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História Falling in love for the last time. - Let her go.


Escrita por: gimavis

Notas do Autor


Ei, boa noite. Agradeço aos comentários do cap. anterior, mais uma vez, obrigado. Não sei o que seria da minha fic sem vocês, não mesmo. Bom, minha semana será bem lenta, espero que tenham paciência comigo se eu demorar um pouco a postar o próximo. Não sei se esse ficou muito grande ou muito pequeno, mas não importa o tamanho, era exatamente assim que tinha que ficar. Espero que gostem, que façam uma boa leitura e se quiserem ouvir Let her go - Passenger, façam isso. A letra não tem nada a ver com o contexto, mas a melodia embala perfeitamente a cena de início. Boa leitura, meus amores. <3

Capítulo 26 - Let her go.


 

 

Camila POV.

 Era como câimbra, o formigamento subia desde a ponta dos meus dedos dos pés até o meu couro cabeludo. Conforme as ondas subiam por meu corpo, iam fazendo com que meus pelos se eriçassem. Eu podia enxergar a claridade da luz por detrás da membrana dos meus olhos, mas não poderia cometer o erro de abri-los.

Meus lábios entreabertos estavam cobertos por uma camada fina de uma saliva doce, doce e cheirosa, fresca como a pequena brisa que entrava pela janela tocando o meu rosto. Eu resfoleguei pelo o que parecia ser a décima vez naquele minuto quando minha língua foi sugada de volta para uma boca quente e gostosa. Uma sugada, duas, três, quatro, cinco. Perdi as contas, perdi a noção. Já faziam pra lá de longos minutos que Lauren estava me beijando daquela forma, como nunca antes.

Eu envolvi minhas mãos em seus cabelos até que tivesse as pontas tocando o final do meu antebraço, separei nossos lábios molhados em um pequeno estalo para olhá-la um pouco sob a fraca luz do sol. Seus olhos me fitaram intensos, as íris verdes escondiam atrás delas a minha galáxia favorita, a minha de beleza própria e predominante. Seria mesmo quase impossível eu não ter me apaixonado. Seus lábios estavam dominados por um vermelho intenso e um leve inchaço, me deixei sorrir ao deslizar meu dedo indicador pelo inferior, ela sorriu junto.

Estávamos no meu quarto embaixo da janela, sentadas sobre a cadeira da mesinha do meu not. Bom, ela sentada, eu sobre seu colo de coxas grossas e macias, cobertas por um jeans claro rasgado.  

: - Talvez você pudesse me beijar mais um pouco, por mais que eu saiba que nada vai ser o suficiente para me manter satisfeita enquanto estiver fora.

Lauren resmungou encarando meus lábios, meus olhos, meus lábios novamente. Suas mãos quentes de unhas bem feitas massageando a carne da minha cintura por debaixo da blusa azul que eu usava.

: - Acho que devíamos ter transado mais cedo, eu vou sentir falta de lhe tocar dessa forma. – Confessei.

: - Você está corada. – Ela sorriu de canto, erguendo uma mão para acariciar minha bochecha com as pontas dos dedos. Ela não precisava dizer, eu sabia que ela adorava quando aquilo acontecia. – Eu estou sentindo falta, muita falta. Com toda essa confusão que está acontecendo eu não tive cabeça para me deixar levar, agora me arrependo. Deveria ter deixado o drama de lado e ter aproveitado com você. Não faz muito tempo desde a última vez que transamos, mas um dia longe dos teus gemidos me deixa... Me deixa vazia.

: - Ei, está tudo bem. – Sorri timidamente enquanto deslizava os dedos pela pele alva de seu pescoço. – Teremos todo o tempo do mundo para isso quando você voltar para casa.  

: - Daqui há duas semanas.

Ela frisou o “duas semanas” e suspirou tristemente, fechando os olhos e finalizando o show de vários tons de verde que estava me proporcionando.

: - Lauren... – Respirei fundo antes de prender o lábio inferior entre os dentes. – Vamos fazer com que passe rápido, está bem? E vai passar.

: - Se você diz... Eu acredito.

Sorriu um pouco sem vontade dando um beijinho na minha bochecha. Soltei seus cabelos levemente cacheados e desci de seu colo sob um protesto.

: - Não. Sente-se aqui novamente.

Lauren bateu com as duas mãos sobre suas coxas e fez um beicinho lindo. Ri encantada e deslizei os dedos pelo cabelo, os jogando para o lado esquerdo.

: - Espera, eu vou pegar uma coisa.

Fiz um sinal com a mão aberta para que ela esperasse e virei as costas, andando até o meu closet para pegar uma peça de roupa. Procurei atentamente nas prateleiras por algo que me agradasse. Fiquei nas pontas dos pés e me estiquei para pegar a blusa de um baby doll lilás que eu tanto gostava. Assim que o tinha em mãos, andei até a prateleira de perfumes, maquiagem e ergui o vidrinho do perfume que Lauren gostava, o que eu estava usando no último ano. Como ela era alérgica, espirrei na seda apenas duas vezes, de longe.

Voltei para o quarto e a encontrei angustiada, balançando as coxas rapidamente. Eu sabia que ela estava nervosa por conta de sua partida, eu também estava. Assim que me viu Lauren repetiu o gesto de alguns minutos atrás, batendo as mãos sobre as pernas.

: - Vem cá.

Me chamou suspirando e eu não hesitei nenhum pouco antes de tornar a me sentar em seu colo, dessa vez de lado. Ergui minhas mãos com a seda lilás para ela e sorri.

: - Toma, quero que leve isso com você. Eu sei que é alérgica a perfume, mas você não costuma espirrar quando tem o nariz em meu pescoço, portanto... – Ri baixinho um pouco sem graça e encarei seus olhos, um brilho descomunal me acertando. – Eu coloquei só um pouquinho, apenas para você sentir o meu cheiro quando bater saudade, é uma forma de me manter perto de você mesmo eu estando longe fisicamente.

: - Acho que sou imune ao teu cheiro. – Ela riu encantada e pegou a blusa do meu baby doll em mãos, levando até o nariz e fechando seus olhos em seguida para aspirar. Um som puro de satisfação fugiu de sua garganta. – Eu amo o teu perfume, e eu posso lhe dizer que andarei com essa blusa no nariz por toda Miami.

: - Boba.

Eu comecei a rir e ela me acompanhou enquanto rodeava minha cintura com os braços.

: - Eu não preciso lhe dar nada, é só você dormir no meu quarto e na minha cama que vai me sentir lá.

: - Eu vou dormir lá todos os dias. – Confessei. Eu iria mesmo. – Com seu edredom preferido.

: - Nosso edredom preferido.

 Sorriu abertamente e me puxou para um beijo um pouco mais agitado, caloroso. Era um beijo de saudade antecipada, um beijo para calar o nervoso e o medo. Eu estava quase esquecendo de tudo e pedindo para que me fizesse dela ali naquela cadeira quando ouvi três suaves batidas na porta, onde logo a voz de Normani se fez presente.

 : - Laur, seu pai está lá embaixo. Pediu para você não demorar.

 Lauren e eu suspiramos juntas e descolamos nossos lábios.

: - Eu já vou, Mani, obrigado.

Ela gritou de volta e me olhou frustrada. Seus olhos imediatamente enchendo-se de lágrimas. Segurei seu rosto entre as mãos e beijei cada um deles.

: - Ei, não, não chore. – Eu ia dizendo rápido demais, rápido demais para não chorar junto. Eu não iria chorar enquanto ela estivesse ali, ia me segurar, me manter forte para fazer com que ela também se mantivesse, não queria vê-la frágil, não podia permitir. – Não, Lo.

Eu pude ouvi-la segurar o choro na garganta. Você por acaso pensa que Lauren é a superior sempre, não é mesmo? Que é forte vinte e quatro horas e que nunca fraqueja. Mas você está enganada. Por trás daquela imagem invencível e durona, existia uma garota frágil e sensível, chorona e de estruturas abaladas com facilidade. E era aquela Lauren que estava sentada sob mim naquele momento.

: - Eu tenho mesmo que ir, pequena?

Pequena. Não, não me chame dessa forma quando estou tentando não chorar para lhe passar força. Pensei. Ergui a cabeça e puxei o ar que estava me faltando nos pulmões.

: - Precisa, amor. – Sussurrei erguendo seu rosto para mim. – Vai ficar tudo bem, vai dar tudo certo.

Sorri tentando convencê-la e a vi negar com a cabeça.

: - Anda, vem. Vamos descer, não quero que seu pai tenha que subir aqui para lhe buscar.

Sai de seu colo e me coloquei de pé, estendendo minha mão para ela. Lauren me encarou por alguns segundos antes de me dar a mão, levantando-se. A blusa preta apertada que ela usava ajustando-se em seu corpo conforme ela passava a mão livre para ajeitar.

: - Tudo bem. – Suspirou e respirou fundo.

: - Vamos?

Perguntei sorrindo. Comecei a repetir na minha cabeça mil vezes “apenas sorria, apenas sorria, não a deixe chorar, não chore.”

: - Vamos.

Lauren balançou a cabeça em positivo rapidamente e eu a puxei pela mão junto comigo, abrindo a porta para sairmos do meu quarto. Passamos em seu quarto e pegamos a pequena mala que ela levaria, já que tinha algumas roupas na casa de Miami. Guardei a seda lilás que havia dado para ela levar no bolso da frente, a pedido dela, já que disse que passaria toda a viagem com ele grudado no rosto. Eu sorri com aquilo.

Quando ganhamos as escadas todas as meninas estavam na sala, de pé uma ao lado da outra. Ally estava chorando, é claro, aquela baixinha só iria complicar a minha situação. Lauren a abraçou assim que chegou perto o bastante, mas manteve o mesmo choro preso na garganta, largando um beijo sobre os cabelos presos de Ally.

: - Volte logo.

Ela reclamou secando as lágrimas com raiva e Dinah riu tristemente, Normani abraçada à ela. Eu apenas me afastei para dar o espaço que elas precisavam para a despedida.

: - Eu volto, daqui a quatorze dias estarei sob seu teto de novo, Allycat.

: - Acho bom.

Eu ri da desolação de Ally e abri meus braços para ela, para que viesse me abraçar. A envolvi com ternura enquanto via Lauren fazer o mesmo com Normani e Dinah, recebendo beijos e mais beijos das duas.

: - Qualquer coisa liga, Laur. Me liga de madrugada, de manhã ou a hora que precisar, apenas ligue e eu estarei aqui para você.

Dinah disse apertando os ombros dela.

: - Pode deixar, eu vou ligar todos os dias.

: - Promete?

Normani perguntou beijando uma de suas bochechas.

: - Prometo, Manibear.

Depois disso elas se abraçaram novamente.

Deixe-me dizer uma coisa, não era como se nunca tivéssemos ficado longe uma da outra duas semanas ou por mais de duas semanas. Acontece que aquela situação era diferente, todas nós sabíamos que estava tudo fora do lugar, que cinco ou mais dias separadas para Dinah, Ally, Mani, Lauren e eu representava o fim do mundo. Sempre nos apoiamos e nos seguramos as cinco juntas em momentos de dificuldade, como naquele momento não poderíamos repetir as doses era como se faltasse algo, e faltava. Nossa família estava se separando mais uma vez quando não podia, era uma dor desnecessária. O “Fifth Harmony” que carregávamos conosco e que estava gravado em letras enormes no grande quadro que mantínhamos na sala, era muito mais que apenas harmonia, era amor, consideração, respeito, compreensão, admiração, zelo, carinho e apoio. “Ohana” que foi o termo usado pela Mani na noite anterior, era para nós o mesmo que “Fifth Harmony”, e usando do mesmo significado, “Fifth Harmony” significa família, e família significa nunca abandonar.

 Beijei a cabeça de Ally e vi Lauren se afastar das meninas depois de mais algumas coisas ditas, virando-se de frente para mim. Nos encaramos por um tempo, mal percebi Ally me soltar para se juntar as meninas. Sai do transe ao ouvir o carro buzinar do lado de fora. Sorri para ela e estendi minhas mãos, onde ela logo pegou para entrelaçar nossos dedos. Puxou a alça da mala de rodinhas e caminhamos juntas em direção à porta. Lauren parou alguns centímetros depois que passou por ela, largando a mala ao seu lado para me olhar nos olhos.

 : - Só até aqui, por favor. Se você for até o carro comigo eu não vou conseguir ir.

Concordei com a cabeça e sorri triste, um sorriso fechado, sem dentes.

: - Eu vou sentir tua falta, eu já estou sentindo.

Disse chorosa segurando meu pescoço, acariciando com seus polegares intensamente. Meu coração estava esmagado, odiava aquilo, odiava toda aquela merda com todas as minhas forças. Eu odiava os produtores da EPIC, odiava os fotógrafos, odiava a sociedade, eu odiava o que estava sentindo.

: - Eu também estou, eu também vou sentir, Lo.

Sussurrei colocando as mãos por cima das suas.

: - Se cuida, está bem? – Disse nervosa espalhando olhares por todo o meu rosto. – Por favor, alimente-se direito, beba água, eu sei que você não costuma beber água com frequência, portanto, eu vou ligar de dez em dez minutos para te lembrar de beber.

Eu ri triste com a preocupação dela. Ela nunca deixaria de se preocupar, de manter aquela superproteção sobre mim, nunca. Eu amava tanto aquilo.

: - Eu vou me cuidar. – Eu disse firme. – Cuide-se você também.

: - Não saia de casa por essa semana, ok? Fique aqui com as meninas, não quero ver fotos suas na rua nem por nada nesse mundo, você sabe o quão rudes esses caras podem ser, não sabe?

: - Eu sei, amor, não se preocupe. – Me aproximei dela e selei seus lábios. – Agora vai, anda, seu pai deve estar ansioso.

Eu queria encurtar o máximo que podia aquela despedida, odiava despedidas. Lauren selou meus lábios de novo, e de novo e cinco vezes mais. Abraçou-me com força e eu me deixei aquecer ali por um tempo, memorizando cada sensação que aquilo me causava para que pudesse me lembrar na hora de dormir durante a noite.  

: - Te quiero mucho, mi amor.

 Sussurrou no meu ouvido junto com um beijo no pé da orelha. Eu derreti inteira, aquele sotaque latino maravilhoso arrepiando todo o meu corpo. Aquilo me fez lembrar os tempos em que falamos em código/espanhol nos bastidores do The X Factor para irritar as meninas.

A afastei pelos ombros gentilmente e olhei em seus olhos, acariciando seu rosto para limpar uma lágrima que ela deixou escapar. Inferno! Eu não iria fraqueja na frente dela, não iria. Queria passar um pouco de força e iria.

: - Te quiero más que ayer y menos que mañana.

 Sussurrei de volta e ela sorriu abertamente, beijando a palma da minha mão antes de pegar sua mala. Ficamos nos encarando por longos segundos até o taxi que os pais de Lauren estavam buzinar novamente.

: - Tchau, Camz.

Sua voz era um fio, um lamento.

: - Tchau, Lo. - Eu disse rodeando meus braços em meu próprio corpo quando ela começou a se afastar. Meu estômago revirando, minhas pernas fracas. Eu queria me sentar, ela estava indo para longe, estava me deixando, estava indo, indo, eu queria gritar para que ela voltasse. – Me ligue quando chegar, por favor.

 Mas aquilo foi tudo o que me deixei dizer. Lauren apenas concordou com a cabeça e se virou de costas, andando com pressa para o grande portão no final do jardim, olhando por cima dos ombros uma última vez antes que ele abrisse automaticamente para que ela pudesse passar, e fechando-se da mesma forma quando ela pisou do lado de fora.

 Fiquei ali parada, estatelada olhando para o nada enquanto desejava voltar para cinco minutos atrás. Ela foi embora, eu a deixei ir, foi embora para Miami por duas semanas, eu ficaria duas semanas longe dos braços dela, longe daquele sorriso que me dava força para enfrentar tudo o que estava acontecendo. Duas semanas, duas semanas...

: - Duas semanas. – Eu estava pensando tão alto que acabei repetindo aquilo para mim, meus olhos ficando embaçados pelas lágrimas infelizes que tanto prendi. – Duas semanas. – Engoli a saliva que se formou em minha boca, o choro irradiando por minha garganta. – Só volte... Volte.

Eu comecei a dizer em um pequeno surto enquanto permanecia parada, a minha ficha de que ela havia ido embora caiu sobre minha cabeça como um chumbo, eu a senti latejar. Eu estava observando o jardim, as águas calmas da piscina sendo arrastadas superficialmente pelo vento fraco que batia. Meus olhos incansáveis grudados no portão à espera de que ela tivesse desistido, de que tivesse me desobedecido, mas nada. Comecei a me praguejar por tê-la obrigado a ir, eu sabia que era o certo, mas eu queria o errado.  

 : - Mila... Vamos entrar.

Senti uma mão tocar o meu ombro e neguei com a cabeça. Não sabia de quem era, nem ao menos estava conseguindo reconhecer a voz.

: - Eu quero que ela volte, eu...

Solucei dolorosamente e cobri o rosto com as mãos, me deixando finalmente chorar como merecia depois de toda aquela pressão.

: - Vem, Mila, nós vamos cuidar de você. Vamos entrar.

Eu não sei como, não raciocinei, mas quando consegui me dar conta já estava deitada no sofá em L da nossa sala, a cabeça no colo de Dinah, os pés no colo de Ally e Mani sentada no chão ao lado, as mãos subindo e descendo por meu braço.

: - Ei, Mila, vai passar rápido.

Mani fungou e me beijou o rosto. Eu queria tanto acreditar que passaria rápido.

: - Lauren nos pediu para cuidar de você do jeito que ela cuida , então você já sabe que se espirrar nós te levaremos para o hospital em questão de segundos.

Era a voz de Dinah, ao menos consegui reconhecer. Respirei fundo e passei as mãos pelos olhos.

: - Eu vou fazer panquecas com chocolate para você todos os dias, nós sabemos que você gosta e Lauren disse que precisamos mimá-la enquanto ela estiver fora, então pode preparando essa barriga. Eu sei que você é uma comilona, mas a quantidade de panquecas que eu farei, Mila, vai te fazer engordar alguns quilos, você vai ver.

Ally dizia alheia enquanto fungava e massageava os meus pés. Eu ri baixinho, abrindo os olhos para fitá-las. O que seria de mim sem elas naquele momento? Nada, nada.

: - Vocês não existem. – Eu disse fraca. – Obrigada por tudo, obrigada por estarem me segurando, por estarem segurando Lauren, precisamos de vocês como nunca antes.

: - Nós sabemos, e é por isso que vamos nos mover junto com vocês.

Mani disse depois de beijar meu rosto novamente. Suspirei me sentindo confortável com toda aquela atenção, mas eu precisava ficar sozinha, eu precisava colocar minha cabeça no lugar. Tirei meus pés com cuidado do colo de Ally e me sentei secando o rosto. Elas me encararam.

: - Meninas, eu preciso ficar sozinha um pouco. Eu vou subir, está bem? Não se importam?

: - Claro que não, Mila. Estaremos aqui se precisar de algo, Mani e eu vamos fazer o almoço e te chamamos quando estiver pronto.

Dinah afagou meus cabelos e sorriu. Sorri de volta e me levantei.

: - Tudo bem.

Me despedi delas com um aceno de cabeça e me virei de costas, tomando o rumo das escadas. Subi com uma lentidão eterna, me arrastando. Entrei no quarto de Lauren e fechei a porta atrás de mim, me encostando na mesma. Olhei ao meu redor e tudo parecia tão frio e tão vazio sem ela, tudo sem cor, sem luz, sem brisa, sem graça.

Andei com calma até a cama e me deitei sobre ela, puxando o cobertor que a cobria entre os dedos e me agarrando a ele como se precisasse daquilo para respirar. Mais uma vez eu chorei, chorei de desespero, de medo, de saudade, de ânsia. Fiquei cheirando aquele cobertor com cheiro de Lauren como quem cheira cocaína, um vício, podia sentir meu nariz ardendo. Na verdade estava tudo ardendo, desde meu nariz até meus pés. Era como se eu estivesse sofrendo por causa de uma abstinência de drogas, meu corpo tremia, suava, minha boca salivava, minha garganta queimava, minha cabeça rodava. Eu estava em abstinência, e naquele caso a droga em falta era Lauren, minha Lauren. Meu vício sem desejo de cura. 

 Passar por aquela pressão psicológica já era difícil com ela, imagina sem ela? Imagina daí, imagina sentada no seu lugar, imagina as pessoas te julgando, te humilhando, te impedindo de ser quem você é porque acham o que você faz errado. Imagina ser impedida de demonstrar afeto, ou qualquer coisa a quem você ama por causa de pessoas que não tem nada mais na vida além de dinheiro e um coração vazio. Imagina só depois de tudo isso ter que ver a única pessoa que sabe como é se sentir assim, além de você, ir embora e te deixar por duas semanas, longe das palavras, dos beijos, da proteção dos braços quentes, do cheiro, do sorriso largo, do corpo acolhedor, do carinho, do amor. Era sufocante, sufocante.

Afundei meu rosto no travesseiro de Lauren e gritei, gritei com todas as minhas forças, gritei até sentir minha cabeça doer e meu rosto queimar, gritei até que a voz me faltou, até que eu sentisse toda aquela dor se alastrar em todos os cantos. Eu queria sentir, queria sentir a dor me atormentar porque era a única forma que me indicava que era real, que estava mesmo acontecendo.

Era tão injusto, tão injusto sofrer daquele jeito apenas por amar alguém, era tão injusto ser considerada errada apenas por querer alguém mais do que se quer a si mesmo. As pessoas matam umas as outras todos os dias, pais estupram suas próprias filhas, filhos matam seus próprios pais, governantes roubam o país milhares de vezes todos os dias, policias corruptos matam civis inocentes, falsos médicos adormecem pacientes para sempre, pastores roubam fiéis dentro de seus templos com dízimos e dízimos de valores altos, a sociedade permanece cega diante de todas essas atrocidades e nós, nós, NÓS somos considerados os errados apenas por amar alguém do mesmo sexo. NÓS somos escandalizados como aberrações, anormais, doentes, possuídos pelo demônio porque amamos. enquanto o resto que citei anda pelas ruas aleatoriamente, cometendo a mesma coisa e saindo impunes na maioria das vezes. Eu não conseguia entender.

Fique naquele debate comigo mesma por um longo tempo até que ouvi algumas batidas na porta. Passei as costas das mãos pelos olhos e me sentei.

: - Entre.

Ajeitei meu cabelo e vi a porta se abrir, para a minha surpresa não era nenhuma das meninas, mas sim alguém bem menor e bem mais gordinho. Meu coração acelerou.

: - Kaki!

Pulei da cama e corri em direção a ela, a tomando em meus braços e rodopiando sobre os calcanhares milhares de vezes. Minha irmã, minha Sofia estava ali depois de tanto tempo.

: - Sofi. – Nos abraçamos com força, seu corpinho um pouco mais crescido contra mim, aquele cheirinho que eu tanto amava me fazendo feliz naquele momento. – Eu estava morrendo de saudades. Ah! Meu Deus.

Beijei todo o seu rosto e ela ria contente.

: - Eu também estava com saudades, fiquei enchendo o saco da mama para me deixar subir logo. E... – Sofi parou quando finalmente analisou meu rosto, erguendo suas mãozinhas pequenas para enxugar minhas lágrimas. – Ei, kaki, por que você estava chorando? Você está sentindo alguma dor?

Ela me perguntou inocente, seus olhos passando de alegres para incomodados. Sorri triste e segurei em sua mãozinha, colocando em meu peito.

: - Uhum, está doendo aqui, aqui no peito da irmã. Uma dor muito grande.

Eu disse com os lábios trêmulos e a ouvi suspirar, mexendo a mãozinha em meu peito devagar como se estivesse massageando.

: - Já vai passar, Kaki, a mama disse que eu sei fazer uma massagem muito boa, quando eu acabar você vai se sentir melhor. Tá bom?

: - Ah, Sofi, eu queria tanto acreditar que vai passar.

A puxei para mim e a abracei novamente, estava de joelhos no chão, ela de pé na minha frente, seus braços pequenos em torno do meu pescoço. Ficamos daquele jeito longos minutos, ela não se atreveu a nos separar, sabia de alguma forma que aquele pequeno abraço estava me confortando. Sofi já tinha sete anos, mas ainda era o meu bebê. 

Abri meus olhos quando ouvi passos se aproximando, e logo a imagem cansada de meus pais apareceu na porta. Me se parei de Sofia e me levantei, correndo para minha mãe quando a vi abrir seus braços para mim. Choquei-me contra ela com força, nossos corpos chegando alguns passos para trás. Choramos as duas, meu pai levou uma de suas mãos até meus cabelos e ficou afagando antes de nos envolver com seu braço direito. Por mais que eu soubesse que a reação dele a tudo aquilo seria um pouco negativa, ele jamais deixaria de me consolar, nunca. Eu o conhecia o bastante para saber disso.

: - Shiu! Filha, eu estou aqui. – Minha mãe começou a dizer contra meus cabelos nos embalando de um lado para o outro. – Estou aqui.

: - Mama. – Sussurrei com a voz esmagada contra seu peito. – Mama, isso está doendo tanto.

: - Eu sei, meu amor, eu sei. – Minha mãe segurou meu rosto entre as mãos e me encarou, beijando minha testa em seguida. – Eu estou aqui, nós vamos ficar com você, vamos cuidar de você, te proteger. Se acalma, filha, não suporto te ver assim.

: - Lauren foi pra Miami, ela foi embora por duas semanas e eu estou surtando por saber que não estarei lá para cuidar dela. Por favor, mama, por favor, me leva para Miami com vocês..

Eu estava implorando, suplicando, minhas mãos agarradas com força na blusa da minha mãe.

: - Calma, respira, você vai acabar passando mal desse jeito. Quando você era do tamanho de Sofi sempre vomitava quando chorava muito, não queremos que isso aconteça, não é?

: - Fica calma, filha.

Meu pai disse acariciando meu rosto. Respirei fundo umas três vezes tentando me acalmar. Quando finalmente consegui tal coisa, entramos no quarto de Lauren e nos sentamos na cama, eu no meio, meu pai do lado direito e minha mãe do lado esquerdo. Sofi gritando uma das meninas no corredor, desejei que ela fosse para a sala, não queria que continuasse me vendo daquele jeito. Eu queria ser um exemplo de força para ela, não de fraqueza.

Fiquei recebendo carinho dos meus pais até que estivesse um pouco mais calma, mais centrada. Fiquei mexendo na pulseira que ela havia me dado em Paris e na minha aliança o tempo todo.

: - Então vocês estão mesmo namorando?

Minha mãe me perguntou depois de encarar junto comigo a aliança em meu dedo. Meu pai suspirou.

: - Estamos. – A olhei, seus olhos calmos e maternais. – É, nós estamos. – Sorri entre lágrimas.

: - Faz muito tempo, filha?

Seus dedos trêmulos colocaram uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.

: - Não, não, menos de uma semana. Mas estamos juntas há mais tempo.

Eu disse rodando a aliança em meu dedo, abaixando meus olhos.

Meus pais ficaram em silêncio por um tempo, podia sentir seus olhos em meu rosto, me analisando, a preocupação eminente.

: - Filha, me responde uma coisa? – Meu pai me perguntou tocando meu ombro, me fazendo olhá-lo. Apenas balancei a cabeça em positivo e ele olhou para minha mãe antes de colocar seus olhos em mim novamente. – Esse seu interesse por garotas, ele para na Lauren ou ele se estende? Digo, se você não estivesse com Lauren, poderia estar com outra?

Olhei para ele de igual para igual, não tinha medo de dizer o que eu era, mas parecia que ele tinha de dizer. Ergui minha mão trêmula e acariciei seu rosto assustado, minha mãe segurando minha mão livre.

: - Por que não pergunta diretamente, pai? Não tenha medo de me perguntar com todas as letras.

Ele me encarou durante um tempo, não parei com o carinho. Eu sentia saudades do meu pai, de deitar em seu colo, de assistir desenho antes de ir para o colégio, de andar em suas costas. Acabei sorrindo com as lembranças. Ele suspirou.

: - Você é... gay, Camila?

Gay. Era isso que eu era, não é mesmo? Foi daquele jeito que eu nasci, gay, completamente gay, absolutamente gay. Eu sempre soube disso, sempre, não postava indiretas no Tumblr à toa, toda brincadeira tem um fundo de verdade e as minhas não foram diferentes. Talvez eu fosse um pouco alheia a tudo isso antes, não ligava muito, mas eu sabia que era gay desde que me entendo por gente. Sorri para meu pai e suspirei.

: - Sim, pai, sou gay.

: - Como?

Ele disparou, eu sabia que não era por mal, apenas uma reação as minhas palavras. Minha mãe estava acariciando minha mão com insistência. Se a conheço bem assim como ela me conhece, posso apostar que ela sempre soube.

: - Como? Bom, sou gay como você é hétero, pai. Não há nada monstruoso nisso. Eu gosto de meninas e se não estivesse com Lauren, se não a amasse, poderia estar amando outra agora ou daqui há alguns anos. Eu sou gay assim como branco é branco e preto é preto, simples.

: - Desde quando? Digo, desde quando você sabe que é gay? – Ele disse a palavra com dificuldade, pegando minha mão de seu rosto para acariciar da mesma forma que minha mãe fazia. – Por que eu nunca soube?

: - Talvez eu saiba desde os meus nove anos, pai, talvez dez, mas do que importa? A idade com a qual me descobri não vai mudar os fatos. Eu sempre me senti diferente, nunca olhei meninos com aqueles olhos que dizem “vou casar e ter filhos” nunca. Quando entrei na adolescência as coisas pioraram, eles não me atraíam e o que eu já suspeitava só se confirmou.

: - Eu sempre soube. – Eu não disse? Minha mãe afagou meus cabelos. Eu disse que ela sabia, me conhece como ninguém. – Eu sempre soube que minha garotinha era diferente, desde pequenininha. Você não se lembra, mas uma vez quando tinha cinco anos, me perguntou se poderia casar e ter filhos com uma amiguinha do colégio. Eu lhe perguntei o por quê você queria casar com ela, e você me disse que gostava muito dela, e que se as pessoas se gostam elas casam e têm bebês. E você queria casar com ela. – Minha mãe riu chorosa e eu ri sem graça, queria caçar um buraco para me esconder. – Minha primeira reação foi ficar assustada, mas depois eu tive a certeza que não podia fazer nada para mudar, que você ia crescer e ser diferente e olha só, Camila, eu não estava errada. E sabe o que mais me orgulho disso? Você não se deixou abater, não fugiu do que você é, se aceitou e essa foi a melhor coisa que você poderia ter feito. Você não é errada, você não é doente, você nasceu gay e eu te amo exatamente assim.

: - Ah! Mama...

Resfoleguei e me joguei em seus braços para abraçá-la com força. Senti beijos em minha cabeça, minhas lágrimas me cegando novamente.

: - Eu só estava esperando pelo momento que você iria me contar, só isso.

Ela disse me embalando.

: - Por que nunca me contou, Sinu? Eu me sinto meio enganado.

Meu pai reclamou passando a mão pela cabeça, parecia um pouco nervoso.

: - Pensei que tivesse reparado, Alejandro, mas como você é fechado, talvez quisesse guardar só para si as coisas que percebia, não imaginei que não soubesse.

: - Eu não sabia, eu... – Ele bufou se levantando, andando pelo meio do quarto de Lauren até parar com as mãos na cintura. – Eu me sinto um péssimo pai. Eu nem mesmo consigo acreditar nisso, eu estou um pouco assustado. Minha filha é gay, eu sei como tratam os gays lá fora, eu estou com medo, Camila. Eu estou aterrorizado com as coisas que estão falando de você, de vocês. – Seu rosto estava vermelho, seus olhos arregalados. Meu coração apertou. – Eu ouvi comentários sujos durante todo o caminho até aqui, estão falando disso nos rádios, na TV. Como posso voltar para Miami daqui há um tempo e lhe deixar aqui? Você é menor de idade, ainda não responde sozinha, como é que vou lhe proteger? Eu não consigo pensar, eu... Eu quero ficar um pouco sozinho.

Me separei dos braços da minha mãe quando meu pai já se afastava em direção a porta.

: - Aonde vai, pai? Por favor, não fica assim. – Pedi com o coração na mão.

: - Alejandro...

Olhei para minha mãe e ela tinha a mesma expressão que a minha, preocupada.

: - Eu vou andar um pouco, dar uma volta, só preciso colocar meus pensamentos no lugar. Eu volto mais tarde. Cuide de Camila, Sinu.

Vi meu pai fazer um gesto com a mão meio perdido, me olhando profundamente antes de sair do quarto, deixando eu e minha mãe sentadas sobre a cama sem saber o que fazer.

Comecei naquele momento a pedir a Deus para que ele não surtasse como a mãe de Lauren, era tudo o que eu menos precisava. 



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