Capitulo 07 - Rainha da morte
Era como se Ácido estivesse correndo pelas veias de JongHyun. Ele sentiu suas entranhas queimarem e seus olhos doerem tanto que pareciam estar sendo perfurados e arrancados de sua órbita. Seus gritos eram altos, colocava as mãos no pescoço tentando respirar, mas não conseguia, o pulmão parecia ter se fechado. Ele escutou seu próprio coração bater rápido como rufar de tambores. Era apenas o prefácio. Ele estava morrendo.
Sehun observou tudo com frieza, ele mesmo já havia passado por aquilo, sempre dizia que eram sortudos os vampiros que eram acordados após a morte, porque não sentiriam a dor da morte como um vivo sentia antes de se tornar um vampiro. Ele viu JongHyun morrer dolorosamente sem dizer nenhuma palavra.
“Não se preocupe, você será recompensado, todos vocês” Ele pensou.
A dor só parou quando o coração ficou cansado demais para bater e parou. JongHyun caiu no chão inerte.
Sehun sentiu um cheiro estranho. Cheiro de sangue humano, ele olhou para o lado e viu um rapaz olhando perplexo para o cadáver ao lado do piano. O rapaz tinha cabelos negros e parecia não acreditar no que via, não queria acreditar, carregava duas sacolas com comida, mas acabou as deixando caírem quando percebeu que o outro estava mesmo morto.
- JongHyun! – Ele gritou e se aproximou do corpo do rapaz. Ele colocou o cadáver nos braços e choramingou enquanto tentava tocar no rosto frio dele – O que você fez?! - O garoto praticamente rugiu.
- Isso não interessa a você, mas se quiser saber, apenas espere alguns segundos.
Kibum olhou para o rosto pálido do amante. Era difícil encarar o rosto daquele que ali estava apenas observando com os olhos frios seu amado morrer, mas ele sabia muito bem de quem se tratava. Ele olhou novamente para o rosto inexpressível daquele rapaz e teve certeza.
Aquele era Sehun, o pai de Kai.
Ele engoliu em seco e olhou para JongHyun.
Não, ele não podia ter sido seduzido. Ele não podia estar se transformando em um monstro. Kibum olhou nos olhos do vampiro novamente. Um sorriso sádico nasceu no canto dos lábios dele fazendo o coração de Kibum falhar duas batidas.
- Você é o Sehun? – Kibum perguntou fazendo a expressão de Sehun mudar de imparcial para surpresa.
- Um humano que sabe o meu nome? Isso é novidade. Quem é você e como sabe quem sou?
- Não importa... – Kibum olhou para o rosto de JongHyun que já havia passado de pálido para extremamente belo em segundos. Os traços do jovem estavam sendo corrigidos e o cabelo começava a brilhar como nunca havia brilhado.
O desespero do coveiro foi completo quando JongHyun abriu os olhos azuis. A primeira coisa que JongHyun viu quando acordou foram os olhos decepcionados do seu amante. O coração dele não batia mais, mas algo dentro dele o fazia se sentir muito mal. Sentiu o mais velho lhe abandonando no chão com a mão na boca para abafar o choro. Quis explicar o que estava acontecendo, mas ao mesmo tempo tinha a impressão de que ele já sabia.
- Quem é esse? – Ouviu Sehun questionar enquanto Kibum dava passos para trás com o olhar perdido, como se não fizesse ideia de para onde estava indo.
- Kim... Kibum – Ele sussurrou enquanto se levantava – Key espera, eu assustei você? – Ele se aproximou, mas Kibum levantou a mão para que ele parasse de chegar perto – Me deixa explicar o que está acontece_ - Assim que JongHyun tocou no braço do mais velho o outro fez ele o soltar.
- Eu não sou idiota! – O coveiro explodiu – Sei muito bem o que está acontecendo! Como você foi capaz de me trocar por esse idiota? – Ele falava com a voz embargada, os olhos se enchendo de lágrimas – Eu nunca imaginei que logo você fosse ser tão babaca!
- Ei! Deixa de bobagem, não estou traindo você com ele, ele é...
- Um vampiro. Eu sei. Você esqueceu que fui eu quem te contou todas aquelas lendas? Diz-me uma coisa... Como você teve coragem de trocar uma vida comigo pela eternidade? Você tem ideia do que vai se tornar? Um assassino, JongHyun! – Ele gritou empurrou o mais baixo a cada palavra – Eu pensei que você fosse mais inteligente.
- Não foi só pela vida eterna... – Ele tentou dizer segurando Kibum como podia, mas o homem se soltou e o encarou com desprezo.
- Mate-o – Sehun surpreendeu os dois com a ordem. JongHyun ia protestar mas ele levantou a mão – Ele sabe demais, é perigoso, não podemos deixar que um humano como ele atrapalhe... Nosso acerto de contas. Mate-o. Você precisa se alimentar, e aí está o seu alimento – Sehun sabia que ele não teria coragem de matá-lo, mas queria testar os limites do rapaz.
- Vai em frente – Kibum disse fazendo o que JongHyun achava ser um coração se despedaçar – não vai fazer diferença. Logo, logo vai perder a conta de quantas pessoas matou – A mágoa que estava guardada há muito tempo voltou à tona naquele momento. JongHyun sentiu todo aquele ressentimento voltar de uma vez sem filtro algum.
- Ahhh! Você não entende nada! – Gritou agarrando o pescoço do amante e o empurrando até prendê-lo a parede – Você não me entende, você não sabe nem metade do que eu venho guardando nesses últimos cinco anos! – Ele gritava literalmente cuspindo as palavras no rosto de Kibum – Você não viu um monstro matar sua mãe na sua frente sem poder fazer NADAAAAA!
Kibum começou a soluçar. O veneno da cobra já estava fazendo efeito, a alma de JongHyun já estava sendo envenenada, ele estava jogando todas aqueles coisas para fora, as coisas que o JongHyun de verdade guardava no fundo do coração apenas esperando o dia se liberá-las como uma bomba e destruir tudo ao seu redor. Aquele momento havia chegado.
JongHyun beijou os lábios de Kibum a força. O mais velho sentiu as mãos do mais novo avançarem por dentro de sua roupa enquanto o beijo rasgava seus lábios e fazia sangue descer até seu pescoço. Ele queria chorar, queria gritar, mas não queria ver JongHyun se tornar naquilo. Kibum viu os olhos de Sehun brilharem com a cena e teve vontade de enfiar uma estaca de madeira no coração dele e queimá-lo em praça publica.
“Kibum olhou para o vestido branco daquela bela mulher, ela se olhava no espelho admirando uma beleza inédita. Ela nunca esteve tão linda e todos admitiam isso, mesmo que ela fosse bonita. Kibum sorriu para a irmã e ficou ao lado dela no espelho. A irmã que vivia com a mãe em Seul estava pela primeira e última vez em Goyang. Ela havia escolhido a ilha para se casar porque somente lá poderia entrar com o pai na igreja.
- Você está tão linda – Ele sorriu – Vai ser feliz por muitos anos. Você o ama?
- Amo sim – Ela disse suspirando – Amo muito.
- Então você será muito feliz”
Algumas horas mais tarde Kibum desejou não ter falado nada. Desejou não estar tendo que enterrar sua própria irmã, não ter visto o corpo da sua bela irmã estirado no meio do tapete vermelho com o vestido branco manchado de sangue na altura da barriga. Desejou a morte daquele homem. E se vingou, mas nunca se recuperou, nunca foi o mesmo, a vingança havia corroído o que havia de verdadeiramente feliz na vida dele.
JongHyun era o que havia trazido de volta isso.
E agora estava indo embora pelo mesmo motivo.
Vingança.
Quando Kibum abriu os olhos novamente, esperava já estar morto, mas ele não estava. O mais novo estava chorando em seu ombro com a cabeça encostada nele. Era a primeira vez que ele chorava na sua frente. Os dois foram se abaixando até estarem no chão.
Kibum olhou para Sehun que não parecia menos satisfeito. Parecia que ele esperava que aquilo acontecesse, parecia que o roteiro havia sido cumprido. O coveiro afagou os cabelos descoloridos do mais novo e sorriu.
- Você escolheu fazer sua vingança... Não vou interferir, sei muito bem como é esta cede – Kibum tirou o rosto de JongHyun de seu ombro com dificuldade e olhou em seus olhos – eu vou embora agora, e se você me ama de verdade, vai me deixar ir embora. Eu não faço parte dessa luta.
Kibum se levantou, respirou fundo e deu as costas para seu ex-amante. Esforçou-se muito para não olhar para trás, porque se olhasse acabaria mudando de ideia. O coveiro olhou para a Raposa e percebeu porque Kai guardava tanto rancor. Era uma criatura desprezível, que pensava somente em seus próprios interesses. Quando ele ficou perto o suficiente de Sehun, aproximou os lábios do ouvido dele enquanto escutava o choro de JongHyun.
- Você vai mesmo sacrificar todas essas pessoas por uma batalha perdida?
- Isso não é da sua conta – Os olhos ferozes da raposa fizeram Kibum se calar. Ele apenas assentiu e foi embora.
Por mais dolorosos que fossem os gritos do ex-namorado.
***
Luna não escutava nada além dos gritos horríveis que Onew soltava.
O namorado havia salvado a vida de um jovem que correu para chamar os bombeiros avisando que ele estava pegando fogo. Luna caiu de joelhos no chão quando viu os homens tirarem o corpo do namorado de dentro do prédio.
- Não! – Ela gritou correndo na direção de Jinki, derrubando quem visse pela frente já sentindo sua garganta apertar – Onew! – Olhou para a pele queimada do namorado. Metade do rosto estava irreconhecível – Me soltem! Me soltem! Onew! – Gritou tentando se soltar dos bombeiros que tentavam mantê-la afastada dele.
- Melhor você não ver isso menina – O bombeiro chefe entrou na frente da visão de Luna – Ele foi muito corajoso sim, mas foi um tolo ao pensar que nada ia acontecer com ele, para falar a verdade acho que ele sabia – O bombeiro suspirou olhando para os enfermeiros que levavam Onew para a ambulância – Vamos levá-lo ao hospital universitário junto com a pessoa que ele salvou, você pode chamar alguém e ir pra lá.
- Quero ir com ele na ambulância! – Exclamou começando a soluçar.
- Impossível. Você está muito abalada e ele vai precisar de muitos enfermeiros dentro dela.
Ela tentou ligar para JongHyun várias vezes, mas o celular estava desligado. Ela respirou fundo várias vezes antes de ligar para Taemin, o Pinóquio trabalhava com ela há muito pouco tempo para realmente entender o que Onew sentia, mas era a única pessoa que estava por perto para ajudá-la. Ela precisava de ajuda.
- Alô? – Taemin perguntou com a voz rouca como se tivesse passado uma hora chorando.
- Taemin pelo amor de deus! – Ela gritou chorando – Por favor, eu preciso de ajuda, eu não sei o que fazer, Onew... Onew se queimou... Se queimou feio... Por favor, eu estou desesperada... – Se acocorou começando a soluçar – Estou com medo, nunca estive com tanto medo na minha vida Taemin. Nem quando vi um lobo na floresta, nem quando JongHyun fingiu ser um monstro e se escondeu debaixo da mesa, nem quando uma tempestade quase derrubou o lugar que eu morava... Eu nunca estive tão apavorada.
- Calma Luna, o que aconteceu, onde você está. Eu irei até ai imediatamente.
Luna observou através do vidro o namorado respirando com dificuldade com a ajuda de máquinas. Não existiam mais lágrimas para derramar, já faziam duas horas que o acidente havia ocorrido e ela não havia parado de chorar desde então. Taemin estava logo atrás dela também observando o paciente em estado mais grave da UTI de todo o hospital.
- Precisa ter esperança, Luna – Taemin tocou os ombros da colega de trabalho e ela tocou em sua mão tentando aceitar seu consolo – Tem que acreditar que ele vai ficar bem.
- Talvez ele fique bem, mas... Ele nunca mais vai ser o mesmo, Taemin. Olha pra ele, nem mesmo consigo reconhecê-lo, duvido que ele consiga andar direito quando tudo cicatrizar.
- Ele tem família?
- Não. Ele só tem a mim – Taemin olhou para Luna surpreso – Nós vivemos juntos desde mais jovens. Somos namorados, quase como casados – Ela sorriu sem humor – Eu nunca uso blusas que deixam as costas nuas porque tenho uma cicatriz horrível provocada por ele. A prova de que realmente o amo e não é o perigo que ele me trás que vai mudar isso. Ele tentou me afastar dele até quando ele percebeu que eu não desistiria dele. Ele me considera a medrosa mais corajosa do mundo por amá-lo – Ela abraçou Taemin e começou a chora de novo – Eu nunca vou abandoná-lo, mas vai ser muito doloroso vê-lo sofrer Taemin, isso é pior do que tudo.
- Nossa... – Taemin começou a amaciar o cabelo castanho da menina -... Você é mesmo mais corajosa do que todos pensam, tem um amor muito perigoso e ao mesmo tempo lindo. Eu tenho certeza que vocês vão passar por cima disso como sempre fizeram.
Luna abraçou Taemin com mais força tentando segurar os gritos. Afinal, estavam em um hospital, precisavam de silêncio.
Minseok fechou as cortinas do espaço que se localizava a maca de Lee Jinki. Ele respirou fundo e olhou para a prancheta do rapaz, queimaduras grau três. Estado grave, sistema respiratório extremamente comprometido. O vampiro suspirou olhando para o rosto comprometido do rapaz.
- Gostaria de poder fazer algo por você, nunca pensei que um dia seria salvo por um humano – Ele ajeitou a velocidade que o soro descia – Você realmente me salvou, como um humano pode não ter medo de fogo? – Ele olhou para os dedos ensanguentados do rapaz – Só sendo uma fênix mesmo. Você é perigoso demais para o meu clã, se não fosse por isso. Salvaria você. Boa sorte...
“Salvar a vida de alguém que tira muitas outras não foi um decisão muito inteligente” Pensou “Mas admiro sua coragem, tenho certeza que Ele também verá... Se sua alma não for condenada como a minha” O vampiro enfermeiro injetou os remédios na veia que estava em um dos únicos pedaços de pele que não estava danificado.
Ele checou todos os sinais vitais, abriu e fechou as cortinas e viu um casal atrás do vidro que separava a UTI do resto do hospital.
Viu uma mulher que chorava pelo humano que lhe salvou na hora do incêndio e um desconhecido. Os dois eram bastante interessantes. Os dois tinham um odor especial. Um deles era especial porque faria coisas em especial, o outro... Nasceu especial.
Ele respirou fundo e seus olhos acabaram ficando azulados apenas de sentir o perfume do sangue do rapaz. Não era um sangue comum, era o tipo de sangue que os vampiros preferiam evitar falar por não saber se era algo bom ou ruim, se o poder extremamente desproporcional que ele daria era de verdade ou se na verdade era um veneno. Nenhum vampiro havia experimentado e falado sobre o assunto o suficiente para tirar todas às duvidas.
Sangue negro. Ele se controlou e tentou observar mais afundo daquele rapaz. Com seus olhos de vampiro e instintos de uma fera procurou no fundo daquele ser o que ele tinha de tão especial. Com certeza ia muito além do sangue, ele podia sentir uma energia diferente emanando dele.
E ele finalmente encontrou.
Ele virou as costas e ficou sem saber, no primeiro momento, o que fazer com a informação, era extraordinário demais, havia perdido a conta de quantos anos fazia que não encontravam um humano com um talento como o dele. Reproduzir nunca foi a melhor opção, mas era o que estava mantendo todos do seu clã vivos.
Só depois de alguns minutos pensando, tomou a decisão de ligar para o seu líder.
Digitou o numero decorado e discou.
Depois de três chamadas uma voz severa atendeu.
- O que foi? Estou no meio de uma cirurgia, e ela está muito interessante – Minseok podia ouvir o som da cerra cortando ossos – Fale logo.
- Temos um novo membro.
- Do que está falando? – O líder se interessou de repente.
- É exatamente isso que o senhor está pensando.
***
Amber estava deitada em cima de um banco de praça como uma mendiga. Não que ela estivesse maltrapilha, mas estava perdida e sem chão como um. Olhava para as estrelas sem intenção alguma de contá-las ou de admirá-las, estava olhando apenas por olhar. Queria entender tudo o que estava acontecendo tão de repente. Todas aquelas mortes, sua prima sendo levada tão de repente, a primeira vez com Minho, adotar Kang-woo... Tudo estava vindo como um furacão.
“Feche os olhos e divida em partes os seus problemas, verá que eles são menores do que pensa e começará a procurar soluções plausíveis a eles, sempre da certo” Era o que sua tia dizia sempre que ela tinha crises de asma. Naquela época, a asma era um problema. Naquele momento, ela não sabia contra o quê estava lutando.
Ela suspirou e se levantou colocando as mãos nos bolsos. Precisava caminhar para tentar dividir seus problemas em partes. Precisava saber o que estava mesmo fazendo. Quando começou a caminhar pôde escutar passos lhe seguindo, ela franziu a testa e olhou para trás, encontrando apenas uma praça vazia como resposta aos seus instintos. Ela deu de ombros e continuou caminhando.
Poucos segundos depois percebeu que não era coisa de sua cabeça, havia mesmo passos andando no mesmo ritmo que os seus. Ela parou de andar e os passos também, ela deu um passo a frente e escutou um som parecido. Ela se virou devagar, um passo atrás do outro e viu um garoto que lhe imitava.
- O que está... – Ele falou ao mesmo tempo que ela – Porquê está... Pare de me imitar – Era inútil a voz dos dois saiam em uníssono. Ela franziu a testa – Quem é você? – A voz dele repetiu como um eco.
Amber engoliu em seco, caminhou devagar até ficar bem perto dele, o que não demorou porque ele lhe imitava. Era como um espelho humano. Ela podia ver os olhos do rapaz oscilarem entre o castanho e o azul. Ela se assustou quando ele abriu um pouco a boca, mostrando sua língua vermelha lambendo os lábios na intenção de molha-los.
- Eu sou a morte chegando – Ele disse sem expressão no rosto, mas de repente... Sorriu. Um sorriso largo e que deu espaço para uma gargalhada – Você não deve fazer a mínima ideia do que estou falando. Deve estar pensando em correr agora mesmo, deve achar que sou louco... – Amber negou com a cabeça achando que ele realmente era maluco e se virou para ir embora de cabeça baixa – mas isso tudo não tem nenhum relevância – Ela levantou a cabeça e esbarrou no vampiro.
Acabou se desequilibrando com o esbarrão e caiu no chão.
- O que você quer comigo? – Ela procurou se levantar rápido, mas sentiu uma dor cortar seus dedos, olhou para eles e percebeu que estavam sangrando – Ai meu deus... – Ela se assustou com a quantidade e tentou estancar com o casaco.
O rapaz respirou fundo, inalando todo o odor que ela não era capaz de sentir.
- O seu cheiro é adorável – Ele se abaixou e tomou a mão da mulher para beijá-la tão rápido que ela não teve tempo de agir – Para que não morra sem saber o nome do seu assassino, meu nome é Sehun. Sou um vampiro...
- Você é um louco! Me solta! – Ela puxou sua mão com força, mas ainda assim não conseguiu se soltar, costumava sempre ser mais forte que muitos garotos, mas a força daquele rapaz era sobrenatural, era mais fácil ela arrancar sua mão do que se soltar dele – Por favor, me solta – Ela continuava fingindo estar calma.
- Não posso fazer isso, já me apresentei e quero seu sangue... Tem sangue na sua mão – Ela sentiu a língua fria de Sehun lamber seus dedos ensanguentados. O coração de Amber disparou e ele finalmente pôde ver a expressão que tanto gostava de ver estampada no rosto de uma mulher.
Medo.
- Solte ela – Sehun escutou uma voz extremamente familiar falar logo atrás de si – Eu mandei soltar.
Um sorriso nasceu no canto da boca de Sehun e ele soltou a mão da garota. Amber saltou e correu até ficar atrás de Jong In onde se sentia protegida. O olhar de Sehun continuou sobre ela e isso a deixou nervosa.
- Vá para casa, Amber – Kai falou inclinando um pouco a cabeça ainda sem tirar os olhos do vampiro pai – Eu resolvo isso.
- Chefe! E-ele é um louco psicopata, não posso te deixar sozinho com ele...
- Vai logo! – Kai jogou as chaves do carro que geralmente não deixava ninguém tocar para ela – Eu passarei na sua casa para explicar tudo. Prometo.
Amber engoliu em seco e olhou para Sehun ainda se sentindo acuada, mas não reclamou mais. Se o chefe estava lhe emprestando sua BMW era porque o assunto era mesmo mais sério do que ela podia imaginar. Ela andou até o carro, sentiu o aromatizante entrar por suas narinas antes de ligá-lo e ir embora pisando fundo no acelerador.
- Amber? – Sehun perguntou rindo – Será que essa é a sua nova Sulli?
- O que você queria com ela?
- O de sempre – Ela deu de ombros e começou a andar na direção do banco que Amber estava deitada alguns minutos antes – Não é óbvio?
- Algo nos seus olhos me diz que não era só para matar, algo me dizia que você tinha segundas intenções... E você sabe do que estou falando – Sehun sorriu e se sentou no banco.
- Você me conhece como ninguém... Meu primeiro filho... – Sehun apontou para o espaço vazio do banco, para que ele sentasse. Kai suspirou e caminhou até o banco para se sentar ao lado do pai. Sehun só voltou a falar depois que ele se sentou – Você me conhece bem, mas não sabe de tudo – Os olhos castanhos do vampiro encararam o filho – e nem nunca vai saber, porque não irei lhe contar. Kai... Tem coisas, muitas coisas que eu vou fazer a partir de agora, que você não vai entender...
- Tipo transformar as pessoas em vampiros? Sabia que elas têm parentes que se preocupam muito com elas? Você parou pra pensar na família daquela criança? – Ele estava com raiva, como sempre. Sehun sorriu ao lembrar-se dos antigos tempos, Kai não murara nada.
- Isso não importava para mim, Rose é um tipo de Tempestade que Chen jamais seria, simplesmente precisava dela e a transformei. Ela agora fará parte da minha nova família – Sehun suspirou erguendo a cabeça e olhando para as estrelas ainda com a expressão vazia – Você não faz parte dela, sinto muito.
- Fico feliz que não faço mais parte dela se quer saber... Espera, você está dizendo que vai transformar outro lobo?
- Tenho observado bem as pessoas dessa ilha. Todas têm ótimas almas, mas já tenho meus escolhidos. Outro lobo, outro coelho, outra fênix... Tudo novo de novo. E pela primeira vez, vou finalmente ter um Urso na minha família, ela será completa, todos os sete.
- Mas humanos Ursos são extremamente raros.
- Sim são, mas eu encontrei um especial, ele sem dúvida alguma é um Urso. E têm uma alma muito boa. Tive sorte de tê-lo encontrado aqui e logo ao lado de outra alma Urso. Claro que a outra é bem mais arriscada e só vou usá-la caso for emergência... – Sehun olhou para os olhos indignados do moreno.
- Você não pode fazer isso. Sabe que uma família de vampiros é uma ilusão que nunca vai dar certo, somos ácidos e bases... Sempre vamos querer lutar entre nós, não importa se você nos criar como irmãos. E você sabe disso...
- Acontece que montar uma família feliz nunca foi o meu objetivo... Sabe Kai, tem muitas coisas que eu não te contei, de verdade. Eu omiti muitos fatos, uma delas é sobre lenda sobre nossos ancestrais, sobre os ursos não existirem mais e... Sobre minha família. Nunca achou estranho um vampiro como eu querer ter uma família assim... Do nada? – O mais novo franziu a testa – Eu só tenho um objetivo com isso tudo. Destruir o reinado dos Ursos.
- Do que você está falando?
- Os ursos vivem por todo o mundo, escondidos. Eles são o clã que controla todos os outros, lembra? – Kai assentiu – Pois bem. Eles estão vivos, e estão por toda parte, basta um vampiro fazer algo fora do padrão deles para eles... Destruírem. Você teve sorte de em todo esse tempo não ter quebrado nenhuma regra, estaria morto se tivesse. Eles são cruéis, fazem qualquer coisa para manter o poder que têm sobre os humanos e outros vampiros. Eu quero derrubá-los. Vou derrubá-los. Se você me acha mesmo cruel espere só até um dia esbarrar com um urso furioso.
- Se eles estão no poder desde que os vampiros existem... Acho que não tem como você destruí-los, está travando uma batalha inútil.
- Não é verdade. Há uma lenda que as escrituras antigas falavam que diziam que o único modo de derrubar o poder do Clã Urso e transformar os vampiros em seres independentes é reunindo 7 Almas para uma batalha com outras 7 Almas do Clã Urso. Três Ácidos, Três Bases e Um Urso contra as 7 almas mais poderosas do clã Urso. Uma guerra, onde apenas um lado sai o completo vencedor. Não existe empate.
- Foi pra isso que nos transformou – Kai estava completamente chocado, não conseguia nem mesmo argumentar, Sehun lhe olhou e sorriu.
- Eu gostava de você sim, mas era exatamente para isso, estava esperando apenas um Urso para começar a batalha... Você... Lembra-se da peste negra? Aquela terceira pandemia que aconteceu depois que você transformou Sulli?
- Sim.
- É porque estávamos muito perto de começarmos a batalha, só faltava eu encontrar o Urso, os Ursos já estavam nos cercando e esperando apenas eu encontrar o sétimo membro para começarmos a guerra. É a mesma coisa que está acontecendo agora. As pessoas estão morrendo porque o espaço está se preparando para receber a batalha. A guerra deve acontecer em um lugar que não tenha humanos e é por isso que todos essa ilha irão morrer se não fugirem – Sehun se levantou e começou a ir embora.
- Espera, você não pode ir embora depois de me falar todas essas coisas! – Sehun virou a cabeça para olhar para Jong In.
- Vamos nos encontrar novamente, Kim Jong In – Ele sorriu – Eu só quero que não se esqueça de uma coisa... Não é só você que tem poderes que não usa porque é perigoso.
***
Minho estava se sentindo incomodado, Kibum disse que iria comprar comida e voltaria rápido, mas não era só a fome que estava lhe fazendo se mexer na cama, era outro tipo de incômodo. Ele se levantou e caminhou até o espelho do quarto, tirou a camisa e respirou fundo fixando o olhar em seu peitoral. Assim que ele soltou todo o ar que preenchia seus pulmões começou a respirar normalmente de novo.
Ele encostou as mãos na parede e tentou pensar em alguma coisa. Ele desejou ser meio surdo para não ter escutado o que havia acabado de escutar.
Um ruído nos pulmões.
Ele fechou os olhos e colocou as mãos na cabeça. Tentou esquecer aquilo, mas a cada segundo ficava martelando ainda mais rápido, nem podia respirar fundo para relaxar porque acabaria escutando o som novamente.
Ele escutou a porta fechar com força e um soluço alto invadir a casa. Minho correu até a sala e viu Key sentado no chão chorando como um louco. O moreno correu até o mais velho e se abaixou sem saber nem o que dizer. Os olhos de Kibum estavam tristes como ele nunca havia visto.
- Hyung! O que aconteceu? – Ele perguntou abraçando o mais velho com força – O que foi? Você não ia comprar a comida.
- Desculpa – Ele disse entre soluços – esbarrei em algo que eu preferia morrer a ver e acabei perdendo nossa comida... Desculpa... Desculpa...
Demorou, mas Minho conseguiu colocar Kibum para dormir, depois de dar alguns comprimidos de calmante e remédios para dormir ele estava na cama em um sono profundo. Lidar com a morte não era nada fácil para Key e Minho presenciava aquilo desde quando começou a morar com ele, mas ele realmente nunca o tinha visto ele daquela forma, havia entendido apenas que JongHyun havia feito algo que o deixou louco daquela forma. Ele só não conseguia imaginar o quê, Kibum não era alguém que ficava louco por namorados infiéis ou coisas do tipo.
Ele não demorou muito pensando sobre isso, porque escutou a campainha, da pequena casa que quase nunca era visitada por ninguém, tocar. Ele franziu a testa achando muito estranho mesmo e foi abrir com um taco de beisebol na mão. Assim que abriu a porta segurou o taco acima da cabeça.
Quando viu Amber ele relaxou.
- Nossa, você me mata de susto tocando a campainha há essa hora sabia? – Ele sorriu, mas a mulher não retribuiu, estava assustada, o que logo fez seu sorriso desaparecer, Amber nunca estava assustada – O que foi?
Minho a fez entrar, colocou o taco de beisebol em um canto qualquer, trancou a porta e a levou para seu quarto, esquecendo até mesmo de pedir para que ela fizesse silêncio – se bem que com a porrada de remédios que Key havia tomado era impossível ele acordar. Ele viu que Amber estava com a mão toda machucada e pegou um lenço úmido para limpar o sangue seco. Ele a fez se sentar na cama e se ajoelhou para olhar nos olhos dela enquanto limpava o sangue.
- Pode falar o que aconteceu agora.
- Você acredita em vampiros? – Ela perguntou de repente, sussurrando (outro detalhe, Amber nunca sussurrava quando falava com ele, a não ser na hora de transar). Ele fez uma careta estranha e pensou por dois segundos.
- Não tenho motivos concretos para acreditar nesse mito. Por quê?
- Hoje eu acho que esbarrei com um.
- Quê? – Minho se levantou.
- Eu sei que pode parecer loucura, mas... Os olhos dele... Ele lambeu minha mão e disse que ia me matar, eu fique apavorada achando que ele era um louco e que eu precisava escapar, mas apesar da aparência de um garoto de dezoito anos... Ele era muito mais forte que eu... Se o chefe não tivesse chegado...
- Está falando do Jong In? – Ela assentiu e ele começou a achar a história estranha.
- Ele me emprestou a BMW dele e disse que era pra eu voltar pra casa... Disse que ele resolveria... Eu não entendi nada. E enquanto eu vinha pra cá eu revi algumas coisas sobre nosso chefe, coisas do tipo... Vampiros.
- Calma, Amber... Ele só devia conhecer o maluco, não é preciso você ficar tão impressionada, está na cara que ele estava mentindo.
- Eu não consigo tirar o olhar dele da minha cabeça. Ele tinha olhos ferozes como os de uma raposa. Perfeitamente ferozes como uma, e ele não parecia estar brincando, sem falar que eu me lembrei de várias coisas sobre o Jong In. Ele nunca, NUNCA trabalha durante o dia, nunca come o que nós comemos ou bebemos, sempre bebe aquele ‘suco’ vermelho nojento que ele nunca deixa a gente experimentar... Sem falar que ele falta todas as luas cheias.
- Amber você precisa dormir um pouco – Minho se deitou na cama e apontou para o espaço vazio ao seu lado – Deita aqui comigo, você vai dormir um pouco, esquecer isso tudo e amanhã a gente conversa com mais calma sobre isso. Pode ser? – Ela ficou com o olhar um pouco perdido antes de concordar. Suspirou e deitou ao lado do quase namorado. Fechou os olhos quando ele começou a massagear seus cabelos curtos.
- Estou com medo – Ela sussurrou ainda de olhos fechados.
- Eu sei – Ele sussurrou no ouvido dela de volta – Apenas feche os olhos e esqueça isso por algum tempo, tente imaginar qualquer coisa diferente, pode até imaginar está me vendo nu, eu deixo, mas esquece disso por agora, tudo bem? – Amber sorriu.
- Você é um idiota.
Ele respirou fundo e fechou os olhos.
- Isso foi um ruído? – Ela perguntou franzindo a testa – É na sua respiração, Minho?
- Não – Ele mentiu muito bem – Deve ser os ventos lá fora, estão fortes, o inverno está chegando... Vamos dormir está bem?
Apesar da dúvida ela se levantou – ainda de olhos fechados – tirou toda a roupa pesada que estava usando, pegou o roupão de Minho e o vestiu rapidamente voltando a deitar ao lado dele logo depois. Acomodou-se pertinho do peito quente do moreno e esperou até adormecer, o que não demorou muito tempo.
***
Kristal havia acabado de sair de uma cirurgia. Ela lavou as mãos e saiu do centro cirúrgico tirando a mascara e o chapéu de TNT que usou durante a cirurgia. Estava mesmo cansada, havia passado mais horas do que havia planejado em uma cirurgia de retirada de tumor. Ela até mesmo passou do horário de ir para casa, já era quase meia noite.
Quando ela entrou em sua sala, apenas se jogou na cadeira e fechou os olhos querendo dormir.
Ela levantou depois de alguns minutos de olhos fechados, digitou a senha do pequeno freezer e ele se abriu ‘a porta está aberta’ ouviu a voz eletrônica dizer.
Ela pegou um comprimido e uma bolsa de sangue e colocou em cima da mesa. Sentou-se e fixou o olhar nos dois. O comprimido era um tipo de medicamento que fazia ela ficar imune aos raios solares e a bolsa de sangue era seu alimento do dia. Ela pegou o comprimido e mordeu fazendo o líquido doce espalhar pela sua boca e descer pela garganta como se fosse vivo. Assim que o corpo dela começou a esquentar ela percebeu que o remédio já estava sendo digerido. Ela olhou para o teto – onde havia um espelho – e viu seus olhos mudarem de castanhos para azuis-gelo em segundos, as presas apareceram e veias começaram a desenhar sua face branca. Era doloroso, parecia que fogo estava queimando todas as suas entranhas, mas era necessário se quisesse continuar a trabalhar durante o dia, se quisesse ver a luz do sol todos os dias.
Quando a dor passou ela suspirou aliviada. Rasgou a ponta da bolsa de sangue e colocou dentro de uma taça. Ela fez movimentos circulares com ela e depois cheirou. Não era preciso ser um vampiro muito velho para saber que aquele sangue era de um garoto adolescente.
Assim que o sangue estava prestes a preencher seus lábios o celular começou a tocar.
Ela revirou os olhos ao ver quem chamava.
Kim Joonmyeon.
- Alô? – Ela falou desanimada.
- Preciso encontrar com você. Adiei todas as minhas cirurgias só para ter um tempo para ficar com você – Ela revirou os olhos e tomou um gole do sangue.
- Sério? – Perguntou entediada – Tem que ser hoje? Estou tão cansada, acabei de sair de uma cirurgia complicada só queria beber todo o sangue e vinho do mundo e dormir.
- Apenas hoje... – Ele pediu. Krystal olhou para o espelho no teto novamente, do que adiantaria ela negar o pedido? Ele iria forçá-la a ir de qualquer forma.
- Tudo bem. Só espero que você diminua a temperatura da praia, sabe que odeio água morna – Ela desligou o telefone e terminou de beber o sangue todo de uma vez. Desceu rasgando como se fosse uma bebida alcoólica. Sua temperatura elevou de novo e quase conseguiu sentir seu coração bater.
Krystal colocou os pés na água gélida do mar. As espumas estavam fazendo cócegas em seus dedos pois estavam virando pequenos flocos de gelo. Era daquele jeito que ela gostava, e infelizmente à noite a água estava sempre morna, só quem podia fazer o mar congelar em uma noite como aquele era um Urso... E o Urso que fazia aquilo só para ela era nada mais nada menos que o rei deles. Ela sabia que era um lugar lindo, mas que nenhum humano se atrevia a se aproximar, se alguém colocasse os pés ali morreria em dois segundos.
Ela sorriu e abraçou o próprio corpo, se mostrou ser tão delicada quanto qualquer princesa humana.
- Você está linda como sempre – Os olhos de Suho brilharam junto com seu sorriso sem mostrar os dentes, ela podia ver o reflexo da lua nos olhos negros do vampiro – Eu gostaria que esse momento acontecesse na próxima lua de sangue, mas não resistirei, tenho que lhe dar o seu presente.
Krystal viu que Suho carregava uma caixa de tamanho médio nas mãos, uma caixa de vidro moldada como a mais bela das rendas, tendo uma tampa mágica que ela imaginou só poder ser aberta por uma pessoa.
- Não precisava ter pressa – Krystal olhou para a luz desejando com todas as suas forças não estar ali. Queria estar fazendo qualquer outra coisa, menos estar ao lado daquele vampiro desprezível.
Suho abaixou a cabeça se entristecendo.
- Você me odeia, não é mesmo? – Suho perguntou olhando para o mar que se movia modestamente – Me perdoe se não sou o noivo dos seus sonhos, não tenho poder sobre as decisões dos nossos ancestrais. Se eles dizem que devemos nos casar, é porque eles têm um bom motivo para isso.
- Acredita mesmo nisso?- Kystal olhou para o rei dos vampiros semicerrando os olhos.
- Ei! – Ele sussurrou segurando o queixo da bela donzela – Claro que acredito. O que deu em você para questionar uma coisa dessas? Você é uma vampira puro sangue, nasceu de dois vampiros Ursos de uma linhagem muito boa, uma criatura rara, como você não existem muitos no mundo, deveria ser grata, por estar se tornando minha rainha.
- Não se isso significar ser sua esposa – O sorriso do vampiro desapareceu – Não é justo que todas essas pessoas morram porque queremos realizar uma batalha aqui, você pode ser o rei e eu posso ter sido escolhida para ser sua rainha, mas eu não vou concordar com tudo o que você faz. Nunca.
Um sorriso sádico nasceu no canto dos lábios do vampiro.
- Ótimo, mas saiba que é perigoso ir contra nossos ancestrais – Suho aproximou os lábios do ouvido da mulher – eu não quero ver você sendo punida por eles, acredite... É a pior das dores do universo. Pior do que qualquer dor que eu possa fazer você sentir, minha cara donzela – Ele se afastou e sorriu pequeno para a noiva novamente – Voltando ao que estávamos fazendo, eis o meu presente que você usará a partir do dia do nosso casamento.
Suho congelou a fechadura da caixa com os dedos da mão direita e então ela se abriu sozinha, tocando uma música suave, idêntica à música que estava na sua caixinha de música dada por sua mãe. Ela colocou as mãos na boca e tentou segurar as lágrimas. Sua mãe sim tinha cabeça, ela sim tinha consciência das atrocidades que eram feitas pelo seu clã...
Ela morreu por causa disso.
- Fez isso de propósito? – Ela perguntou sem nem sequer ter tirado o tecido branco de cima do que realmente interessava na caixa.
- Eu gosto de você, Krystal. Quero que minha rainha de gelo tenha tudo o que merece de todo o meu coração congelado, aceite isso como uma prova do meu amor por você.
Ela tirou a mão da boca e levou a mão até a caixa para ver o que havia dentro. Assim que tirou o tecido branco uma pequena ventania e um cheiro de neve fresta invadiu suas narinas. A caixa dava abrigo a uma bela coroa de cristais de transparência única.
- É linda... Suho, não precisava...
- Posso colocar na sua cabeça? Preciso saber se ela serve em você. Não quero que no dia fique folgada. Seus cabelos são tão delicados... Tem que ser perfeito – Ele disse tirando a coroa de dentro da caixa com cuidado – Aqui – Krystal abaixou a cabeça e Suho colocou a coroa em sua cabeça. Ela ergueu a cabeça e fez o mais velho suspirar – Nunca esteve tão linda, minha rainha – Ele colocou as mãos na nuca de sua noiva e selou seus lábios. Durou menos de dois segundos, mas deixou Krystal vermelha o suficiente para dar contraste a sua coroa de cristais de gelo.
Tipo, vermelha de vergonha e tristeza. Seus pais tinham mesmo que morrer e lhe deixar nas mãos daquele idiota?
Ela tirou a coroa com cuidado e colocou dentro da caixa. Recusava-se a retribuir os sorrisos do vampiro, se recusava a se render a simpatia e lábia que ele tinha. Ela caminhou lentamente para dentro do mar onde deixaria a água lhe molhar por inteira.
Era o que fazia ela se sentir viva... Ou melhor, morta-viva.
***
Quando Krystal voltou Suho não estava mais na praia, por um lado foi um alívio, mas por outro foi muito estranho. Ele sempre lhe esperava. Ela deu de ombros e procurou se acalmar, pelo menos teria um tempo sozinha antes de voltar para a cede e dormir. Ela olhou para floresta e sorriu, era adorável observar os pinheiros se cobrindo de neve. Ela correu até a floresta e tratou de tirar as roupas pesadas que usava, ficando apenas de camiseta e calçinha, tirou até mesmo os sapatos, não se importava nem um pouco com os gravetos que entravam em sua pele de vez enquando.
Krystal abriu os braços, diminuiu a temperatura e fez neve começar a cair sobre ela, aquela sensação boa de liberdade voltou e ela fez uma ventania fria balançar seus cabelos.
Ela abriu os olhos e começou a correr, não qualquer corrida, usou velocidade, uma velocidade sobrenatural. A floresta se tornou apenas um vulto para ela, ela era capaz de desviar das arvores que apareciam na sua frente, mas não tinha mínima noção de para onde estava indo, apenas deixava seu coração lhe levar.
Um caçador estava a postos naquela noite. Fazia tempos que não pegava em seu arco, precisava voltar a treinar. Depois de vários acontecimentos estranhos acontecendo na ilha Goyang ele teve que voltar a ler as lendas antigas de seu pai. Nunca acreditara de fato nas histórias que o pai contava sobre seu avô, mas naquele momento era algo que estava de fato acontecendo e que só podia ser explicado pelos livros de seus avós.
- Que loucura – Ele riu – Como é que vampiros podem mesmo existir? – Disse colocando veneno na ponta da flecha - Uma floresta que as pessoas da ilha não gostam de ir. Eles só podem estar escondidos aqui... – Ele riu -... Para eles é uma infelicidade que minha mira seja tão boa.
Ele se sentou no banco que havia trazido e esperou por um sinal. Uma coisa que havia sido ensinado desde pequeno é que um vampiro – por mais sorrateiro que ele seja – sempre deixa escapar um sinal para um humano saber que ele está por perto. Não é toa que existe a ‘sensação de estar sendo seguido’.
Ele ficou parado por muito tempo, quase sentiu vontade de dormir, esperaria apenas mais meia hora quando sentiu a temperatura cair bruscamente. Ele olhou para frente e ligou o aquecedor de sua roupa – claro que ele estava preparado para tudo, era o que um caçador deveria fazer. Ele pegou seu arco e imaginou que era algo tão antigo e tão comum entre todos seus ancestrais que resolveu pegar sua arma especial. Colocou uma bala carregada com veneno e se ajoelhou, ficando a postos novamente.
A temperatura começou a diminuir ainda mais, poucos segundos depois e a neve já caia. Ele se segurou para não começar a bater os dentes.
Poucos minutos e um vulto passou rápido demais para ele mirar. Praguejou e se posicionou com mais atenção. Mesmo que seus dedos parececem já estarem querendo congelar. Ele se lembrou da armadilha que tinha colocado no espaço que a criatura se mexia, começou a torcer para ela pisar bem em cima dela, daria menos trabalho se isso acontecesse.
E aconteceu. Quando ele estava prestes a atirar, a criatura passou por cima da corda e a corda a puxou para dentro de uma rede. Ele riu da sua própria sorte e caminhou até a sua caça, percebendo que se tratava de uma mulher assim que a ouviu gritar.
- Ah! Tira-me daqui! O que diabo é isso? Não se pode mais correr em uma floresta livremente? – Ele arqueou a sobrancelha mal acreditando no que estava vendo.
Os olhos dos dois se encontraram. Olhos castanhos como avelã, encararam profundamente seus olhos escuros. Ele não conseguiu se mover por alguns segundos, o olhar dela lhe paralisava como uma pedra de gelo e ele não conseguia entender por que.
A temperatura aumentou.
- Droga! – Ele praguejou começando a cortar as cordas – O que diabos você estava fazendo no meio de uma floresta perigosa como essa garota? – Ele gritava, estava bravo, não por causa disso, mas por que era óbvio que sua presa havia escapado.
- Me tira daqui agora! – Ela exigiu cheia de birra enquanto ele já terminava de tirar as cordas. Quando ela se levantou estava com o cabelo longo e branco todo bagunçado, sem falar que...
- Espera... Você estava correndo pela floresta... Pelada?
Ela olhou para si mesmo e arregalou os olhos, parecendo procurar uma desculpa rápida para escapar.
- Ei! Eu não estou pelada... – Ela fez bico e olhou para os lados tentando esconder as partes de baixo – Eu não lembro direito porque vim parar aqui... Eu saí para beber com alguns amigos médicos e... Acabei bebendo demais... Não lembro direito... Acho que eles me trouxeram pra cá de propósito.
Ele fez careta.
- Olha se você não quer falar a verdade, diz logo. Eu não gosto de ouvir desculpas esfarrapadas, onde é que um grupo de adultos MÉDICOS iriam jogar outra médica em uma floresta? Eles nem sequer devem ter tempo para isso – Ele tirou o casaco e vestiu na menor – Está fazendo frio, está realmente perdida? – Ela assentiu – Venha comigo. Vou te levar até a cidade, depois que chegar lá você se vira.
Krystal estava indecisa, não sabia se matava o rapaz ou se o deixava vivo. Não estava com fome, no entanto aquele caçador estava em uma floresta que ninguém se atrevia a ir. Isso era de longe muito estranho, e porque ele carregava tantas coisas, e se ele soubesse sobre eles. Pelo menos ele não desconfiava que ela era uma vampira, precisava apenas cuidar para que ele não lhe tocasse.
- Não está com sono? – Ele perguntou.
- Um pouco – Ela murmurou com voz falsa de sono. Ele continuava seguindo sem olhar para ela, então ela teve uma ideia. Teria uma boa desculpa para não voltar para casa se fingisse ser humana por algumas horas. Ela pegou um dente de alho que guardava dentro da carteira e o mastigou sem que o outro percebesse.
Poucos segundos depois e seu corpo já reagia mal ao tempero. Ela começou a sentir náuseas e seu corpo inteiro começou a pinicar. Ela parou de andar.
- Qual é o seu nome? – Ela falou com a voz baixa como um sussurro e o outro se virou para ela. Ele viu a palidez mais acentuada da garota e caminhou até ela.
- Porque você quer saber? – Ele segurou os ombros dela e sentiu sua pele fria – Você está fria, você está bem?
- Não... – Ela fechou os olhos caiu para cima dele –... Estou sentindo meu corpo queimar por dentro. Não sei o que está... Me leva pra casa...
- Onde é a sua casa?
- Eu... – Ela já estava fechando os olhos e ele entrou e desespero.
- Ei! Acorde! Não vou levar uma garota para minha casa! – Ele a balançou com força, mas era inútil, ela já estava desacordada.
A bela rainha pálida estava nos braços do caçador.
Ela a colocou no colo com dificuldade por conta das mochilas, e começou a andar até o carro.
Se os dois soubessem quem na verdade são, não se atreveriam a se aproximar.
***
JongHyun estava chocado.
Quando olhou para a face inocente daquela menina primeiro teve medo, depois se sentiu mal. Todas as palavras duras que Kibum havia lhe dito estavam certas, mas ele não se arrependeria, não naquele momento. Mesmo que fosse assustador ver uma menina tão jovem ter um rosto tão cansado.
Josephine não era mais a mesma, por mais que só tivesse visto ela saudável por fotos, sabia que ela havia mudado durante os dois dias que foi transformada, era visível nos olhos e no corpo.
- O nome dela não é Josephine, antes que você pergunte – Sehun esquentava as mãos na fogueira – O nome dela é Rose... E você deve saber que vampiros gostam de sentir um calorzinho de vez em quando – Ele piscou e sorriu – Rose, enquanto saí você andou treinando o que lhe pedi?
- Sim, appa – Sehun sorriu largamente.
- Appa... Ela é adorável, não? – Ele perguntou olhando para JongHyun – E os resultados, foram bons? – A menina fez que não com a cabeça – Esse novo oppa, se chama JongHyun, eu acho que ele não gostaria de ter seu nome mudado. Ele fará parte da nossa família também.
- Você é muito bonito, oppa – JongHyun sorriu para a menina e pegou na mão dela.
- Você é que é.
- Eu é que sou – Sehun disse colocando sangue de um bicho que encontrou no mato dentro das taças – Aliás, todos nós somos – Ele suspirou e distribuiu as taças – Infelizmente não poderei te inaugurar com sangue humano como fiz com Rose. Você vai ter que tomar sangue de animal... Esfria rápido, mas é relativamente bom – JongHyun pegou a taça e bebeu como se fosse água. Quando ele viu a cara de Josephine e Sehun percebeu que havia bebido rápido demais – Isso era cede ou você não estava a fim de sentir o gosto do sangue? – Ele perguntou perplexo.
- Acho que é os dois, appa – A menina sorriu – Appa... Se eu sou uma Coruja com poder de Tempestade, o que o oppa é?
- Ele é uma...
- Serpente – JongHyun respondeu com os lábios manchados de sangue – Eu sou uma Serpente com o poder de se Teletransportar.
- Legal! – Ela sentou em cima das pernas de JongHyun e envolveu os braços no pescoço dele – Vamos, eu quero me ir para perto da casa do tio Tae.
- Ah... – JongHyn abriu a boca e não conseguiu falar.
- Ele ainda não experimentou, Josephine, ele terá que descobrir o poder dele antes de poder usá-lo. Lembra que descobriu o seu quando começou a chorar na frente do Lu... Do Kang-woo? – Ela assentiu – É isso, ele terá que deixar o poder fluir. Seja como uma mãe para ele.
- Claro – Ela parecia um pouco chateada – Como você morreu?
- Rose! – Sehun exclamou e caminhou até ela – Pare de fazer perguntas inadequadas, será que vou ter que fazer uma lista de coisas que você não deve perguntar para um vampiro novato? – A menina sentiu que se ainda estivesse viva coraria – Não precisa se preocupar, tenho certeza que ele perdoa você – Sehun deu o sangue a Josephine e ela bebeu um gole de cada vez, queria ao menos sentir o gosto, ao contrário de JongHyun – Vamos, eu quero ver a evolução do seu treinamento.
Ela assentiu e Sehun sentou ao lado de JongHyun que nem mesmo entendia o que acontecia. A menina juntou as mãos como se fosse rezar, fechou os olhos e respirou fundo se concentrando ao máximo para o que estava prestes a fazer.
JongHyun viu nuvens se aproximando, uma ventania repentina bater nas janelas da casa onde deveria estar dentro dela. A fogueira começou a se apagar com tamanha força da ventania e relâmpagos começaram a riscar os céus, trazendo consigo os trovões barulhentos alguns segundos mais tarde.
Era uma tempestade se aproximando, e JongHyun finamente entendeu o que estava acontecendo.
Sehun estava treinando Josephine para a batalha.
E ela estava indo bem, ele pôde até ver o sorriso de Sehun iluminar mais que a fogueira que estava apagando. Até que a menina respirou e a tempestade foi embora em dois segundos. Ela abriu os olhos com dificuldade e caiu para frente. Jong correu para socorrê-la e a colocou nos braços. Sehun se aproximou também.
- Você foi muito bem, evoluiu muito – Sehun falou sorridente – mas se você sentir que vai desmaiar, deve parar. Você foi transformada muito pequena, seus poderes são fortes para sua pequena força, com um tempo vai conseguir controlar isso tudo e fará tudo fluir muito bem! Eu prometo.
- Pra quê eu preciso fazer isso, appa? – A menina parecia não querer nem um pouco gastar todo seu tempo livre treinando fazer uma coisa tão cansativa.
- Porque a pessoa que irá lutar com você, não estará brincando, ela vai querer matar você, e essa pessoa é muito poderosa, eu preciso treinar você para que você continue sendo minha filha querida.
- Eu vou ter que matá-la? – O olhar que Josephine lançou para o vampiro deixou JongHyun de coração partido, era muito parecido com o olhar que Kibum havia lhe lançado mais cedo. Ela estava assustada, não gostava da ideia de matar as pessoas apesar de parecer ter compreendido que precisava daquilo para viver. Ela estava confusa, apenas queria voltar as ser uma criança normal que brinca todos os dias como se não houvesse amanhã.
- Infelizmente sim. Você só não terá que fazer isso se ela por algum acaso desistir e entregar a luta a você. E eu acho isso pouco provável infelizmente – Sehun beijou a testa da menina – Pode levar ela pro quarto, vou apagar essa fogueira. Lá tem um caixão pra você. Ele é necessário para não corrermos o risco de sermos pegos pelo sol... – Ele se virou e caminhou na direção da fogueira -... Ainda não consegui nenhum remédio que nos livre da noite eterna – Sussurrou.
JongHyun ficou olhando o corpinho da menina se acomodar no seu pequeno caixão branco. Ela usava um vestidinho de dormir e segurava um urso de pelúcia quase novo. Não era hora dos vampiros dormirem, mas ela estava cansada. Ela colocou os olhinhos nele e o observou por um tempo.
- Por que me olha? – Ele perguntou rindo.
- Você não está com uma cara muito boa... – Ela falou baixinho -... Parece que alguém te deixou triste.
- É verdade, uma pessoa que eu amo muito me deixou muito triste e desamparado... Estou tentando me acalmar e seguir em frente.
- Sua namorada...? Ou namorado? – JongHyun se assustou com a pergunta de menina e ela sorriu – Desculpe se essa pergunta soa estranha... É que meu primo é... Bem, ele tem gostos diferentes e eu me acostumei com isso, mesmo que ele nem saiba que eu sei.
- Era um namorado sim, mas ele me magoou muito Josephine – Ela olhou para ele surpresa – Gosta mais do seu nome, do que de Rose, não é?
- É... Mas acho que não posso fazer nada sobre isso. Ele te magoou? Por quê?
- Na verdade, eu acho que fui eu quem o magoou primeiro, eu escolhi vir para esse mundo sem ao menos pensar nele e ele ficou muito chateado, mas mesmo assim foram duras as palavras dele. Ele foi embora...
- Vocês terminaram... – Ela fechou os olhos e suspirou -... Não se preocupe oppa. Sehun vai te ajudar, você vai conseguir tudo o que teve de volta. Não sei como, mas eu confio na appa.
***
Taemin estava quase dormindo quando escutou a campainha tocar. Estava mesmo disposto a socar quem quer que fosse batendo de madrugada em sua porta, fazia duas noites que ele não dormia direito, tanto pelos acontecimentos, quanto pelas visitas noturnas do vampiro. Estava muito cansado, mas fez um esforço para se levantar e atender a porta.
Ele caminhou arrastando os pés até chegar à porta e olhou para o relógio. Ia dar uma hora da manhã, só podia ser uma pessoa. Ele abriu a porta e Kai suspirou ao lhe lançar um olhar feroz. Ele arqueou a sobrancelha e se encostou ao batente.
- O que foi? – Ele disse fechando os olhos de sono.
- Prepare um café para te manter acordado, precisamos conversar.
- O quê?
- Vamos logo.
- Tudo o que você está me dizendo... É verdade? – Taemin se sentou na cadeira, exausto – Ele está querendo colocar minha prima em uma batalha? Ele está louco? Não posso deixar isso acontecer! E... E as pessoas estão morrendo por causa disso, ele não tem nem um pouco de senso?
- Não sei se algum dia ele teve uma coisa chamada consciência Taemin, talvez quando ele era humano, mas isso faz muito tempo – O vampiro olhou para o café que estava na xícara que Taemin segura – Se tudo o que ele me falou é verdade não vai demorar para tudo isso acontecer, quanto mais rápido as pessoas estiverem morrendo, é porque a batalha está mais próxima.
- Não entendo porque ele quer esse trono, parece ser uma coisa banal.
- Não... Se ganhar ele não vai ficar com o trono, não existirá mais trono. Ele quer transformar os vampiros em seres independentes de qualquer poder. De qualquer ancestral que venha a interferir. Se essa guerra fosse mesmo pelo trono não adiantaria de nada, porque dar o poder para os Ácidos e Bases é a mesma coisa do Estados Unidos e a União Soviética ganhando a segunda guerra mundial. Completamente opostos, ganhando o mesmo prêmio, seria um caos.
- Posso entender isso, mas não consigo entender porque ele não consegue sentir compaixão pelos outros – Kai abaixou a cabeça.
- Os vampiros deixam de ser humanos aos poucos, aos poucos não são mais capazes de sentir o que sentiam quando era humanos, isso só não aconteceu comigo porque nunca me desapeguei da humanidade, nunca deixei de ser humano de fato, gosto de estar perto deles.
- Está dizendo que Josephine vai esquecer como é ser humana?
- Sinto muito, isso é inevitável, principalmente porque você pode perceber que ela confia cegamente em Sehun. Eu andei observando ela... Não entendo como ela acha que tudo isso vai acabar bem não importando o que aconteça. Ela crê que Sehun salvará todos eles, o que não é verdade. Ela está... Iludida. Só espero que isso não reflita na hora da batalha.
Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos.
Kang-woo estava observando tudo de trás da porta. Ele inclinou a cabeça um pouco para poder espiar o que eles faziam durante o silêncio tão frio. Percebeu que eles estavam olhando um para o outro, como se tentassem conversar telepaticamente, pouco tempo depois desse tipo de conversa Kai se levantou e andou até onde Taemin estava sentado. O mais baixo olhou para cima para poder olhar nos olhos do moreno.
Kai colocou os dedos dentro do cabelo negro do mais novo e este fechou os olhos. O vampiro se abaixou e soltou um leve sorriso.
- Vai ficar tudo bem – Ele sussurrou – Eu prometo pra você que vou fazer de tudo para impedir, nem que eu mesmo tenha que sequestrar sua prima e cuidar para que ela não se esqueça de como é ser uma humana... Vou fazer isso por você – Taemin abriu os olhos e observou o vampiro sorrindo de joelhos a sua frente.
- Não faça promessas que não pode cumprir.
- Estou dizendo que vou fazer de tudo, mas não prometi sucesso total, então é uma promessa que pode sim ser cumprida – Ele piscou o olho e Taemin esboçou um meio sorriso.
Kang-woo viu o moreno sussurrar algo no ouvido do mais novo e logo depois depositar um beijo calmo nos lábios dele.
Ele teve vontade de quebrar a parede, assim que a cena foi capturada por sua mente. O garoto se virou e começou a caminhar para o seu quarto, estava com tanta raiva que nem percebeu que esbarrou em uma mesa antes de chegar às escadas. Correu até o quarto, se deitou na cama e se cobriu com o lençol rapidamente. Poucos segundos depois ouviu a porta ranger, Taemin havia ido verificar se ele estava dormindo mesmo. Ele fingiu que estava em sono profundo.
- Eu juro que ouvi alguma coisa... – Taemin sussurrou fechando a porta -... Será que ele viu a gente... – Kai começou a negar com a cabeça.
- Não, eu teria sentido a presença dele. Ele estava dormindo sim – Taemin soltou o ar dos pulmões e se encostou na parede – Devia contar a ele. Ele vai acabar descobrindo e não vai ser muito interessante pra você explicar – Kai disse em tom baixo. Ele encostou as mãos na parede ao lado de Taemin e lhe olhou nos olhos – Só pra te avisar que... Josephine sabia de tudo.
Taemin arregalou os olhos.
- Provavelmente ela deve ter visto você beijar alguém ou ouvido você.
- Eu já disse que não levo ninguém para minha cama! – Exclamou em tom baixo – E ela...
- Não tinha nenhum preconceito com isso, até entendeu o porquê de você esconder, perguntou para Amber uma vez sobre isso e depois não falou mais sobre o assunto – Taemin abaixou a cabeça e Kai tratou de levantá-la – Não se preocupe com isso. Pelo menos das pessoas ao seu redor isso não vai ser um problema.
- O que você quer comigo... De verdade?
- Você faz eu me sentir diferente só pelo fato de estar ao meu lado. Eu quero saber o que é isso, preciso saber o que é isso. Você é mais que um garoto bonito para mim, algo é especial em você e isso me faz ter sentimentos estranhos.
- Você já gostou de algum garoto alguma vez?
- Uma vez.
Taemin riu negando com a cabeça.
- No meu pensamento você só está tentando me levar para cama.
- Se for qual é o problema? Quem iria querer um vampiro delícia como eu, que não envelhece, para todo o sempre como companheiro? Se você quer saber, eu é que sou tratado como um brinquedo – Taemin riu sem acreditar o que ele estava dizendo – Estou falando sério! – Ele riu também – Ou vai me dizer que você pensa em mim como algo além do sexo?
- Não. Você tem razão. Eu não penso em levar nada a sério com você.
- Então? – O vampiro arqueou a sobrancelha.
- Se você não tentar sugar o meu sangue negro eu até deixo você me beijar agora.
Os dois riram e Kai beijou os lábios do mais novo. Lábios quentes que esquentavam todo o seu corpo frio. Corpo branco, mas que jamais seria pálido e morto como o seu. Era perigoso alguém como ele se apegar a um humano, mas ele estava confiante de que não iria deixar isso acontecer novamente. Não iria deixar os lábios e o carinho das mãos macias do mais novo lhe seduzirem, se ele morresse... Não iria cometer o mesmo erro do passado.
***
Ele estava pensando seriamente em levar a mais nova para o hospital quando a febre começou a abaixar. Não entendeu como uma pele tão fria ficou tão quente de repente. A palidez daquela menina era sobrenatural. Era como se ela tivesse tomado veneno no momento que soube que ele a levaria para casa.
Já estava fazendo quase duas da manhã quando ela abriu os olhos e começou a tossir. Ela abriu os olhos castanhos claros e olhou para o caçador.
Se assustou com a quantidade de animais empalhados que haviam pendurados na parede, mas logo se acalmou quando ele se sentou ao seu lado na cama colocando a mão em sua testa para medir a temperatura.
- Está melhorando. O que aconteceu com você? Tinha tomado alguma coisa para ficar assim? Você não estava se drogando e acabou naquela floresta, não é? – Ele pausou as perguntas para dar espaço para ela responder, o que não aconteceu – Você ao menos é uma médica?
- Claro que sou. Sou cirurgiã cardiovascular do hospital universitário, passei do dia inteiro trabalhando e um pouco da noite, estava muito cansada, acho que quando fui tomar remédio para dormir acabei tomando o remédio errado, ou alguma coisa assim, não consigo me lembrar direito.
- Você não tem cara de cirurgiã, parece ser muito nova para o cargo.
- Eu sou sim! Eu sou a melhor – Ela disse erguendo a cabeça – mas ultimamente ando exausta. Desculpe te incomodar, vou para casa agora – Ela tentou se levantar, mas pareciam que agulhas estavam perdurando seus pés – Ai... – Ela se sentou de novo – Desculpe, acho que vou ficar até de manhã por aqui.
O caçador suspirou não gostando nada da ideia, mas ao mesmo tempo não tendo outra opção.
- Tudo bem, quando amanhecer, se ainda estiver com dores levarei você ao hospital – Ela agradeceu a si mesma por ter tomado o remédio contra raios solares – Me diga uma coisa, qual é o seu nome? Você desmaiou antes de me dizer.
Ela abriu a boca e ficou sem falar por alguns segundos, não sabia se era boa ideia dizer o seu nome verdadeiro ao caçador, mas não tinha escolha, ele logo descobriria mesmo.
- Se eu não disser você vai procurar, não é? – Ele assentiu – Meu nome é Krystal, tenho vinte e seis anos e sou a cirurgiã mais nova do hospital universitário de Goyang. Sou um prodígio – Ela sorriu.
- E o que um prodígio veio fazer em uma ilha que pagam tão pouco pelo seu trabalho.
- Isso não é da sua conta – Ela disse se acomodando nos travesseiros – Tenho muitos motivos para preferir trabalhar aqui, aqui é calmo, posso fazer o que eu gosto sem me sobrecarregar, ganhando dinheiro suficiente para manter os meus pequenos luxos. Está bom demais para mim.
- Você acaba de me dizer ‘sem sobrecarregar’ sendo que passou a noite aqui comigo porque tomou o remédio errado para o cansaço.
- Ah... Isso é exceção. Esses dias temos tido muito mais pacientes do que o ano passado inteiro. Nós achamos que a praga afeta também o coração, não só os pulmões. Tentamos fazer alguma coisa, mas... Não tem muito o que fazer – Ela fez careta.
- Entendi – Ele riu – Onde você mora?
- Vou dormir agora – Disse fechando os olhos.
- Ei! Não me ignore desse jeito! Se não fosse por mim estaria morrendo de frio na floresta.
- Você é que é um pervertido e me trouxe para o seu quarto só porque estou seminua. Pensa que eu não sei? – Ela deixou o mais velho sem palavras, ela era mais sínica do que ele pensava – Ah sim... Falando nisso, qual é o seu nome? Você não me disse – Ela perguntou quando ele já estava saindo do quarto.
- Meu nome? – Ele riu apagando a luz – Park Chanyeol.
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