1. Spirit Fanfics >
  2. Falling in love for the last time. >
  3. Wicked Game.

História Falling in love for the last time. - Wicked Game.


Escrita por: gimavis

Notas do Autor


Boa noite, meninas. Agradecendo como sempre os comentários do cap. anterior, vocês são lindas. ♥ Bem, vai chegar uma parte no POV da Lauren que eu gostaria vocês escutassem uma música, no caso "Wicked Game - James Vincent" A música é do Chris Isaak, mas eu gosto dessa versão e Lauren também. HUSAUHSA Wicked Game é minha música favorita e como ela indicou na lista de músicas que fez, achei que ficaria interessante usá-la nesse cap. Acho que vocês irão saber quando dar play, enfim. Não sei novamente se o cap. está grande ou curto, mas repetindo o que disse nas notas passadas, era exatamente assim que tinha que ficar. Façam uma boa leitura. <3

Capítulo 27 - Wicked Game.


 

A noite estava um pouco quente, final do verão nos Estados Unidos. Meus pés jogados para dentro da piscina ajudavam a aliviar um pouco o calor do meu corpo. Respirei fundo algumas vezes enquanto mantinha a cabeça erguida, os olhos fechados, o vento abafado soprando em meu rosto, minha cabeça em apenas uma coisa, digo, uma pessoa: Lauren.

Ela ainda não tinha me ligado, mas pelo horário já deveria estar em Miami há muito tempo. Depois da conversa que tive com meus pais, fiquei vagando pela casa como um zumbi. Não comi, não bebi, não fiz nada mais além de vagar... Sem rumo. Um vazio no peito, me sentia tão inerte a qualquer coisa ao meu redor e fora dos meus pensamentos que mal percebi quando alguém se sentou ao meu lado. Não abri os olhos, não tinha vontade. Talvez eu quisesse chorar, ou nadar, ou sofrer... Sozinha, ou com Lauren.

: - Lembra quando você era pequenininha e me gritava de madrugada para mandar embora o monstro que se escondia dentro do seu armário?

Era meu pai. Abri meus olhos e o fitei de canto, não o via desde a hora em que saiu. Sorri um pouco triste, as lembranças daquela época feliz e despreocupada tomando conta da minha mente.

: - Como esquecer? Se não fosse o senhor eu jamais teria voltado a dormir em todas as noites.

Ela riu baixinho, desviando seus olhos de meu rosto para encarar as luzes que iluminavam o jardim ao redor da piscina.

: - Me lembro como se fosse hoje o sorriso de felicidade que você me dava quando eu dizia “Pronto, hija, esse monstro feio foi embora com o rabo entre as pernas. Papai vai te proteger sempre.”

Ele sorriu triste, assim como eu, e abaixou a cabeça. Meu coração pulsava dentro do meu peito com uma dor diferente, uma dor aguda de saudade, saudade de quando eu era criança, saudade de quando as minhas preocupações eram apenas fazer o trabalhinho do colégio e brincar. Saudade de me sentir segura embaixo das asas dos meus pais sem medo de ser atingida. Saudade do tempo que passou é um dos tipos mais dolorosos de agonia, porque você sabe que pode fazer o que for, esses tempos jamais irão voltar.

: - Você sempre me protegeu, pai, nunca faltou com sua promessa. – Eu disse sincera.

: - Eu não podia te proteger no colégio naqueles dias ruins, eu me sentia o pior pai do mundo quando você chegava em casa chorando, ou quando me ligava para ir buscá-la, pois não estava mais aguentando permanecer naquele inferno.

Meu pai tocou em um assunto que eu fazia questão de nunca tocar, de nunca pensar, de nunca lembrar. Aqueles anos no colégio foram os piores anos da minha vida, tinha dias que eu sentia vontade de fechar os meus olhos e não acordar mais.

: - Pai...

Eu queria interrompê-lo, mas ele não permitiu.

: - Me deixe falar, Camila, só me deixe falar.

Ele pediu com tanta dor em sua voz que não tive como dizer não, apenas abaixei a cabeça para ouvir, ouvir o que me machucava, ouvir o que lastimavelmente ainda me fazia chorar. Nunca iria esquecer a entrevista que demos para uma rádio, onde toquei no assunto e acabei derrubando mais lágrimas que o necessário na frente de todo mundo, ao vivo. Fiquei tão envergonhada que jurei para mim mesma aquele dia que jamais choraria por conta daquele assunto, mas lá estava eu novamente com o choro preso na garganta.

: - Minha vontade era de pegar você no colo e não soltar nunca, te proteger de todas as afrontas e de todo aquela maldade. Perdi as contas de quantas vezes fui até aquele colégio, me sentindo inútil por não poder ficar dentro da sala de aula com você, pronto para interceder se alguém ousasse falar ou fazer alguma coisa. Nada nunca me doeu tanto na vida. Um pai vendo sua filha ser maltratada e não poder fazer nada, nada além de trocar de colégios, pulando de um para o outro já que eu não tinha condições de lhe colocar para ter aulas particulares. – Quando olhei meu pai pude enxergar seus olhos molhados, seu rosto cansado contorcido em vestígios de arrependimento. – Eu fui um covarde e nunca vou me perdoar por isso.

: - Pai, o senhor fez tudo o que podia. Não havia muita coisa que pudesse fazer.

Eu disse com a garganta amarga, meus pés movendo-se lentamente dentro da água fria.

: - Não importa, eu sou o teu pai e eu deveria ter dado a vida por mais, por mais chances de livrar você daquele tormento. – Ele suspirou exasperado, desviando nossos olhos para passar a mão nervosamente pela cabeça. Eu sabia que falar sobre aquilo doía nele assim como doía em mim, ou na minha mãe, ou em Lauren. Mas eu sabia também que a pressão em cima dele era bem maior, já que era para ele que eu pedia socorro no meio da aula quase todos os dias. – E agora eu não vou ficar calado, eu não vou ser inútil novamente, eu não vou deixar que ninguém, Camila, ninguém maltrate você. Eu vou te proteger com unhas e dentes assim como um leão protege seus filhotes. Ninguém vai fazer com que sinta tudo o que sentiu naquela época novamente por ser quem você é, ninguém. Eu sou o teu pai e enquanto você me tiver aqui vivo e consciente, ninguém vai tocar em você.

: - Pai... – Coloquei para fora junto com lágrimas grossas. – Está dizendo que aceita o meu namoro com Lauren? Que não está decepcionado por eu ser gay? Você...

O encarei trêmula, um rastro de felicidade e alívio invadindo o meu peito. Meu pai passou as costas da mão esquerda pelos olhos de um jeito desajeitado e se aproximou mais de mim, passando seu braço direito pelos meus ombros, me acomodando em seu peito.

: - Estou, filha. – Beijou meu cabelo, minha testa. – Eu pensei, pensei muito e cheguei à conclusão de que eu jamais poderia deixar de ficar ao seu lado agora. Eu não entendo muito desse assunto, filha, fui cego durante todo esse tempo e não consegui enxergar o que você sempre foi bem ali, embaixo do meu nariz. Por mais que eu esteja um pouco assustado, eu te amo independente de tudo. Não importa se é gay, se namora Lauren, se vai casar com ela ou com outra garota e me dar netinhos de outra maneira. – Eu ri chorosa contra a sua camisa e me agarrei mais a ele, recebendo carinho nas costas. – Eu vou estar ao teu lado, ao lado de Lauren e apoiar as duas em qualquer coisa. Vou te proteger, vou fazer de tudo para que vocês passem por cima de tudo isso.

: - Obrigada, pai.

Funguei escondendo meu rosto em seu peito, o vento quente daquele começo de noite de Los Angeles nos envolvendo. Era tão bom ouvir aquilo dele, saber que eu não estava sozinha quando mais precisava. Era bom ser o que eu era sem precisar mentir para os meus pais.

: - Eu quem tenho que agradecer por confiar em nós e se abrir. E agradecer a Michael também, ele me fez enxergar umas coisas.

Meu pai confessou rindo baixinho enquanto me afastava pelos ombros gentilmente para enxugar meu rosto.

: - Michael? – Perguntei curiosa.

: - Sim. Liguei para ele assim que sai daqui, conversamos um pouco e ele disse que eu precisava entender que nem tudo é como acreditamos que deveriam ser. Que nem tudo o que acreditamos é verdade e que precisamos abrir e cabeça e o coração para estar ao lado de vocês nesse momento.

Meu pai afagou meu rosto e suspirou profundamente.

: - E o que mais ele disse?

Perguntei querendo saber de tudo, queria sugar qualquer informação que me levasse até Lauren.

: - Apenas coisas relacionadas a isso, foi o conselho que pedi. Ele disse que também está um pouco assustado com toda essa situação, mas que sempre soube que Lauren gostava de você. – Ele sorriu tímido me fazendo sorrir junto. - Sabe, filha, Lauren é uma menina boa. Sempre percebi que ela cuidava de você mais do que o necessário, que sorria mais do que o normal quando estavam juntas e nunca me liguei no que aquilo significava. Agora eu entendo e aceito. Como eu poderia ficar contra alguém que nutre um amor tão grande por minha filha? Nunca. Fico feliz que seja ela a pessoa que entrará na minha casa de hoje em diante como minha nora, alguém que terei muito prazer em receber e tratar como se fosse minha própria filha, assim como Michael faz com você. No final, somos todos da mesma família.  

Ah! Pai. Perdi completamente as palavras e tudo o que fiz foi me agarrar ao pescoço dele, o abraçando com tanta força que o fez ofegar.

: - Eu te amo, pai.

Beijei a bochecha dele e o vi sorrir, os olhos fechando-se para me manter em seus braços como se nunca mais fosse me soltar.

: - Eu também te amo, filha. Quando te peguei nos braços pela primeira vez eu sabia que a partir daquele dia minha vida resumiria o sentido em torno de você, e isso é a verdade mais concreta que já disse. Você e Sofia são tudo pra mim, jamais se esqueça disso.

Esquecer? Esquecer do amor dos meus pais por mim seria como deixar de viver.

 

Lauren POV.

Estar em Miami depois de tanto tempo seria uma felicidade sem tamanho se a situação fosse outra. Acontece que ali, naquele momento, tudo o que eu mais queria era voltar para a minha casa em Los Angeles. Fiquei andando pelo meu quarto naquela casa um pouco já desconhecida por mim durante longos minutos. Minha cabeça latejava, meu coração batendo disparado dentro do meu peito em um reboliço inimaginável.

Assim que chegamos eu corri para os braços de Taylor, sentia tanta falta da minha irmã que me perdi em lágrimas por horas a fio. Taylor não disse nada, apenas me deixou colocar para fora o que estava sentindo, me afagando os cabelos e dizendo no final o seu confortante “vai ficar tudo bem”. Depois disso me tranquei no quarto e deixei bem claro que não queria ser incomodada, que queria ficar sozinha até a manhã seguinte. Meu pai respeitou aquilo, mas não posso dizer o mesmo de minha mãe, já que ela não estava respeitando nada. Fechei as mãos em punhos furiosa quando a ouvi bater na porta pela milésima vez aquele noite.

: - Lauren, vem jantar.

: - Eu não quero comer, eu já disse.

Berrei a todo vapor, minha cabeça pulsando. Se ela estava achando que eu iria ceder depois do desgosto que me deu estava muito enganada.

: - Vai ficar de birra até quando, Lauren? Não vou deixar que morra de fome.

: - Como se você se importasse o suficiente com o meu bem-estar, né mãe?

Ri ironicamente e me virei de costas para a porta fechada, abrindo a janela e respirando fundo para que ar fresco entrasse em meus pulmões. Depois daquilo não ouvi mais nada, agradeci aos céus pelo silêncio que me foi devolvido. Digo, o silêncio exterior, porque o barulho que se fazia ativo dentro de mim estava me deixando louca.

Camila, eu queria Camila, só Camila. Estava tão fora de mim desde que cheguei naquele lugar que havia me esquecido de ligar para ela. Corri a mão esquerda pelo bolso do short jeans desfiado que usava e saquei o Iphone, selecionando rapidamente o número registrado como “Camz” e levando até o ouvido. Sentia uma necessidade assustadora de ouvir a voz dela, a respiração, a risada. Fiquei sacudindo as pernas durante todo o tempo em que a ligação chamava, nervosa, ficando irritada pela demora. Já iria desligar quando ela atendeu, sua voz doce e calma derretendo todo o meu estresse.

: - Oi, amor.

Ela disse manhosa, um sorriso babaca e cheio de dentes nasceu no meu rosto.

: - Ei, baby girl.

Sussurrei suspirando, meus olhos perdidos na lua cheia colocada perfeitamente no céu daquela noite... Solitária para mim.

: - Como você está? Por que demorou tanto para me ligar, Lolo? Fiquei tão preocupada.

Pude sentir a agonia em sua voz e me arrependi profundamente por ter demorado tanto para ligar.

: - Me desculpe. Eu estou surtando tanto desde que cheguei que me esqueci de tudo. Perdoa-me?

Pedi fazendo beicinho, eu sabia que ela não estava vendo, mas Camila sacava tanto as coisas no ar que me fez rir com sua resposta.

: - Eu sei que você está fazendo beicinho agora, e não é justo porque não posso beijá-la. – Sorri triste abaixando a cabeça. Estava debruçada na janela, meu braço livre me apoiando. – E está desculpada.

: - Eu te amo e estou com saudades. Não faz nenhum dia que estou aqui e já estou tendo a certeza de que vou arrancar meus fios de cabelo um por um durante todos esses dias sem você. Isso é uma tortura, Camz. Não quero acreditar que estamos passando por isso.

: - Isso vai acabar logo. – Ela disse convicta, por um momento acreditei na sua certeza. – E eu também estou morrendo de saudades, acho que posso fazer beicinho também, não posso?

Eu ri encantada, apaixonada, louca de amores por aquela garota que usava lacinhos no cabelo aos dezessete anos de idade. Levei a mão ao rosto e suspirei.

: - Faça, mas tire uma foto quando terminarmos a ligação e me manda, eu quero ver e ficar sorrindo a madrugada inteira olhando pra ela.

: - Vou fazer isso. – Riu baixinho. – Ei, amor, meus pais estão aqui. Chegaram um pouco depois da sua saída.

Ergui a sobrancelha surpresa. Não que eu não soubesse que eles iriam, pois Sinu avisou a Camila na noite passada.

: - E ai, como foi? Conversaram?

Perguntei curiosa enquanto batia a ponta das unhas do mármore da janela.

: - Uhum, conversamos. Está tudo bem agora, não que tenha sido assim o tempo todo, pois meu pai meio que ficou perdido quando contei a ele que sou gay.

: - Você disse a ele que é gay?

Engoli a saliva que se formou em minha boca. Camila já havia dito para mim quando estávamos em Paris que chegaria o momento em que teria que contar para seus pais o que ela era, vulgo, gay. Mas aquela palavra nunca havia amargado tanto a minha garganta como naquele momento.

Gay. Camila não estava comigo só porque me amava, só porque tinha se apaixonado na época do The X Factor, não estaria namorando um garoto se não estivéssemos juntas, estaria namorando outra garota. Ela disse com todas as letras, usando toda a coragem e a força para dizer “eu sou gay”. Comecei a me perguntar por que eu não conseguia dizer aquilo, por quê? Um enjoo filho da puta me atingiu quando comecei a me comparar com a minha mãe, ela não conseguia admitir que a filha poderia ser gay e muito menos eu conseguia admitir que poderia ser. Havia pensado sobre aquilo em Paris, mas não dei o valor que o assunto merecia.

Eu podia, não podia? Sim, com todas as curvas. Acontece que eu não sabia dizer a minha razão o que eu havia decidido e sentido quando beijei Camila pela primeira vez: Que jamais voltaria a beijar um homem na minha vida. Não por não gostar, porque deixo claro que nunca odiei os homens, mas sim porque o que senti beijando uma mulher, nunca senti beijando qualquer um dos meus outros namorados. Aquilo me fazia gay? Talvez. Será que não era apenas por amar Camila que todo o meu corpo vibrou enquanto mandava uma mensagem pulsante direto para a minha virilha quando sua língua tocou a minha? Não. Não era só por Camila, porque eu sentia a mesma coisa quando via as meninas do colégio trocando de roupa no banheiro depois do treino, por mais que tentasse negar a mim mesma. E negava.

Senti a mesma coisa quando Vero e eu tivemos que beijar o pescoço uma da outra em uma brincadeira de “verdade ou desafio”. A mesma pulsação, a mesma umidade na calcinha, o mesmo sentimento de satisfação. Então por que diabos eu não conseguia admitir que podia sim ser... Gay? Talvez eu fosse bi, mas como ser bi se nunca me sentiria satisfeita o bastante nos braços de um homem? Ser bi era mais leve, mais leve do que ser gay. Mas por que eu não podia dizer de uma vez por todas, admitir logo e sair do armário? A resposta era fácil como respirar. Eu não conseguia admitir que poderia ser pelo simples fato do medo de ser, do medo de encarar. Desejei ter a coragem de Camila com todas as minhas forças. Suspirei frustrada.

: - Amor, ouviu o que eu disse?

Camila interrompeu meus pensamentos. Balancei a cabeça rapidamente e esfreguei o rosto com as mãos.

: - Desculpe, amor, me distraí com uns pensamentos. Mas repete, por favor.

Camz suspirou entediada, eu sabia que ela odiava quando eu me perdia no meio do assunto para o lado de dentro da minha cabeça.

: - Eu disse que sim, contei a eles que sou gay. Minha mãe disse que sempre soube, meu pai que nunca desconfiou. No começo ele surtou, mas acabamos de ter uma conversa e ele disse que não importa, vai nos apoiar e que está feliz por te ter como nora. Bom, parte desse avanço tenho que agradecer ao seu pai, pois ele que conversou com o meu sobre isso.

: - Meu pai? – Perguntei com um sorriso de canto. Camila fez um “uhum” rapidamente. – Às vezes eu esqueço o quanto meu pai pode ser um amor, sabia?

: - Não deveria.

Ela riu baixinho fazendo com que eu me perdesse no som de sua risada.

: - Que bom que eles estão do seu lado, amor, tudo o que não precisamos agora é de mais alguém contra, além da minha mãe.

Ela bufou tão angustiada que quase pude ver sua expressão dolorosa na minha frente. Ficar sem ela durante aqueles dias me faria mal, muito mal.

: - Use esse tempo que você tem ai para tentar amenizar as coisas com sua mãe, Lo. Não seja burra agora.

: - Eu sei, eu vou tentar, ok? – E eu iria, mesmo que tivesse que me manter bêbada para não ter que aguentar as provocações de minha mãe, eu iria. – Por você, por nós.

: - E por você.

Ela disse como um ponto final. Ficamos em silêncio por alguns segundos, sua respiração suave mandando vibrações por meu corpo. Fechei os olhos para me concentrar melhor, queria tanto beijá-la, sentir o gosto de seus lábios, sua língua. Caramba! Eu ia pirar.

: - Diz que me ama.

Pedi querendo ouvir e me confortar. Eu sabia que ela estava sorrindo do outro lado da linha, a forma como respondeu me deu total certeza.

: - Eu te amo, amor. – Deslizei a mão pelo cabelo me deliciando com o pouco que poderia ter dela naquele momento. – Lembra? Mas que ayer y menos que mañana.

Ela repetiu a frase que havia dito para mim mais cedo. Meu coração bateu desesperadamente me fazendo arfar. O sotaque de Camila era maravilhoso, a forma com que ela enrolava a língua toda no céu da boca para pronunciar as palavras em espanhol me fazia tremer. Ainda gozaria com ela gemendo safadezas em espanhol no meu ouvido, com toda a certeza. Ri de meus pensamentos e mordi o lábio inferior.

: - Você é uma latina maravilhosa. – Sussurrei. – E eu amo você, esse teu sotaque e essa sua voz sexy que me deixa tremendo.

Coloquei para fora aquela turbilhão de sentimentos. Por acaso você tem alguma noção do que pode sentir estando perto de Camila? A garota faz com que qualquer vestígio de controle lhe falte durante vinte e quatro horas. Faz com que você mude do mimimi e blábláblá para o erótico e desesperado em segundos. Eu estava tonta com toda aquela passagem de emoções. Respirei sufocada.

: - Lauren, não me diga essas coisas.

Pude notar uma mudança drástica no tom de sua voz, antes alta, naquele momento quase um murmúrio. Ela deveria estar perto de alguém. Sorri.

: - Por quê? Eu queria estar ai, se eu estivesse ai não estaria dizendo, mas sim fazendo.

Quase bati o pé no chão de tanta birra. Camz suspirou, senti que sua respiração começou a se agitar e deduzi que ela estava se movendo, talvez para um local mais afastado, já que sua voz aumentou o tom quando ela tornou a falar.

: - Eu estou carente, e essa carência faz meu corpo reagir de uma forma bem molhada a qualquer coisa dita por você sem ser “eu te amo”. – Ela disse um pouco irritada, frustrada. Eu ri encantada. – Não estou achando graça.

: - Eu estou, você fica linda brava, posso imaginar suas bochechas coradas.

: - Lauren!

Ela bufou e acabou rindo. A acompanhei e passei a mão livre pela nuca. Iria continuar o papo quando uma voz doce e familiar chamou por Camila.

: - Sofia?

Perguntei me virando de costas na janela sem deixar de me manter encostada.

: - Sim, está me chamando para ver desenho com ela. Se importa se eu for? Eu queria poder ficar namorando com você via telefone mais um pouco, mas é que ela sente minha falta.

Ela começou a se explicar e eu logo tratei de interromper, não tinha o por que ela me explicar aquilo.

: - Ei, tudo bem, amor. Vai ficar com sua irmã, dê muitos beijos nas bochechas dela por mim, diga que estou com saudades.

Desencostei-me da parede e escorreguei a mão para dentro do bolso detrás do meu short, fitando o chão quando comecei a andar pelo quarto.

: - Eu dou e digo. – Ela riu. – Fique bem, ok? Nos falamos por wpp antes de dormir. Faça o mesmo e vá aproveitar e se distrair com Taylor, não quero você triste pelos cantos.

Meio difícil, eu pensei.

: - Pode deixar. – Foi o que eu disse. – Eu te amo.

: - Também te amo.

: - Camila?

A chamei antes que ela tivesse a chance de desligar.

: - Oi? – Cerrei os olhos e disse firme.

: - Coma, jante, lanche.

Ela riu escandalosamente, me deixei sorrir e me perder na felicidade e na sensação gostosa que era ouvi-la rir.

: - Ok, mãe, ok. – Podia jurar que ela estava rolando os olhos. – Beijos, amor.

- Beijos, baby girl.

Desligamos. E o que eu fiz? Joguei-me na cama com aquela conhecida vontade de chorar presa na garganta. Eu estava tão sensível que comecei a me irritar. Bom, não por muito tempo, pois ouvi meu celular apitar. Olhei o visor e abri o sms, era de Vero. Sorri instantaneamente.

Vadia, estou indo para a sua casa agora, não quero saber se está cansada ou o caramba. Chego em vinte minutos.”

Ah! Lord. Comecei a sorrir igual louca, eu só podia estar sofrendo de um surto de bipolaridade. Fazia tanto tempo que não via Vero, uma saudade absurda. Sentei-me na cama olhando ao meu redor, ao mesmo tempo em que a felicidade e ansiedade por ver Vero batiam na minha porta, a angustia e a tristeza por estar longe de Camila entravam com força. Eu disse que estava bipolar, não disse? Pois sim, fechei a cara segundos depois, aquela agonia traiçoeira me dominava tanto que eu não conseguia me manter alegre por mais de um minuto.

Suspirei exasperada e esfreguei as mãos no rosto. Diabolicamente comecei a desejar um cigarro, o gosto da nicotina na minha boca, senti-la fazer efeito por meu corpo até que eu estivesse calma de alguma forma. Vamos deixar claro aqui, mais uma vez, que não tenho o hábito de fumar, mas já havia fumado dois ou três em Miami. Não era a hora de ser hipócrita e falar que nunca havia feito, já tinha sim e não me arrependia, e queria fazer de novo e logo faria. Foda-se.

Eu tinha que parar com aquela mania feia em deixar de fazer as coisas porque as pessoas vão pensar que... Que fosse para o caralho as pessoas junto com suas opiniões insolentes, a partir daquele momento eu decidi que faria o que me desse vontade, e se minha vontade era fumar um cigarro, eu fumaria. Peguei o Iphone novamente para responder Vero.

Estou esperando ansiosamente. Quer me deixar melhor? Traga-me uma cartela de cigarros, por favor. Não pergunte o por que, apenas traga.

Enviei o sms e me levantei, iria tomar um banho na procura de um alívio até que Vero chegasse.

Vesti o mesmo short jeans e uma outra blusinha de alça vermelha, estava calor, portanto, não queria me enrolar em muitos panos. Estava saindo do banheiro depois de tomar um banho longo quando ouvi três batidas na porta. Eu juro que se fosse minha mãe avançaria no pescoço dela e terminaria a noite na cadeia. Mas para a minha felicidade, não era.

: - Lauren, caramba, abre logo essa porta.

A paciência curta de Vero se fez presente do outro lado da parede. Eu ri arduamente e corri sobre pés descalços para abrir a porta que nos separava. A encontrei com olhos estreitos, aquele sorriso que eu tanto gostava livre do aparelho. Lamentei, porque sim, eu adorava quando ela sorria “metalicamente”. Seus cabelos caiam maiores ainda por seus ombros, lisos e brilhosos. Ela estava vestida em uma calça jeans bem apertada, como de costume, uma regatinha branca e nos pés ou seus inseparáveis saltos quinze. Sorri de orelha à orelha e me joguei nos braços dela. Cambaleamos para trás, ela rindo, eu quase chorando. Mas que sensibilidade do caralho.

: - Eu sei que você estava com saudades, Lauren, mas... Vai ficar sem melhor amiga se continuar me sufocando.

: - Ah! Vero. – Exclamei sem me soltar um centímetro. – Porra, que saudades.

: - Morta de saudades.

Ela disse finalmente cedendo e me apertando do mesmo jeito. Seu cheiro gostoso me inebriando. Eu a adorava, a amava, precisava dela mais do que nunca na vida e me dei conta de que precisava dar mais valor a minha melhor amiga. Ficamos abraçadas por longos minutos, depois de tantos meses sem aquele contato era quase impossível nos separar. Quando o fizemos ela me olhou dos pés a cabeça, aquele sorrisinho safado típico de Vero no canto dos lábios.

: - Olha só pra isso, você está mais gostosa do que nunca. O que andou fazendo? Aposto que a pratica sexual tem ajudado bastante.

Eu ri escandalosamente enquanto fechava à porta atrás de nós, queria privacidade com ela e não minha mãe espiando.

: - Você não muda, não é mesmo? - A puxei pela mão para que nos sentássemos na cama. – Como se pudesse falar algo ao meu respeito, pelo o que me lembro de você, não tinha esses peitos na última vez que vim à Miami. Comprou onde?

Vero me olhou espantada, seus lábios se abriram em um pequeno O.

: - Você me respeita porque esses peitos são meus desde que me conheço por gente, eles só... – Ela mordeu o lábio inferior enquanto olhava para baixo, um pequeno decote em V na blusa branca. – Só estão recebendo um estimulo maior nos últimos meses. Hormônios, sabe?

Ela riu descarada e eu gargalhei. Aquela filha da puta não deixaria nunca de ser safada. Amava aquilo nela.

: - Espero que não esteja deixando qualquer um pegar nos teus peitos. Ser piranha é uma coisa, ser piranha burra é outra.

: - Lucy não é qualquer uma.

Lucy. Lucy. Lucy. Quase gritei, fiquei de joelhos na cama.

: - Você e Lucy estão ficando de novo? Isso é... Oh my goodness! Vero. Eu shippo Vercy com força.

: - Há algum tempinho. – Ela riu sem graça. – Mas pode parando, não estamos aqui para falar de mim, mas sim de você.

Me deu um tapa na coxa e eu continuei sorrindo, estava tão feliz por ela... Ela e Lucy tinham que dar certo. Com calma Vero ergueu rapidamente o lado direito do corpo, levando a mão ao bolso da calça e tirando de lá o que eu havia pedido à ela.

: - Toma teus cigarros, mas vê se não vai fumar tudo de uma vez, você não está acostumada e nunca se sabe se terá um troço.

: - Ai, vira essa boca pra lá.

Peguei a cartela em mãos e enfiei embaixo do meu travesseiro. Vero negou com a cabeça e suspirou.

: - Agora vem cá, deita no meu colo e pode começar a conta tudo o que está acontecendo, com detalhes.

Eu prontamente atendi, me abaixando para deitar minha cabeça em suas coxas e receber suas mãos em meus cabelos. Ficamos ali por um bom tempo, contei tudo e mais um pouco para ela, expliquei com detalhes e vírgulas. Acabei chorando, mas me deixei sorrir quando ela disse que eu estava parecendo uma grávida de tão sentimental. Depois de desabafar com ela e me sentir leve, Vero finalizou a conversa com a seguinte opinião...

: - Você só precisa tomar coragem para assumir para si mesma o que não consegue, Lauren. Precisa se aceitar antes de fazer com o que o resto do mundo aceite você e Camila. Pense nisso, amiga, só pense. No final tudo vai ficar bem, toda essa pressão vai valer a pena. Mas para que você se sinta realmente em paz no futuro em relação a tudo, precisa aceitar o que você é ou o que quer ser. Mas não perca tempo, pense logo porque a vida não vai dar uma pausa. Eu estarei aqui para o que der e vier, ao teu lado, mesmo de longe. É só você gritar e eu estarei em Los Angeles antes do sol nascer.

Eu iria pensar mesmo no que Vero disse, não era questão de capricho, era necessidade. Ficamos mais um pouco naquela vibe até que ela disse que precisava ir embora, iria se encontrar com Lucy. Sorri novamente, estava adorando aquilo. Nos abraçamos, a levei até a porta e nos despedimos, ela prometeu que voltaria pela semana. Suspirei quando a vi entrar no carro e dar partida, desejei sair com ela mundo a fora por um momento, mas só por um momento, logo a ideia se dissipou. Eu estava sozinha de novo e só o que fazia quando estava sozinha era pensar em Camila e na saudade que me consumia.

Caminhei de volta para o quarto quase me arrastando. Ignorei a televisão da sala ligada e minha mãe sentada no sofá. Ignorei a voz dela me chamando, ignorei qualquer coisa e tranquei a porta atrás de mim assim que entrei no quarto. Poderia até pensar em deitar no colo do meu pai, isso se ele estivesse em casa. Havia saído com o Chris para comprar alguma coisa, o que me restou a melancolia de sempre.

Caminhei até a cama e tirei de lá a cartela de cigarros, abrindo para pegar um entre os dedos. Procurei na minha gaveta da mesinha do not pelo isqueiro que eu mantinha ali, que foi usado uma última vez para acender as velas quando faltou luz em uma noite qualquer. Quando o achei, apaguei a luz, sentei-me no chão embaixo da janela aberta depois de pegar meu celular.

Com uma lentidão eterna e preguiçosa, coloquei o cigarro entre os lábios ao erguer a mão com o isqueiro. Apertei o pequeno botãozinho ao lado e uma pequena chama azul se fez presente, onde eu logo aproximei da ponta do cigarro por pequenos segundos. Traguei umas duas vezes para acendê-lo, colocando o isqueiro ao meu lado quando vi a pontinha completamente vermelha. É, eu ainda me lembrava como fazia aquilo.

Encostei a cabeça na parede e traguei de novo, dessa vez por mais tempo. Separei os lábios para soltar a fumaça, observei por baixo dos cílios ela sair da minha boca e subir suavemente. O gosto da nicotina me fazendo vibrar. Fechei os olhos e inalei, minha cabeça vagando incontrolavelmente até Camila.

: - Eu vou pirar, Camz... Vou surtar sem você.

Eu disse para mim mesma, para o acaso, para o silêncio, para o escuro do meu quarto. Um frio no estômago, uma sensação dolorosa de ausência. Eu queria estar com ela, protegendo, mimando, cuidando, amando. Desde que voltamos de Paris as coisas só desabaram, nada parecia certo, tudo estava fora do eixo, do nosso eixo. Quando é que toda aquela merda acabaria? Quando que eu poderia finalmente sair de mãos dadas com Camila na rua sem ser chamada à atenção por isso?

Traguei mais uma vez, com força e raiva, a fumaça fazendo minhas narinas arderem, mas não me importei. Abri os olhos e fitei o nada. Era como um jogo, um jogo malvado e afiado. Eu não podia pensar, mas pensava, não podia me desesperar, mas me desesperava, não podia fraquejar, mas fraquejava. Estava tudo perdido e a única pessoa que poderia me livrar de tudo aquilo não estava comigo. Suspirei frustrada e peguei o celular, digitando uma mensagem no wpp para Camila com a mão esquerda, a direita mantendo o cigarro entre o dedo indicador e o dedo do meio.

The world was on fire and no one could save me but you.” </3

(O mundo estava em chamas e ninguém poderia me salvar, a não ser você.)

Enviei a mensagem e voltei a fechar meus olhos. Eu estava sozinha aquela noite, minha única companhia era aquele cigarro que logo acabaria, me deixaria com o gosto amargo na boca e o frio da madrugada, o frio de dormir longe do corpo quente de Camila, o frio por saber que aquele tormento duraria por duas semanas, duas semanas vazias. 



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...