais que apenas um mero desligamento, mas sim uma luta contra a homofobia. Sim, senhores, estamos sendo acusados de homofobia e não sei se vocês sabem o tamanho desse problema.

Li boatos sobre isso no Twitter, mas não imaginei que a coisa estava tão séria assim. Minha boca se abriu um pouco, meus olhos ficaram fixos na madeira escura da mesa. Eu passei a tremer com mais intensidade, o suor em minha mão já fazia com que a mão de Camila escorregasse. O rumo que aquela conversa estava tomando começou a me deixar nervosa, muito nervosa. Todos na sala pareciam sentir o mesmo, mas ninguém ousava dizer nada.

: - O nome da nossa gravadora está sendo manchado em todos os cantos por conta da campanha desses ativistas gays. – Ativistas gays? Abri a boca para rebater, mas Camila apertou meus dedos com tanta força que me fez recuar na mesma hora. Aquele homem era um imbecil. – Não podemos permitir que a EPIC saia dessa história como uma empresa que abriga à homofobia, em um mundo que hoje em dia considera qualquer opinião contrária a esse assunto como preconceito.

Meu Deus! Será que ele não iria parar de falar bosta? Meu estômago estava revirado, o suor escorria por minhas costas por trás do casaco. Senti vontade de vomitar.

: - Sendo assim, informo que eu e os outros senhores presentes nessa sala voltamos na nossa decisão inicial e vamos desconsiderar a saída de Lauren e Camila do grupo. Fifth Harmony continuará com sua formação de sempre. Não haverá restrições e nenhuma ordem que impeça o relacionamento de vocês. Nós não podemos lutar contra isso, vamos perder e perder dinheiro é tudo o que menos queremos.

Sabe quando você escuta uma coisa, mas não acredita em seus ouvidos? Quando algo parece bom demais para ser verdade? Quando o sol finalmente volta a aparecer? Era daquele jeito que o céu parecia estar para mim. Uma chuva de vozes em alívio invadiu aquela sala, sorrisos por todos os lados, meus pais se abraçando, o som do choro agudo de Camila ao meu lado e o meu próprio choro, descendo em lágrimas de forma furiosa. Meus dedos e os de Camila ainda estavam entrelaçados, nossas mãos grudadas não me deixam esquecer que ela estava ali para mim, como sempre esteve. No meu peito uma felicidade sem tamanho me fez começar a rir de forma insana, sacudindo todo o meu corpo. Nós iríamos ficar. Nós vencemos. Nossos fãs fizeram isso por nós. Nós iríamos ficar. Fifth Harmony continuaria sendo Fifth Harmony.

: - Meu Deus! – Eu sussurrei ao acaso e senti os braços de Camila ao meu redor, me puxando pelo pescoço e estalando milhões de beijos em minha bochecha. A abracei de volta, chorando e sorrindo, sentindo vontade de gritar para o mundo que nós vencemos. – Nós vamos ficar, Camz.

: - Lauren... – Camila fungou, rindo como eu, secando minhas lágrimas com mãos trêmulas. Todo mundo comemorava, parecia até fim de ano. Para mim era ao fim de um ano exaustivo e difícil, era um recomeço. – Eu nem acredito nisso, eu...

: - Bem, eu... Quero fazer um comunicado.

A voz de Dinah fez com que todos se calassem, onde centenas de pares de olhos se voltaram para ela ao mesmo tempo. Limpei minhas lágrimas com o casaco e a encarei, de pé à frente de sua cadeira, as mãos ao lado do corpo pareciam fazer parte do jeans claro que ela usava. Troquei um olhar com Camila sem entender nada.

: - Espero que seja breve, senhorita Hansen. Não temos muito tempo.

L.A conferiu o relógio e Simon sorriu para Dinah, como se a incentivasse. Ergui as sobrancelhas. Que porra era aquela?

: - Serei. – Dinah sorriu de forma sarcástica, respirando fundo antes de limpar a garganta para falar. – Como eu costumo dizer, sempre vou direto ao ponto e não há outra maneira de falar isso sem ser de forma direta, então... Eu e as meninas queremos a quebra do contrato.

: - O QUÊ?

Todos disseram a mesma coisa ao mesmo tempo, tirando as meninas e Simon. Olhei para Dinah como se ela fosse um monstro de sete cabeças horrendo, prestes a comer todo mundo presente.

: - Dinah?

Eu a chamei com medo de que ela estivesse alucinando. Meu coração batia acelerado e Camila tremia mais que vara verde grudada no meu pescoço, não dizia nada, assim como eu, estava em choque. O que Diabos estava acontecendo? Olhei para as meninas e todas pareciam tranquilas. Como poderiam querer a quebra de contrato quando, finalmente, conseguimos a permissão para permanecer no grupo?

: - Como assim querem a quebra do contrato, senhorita Hansen?

L.A alterou um pouco o tom de voz, juntando as mãos sobre a mesa.

: - Não queremos mais permanecer nessa gravadora, é simples. Nós conversamos e chegamos à conclusão de que queremos a quebra do contrato. – Dinah deslizou os dedos pelas mechas de cabelo, como se estivesse sentindo prazer em fazer tal coisa. Eu estava prestes a levantar e dar um soco nela. – Agradecemos imensamente por vocês terem voltado atrás na decisão de expulsar Camila e Lauren do grupo, apenas por elas se amarem e manterem um relacionamento. Acreditem! Foi uma reconsideração e tanto. – Ela mostrou os dentes de forma rápida e cínica, voltando a expressão séria logo depois. – Acontece que agora a decisão veio para as nossas mãos, e nós decidimos expulsar vocês do controle da situação. Queremos sair e vocês não tem o direito de impedir. Não vamos mais permanecer em uma gravadora onde fomos desrespeitadas, subestimadas, humilhadas e colocadas a prova de fogo a todo instante. Nós valemos muito mais do que isso, nós e todas aquelas pessoas que foram para as ruas por todos esses dias lutar pelos nossos direitos. O dinheiro não é tudo no mundo, senhores, mas a família sim. Fifth Harmony é uma família, e continuará sendo em um lugar onde todos, desde o menor cargo até o superior, nos respeitem e nos dê o valor que merecemos. Isso é tudo.

Quando Dinah terminou, ela apenas se sentou em sua cadeira e trocou um rápido sorriso com as meninas. Eu não conseguia dizer nada, estava chocada demais para que algo coerente saísse. Mas eu soube que havia algo por trás de tudo aquilo, e mesmo sem ter conhecimento, eu confiei nelas como nunca confiei em ninguém na vida.

: - Maravilhosa essa sua pequena lição, senhorita Hansen, mas a questão é: Vão para onde? Que gravadora vai querer vocês? Sim porque, nunca apareceu nenhuma disposta a pagar uma grande quantia por vocês, muito menos arcar com todos os problemas que o namoro de suas amigas traz para este grupo.

O rosto de L.A estava contorcido em uma expressão sarcástica, aquele sorrisinho ridículo no canto de seus lábios me fez revirar os olhos.

: - Dinah, minha filha, você tem noção do que está dizendo?

A voz de Sinu soou completamente preocupada, seu rosto estava um pouco vermelho. Dinah sorriu para ela, apoiando as mãos sobre a mesa antes de voltar a encarar L.A.

: - Vamos assinar com a Republic Records. – Pisquei algumas vezes incrédula. Ouvi Camila prender a respiração na garganta. – Ally, Mani e eu encontramos com Charlie essa semana e ele nos ofereceu um contrato milionário e todo o suporte que precisamos. A proposta foi maravilhosa e aceitamos sem pensar duas vezes. Nossos advogados já estão cientes e cuidarão de toda a burocracia da quebra de contrato. Só precisamos sair dessa reunião hoje com os acertos para uma nova. Bem, vocês sabem como funciona.

Tudo começou a fazer sentido, era por isso que elas estavam estranhas, era por isso que passaram um dia inteiro fora durante a semana. Filhas da puta! Deixaram eu e Camila sem saber de nada, e olhavam para nós com aquele sorrisinho de quem diz: “Surprise, bitches!” Eu senti vontade de rir, todo aquele turbilhão de emoções queria que eu transbordasse. E eu transbordaria, quando saísse daquela sala, eu derramaria água de glória por todas as ruas da Cidade.

A cara de L.A Reid era impagável, perdi as contas de quantas vezes ele gaguejou no tempo que durou a reunião. Simon estava por trás de todo aquele lance com a Republic, eu tinha certeza, seu sorriso denunciava tudo. Eu não sabia o que sentir, como reagir. Eu queria gritar, contar para os fãs, abraça-los, beijar Camila, fazer sexo por uma noite inteira. Eu queria comemorar.

No final, ficou decidido que cumpriríamos nossa agenda até dia 15 de Agosto, como já estava previsto. A reunião com os representantes da EPIC e da Republic aconteceria quando estivéssemos de férias, e já voltaríamos a ativa sob nova direção. A multa que pagaríamos pela quebra de contrato seria estipulada entre eles, e informada para nós através de nossos advogados. Simon cuidaria de tudo, sim, Simon. Mas, uma vez cercada de toda aquela mudança, a última coisa que eu ligava era para a porra da multa. Que fosse para ao caralho todo o dinheiro, quem liga para isso quando a família está unida? Apenas os tolos.

Saímos daquela sala completamente diferentes do jeito que entramos, sorrindo, rindo, chorando, nos abraçando. Era um novo começo para nós, a vida estava nos dando uma outra chance, eu me sentia como se tivesse nascido de novo. O amor venceu. Ninguém podia lutar contra, ninguém podia nos impedir. Ele havia vencido. Aquele era um dia de glória e Deus estava no controle, como sempre estaria. Para mim, Camila, Dinah, Ally e Mani, a eternidade estava apenas começando. Em nossas corações e mentes, tudo viveria para sempre. Ficaríamos juntas, daquela vez, por tempo indeterminado. Quando Fifth Harmony tivesse que ter o seu fim, seria por um acordo nosso, porque nós achamos que chegou a hora, não por decisão de terceiros. Nossas almas estavam ligadas por um fio que se estendia além daquela vida, e ainda teríamos um longo tempo para vivê-la.

--

: - Eu estou chocada que vocês esconderam isso de mim e de Lauren.

Camila disse quando estávamos no carro, com Mani no volante, onde voltávamos para a mansão. Nossos pais estavam em um carro logo atrás.

: - Queríamos fazer surpresa, ué. – Dinah riu, no banco da frente ao lado de Mani, colocando os pés sobre o banco. – Iríamos contar apenas no dia do último show, onde o Charlie também estaria junto. Mas fomos surpreendidas com L.A voltando em sua decisão inicial e tivemos que adiantar.

: - A cara dele foi impagável. – Eu comecei a rir ao me lembrar, jogando a cabeça para trás no banco. – Puta merda! Aquilo foi sem preço. Eu nem mesmo sei o que sentir até agora. Não acredito no que está acontecendo.

: - Nós vamos ficar juntas, porra.

Dinah gritou, estendendo as mãos e batendo no teto do carro.

: - Dinah! O palavrão.

Ally a repreendeu, e nós caímos na gargalhada, as lágrimas nos meus olhos me impediam de enxergar com clareza.

: - Nós vamos ficar juntas sim. – Mani repetiu batendo no volante. – ISSO É BOM PRA CARALHO. FIFTH HARMONY NÃO VAI ACABAR. MEU DEUS! NÃO VAI ACABAR, NÃO VAI.

: - Quero chorar.

Camila resmungou, enterrando a cabeça em meu pescoço e caindo em um choro alto e profundo, mas ao mesmo tempo, completamente aliviado.

: - Chora, amor... Está tudo bem agora. Coloca tudo isso pra fora.

Eu dizia a ela enquanto também chorava, acariciando suas costas quentes por baixo do casaco.

: - Vamos ficar juntas, Chancho. – Dinah virou-se no banco, olhando para nós entre fungadas. Seus olhos estavam vermelhos e sua maquiagem borrada. – Como deve ser, como Deus fez. Quando recebemos a proposta do Charlie e ele disse que vinha acompanhando nosso caso, não pensamos duas vezes, era bom demais para tomar outra decisão. O que se criou no The X Factor vai continuar para sempre, ninguém vai destruir. Porra! A gente tá junto. Eu amo vocês pra caramba e pensei por todo esse tempo, em que acreditei que nos separaríamos, em como continuar seguindo incompleta. Mas olha agora... – Dinah soluçou um pouco, e todas nós chorávamos juntas dentro daquele carro quentinho, com a chuva caindo lá fora e tornando a Cidade de Los Angeles ainda mais bonita. – Ninguém vai a lugar algum. Vamos ficar na nossa casa, dividindo lágrimas e sorrisos, amando os mesmos fãs e vivendo a mesma vida. A gente tem sorte pra caralho. Nós temos uma a outra e não há nada mais importante que isso.

E Dinah tinha razão, não havia nada mais importante que a nossa família.

 

15 de Agosto de 2015.

Yankee Stadium, NY.

 

Os passos eram calmos, não havia pressa, não havia medo, não havia desespero. Havia apenas a ansiedade, a expectativa, o mesmo frio na barriga de todas as vezes em que subimos no palco. Podia ouvir a multidão gritar do lado de fora, o sorriso estava em meus lábios. Para eles, seria o último show para Camila e eu, mas para nós, era o primeiro show do recomeço. Foi difícil não contar a novidade no Twitter, mas decidimos que queríamos fazer surpresa.

Caminhamos em fila para a entrada o palco, Ally no comando. O figurino em vermelho e preto fazia de nós uma girl group de respeito. E éramos. Aquele seria o maior show que já fizemos em nossa carreira, o maior público presente um uma turnê de Fifth Harmony, e com certeza seria inesquecível.

Peguei Camila pela cintura antes de subir os degraus, beijando-a com toda a paixão e felicidade que queimava em mim. Seu cheiro doce me enlouqueceu os sentidos, e eu me arrepiei ali, de pé, sorrindo completamente em êxtase ao separar nossas bocas e focar em seus olhos. Castanhos. Era aquele jogo perfeito dos castanhos nos verdes, um sorriso no outro, segredos que não eram mais apenas nossos, uma história que estava prestes a ter o seu auge escrito.

: - Boa sorte!

Eu disse a ela sob os gritos das pessoas no estádio, beijando-a mais uma vez antes das luzes se apagarem.

: - Boa sorte, meu amor!

Camila respondeu com sua voz arrastada no pé do meu ouvido, depositando um beijo quente no local. E eu estava preparada para qualquer coisa.

Subimos no palco e quando as cortinas finalmente caíram, eu vi, eu sempre soube, nós nascemos para estar ali. Meus olhos encheram-se de lágrimas, o estádio estava completamente lotado, pessoas chorando, gritando, segurando cartazes que não aceitavam uma despedida. Balões brancos, fitas brancas, olhos vermelhos de um medo mais do que conhecido. Eu cantei, naquela noite, para milhares de pessoas como se fosse a última vez. E era a última vez, a última vez que eu veria lágrimas de tristeza nos olhos de toda aquela gente.

Antes da última música, peguei meu microfone e um pedestal, levando-o para o final da passarela que cortava a multidão ao meio. Eu precisava dizer uma coisa, e eles precisavam ouvir.

: - Meus amores... – Eu comecei, sorrindo e olhando ao meu redor quando todos começaram a gritar mais alto, e a chorar com mais intensidade. Meu coração estava aos pulos de alegria, queria me jogar no meio daquele povo e nunca mais sair. As meninas ficaram mais atrás, eu não havia comunicado a elas o que faria, então... Suas expressões eram de completa surpresa. – Vamos conversar um pouco, okay? Quero dizer umas coisas.

Segurei o pedestal com as duas mãos e abaixei a cabeça por alguns segundos, respirando fundo. O vento fresco soprou em meu rosto e aliviou o meu corpo do calor que existia. Quando voltei a olhar para cima, comecei a falar o que era, de fato, a história da minha vida.

: - Há alguns anos atrás, nascia no The X Factor um pequeno grupo. Fomos colocadas nele porque perdemos e nem poderíamos seguir sozinhas. Uma vez juntas, fizemos de todos os nossos sonhos individuais, apenas um. Queríamos vencer, e vencemos. Durante o longo caminho que percorremos, tivemos que lidar com o descaso, com as enormes pedras que machucaram os nossos pés, com a humilhação que sujava a alma, com as palavras que faziam sangrar bem aqui dentro. – Levei a mão direita até o peito, massageando como se sentisse dor. Mas não era dor que eu sentia, era amor. O público não parava de gritar um só momento, tacavam coisas no palco, choravam como se nunca tivessem chorado em suas vidas. Olhando para todos aqueles rostos desolados e amados por mim, as lágrimas me vieram aos olhos também. – Mas nós vencemos. Nos tornamos grandes, conquistamos coisas que jamais pensamos em conquistar, e tudo isso por causa de vocês. Vocês nos trouxeram até aqui, vocês nos deram tudo o que temos hoje. Vocês são donos de todo o reconhecimento que ganhamos. – Parei de falar um pouco para dar espaço as lágrimas, mas o sorriso jamais saiu de meus lábios. – Quero agradecer por tudo. Por todos os momentos, e por terem ajudado a contruir pouco a pouco a Lauren que está aqui hoje. Obrigada por todos os puxões de orelha, por todos os esporros. Obrigada por terem me dito o que estava errado quando eu insistia em me manter cega. Obrigada por não terem passado a mão na minha cabeça quando eu cometi os meus erros. Obrigada por terem me aceitado quando eu mesma não me aceitava.

Aquelas palavras, que pareciam uma despedida para eles, eram para mim um desabafo, como se eu estivesse lendo as folhas do Diário que escrevia todos os dias em minha cabeça.

: - Obrigada por nunca terem desistido de mim, por me amarem independente de qualquer coisa. Agradeço, mais do que qualquer coisa em minha vida, por terem lutado por nós. – Passei as costas da mão esquerda por baixo dos olhos, me arrepiando ao ouvi-los gritar meu nome, junto com aquelas três palavras que tanto dava sentido a minha vida. “Eu te amo”. – É por causa de vocês, por lutarem com todas as forças, que Camila e eu não vamos nos despedir essa noite. Graças a todos vocês, nós poderemos permanecer. Vocês conseguiram. Vocês conseguiram impedir que separassem a nossa família. Vocês fizeram isso.

Se já existia uma gritaria antes, naquele momento, eu não ouvia mais nada além disso. As meninas começaram a se abraçar lá atrás, e os fãs, apertados em todos os cantos, começaram a fazer o mesmo. Eles se abraçavam, muitos sem nem ao menos se conhecerem. Choravam juntos e gritavam com o coração aberto, como sempre estiveram. Eles estavam ali por nós, e nós sempre estaríamos ali para eles.

: - Fifth Harmony continuará sendo Fifth harmony, com Dinah, Mani, Ally, Camila e eu. E é claro, vocês porque nada disso seria possível sem vocês. – Engoli a saliva que se formou em minha boca, começando a sentir um tremor subir pelos dedos dos meus pés e se concentrar em meu ventre. – Preciso dizer algo, eu tenho que dizer isso abertamente, eu esperei muito tempo por esse momento. Escutem com atenção.

A gritaria diminuiu, e eu tinha certeza que eles sabiam o que eu falaria. Em seus rostos havia expectativa, e eu desejei que aqueles minutos durassem para sempre.

: - Sou apaixonada por uma garota. – Comecei, e todo aquele breve silêncio se desfez. Eu sorri. – Graças a ela eu consegui assumir para mim mesma o que sempre fui. Sim, eu sou gay. E eu tenho um orgulho imenso de ser essa Lauren sem medo, sem preconceito, sem receio de viver. E eu sou assim porque Camila e vocês me fizeram assim. – Você ai, da sua casa, pode imaginar o que estava estampado no rosto de todas aquela pessoas? Eles estavam ouvindo o que durante muito tempo desejaram ouvir. Eu estava tremendo, e eles, com certeza, também estavam. – Graças a Camila eu sei o que é amar e o que é ser amada. Aprendi com ela o que é lutar todos os dias, todos os segundos pelo sorriso de outro alguém. Camila me ensinou que existir não é o mesmo que viver, que nada na vida vale a pena se não for feito por amor. E eu fiz tudo isso por amor, eu aguentei o que achei que fosse me destruir, por amor. Eu superei meus demônios e enfrentei o mal em nome do amor. Camila me fez ver que as dificuldades podem parecer grandes o bastante, mas se há amor, podemos vencer. E nós vencemos. Eu tenho comigo o essencial para seguir, não preciso e nem quero mais nada.

Tirei o microfone do pedestal e me virei de costas para o público, de frente para as meninas. Havia uma passarela enorme entre nós, mas a distância parecia pouca naquela hora. O rosto de Camila aparecia nos telões, e como imaginei, ela chorava. Ela e todos ao redor. Havia milhares de mãos erguidas com celulares, câmeras, qualquer coisa que pudesse gravar aquele momento. E eu agradecia, gostaria de rever pelo resto dos meus dias.

: - Eu quero que vejam uma coisa essa noite, e jamais esqueçam que o amor existe, e ele pode se manifestar de qualquer jeito. Seja em uma amizade, seja de mãe para filho, de fã para ídolo, e seja de mulher para mulher. Ele surge sem pedir permissão, sem escolher raça, sexo e idade, e quando isso acontece, não há como fugir. – Foi como se tudo ao meu redor tivesse ficado em câmera lenta, e eu pedi a Deus para nunca tirar aquela felicidade do meu peito. – Vem cá, Camz...

Chamei-a para todo mundo ouvir, esquecendo-me de qualquer coisa ruim que já tenha estado em minha vida. As meninas a incentivaram, a abraçando antes que ela viesse caminhando na minha direção. Meu coração explodia dentro do me peito. Quando ela parou na minha frente e eu pude olhar em seus olhos, nada e nem ninguém importava. Era apenas e eu ela. Eu e Camila. Camren, como preferem chamar. Éramos nós como sempre seria, ali ou em qualquer outro lugar.

: - Lauren... – Ela sussurrou quando segurei seu rosto com as duas mãos, admirando cada detalhe daquilo que foi desenhado por Deus. – O que...

: - Shiiu! – Sussurrei de volta, sorrindo ao vê-la sorrir, trêmula entre minhas mãos. – Estamos na nossa bolha... Não há mais ninguém além de nós aqui.

E a beijei, devagar e doce, chorando por dentro e por fora de todas as formas que um ser humano pode chorar. Não ouvi mais nada, o som da gritaria enlouquecida que com certeza existia, ficou do lado de fora da nossa bolha. Era apenas o som de nossas respirações enquanto nos beijávamos, nos sentíamos. Podia ouvir meu coração bater apressado, molhado, satisfeito. Ter Camila em meus braços era como parar no tempo, e nós havíamos parado bem ali. Terminei o beijo com um selinho carinhoso, depositando um beijo em sua testa suada antes de abraça-la com força.

: - Vou dizer, meus queridos... – Foi a voz de Dinah que preencheu o estádio, me retirando do transe. A multidão estava, literalmente, surtada. Eu via gente passando mal em todos os cantos. Não pude deixar de sorrir. Aquele era um momento tão deles quanto nosso. – Como capitã oficial desse navio, deixo dito aqui para toda a mídia, para o mundo e para a eternidade: It’s Camren yo.

Nós caímos na risada quando Dinah usou a frase que eu usei no Twitter há alguém tempo atrás. Camila deitou a cabeça de lado em meu peito e eu abri os braços para receber as meninas, que como balas perdidas, se chocaram contra nós intensamente. Nos abraçamos, as cinco, no meio daquela passarela com uma multidão de quase 70 mil pessoas em volta, gritando por Camren e Fifth Harmony.

Se Deus tinha alguma coisa para nos dizer naquele momento, com certeza era: Eu disse que tudo iria valer a pena no final. Eu sou o dono de todas as coisas, e escrevo certo por linhas tortas.


Notas Finais




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