Capitulo 8 - Alívio da dor
Amber teve que ajudar Kang-woo a se banhar e se arrumar para ir à escola, caso contrário ele continuaria sujo em cima da cama, entrando em uma depressão horrível. Ela percebeu que ele acordou com a expressão ainda mais abatida que no dia anterior, estava com os olhos de quem não dormia a mais de um mês e ela quase podia ver raiva crescendo dentro dele.
Não era normal alguém ficar assim de um dia para o outro, ela ficou calada esperando ele tomar alguma atitude, mas como ele não disse nada, enquanto ela estava vestindo a farda do menino criou coragem para perguntar.
- Será que da pra parar de ficar com essa cara de morte e me dizer o que aconteceu? Você não estava tão mal assim quanto te botei para dormir – Ela colocou o dedo nas olheiras do menino.
- Não foi nada, noona – Ele disse de cabeça baixa.
- Tem certeza?
- Não é nada – Lágrimas caíram contra a vontade dele – Só quero dormir e nunca mais acordar.
- Você quer morrer Kang-woo? – Ela perguntou com tristeza e ele negou com a cabeça – Dormir e nunca mais acordar é a morte, querido.
- Eu quero que meus sonhos se tornem minha realidade. Pelo menos neles eu posso ter todas as pessoas que eu quero ao meu lado – Amber ficou sem palavras e engoliu o nó que nasceu na garganta. Ela sorriu sem humor.
- Nos nossos sonhos também acontecem coisas ruins, Kang-woo. Às vezes até pior do que na vida real – Ela terminou de vestir a gravata do menino, ele continuou calado – Vamos, eu tenho um compromisso para depois de te deixar na escola.
Kang-woo não falou mais nada durante todo o percurso. Amber estava com uma pulga atrás da orelha a dias, e isso estava deixando ela ainda mais confusa que o normal. Resolveu resolver o problema de Kang-woo quando chegasse em casa, lembrou que com os acontecimentos que ocorreram, nem mesmo lembrou do aniversário do menino.
Quando o carro estacionou na frente da escola Kang-woo abriu a porta e saiu.
- Kang-woo – Ela chamou – quando chegarmos vou te levar para comer uma pizza, nem mesmo lembrei-me do seu aniversário, com todas as coisas que aconteceram...
- Não se preocupe – Ele disse sem esboçar nem meio sorriso – Nem eu lembrei.
Amber sorriu e o menino caminhou até a entrada da escola. Ela sentiu seu coração apertar, alguma coisa de errado estava acontecendo, e não era só com ele. Ela olhou para o espelho retrovisor e percebeu que as bochechas estavam mais enxadas que o normal, ou seja, ela estava toda rechonchuda com o cabelo curto e bochechonas.
Ela respirou fundo e pegou a pasta que havia escondido debaixo do banco. Havia conseguido, com muito esforço, durante os quatro dias de pulga atrás da orelha o endereço de Jong In. Ela teve que pegar os registros dele ilegalmente, mas era o que menos importava, ela não iria descansar até descobrir se estava certa ou errada, se estava ficando louca ou não.
Ela jogou os documentos no banco carona e pisou fundo no acelerador.
A casa de Jong In ficava em um apartamento. O único da ilha inteira, que ficava dentro de um condomínio de mais ou menos luxo. Os seguranças não perderam tempo com ela quando ela disse que era uma namorada do chefe. Ela pediu que eles lhe pegassem uma água e pegou a chave extra às escondidas. Eles apenas a deixaram entrar depois de colocar um crachá que estava escrito ‘visitante’. Só avisaram que Jong In nunca recebia ninguém durante o dia e que talvez ele não fosse atender a campainha.
Ela subiu pelas escadas já que o elevador estava quebrado. E quando chegou à porta do apartamento dele, primeiro verificou se estava trancada. Estava. Ela pegou a chave extra e abriu a porta com normalidade. Tirando o cheiro de mofo horrível, o apartamento era bem limpo, vazio e normal. Na sala não havia nada além de um freezer branco e um cabide para casacos.
Amber caminhou até ele e o abriu com dificuldade, a porta era pesada e ela teve que se esforçar muito para não fazer ruídos. Quando abriu deu três passos, para trás, assustada.
Eram bolsas, bolsas de sangue. O freezer estava cheio delas. O coração dela disparou muito rápido, ela quase perdeu o equilíbrio.
Cambaleou até o próximo cômodo, e se lembrou de que não havia a mínima possibilidade de Jong In estar acordado, eram duas da tarde. O sol estava alto, ela se sentiu um pouco mais aliviada e caminhou pela casa livremente, Encontrou todos os cômodos da casa quase completamente vazios, quase desistiu de procurar por Kai quando pensou em uma porta que não havia aberto. A porta do armário da suíte.
Ela voltou ao quarto e hesitou um pouco em abrir a porta. Respirou fundo por algum tempo e criou coragem para abri-la. Assim que a porta se abriu ela viu que não era um armário e sim outro quarto, um quarto grande, cheio de espelhos quebrados na parede, uma cela de prata no canto esquerdo e um caixão de madeira vermelha no canto direito. Era tudo de bizarro que ela estava rezando para não encontrar.
Jong In era um escravo de satã.
Era um vampiro.
***
Xiumin olhou para seu paciente que já estava sofrendo há quatro dias. Ele podia ver que o humano ficaria bem melhor se estivesse morto do que sentindo a dor de todas aquelas queimaduras. Ele olhou para a janela de vidro da UTI e viu que a mulher que o acompanhava estava adormecida.
“- Não acha que seria melhor deixar ele ir, menina? – Ela havia perguntado na manhã daquele dia.
- Eu não tenho coragem... – Ela confessou abaixando a cabeça – Eu o amo demais, assim como ele depende de mim eu dependo dele. Nossa estabilidade emocional e psicológica fazemos juntos... Eu não consigo mais viver sem ele. Já teve a sensação que alguém arrancou um pedaço de você que era essencial?
- Eu... Não deveria me envolver nos assuntos dos pacientes, mas... – O vampiro abaixou a cabeça -... Sim. Quando minha mãe morreu e eu ainda precisava muito dela ao meu lado, como eu iria aprender a andar se ela ainda estava me ensinando a fazer isso quando foi tirada de mim? – Ela sorriu sem humor entendendo a metáfora.
- Então você me entende... Essa decisão não será minha... – Ela cruzou os dedos e fechou os olhos para cochilar – Segurá-lo dói muito... Mas seu deixá-lo ir... Doerá ainda mais”
Ele olhou para a fênix e pensou duas vezes antes de injetar o remédio que faria o coração de Jinki parar. Pensou no quanto àquela garota iria sofrer com ou sem ele, e percebeu que de acordo com seus cálculos, seria menos sofrimento para os dois se ela o deixasse ir. Ele suspirou e injetou o remédio na veia do rapaz lentamente.
O vampiro viu o coração do rapaz começar a acelerar, Jinki nem mesmo estava sentindo a dor, estava dormindo, mas se mexia como se sentisse que algo estava acontecendo.
- Descanse em paz. Esse é o meu agradecimento por ter salvado a minha vida – O aparelho parou de bipar e logo começou a apitar.
“Código azul, Código azul” A mulher começou a falar no alto falante e ele se afastou do rapaz, começando a examinar o paciente do lado quando os médicos chegaram para tentar reanimá-lo. Não havia mais o que fazer, e eles já sabiam disso. Xiumin viu a garota acordar em um sobressalto e correr para a janela preocupada. Assim que viu o que estava acontecendo entre os médicos procurou ver logo em que maca estava acontecendo o chamado.
Rezou para que não fosse a de Onew, mas não adiantou muito. Quando olhou nos olhos do enfermeiro teve a certeza.
Onew estava morto.
Ela deixou os ombros caírem ao perceber que os médicos nem estava tentando salvá-lo. Um deles já cobria o rosto do namorado com o lençol e isso a fez ter vontade de gritar. Colocou as mãos em cima da boca e viu o enfermeiro que estava cuidando dele se aproximar para abraçá-la. Ela recebeu o abraço de bom grado e começou a chorar desesperadamente. Os soluços eram altos e invadiam os corredores do hospital rapidamente.
- Me diga que isso não é verdade... Por favor... – Ela afundou a cabeça no peito do mais velho e soluçou -... Ele estava melhorando... Eu sei que estava... Não... – Ela apertou a camisa de Minseok e o fez ficar compadecido. Ele conhecia bem aquela dor, e é por isso que estava ao lado dela naquele momento.
Não existe coisa pior do que uma dor dilacerante como aquela em uma pessoa que não tem nenhum ombro para chorar.
***
Já fazia quatro dias que Key estava daquele jeito, ele nem mesmo estava conseguindo enterrar as pessoas direito. Algumas famílias tiveram que optar por cremar os corpos dos infectados pela praga, já que Key não conseguia sair da cama para quase nada. Minho estava fazendo de tudo para animá-lo, tentando fazer todas as coisas que ele gostava, tentando animá-lo com piadas, mas tudo parecia inútil diante da profunda tristeza que ele estava sentindo.
O mais velho já tinha febre desde o inicio da manhã e se ele estivesse tossindo, Minho já imaginaria que era praga. Por sorte era apenas resultado da depressão repentina.
Minho estava tentando colocar comida na boca de Kibum quando não aguentou mais ver o outro sofrer sem fazer nada.
Ele colocou o prato em cima do criado-mudo e encarou o mais velho.
- Você já pode parar com isso e me dizer o que aconteceu – Minho balançou o ombro de Kibum – Hyung... Eu tenho o direito de saber. Já passei quatro dias calado esperando chegar a sua hora de falar, mas eu não aguento mais! Você tem que me dizer que aconteceu... Não posso ver você sofrendo assim sem nem saber de quem eu devo ficar com raiva.
- Nem mesmo eu sei de quem devo ficar com raiva, Minho – Kibum olhou sério para ele – quanto menos você. Eu não acho que devo te envolver nesse tipo de assunto.
- Não? – Minho perguntou ficando com raiva. Pegou a mão do mais velho e a colocou em seu peito. Respirou fundo e soltou.
Kibum afastou a mão assim que sentiu. Arregalou os olhos e olhou para Minho, querendo uma explicação que ele já sabia qual era. Assim que o mais novo se manteve calado, com a expressão vazia no rosto, Kibum já sabia qual era a resposta.
- Ai... – Ele gemeu de dor começando a chorar, abraçou o mais novo com força sentindo todos seus ossos fraquejarem – por que isso dói tanto? Por que agora? E por que... Com o meu único filho? Você nem conseguiu sair daqui como queria... Nem levou sua amada para passear pelas ruas de Paris... Como vou viver sabendo disso, Minho?
- Você vai superar isso, Hyung. Será que agora pode me falar o que está acontecendo com você?
Kibum suspirou e aguardou alguns segundos. Ficou esperando as palavras certas virem para ele falar.
- Eh... Minho, você lembra-se de todas aquelas lendas envolvendo os vampiros que eu gosto muito de contar a você desde quando era mais jovem? – Minho franziu a testa. Era claro que se lembrava, sempre acordava morrendo de medo no meio da noite por causa delas – Então... Acontece que todas aquelas lendas são verdadeiras.
Minho se lembrou do que Amber falou sobre vampiros quatro dias antes.
- Não... Hyung você deve estar passando mal por causa da depressão... Eu não acho que_
- É exatamente por esse motivo que não queria lhe falar nada. Você não acredita em mim, admiro você por isso, mas se isso te serve de consolo quem te colocou no meu caminho foi um vampiro lobo. Ele salvou a minha vida e pediu que em troca eu cuidasse de você desde então. Você teria morrido de frio se não fosse por ele.
- Você está me dizendo que os filhos de satã existem? Está me dizendo que as criaturas escravas do diabo existem e estão próximas de nós.
- Não só estão próximas como são a causa de todas estas mortes que estão ocorrendo agora. Muitas pessoas ainda morrerão, Minho. E eu estou assim porque JongHyun preferiu se tornar um imortal forte para se vingar do assassino da mãe dele do que viver uma vida humana comigo... – Kibum suspirou -... Ele nem sonha que esse assassino é o mesmo que te colocou nos meus braços.
- Está falando sério? – Gaguejou com dificuldade.
- Estou. O vampiro que te colocou nos meus braços... O nome dele é Kai. E ele deveria levar todos os créditos por você estar saudável agora. Lembra-se de alguém dando alimento a você? O único que via você quando era um invisível?
- Vagamente...
- Era ele. E esse vampiro, matou a mãe de JongHyun enforcada na frente dele quando estava sobre o poder da lua... Sobre os comandos de satã – Minho ficou sem palavras – Eu vi JongHyun morrer. A alma dele será envenenada pela Serpente, eu posso sentir...
- Quem é o vampiro que me colocou no seu caminho? – O mais novo perguntou decidido a saber – Diga... Quem é ele? Eu conheço?
- Conhece... Conhece muito bem, você trabalha com ele – O rosto de Minho empalideceu – Amber não estava ficando louca, Minho. O nome verdadeiro de Kim Jong In é Kai. O vampiro que me deu um filho.
***
Amber esperou de braços cruzados durante a tarde inteira, conseguia até sentir a barriga roncando, mas não desistiria do que iria fazer, não iria deixar de tirar todas as suas dúvidas, ela nem mesmo pensou que aquilo poderia custar sua vida, por mais que seu chefe pudesse mesmo ser um vampiro, ela não conseguia acreditar na hipótese dele ser uma pessoa má. Afinal fora Jong In que salvara muitas pessoas mesmo sendo um legista, fora até ele que servira de cupido muitas vezes.
Ela estava tranquila, só não via a hora do sol se pôr para finalmente ficar cara a cara com Jong In, se é que esse era seu nome.
O sol começou a lamber o horizonte, as nuvens estavam cobrindo a estrela que tentava fazer o seu trabalho na hora certa. Mesmo que a escuridão completa já estivesse pronta, Jong In só acordou na hora que sempre acordava, a hora que já tinha certeza que o céu estava escuro. Quando ela ouviu um ruído se posicionou na cadeira com a coluna ereta. Não queria perder nenhum detalhe.
A porta do caixão se abriu em um baque. Ela conseguiu avistar a mão branca de Jong In com presas no lugar das unhas, uma mão que de tão branca deixava as veias amostra. Ela franziu a testa e ficou mais atenta. O corpo do chefe se ergueu tão ereto que parecia um robô. Depois de se sentar Jong In permaneceu ali observando a parede de espelhos por alguns minutos.
Ela conseguiu ver a pele do chefe pálida como nunca, ela sempre o achava até moreno apesar de muito frio, mas naquele momento ele parecia ter recebido banho de trigo. Seus olhos estavam azuis e seus caninos eram duas presas famintas. Assim que ele sentiu a presença da mulher, foi voltando ao normal aos poucos. Ele virou a cabeça na direção de Amber. Quando ele colocou os olhos nos dela, já estava com aparência humana novamente.
- O que... Você está fazendo aqui? – Ele estava assustado, nunca esperaria acordar com uma humana lhe observando – Desde quando está aqui?
- Desde muito cedo – Ela semicerrou os olhos e se levantou caminhando até ele ainda de braços cruzados – Minhas teorias estavam certas, eu não estou louca – Ela agarrou a borda do caixão – Um vampiro... Legista – Disse com repreensão na voz – Como pôde se atrever a mentir pra mim? Achou que eu não iria descobrir, Jong In?
Kai respirou fundo.
- Você quer que eu admita? – Ela ergueu a cabeça e assentiu – Está bem, eu admito. Meu nome não é Jong In – Disse dando um jeito de sair do caixão sem esbarrar com ela – Meu nome é Kai. Não sou coreano – Disse pegando o casaco e vestindo – sou britânico. Tenho cento e nove anos e você está certa, achei que iria te enganar – Ele sorriu e olhou para a mulher que o olhava com incredulidade – Me desculpe se isso te ofende, mas eu não ia sair por ai gritando que sou um vampiro, essas coisas não existem na vida real, estou errado?
- Britânico?
- Isso mesmo.
- C-cento e nove anos?
- Sim.
Amber fechou os olhos e tampou os ouvidos, mal podendo acreditar no que escutava.
- E eu estava feliz porque meu primo estava saindo com você! Você é um perigo para ele! – Ela o olhou cheia de raiva.
- Ei! Eu também me preocupo com ele.
- Mas você suga o sangue das pessoas! – Isso fez Kai se calar. Ela tinha razão, por mais que suas intenções fossem boas, ele nunca deixaria de ser um assassino.
- Não precisa ficar me lembrando disso, tá bom? Acha que eu não tenho motivos suficientes para me lembrar disso todas as noites? Acha que eu não sei que sou um assassino?! POR MAIS QUE EU QUEIRA SER BOM, PARA AS PESSOAS EU NUNCA VOU DEIXAR DE SER UM ASSASSINO! – Os gritos de Kai deixaram o rosto de Amber pálido, os olhos dele estavam magoados, apesar de seu tom alto e irado, ela percebia que tudo o que ele estava fazendo era botando sentimentos para fora – Me desculpe se estou sendo duro com você... – Ele olhou para o caixão tentando evitar os olhos cruéis da mulher -... Mas você não sabe o que é acordar, todas as noites, por mais de cem anos... Tendo em mente tudo o que você destruiu... Nem mesmo eu me sinto no direito de tirar uma vida humana, e é por isso que tento amenizar isso o máximo possível. Pode não ser ético beber sangue doado, mas pelo menos não estou matando ninguém... Pelo menos não diretamente... Amber, você tem que me dar o direito de falar. O seu primo me deu esse direito e...
- O QUÊ? – Ela gritou – Taemin sabe que você é um vampiro?
- Desde aquela noite no hospital, quando ele me atacou... Eu tive que me explicar... Eu... Já tinha encontrado com ele antes_
- Seu idiota! – Ela gritou batendo no peito do vampiro com força – Porque está se aproximando dele dessa forma? Porque ele deixa?! Por que... Por que... – Ela começou a ver tudo ao seu redor girar – Você quer transformá-lo?
Kai negou com a cabeça e ajudou Amber a se sentar na poltrona que ficava próxima da lareira.
- Escute-me, primeiro, depois você tira suas próprias conclusões – O vampiro disse cruzando os braços.
Amber ficou ali sentada ouvindo. Tão quieta que até mesmo ela sabia que não estava passando bem. Kai falou tudo, falou do acidente, falou de seu poder bizarro de se transformar em um lobo. Contou como salvou Taemin e Josephine, e falou como ele contou tudo a Taemin. Quando finalmente ele chegou na parte de dizer que Josephine havia se transformado uma vampira, Amber estava suando frio. A tontura estava fazendo seus olhos dar giros, abriu a boca e começou a babar e foi então que Kai parou e olhou para ela aflito.
- Amber? O que você t_ - Kai sentiu cheiro de sangue. Não era sangue comum, vinha de Amber – Amber... Você está menstruada? - Ela lançou um olhar confuso para ele. Negou imediatamente. Kai pensou por alguns segundos – Faz quantos dias que você... Você sabe... – Ela franziu a testa sem saber o que responder – Por favor, é importante! – Ela levantou sete dedos com dificuldade. Kai relaxou a expressão, já sabia do que se tratava, mas pensou se era ideal falar para ela – Estou sentindo cheiro do seu sangue. Melhor eu te levar para casa.
Se ela não estivesse prestes a desmaiar, teria protestado. O choque era muito grande, Josephine? Vampira? Uma menina... Uma jovem assassina? Ela não conseguia imaginar. Ela sabia que Kai estava pensando alguma coisa, e era sobre ela, ela sentia um incômodo percorrer seu corpo, algo estava estranho nele, mas não tinha forças para questioná-lo.
- Comeu alguma coisa hoje?
- Não.
- O que você quer comer?
- O seu fígado – No mesmo momento que ela disse isso teve vontade vomitar.
- Eu diria que meu fígado não serviria de nada para você.
Taemin estava assustado. Amber estava em um lado da mesa e ele estava no outro ao lado de Kai. Ele sentia que seria muito menos tenso se ele estivesse tendo que apresentar um namorado para o pai – levando em conta que ele não sabia que ele era gay. Amber estava pálida, os lábios estavam brancos e o balde estava logo no seu colo. Taemin tentava evitar o cheiro horrível de vômito e levar em conta que Amber estava com muita raiva, apesar de aparentar estar doente.
- Noona... Não quer que eu te leve para um hospital_ - Ela levantou a mão para que ele parasse de falar.
- Você fica calado enquanto eu falo – Ela suspirou e olhou para os dois como se fossem duas crianças – Vocês são duas crianças ou o quê? Taemin... Quase vinte e cinco anos e eu ainda tenho que interferir nos seus relacionamentos. Alguém aqui pode me explicar o que vocês dois estão pensando?
Taemin abriu a boca, mas não sabia como explicar, percebeu que seria pior se deixasse Kai tentar explicar alguma coisa.
- Desculpe, noona – Disse antes de Kai abrir a boca – Ele me explicou tudo no hospital... Ele parou o...– Taemin sentiu o osso da perna estralar quando quase falou sobre o poder secreto de Kai, viu que o moreno apertava seu joelho com força para que ele ficasse com a boca fechada -... Ele me contou sua história... E eu meio que o perdoei. Quando ele se colocou de prontidão para vigiar Josephine de longe e me dizer como ela estava... Eu realmente achei necessário fazer uma amizade com ele... E bem... Eu não preciso detalhar isso... Não é?
- Não precisa. Eu sei muito bem como é. O vampiro seduz o jovem inocente – Amber olhou para Kai com ódio nos olhos – Taemin... Porque você não me disse sobre Josephine? Deixou-me sofrer esses dias todos achando que haviam roubado o corpo dela... Eu tinha o direito de saber. Você escutava meus choros... Porque você me deixou assim...
- Desculpe, eu achei que você sofreria ainda mais se soubesse no que ela se tornou_ - Amber socou a mesa com tanta força que o jarro tombou e caiu no chão.
- Que merda! – Ela se levantou e começou a andar em círculos pela cozinha – O que raios está acontecendo aqui nessa ilha? Por que... Porque um vampiro iria querer nossa Josephine? Eu... Não entendo... Eu nem sei o que é pior... Ela morrer ou se tornar uma assassina e continuar vivendo.
- Eu me fiz essa pergunta várias vezes – Taemin cruzou os dedos.
- Amber... Pode ter certeza que minha intenção não é morder o seu primo.
- É? – Ela se virou e olhou para Taemin – E o que é esse curativo no pescoço dele? – Taemin cobriu o curativo com a mão mordendo os lábios – Foi você... Não foi? - Ela arqueou a sobrancelha.
- Isso foi... – Taemin fez careta.
- Foi eu sim – Kai falou com tranquilidade – Quase matei o seu primo, mas isso foi antes de Josephine morrer, é por isso que ele veio para cima de mim com tanta raiva, ele logo pensou que eu havia levado ela para algum lugar, por isso me bateu daquele jeito. Peço desculpas, mas... Seu primo tem um sangue difícil de lidar.
- Se é difícil de lidar se afaste dele.
- Amber! – Taemin se levantou já se enchendo com toda a situação – Você está preocupada comigo? Ótimo, obrigado, mas isso não te da o direito de saber o que é bom ou ruim para mim, eu sei distinguir, como você já disse eu estou perto dos vinte e cinco. Sei o que estou fazendo, não precisa ficar se intrometendo nos meus relacionamentos.
- Eu joguei verde, mas parece que colhi maduro. Vocês já transaram?
- Amber! – Taemin avançou, mas Kai o segurou.
- Só espero que quando forem fazer isso, não façam aqui. Sentiria muito nojo de você – Ela apontou para Jong In – e me sentiria muito decepcionada com você! – Ela apontou para Taemin.
- Amber você pirou? O que deu em você?! Desde quando você é desse jeito? – Amber sentiu náuseas e colocou a mão na boca. Correu até o balde e vomitou novamente. Quando ela acabou limpou a boca com a manga do casaco e olhou para o primo – Porque está sendo assim comigo?
- Eu tenho medo – A voz dela saiu embargada, se segurando na mesa para não cair – Não só por Jong In, eu até te entenderia se isso só o envolvesse, mas você tem que entender que está entrando no mundo dele! Tenho medo do que os monstros que o odeiam possam fazer com você, quando eles quiserem atacá-lo vão ir direto atrás de você! É disso que eu tenho medo – Kai olhou para os lados percebendo que ela tinha toda razão – Ele sabe do que estou falando. E quando você entra... É impossível de sair. É como um câncer. Espalha-se tão rápido que você só percebe quando o estrago já está feito. Você pode estar me odiando agora... Mas... Mas... Eu me preocupo de verdade com você. Se você diz que sabe o que está fazendo... Bom, o máximo que posso fazer é esperar que seja verdade.
O clima tenso foi quebrado quando a porta se abriu bruscamente. Todos olharam para quem vinha entrando. Amber franziu a testa quando viu Minho tossindo. Ele parecia ter corrido quilômetros e estava exausto. Ela correu até ele e tocou no peito dele enquanto ele respirava. Poucos segundos foram suficientes para ela quase escutar um ruído, pois Minho tirou a mão dela antes que ela escutasse.
- Eu posso estar... ficando maluco – Disse ofegando -... Mas... Vocês acreditam em vampiros?
Todos se entreolharam.
- Não me diga que você encontrou com um na rua – Amber disse segurando na mão do mais velho e o levando para a cadeira da mesa – Explica, porque está tendo esse ataque.
- É que... Kibum... Hyung disse que todas as lendas que ele conta para nós são reais... Ele está muito mal e... Hoje estava conversando com ele, quando ele me falou tudo. Disse que tudo o que ele conta pra gente, tudo o que Kai contra pra gente é real. Todas as lendas...
- O que te levou a acreditar nisso? – Kai se aproximou e observou bem os olhos esbugalhados do rapaz. Minho estava ainda sem saber o que dizer para o vampiro, por isso procurou respondê-lo.
- Eh... Ele chegou em casa chorando muito na noite de quatro dias atrás, nunca tinha visto ele daquela forma, fiquei com medo dele estar morrendo, ou sentindo alguma dor, foi até antes da Amber chegar. Hoje... Só hoje eu consegui conversar com ele. E foi quando ele me disse o motivo.
- Que qual é o motivo?
- JongHyun foi transformado em um vampiro.
***
Krystal estava no seu escritório olhando para a taça de sangue há pelo menos três horas.
Fazia quatro dias, quatro dias que havia encontrando uma bomba e não sabia se contava para Suho que ela estava para explodir ou se deixava ela explodir Suho. A questão é que ela também ficaria em apuros se contasse para o rei quem estava de volta. Assim que Chanyeol falou seu nome, Krystal entendeu tudo. Entendeu os bichos empalhados na parede, entendeu porque ele estava caçando em uma floresta que ninguém ia, e entendeu porque ele parecia tão bravo por ela ter lhe atrapalhado.
Ele estava tentando lhe matar.
Park Chanyeol, o famoso caçador de vampiros.
A família do caçador – aquele que realmente aborreceu Suho há uns cem anos atrás – morava na Coreia desde sempre. Sempre que ocorria algum ocorrido com suspeita real de vampiros eles eram chamados e iam matar, eles não era humanos comuns, eles sabiam como matar. Desde sempre o nome do líder dos caçadores foi Chanyeol, passado de pai para filho.
Krystal fez um esforço para se lembrar. Ainda era muito pequena quando Suho matou o último Chanyeol, este morreu na Inglaterra depois de matar aqueles que queriam começar uma guerra contra o clã Urso. Foi bom e ruim ao mesmo tempo, Suho achou ótimo não ter tido trabalho com as batalhas, mas ao mesmo tempo Chanyeol era uma ameaça. Por isso deu um jeito de matá-lo.
Quando ele morreu, Krystal tinha 17 anos. Tinha tamanho de uma criança humana de três anos. Por isso tinha tanta dificuldade para lembrar.
- Eles... – Flashes rápidos vieram em sua cabeça -... Se parecem muito. Seria neto dele? – Se perguntou ainda olhando para a taça – Ele está nos procurando... Isso eu tenho certeza... Ele quer nos matar? Talvez seja interessante eu me aproximar dele para descobrir... Mas eu tenho medo – Ela bateu os pés no chão fazendo bico – Aigoo... Isso é tão difícil.
Foi então que ela lembrou.
Ela se levantou colocou o copo de sangue dentro do frizzer e correu até a porta do escritório. Assim que a abriu olhou para os dois lados a procura da pessoa que lhe responderia suas perguntas. Como não viu ninguém no corredor pegou o celular e digitou o número de Kim Minseok.
Dois minutos mais tarde o enfermeiro abriu a porta e entrou.
- O que foi Krystal? – O rapaz pareceu cansado ao se sentar na cadeira de frente para Krystal – Estou cheio de coisas para fazer então seja breve.
- Xiumin... O que você sabe sobre os Park? - Ela viu os olhos de Xiumin ficarem azuis de ódio em dois segundos – Você sabe os_
- Sei muito bem quem eles são, Krystal – Falou completamente sério – O líder deles... O famoso Park Chanyeol, matou a minha mãe... E como eu queria que ele ainda estivesse vivo para poder matá-lo de novo... Mas porque quer saber disso agora, princesa?
- Nada demais só curiosidade – Se encostou à cadeira fingindo despreocupação – Você sabe que eu era muito pequena quando o último que vimos morreu.
- Muito pequena – Minseok riu – Bom... O que você quer saber?
- Porque eles são tão perigosos?
- O que vou te dizer agora é básico. Os Park desenvolveram um veneno capaz de matar um vampiro em apenas algumas horas depois de injetado, um veneno incurável e mortal. Isso foi depois da guerra quase acontecer, eles mataram vários de nós com ele, e é por causa desse veneno que não conhecemos que nós odiamos e tememos tanto os Park. Se eles um dia voltarem a aparecer, seremos obrigados a destruí-los de uma vez.
***
Kris viu a frustração do chefe crescer aquela noite. Trinta por cento dos habitantes da ilha já estavam mortos e outros dez já se encontravam com sintomas da doença misteriosa. O chefe já não sabia mais onde procurar evidências em comum entre todos os infectados, era impossível descobrir a causa daquela epidemia.
Naquele momento George até mesmo rezava para que um mosquito ou algo do tipo aparecesse e esclarecesse todo o assunto. Pior do que enfrentar um vírus perigoso, é não saber que vírus se está enfrentando.
- Senhor... – Kris falou baixinho, com medo que o chefe desse um ataque nervoso – Acho que já está chegando a hora de esvaziar a ilha. Se esperarmos mais, podemos perder todas essas pessoas... Sem falar que alguns médicos estavam com os sintomas da doença.
- Você tem razão – O médico respirou fundo – Devemos contatar a força nacional da Coreia do Sul. Façam o levantamento de pessoas infectadas e as que ainda não tem sintomas para levarmos todas para algum lugar seguro longe daqui. Se essa doença só se desenvolve aqui, iremos descobrir o que há de errado com essa ilha.
***
Taemin e Kai estavam com o queixo encostados às mãos e cotovelos apoiados na soleira da janela completamente entediados. A conversa com Amber e Minho havia sido longa e árdua. Kai teve que explicar tudo o que estava acontecendo detalhadamente do modo que ele sabia explicar.
No meio de tudo Taemin descobriu que foi ele quem levou Minho até Kibum.
O clima ficou muito mais pesado do que já estava. Não era só uma praga, era uma guerra que estava para acontecer, uma grande e explosiva guerra que podia mudar o destino de muitas criaturas e pessoas. Tudo estava se encaminhando para um caminho que poucos podiam trilhar, mas que tinha um resultado que atingiria a todos.
Taemin percebeu que Kai estava pensativo. Seus olhos ficavam sempre oscilando entre o azul e negro, enquanto ele olhava fixamente para a lua, que demonstrava estar bem próxima de encher.
- No que está pensando? – Disse se desencostando da janela.
- As coisas que sua prima disse... – Ele suspirou e levantou a coluna – Ela tem toda a razão... Estou colocando você em perigo por motivos banais. Não acho que isso seja justo com você.
- Ah... Fala sério.
- É verdade, Taemin – Kai pegou nos ombros do mais novo e olhou sério para ele – Não estou brincando, essa coisa de vampiros quererem se vingar de mim através de você é algo muito comum, e eu já experimentei isso uma vez. Eu acho que Amber está certa em achar que o melhor para você é eu me afastar.
Taemin revirou os olhos.
- Por mim tudo bem – Ele cruzou os braços e olhou para as estrelas – Podemos parar de nos beijar e tudo mais, mas você não vai deixar de vir aqui dar detalhes sobre minha prima, não é?
- Claro que não.
- Está vendo? – Ele perguntou – Deixa de ser idiota Jong In, eu tendo alguma coisa, com você ou não, não vai fazer diferença nenhuma se eu tenho uma ligação com você por causa de Josephine, acho que os ‘vilões’ não vão muito a fundo, acho uma perca de tempo essa sua tentativa de se afastar.
Kai riu desviando o olhar.
- Você é um humano bem diferente.
- É claro que sou, eu espirro quando minto.
- Diga que não quer transar comigo.
- Kai! – Exclamou baixinho – Que pergunta mais feia de se fazer – Kai olhou para a cama de Taemin, que estava a apenas quatro metros de distância – Nem pense nisso, eu já disse que não levo ninguém para minha cama – Kai fez bico.
- Então será complicado, eu só tenho um caixão – Taemin riu e voltou a olhar para as estrelas.
- Eu ainda não tenho certeza sobre isso... Espere mais um pouco – Murmurou sério – Eu desejo você, mas isso não significa que é suficiente para mim... Fazer amor com você a noite inteira até me cansar. Eu na verdade nunca fiz isso... Sempre ficava chato demais e eu ia embora. Sem falar que só faz uma semana que eu conheço você!
- Pode acreditar que quando for a minha vez... Você não ficará nem um pouco entediado.
***
Sehun não precisou andar por muito tempo dentro daquele lugar para saber qual alma salvaria naquela noite. De todos os mortos que havia naquela sala, prontos para serem levados ao necrotério, apenas um lhe chamou a atenção, sua alma era tão luminosa como uma chama, e crepitava ao imaginar voltar ao mundo.
Era a alma de uma fênix.
Sehun andou com as mãos nos bolsos até chegar ao corpo que emanava a aura vermelha que não conseguia sair de seu corpo por algum motivo. O vampiro retirou o lençol branco que cobria o corpo cheio de queimaduras do rapaz. Ficou com pena dele, até ele preferia morrer a ter que viver com aquelas queimaduras lhe atazanando todos os dias.
Ele suspirou e fechou os olhos se concentrando para o nascimento de mais um filho. Ele se lembrou de BeakHyun naquele momento. O menino havia sofrido algo parecido antes de ser transformado em um vampiro, se não tivesse conspirado com Chen, talvez eles tivessem ficado livres por muito tempo. Uma vida humana completa.
Sehun suspirou e aproximou os lábios do ouvido de Onew.
Palavras de uma língua que ninguém consegue entender, apenas uma raposa, começaram a escapulir dos lábios de Sehun, as palavras que chamariam a alma de Onew para uma nova vida como um escravo. “Isso vai mudar, eu prometo” pensou.
O vampiro se afastou e viu o corpo do rapaz voltar a ser como era antes de queimar... Ou melhor, ficar ainda melhor do que era antes de queimar. Os tecidos sendo reconstruídos, a pele arrancada crescendo e se desenvolvendo em volta deles, o rosto empalidecendo e ganhando de volta a forma que havia perdido. Quando o rapaz já estava reconstruído por completo, ainda se passou alguns minutos, todo o poder que emanava em cima dele corrigia cada pequeno erro.
Quando Jinki abriu os olhos, fez isso de forma devagar e muito confusa. Olhou para o teto se sentindo tonto e estranho, vendo tudo como era por fora e por dentro quase como se houvesse uma máquina de raios-X fazendo esse trabalho pelos seus olhos, quando conseguiu se sentar na maca, olhou para o próprio corpo nu procurando os ferimentos que havia lhe atormentado e doido como o inferno por quatro dias.
- Mas... - Ele franziu a testa.
- Seja bem vindo – Sehun sorriu – Antes que pergunte, você não é mais um humano. Nasceu de novo e agora terá que se acostumar a uma nova visão... Eu lhe darei o direito de escolher o seu novo nome.
- Novo nome?
- Sim.
- Então... Eu me chamarei Onew – Disse mesmo sem saber do que se tratava.
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