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História Ácidos e Bases - Chamas do passado


Escrita por: Misukisanlover

Notas do Autor


Espero que gostem, corrigi as pressas ^^
Ps: Onew na capa

Capítulo 4 - Chamas do passado


Fanfic / Fanfiction Ácidos e Bases - Chamas do passado

Capitulo 3 – Chamas do passado

 

“Taemin ainda estava bravo com a prima. Ela havia quebrado seu CD dos Beatles por puro capricho.

Que prima em sua sã consciência quebraria seu CD dos Beatles?

Amber Joshephine Liu.

Tinha que ser a prima que tinha pacto com o capiroto. A menina parecia ser a filha do capeta de tão danada, e não era de hoje que ela fazia traquinagens e era só fazer cara de fofinha para a mãe perdoar. Ah, como ele tinha raiva disso tudo. Muita raiva, não podia nem mesmo dar uns cascudos naquela pirralha para ensiná-la a não mexer em suas coisas.

Durante a viagem de volta a menina de seis anos parecia arrependida. Não parava de lhe cutucar pedindo que lhe desculpasse e isso o estava deixando ainda mais irritado.

- Oppa... Por favor... Desculpa... – Ela fazia carinha de arrependida e puxava sua camisa – eu juro que nunca mais quebro nada seu, mas não fica assim comigo. Fala comigo, eu agi mal... Eu... Desculpa.

- Ah garota, dá pra me deixar em paz por alguns segundos? – Ele disse olhando com seriedade para a menina.

- Filho, não seja tão duro com ela. Ela ainda é pequena, ela está admitindo que errou. Desculpe a Jose – A mãe de Taemin disse com calma.

- É verdade, Taemin – A tia falou – Conheço bem Jose e se ela está dizendo que está arrependida é que porque está.

Taemin revirou os olhos e afundou os fones ainda mais dentro dos ouvidos. Abriu a janela e observou o caminho. Não via a hora de chegar em casa. Já que seu CD dos Beatles estava quebrado, o que restava era escutar no celular.

Quando o som de Let It Be começou a invadir seus ouvidos eles já estavam começando a passar pela longa ponte que ligava a Coreia do Sul à ilha de Goyang. Olhou com mais atenção para o céu e percebeu que finos flocos de neve começavam a cair. O asfalto estava liso e já era madrugada. Odiava ter que viajar para muito longe, preferia ficar em casa estudando. Muito mais produtivo.

 

Quando tudo aconteceu, Taemin estava de olhos fechados escutando a musica em seus fones de ouvido tão alto que não conseguiu nem capturar o que houve.

When I find myself in times of trouble /Quando eu me encontro em momentos difíceis” 

Algo extremamente pesado caiu sobre o capô do carro.

Mother mary comes to me / Mãe Maria vem para mim”

O pneu do carro derrapou no asfalto e cantou fazendo o carro começar a rodar na pista.

“Sepaking words of wisdom, let it be/ Falando palavras de sabedoria, deixe estar”

Josephine segurou o braço de Taemin com força.

And in my hour of darkness/ E nas minhas horas de escuridão”

……..

She is standing right in front of me/ Ela está em pé bem na minha frente”

O carro começou a capotar até bater com força estrondosa na beira da ponte.

Speaking words of wisdom, let it be/ Falando palavras de sabedoria, deixe estar”

O carro despencou de cima da ponte.

Taemin abriu os olhos e viu um par te olhos vermelhos lhe encarando. Estava escuro demais para saber o que era, mas parecia um grande urso de pelúcia com presas brilhantes. Soube que se tratava de um lobo quando ele uivou e saiu corendo com as quatro patas no chão.

Olhou para o lado e viu o corpo pequeno da menina de seis anos se abraçando ao seu, ela estava adormecida, mas tinha um grande corte na cabeça e estava sangrando. Ele teve vontade de gritar, de chamar ajuda, se ninguém os visse, os dois iriam acabar morrendo. Viu que estavam muito perto do farol e que havia uma fogueira acessa.

Tentou gritar, mas não conseguiu soltar nem mesmo um sussurro. Por mais força que colocasse sua voz não saia, como se de uma hora para outra tivesse ficado mudo. Olhou para o céu e viu os flocos de neve caírem com mais intensidade em cima de seu corpo. “Eu te desculpo... Josephine”

 “Let it be, let it be, let it be, let it be, speaking words of wisdom, let it be…”

Alguns segundos mais tarde sua visão ficou escura por completo e só esclareceu novamente quando já estava no hospital

 

***

 

A faísca começou de forma modesta. Havia uma fina e longa palha no chão que foi consumida pela faísca em segundos, levou junto com o vento, a faísca a se tornar uma chama consumindo a cortina do quarto... Da cortina do quarto ela se espalhou pela tinta inflamável do dele.

Em alguns minutos o fogo chegou à cozinha, conseguiu explodir o gás butano que estava ao lado do fogão e o que estava dentro da despensa esperando para ser usado. O teto da casa voou para longe, e as chamas começaram – com a ajuda do vento – a se espalhar pela floresta.

O fogo era cruel, silencioso. A fumaça matava as pessoas que dormiam despreocupadamente em suas casas de janelas abertas, sem preocupação com algum invasor humano. E quem disse que o invasor precisava ser humano para matar? Mais meia hora, o fogo já se espalhava pelo cemitério, queimando as flores e as velas que ainda estavam ali, deixando todas as lápides da cor negra enquanto crianças já morriam asfixiadas pelo fogo, próximo à casa que espalhou o cruel inimigo.

Depois do cemitério, o fogo avançou para o necrotério. Consumindo toda a ilha como se ela fosse um circulo a ser riscado.

As pessoas acordaram, saíram correndo das casas próximas ao necrotério e correram para o centro da cidade onde ainda estava seguro, com exceção do ar.

Como era lindo ver as chamas queimando todas as coisas tão rapidamente, aquela luz obsecada por consumo, aquela quentura derretendo todas as coisas...  Demorou pouco e o fogo já havia passado do penhasco, estava chegando perto do porto e do farol. As pessoas estavam ilhadas pelo fogo, elas não tinham saída, e ninguém iria até lá para salvá-las.

O fogo vencera, consumiu a ilha primeiro na borda como um grande circulo de fogo e logo se alastrou para o centro, onde consolidou toda a destruição, onde fez suas chamas ficarem mais altas do que jamais alguém foi capaz de ver.

Jinki abriu os olhos.

Tudo estava normal. A vista do farol era ótima, dava para ver a ilha inteira apenas rodeando o mirante. Fora assim que imaginou toda a sua fantasia. Era tão cruel que nem mesmo ele conseguia se compreender. Como podia imaginar toda a sua cidade pegando fogo e matando todas as pessoas?

Parecia que ver toda a cidade pegando fogo, todo o fogo fazendo o seu grande show tinha um preço e que esse preço era compreensível.

- Qual é o seu problema Jinki? – Sussurrou olhando para o próprio corpo. Estava suando, o cabelo já estava grudando na testa e sabia que era por que imaginara algo que lhe daria grande prazer.

Ele desceu as escadas até chegar ao quarto da guarita, onde Luna estava dormindo em sua cama. Ele morava no farol desde que era pequeno. Seu pai era guarda dali e os dois – sem ter outro lugar para morar – sempre dormiam naquele quarto pequeno e abafado. Lembra muito bem que o sonho do pai era ter a casa própria. A mãe viajava muito e sempre levava sua irmã. Era naquele quartinho que ele estudava, comia, dormia e brincava.

E foi naquele quarto que ele matou toda a sua família.

Apesar de ele mesmo ter cuidado de reformar o quarto o teto ainda tinha marcas do incêndio.

Ele olhou para Luna que estava deitada de bruços com as costas completamente nuas, deixando sua grande cicatriz à amostra. Ele causara aquilo, e provava que Luna era a medrosa mais impetuosa que ele já conhecera. Mesmo sabendo que ele representava perigo continuava a visitá-lo. Continuava se preocupando com ele como se fosse uma mãe, sempre ao seu lado, uma namorada fiel. Uma namorada que ele jurou jamais procurar, jamais ter.

E ali estava ela. Entregue de bandeja, para que ele a machucasse, mas ele não fazia isso, porque ela era a única... A única que gostava de estar com ele, com toda a sinceridade, sua única amiga, sua única companheira.

- Onew? – Ela abriu os olhos devagar procurando o amante na cama – Onde você está?

Jinki se aproximou da cama e se ajoelhou perto dela.

- Estou aqui – Sussurrou sorrindo e afagando o rosto pequeno da menina.

- Vamos dormir, estou cansada, pare de ficar perambulando naquele mirante fedorento... Ic... Vai que tem fantasmas de piratas por lá.

- De onde você tirou essa ideia, em? – Onew sorriu se deitando ao lado da namorada.

- Nunca se sabe – Ela deu nos ombros com a voz ainda muito sonolenta e fechou os olhos de novo – acho que foi do mesmo lugar que tirei o seu apelido... – Murmurou devagar.

- Onew... Amável e carinhoso... Acho que você é a única que desfruta dessas qualidades, sabia? – O rosto pequeno da garota balançou em sinal positivo e logo ela estava ressonando de novo.

Jinki sorriu e colocou corpo pequeno da garota em seu peito e a abraçou. Apesar de ninguém saber que os dois eram envolvidos, ela lhe trazia sensações que nenhuma pessoa traria. Era uma mulher completa.

Uma mulher que ele amava.

 

***

 

 

O túnel parecia não ter fim. Seus pés já doíam tanto que era como se seus ossos fossem quebrar no meio no próximo passo que desse. A visão estava turva e o cheiro podre de esgoto combinava com os ratos que passeavam por ali livremente.

Olhou para frente procurando a famosa luz no fim do túnel, mas tudo o que encontrou foi uma fria corrente de ar que fazia seus ossos congelar ainda mais. Ele estremeceu com o frio fatal que lhe alcançou e se encostou à parede suja do túnel. Estava prestes a desistir, prestes a escorregar naquela parede cheia de lodo até se sentar no chão e esperar morrer para dar alimentos aos ratos famintos.

No entanto ele escutou uma voz.

- Filho...? – Uma voz feminina e dócil disse no fim do túnel, na direção de um pequeno ponto branco – Taemin... É você?

Taemin descobriu ter forças que nem sabia que existiam. Começou a caminhar naquela direção, seguindo os sussurros de sua mãe, mesmo que a dor de seu corpo gritasse como um louco. Teve vontade de morrer logo para acabar com aquela dor, sentiu vários de seus ossos se partirem durante o percurso. E quando a luz parecia tão próxima quanto alcançável, viu sua mãe se aproximar para ajudá-lo.

A mulher colocou o braço dele ao redor de seu pescoço e o ajudou a sair daquele lugar horrível. 

- Mãe... Eu te amo... Mãe... – Ele tentava falar com a voz rouca. A mulher sorriu e o colocou sentado em um banco de praça de madeira branca. Estava tão sujo que encardiu a tinta do acento tão belo – Mãe... Volta pra casa, mãe. Não consigo ser um bom Oppa... Não consigo nem mentir para o bem do meu emprego... Desculpa.

- Não conseguir mentir não é uma coisa ruim! – A mulher exclamou com um sorriso de lado nos lábios – Pelo contrário, é uma virtude – Lágrimas começaram a descer pelas bochechas cheias do garoto – Você precisou se tornar responsável muito cedo, mas mesmo assim eu tenho muito orgulho de você. Eu e seu pai.

- Onde está papai?

- Ele... Ficou com os seus tios – Ela falou olhando para baixo – Seus tios estão passando por uma grande confusão mental. Não sabem se é bom ou ruim o que está para acontecer. Eles não sabem se devem chorar ou comemorar, eles estão com medo do que pode significar.

- Do que está falando... – A mulher abaixou a cabeça -... Não... A senhora não fala da...

- Filho, ela está doente... Recebemos notícias de que ela virá ao nosso encontro amanhã... Não é muita coisa...

- Não! Eu não vou deixar! – Taemin tentou se levantar, mas acabou caindo no chão depois de sentir uma pontada forte no tornozelo – Não mãe... Eu não vou deixar minha Jose morrer – Lágrimas sujas de lama caíram no chão branco – Não posso... Ela não pode me deixar sozinho.

- Eu temo que você não possa fazer nada para impedir meu filho. O destino daquela menina já está selado. Só será mudado se alguma criatura do demônio intervier.

 

Taemin abriu os olhos e sentiu que já estava quase morrendo asfixiado. Não estava respirando direito. Sentou-se sobressaltado e afagou o peito na intenção de controlar a respiração. Não era normal aquilo acontecer, não era normal ele falar com a mãe nem em sonhos, muito menos na vida real, já que ela estava morta.

Olhou para a janela do quarto – que estava aberta – e viu que a lua estava brilhante o suficiente para iluminar a rua escura que ele vivia. Levantou-se rapidamente e pegou o casaco que estava pendurado no cabide.

Poucos minutos depois estava caminhando pela rua escura que morava. Sua casa tinha dois andares e era relativamente pequena. Era o suficiente para morar com a prima, resolveu vender a casa enorme dos pais já que só trazia lembranças que o faziam chorar e era grande demais para eles dois.

Sentiu o frio aumentar, mas não desistiu de fazer sua caminhada, precisava esfriar a cabeça, precisava mesmo ter calma. Não iria deixar sua prima morrer, não importava o que até os seus sonhos diziam. Sonhos não são reais.

- É isso. Eu não vou deixar ela morrer... – Taemin espirrou.

Ele parou de andar.

- Eu vou salvar sim! – Tentou insistir, mas espirrou de novo.

Ele sentiu suas pálpebras tremerem junto com seus lábios e começou a chorar. Acocorou-se no meio da rua e começou um choro longo e repleto de soluços que ecoavam pela rua silenciosa.

 

***

 

Kai viu que Amber já estava cochilando ao lado de Minho. Os dois haviam começado a beber vinho e conversar e certamente que, sem nada para fazer, não deu outra. Se eles soubessem o quanto o perfume do sangue fica muito mais forte quando bebem vinho... Eles não beberiam vinho perto dele. O sangue dos dois estava quente como nunca estivera.

Ele não estava bêbado, porque – como se fosse um humano – ele não gostava de beber e preferia ficar com seu suco vermelho nojento, que é o nome que seus colegas deram para o sangue que bebia no copo.

Quando os dois beberam até cair já imaginou que seria a oportunidade perfeita para fazer a refeição que fazia todos os meses. Todos os meses ele precisava satisfazer sua cede por sangue fresco e aquele momento era perfeito.

Olhou para Amber antes de pegar seu casaco no cabide pronto para sair. Ela estava ressonando ao lado do roncador Choi Minho. Kai olhou na direção das geladeiras e respirou fundo. Ela teria que suportar a dor de perder a prima. Ele era um vampiro, entendia de mortes, provocava mortes, mas não curava. Isso nunca. Sem falar que nem mesmo fizera medicina para saber por onde começar a curar a garota.

Kai entendia de mortes, não de milagres.

- Sinto muito menina – Sussurrou – Amanhã vamos ter que abrir o corpo da sua prima.

Dois passos e ele já estava saindo do necrotério. Observou a ilha com seus olhos de vampiro.

O farol, o famoso penhasco e no meio dos dois, o porto próximo da ponte que ligava a ilha Goyang a Coreia do Sul. Ao lado esquerdo do necrotério estava o cemitério, lar de seu amigo Kibum, que só não ia visitar naquele momento porque estava com cede. E do lado direito da ilha, ficavam as casas modestas de classe média. A maioria de dois andares apesar de serem bem simples.

Apesar de tudo parecer perfeitamente normal, sentiu um cheiro diferente. Um odor vindo de longe, quase imperceptível, mas que quando penetrava em seu faro apurado o fazia ficar tonto. Não era sangue comum, se fosse não daria para sentir de tão longe.

- O que é isso então? – Perguntou a si mesmo. Olhou para o necrotério uma ultima vez. Resolveu procurar sua presa andando mesmo.

Seguiu o cheiro curioso dobrando varias ruelas. O vento não ajudava muito seu faro, mas logo que se aproximou o cheiro foi ficando mais forte e assim nem o vento conseguia mais lhe enganar. Ele sabia perfeitamente para onde estava indo, e o cheiro era de algo que ele nunca havia visto, era forte, era doce e de um perfume inexplicável.

- Isso não pode ser o que eu estou pensando... – Disse com um sorriso de canto e começou a andar mais rápido – Parece que o bonitão aqui, ganhou na loteria.

 

***

 

Kang-woo colocou mais uma compressa fria na testa da mãe.

Ele não queria que fosse daquele jeito, não queria que ela tivesse de ir embora tão cedo, era uma ótima mãe, chegava até a lhe lembrar de sua mãe verdadeira.  Dócil e amorosa. Sentou-se ao lado da mulher que murmurava coisas sem sentido por entre tosses altas e profundas, algumas delas vinham junto com sangue, o que indicava que a mãe já estava nos últimos minutos.

Ele se lembrava muito bem do dia que encontrou a mulher. Estava sentado na beira da praia abraçando os joelhos pensando em como se adequaria a aquela nova terra, aquela ilha chamada Goyang, onde parecia ser o lugar mais calmo que já vivera. Ninguém parecia lhe olhar com desprezo ou nojo.  Ele parecia apenas... Normal. Um garoto pobre normal, como a maioria das pessoas naquela ilha.

A mulher estava à procura do filho perdido. Ele viu logo de cara que ela tinha perturbações, que já não estava sã. Deixara a morte do filho lhe subir a cabeça e ali estava procurando por ele mesmo já tendo se passado um ano desde sua morte.

Assim que ela pôs os olhos nos seus saiu correndo. O garoto se assustou com a correria da mulher, pensou em fugir, mas ela se joelhou ao seu lado e o abraçou com força, começando a chorar logo depois.

- Kang-woo... Você me deixou preocupada... Como pôde deixar sua mãe preocupada desse jeito? Não faça isso comigo novamente! Todos estavam achando que você tinha morrido... E olha só pra você  - A mulher lhe apertou as bochechas e sorriu – Está lindo e saudável... Eu te amo tanto meu filho – Ela apertou mais forte seu novo filho.

A partir daquele momento ele se tornara Kang-woo. Tendo que se esquecer de seu passado sombrio, tendo que se esquecer de seu nome, de sua antiga família para se dedicar a mulher que o acolheu naquele novo hábitat.

- Omma... – Kang-woo sussurrou com os lábios tremendo. Não conseguia ver aquela mulher sofrer sem poder fazer nada a não ser esperar a morte ser gentil e a levar.

- Oi meu amor... – Ela suspirou sorrindo sem humor. Abriu os olhos e olhou para o teto – Eu queria muito ter palavras para te agradecer tudo o que fez por mim.

- Do que está falando, omma? Você que sempre fez tudo por mim! Eu é que devo minha alma a você!

- Não deve... – Ela sussurrou emocionada -... Você fingiu ser o filho de uma mulher louca, você... É uma criança tão boa... Tão boa que nem consigo acreditar que seja real... Você cuidou de mim mais do que eu cuidei de você nesses últimos anos... Achou que eu não sabia que você estava fingindo ser Kang-woo?

- Não sabia... – O menino abaixou a cabeça.

- Não se preocupe, viu? Eu descobri algum tempo depois que você não era o meu filho, mas aí eu já tinha adotado você, você havia se tornado o meu filho de verdade, mesmo que não fosse de sangue... – A mulher suspirou e tentou respirar o mais fundo que podia – Minha vista está escurecendo meu filho, a praga está vencendo sua pobre mãe... Eu te amo.

- Omma... – Kang-woo deixou que lágrimas enchessem seus olhos, mesmo que fosse uma das coisas mais difíceis de acontecer em sua vida.

- Pode me falar qual é o seu nome verdadeiro? Para eu dizer a papai do céu que eu te amo muito?

- Que diferença isso vai fazer omma, eu quero você aqui comigo.

- Não posso querido... – A mulher já falava com certa sonolência na voz – queria viver para ver os meus netinhos... Mas pelo visto... Não vai ser possível... Pode tocar piano para mim? Aquele pianozinho pequeno que consegui te dar...

- Claro – O garoto sorriu e caminhou até o pequeno piano com os dedos trêmulos. Já se preparando para perder a sua companheira.  Sabia que iria perdê-la, mas não sabia que iria ser tão cedo... – Vou tocar Lago dos Cisnes* espero que goste... Omma.

 

***

 

Jose abriu a janela enferrujada com dificuldade, havia fechado mais cedo porque estava com frio. A lua estava luminosa e ela sabia que provavelmente não a veria de novo. Olhou para o seu casaco e pensou por dois segundos no que faria a seguir. Não teve muito tempo para decidir, ou para pensar no quanto o primo ficaria preocupado. Apenas pegou o casaco e desceu as escadas no seu próprio ritmo. Abriu a garagem e pegou a bicicleta.

Sempre dizia para Kang-woo que ainda não havia conseguido aprender a andar, mas a verdade é que ela sabia andar a séculos.

Assim que colocou a bicicleta para fora suas tosses se intensificaram, o frio da noite não ajudava, mas ela jamais desistiria de ver o que ela mais amava naquela ilha por uma última vez. Passou a porta para o outro lado da garupa e se sentou ganhando equilíbrio.  Colocou a força necessária para a bicicleta se mover e começou as e movimentar na direção sul. Precisava chegar ao ponto mais alto da ilha. O penhasco.

Tudo ia bem. Apesar da dor no corpo ela conseguia ir bem. Até que alguém entrou na frente de sua bicicleta. Ela se assustou e tentou frear, mas já era tarde demais acabou atropelando o garoto.

- Aaai – Ouviu o menino gemer mesmo que sua dor no joelho fosse dilacerante. Ele olhou para ela surpreso e ela ficou ainda mais surpresa – Josephine? Está andando de... Bicicleta? – Ela suspirou e se levantou o mais rápido que pôde, tentou levantar a bicicleta e ir embora sem falar nada,mas foi inútil – Pra onde você pensa que vai?

Ela lançou um olhar cansado para o garoto.

- Kang-woo... – Ela disse com a voz rouca e fraca -... Apenas me deixe ir... Eu preciso me despedir de uma coisa antes de... – Ela apertou forte o guidão da bicicleta e abaixou a cabeça.

- Eu posso ver nos seus olhos que nada que eu faça te impedirá de ir, mas eu não posso te deixar ir sozinha... – Ele ficou calado por alguns segundos – Minha mãe morreu há alguns minutos... Eu também preciso esquecer um pouco de mim, posso te levar até lá. O que você quer?

- Quero ver o nascer do sol pela última vez... – Ela apontou para o sul -... Lá do alto.

- Suba na garupa. Eu te levarei.

Poucos segundos depois os dois estavam andando pelas ruas frias de Goyang. As tosses altas de Josephine quebravam a noite e o vento que vinha do norte não ajudava muito. Kang-woo nunca havia se incomodando com o peso de Jose, ela sempre fora leve, mas naquele momento estava mais leve que uma pena, quase como se ele não tivesse levando nada. Assim como Josephine fingia que não sabia andar de bicicleta, ele fingia ainda não aguentá-la. Precisava aparentar ser um menino comum, que ainda está aprendendo a carregar damas.

Ele ouviu mais tosses e teve vontade de chorar de novo. Não sabia que perderia as coisas que mais gostava naquele lugar tão depressa. Amava sua mãe, amava Josephine e estava perdendo as duas para algo desconhecido. Parecia ser tão devastador quanto uma guerra... E ele sabia bem o que era uma guerra.

- Não se preocupa Jose... O nascer do sol hoje será lindo – Sussurrou com a voz embargada.

 

***

 

O mar não estava para peixe naquela noite, muito menos para navegadores.

O mar estava briguento, parecia estar de mau humor e não queria ter ninguém lhe bisbilhotando. Os pescadores infelizmente não tinham outra opção. Precisavam pescar se quisessem ter o que comer no dia seguinte, tanto porque eles precisavam vender o pescado, quanto porque o pescado era um de seus alimentos.  Apesar do mar turbulento, todos os pescadores estavam conseguindo dar um jeito de ficarem estáveis.

Estavam próximos de Goyang, a ilhazinha que pouca gente ia para passar as férias por falta de pontos turísticos, aquela que quase ninguém ouvia falar a não ser por alguns acontecimentos estranhos que às vezes aconteciam por lá.

A única vez que Franz ouviu falar de Goyang foi quando uma terrível praga de doenças provocada por mosquitos começou a massacrar o povo de lá. Diziam ser uma ilha tranquila, da qual ninguém era inimigo de ninguém. Quase não havia necessidade de policia por lá. Mas em compensação os mortos eram vtimas de situações extremamente bizarras.  Falar sobre ela sempre lhe dava arrepios, não imaginava ficar doente em um dia e morrer no outro. Nem pensar, Jesus Maria e José que lhe defendesse.

- Tem alguma coisa muito pesada dentro da rede! – Um dos pescadores gritou fazendo Fraz largar sua revista para olhar para o mar, na direção de onde rede estava lançada. Ela parecia imóvel demais para ter sinais de alguma coisa viva dentro dela.

- Que coisa mais estranha, tchê – Franz falou franzindo a testa – que tipo de bicho fica preso e não se meche?

- Vamos guinchar! – Outro pescador gritou e um outro começou a rodar a maçaneta que puxava a corda da rede.

Ele precisou de ajuda. O negócio estava mesmo pesado. Enquanto os pescadores ajudavam a guinchar Franz observava tudo com curiosidade. Quando o bicho começou a criar forma ele percebeu logo que a criatura não se mexia porque não era nenhum animal. Não era nem ser vivo.

Era um caixão enorme de prata. Ou pelo menos tinha a cor de prata por trás de tantas algas e sujeira marinha.

Foi preciso todos os homens do barco para conseguir apoiar o velho caixão direito dentro do convés. Talvez você não saiba, mas não tinha nada como bons pescadores para serem extremamente supersticiosos. Assim que viram o caixa já pensaram logo que era coisa do demônio.

- Eu não abro essa porcaria nem a pau – Um deles disse.

- Que coisa mais estranha, tchê – Franz avançou e passou a mão em uma camada de lodo e algas marinhas.   Era o único com coragem para tocar na caixa, o único estrangeiro – Se você encontrou este caixão, não abra. Terríveis maldições serão lançadas sobre você e seu povo, jogue-a onde você a encontrou e fuja para o mais longe possível dela – Ele leu porque era o único que falava inglês.

Foi o suficiente. Todos os pescadores se dispersaram e o capitão virou a barca e começou a navegar na direção da ilha Goyang. Iria se livrar daquela coisa estranha o mais rápido que podia, não gostava nada da ideia de ter que segurar uma maldição dentro de seu navio. Não. Já bastava o passado.

 

***

 

O cheiro estava ficando cada vez mais forte.

Os passos do garoto a sua frente eram lentos. Sua respiração estava arrastada e vapor condensado saia de sua boca e nariz. O rapaz estava tão absorto em seus pensamentos que não percebeu que Kai estava lhe seguindo. Ele estava próximo, andando quase em cima dele. O cheiro lhe fazia perder a cabeça, não conseguia nem mesmo pensar em se ocultar na escuridão. Só conseguia pensar em morder aquele garoto.

Não era um garoto, era um rapazote, provavelmente mais velho que ele em idade física, mas era bonito como um garoto. Kai achava que ele era quase tão bonito quanto Luhan... Não, era mais bonito sim. Com toda a certeza. Diferente de Luhan o rapaz tinha corpo de ossos pequenos como de uma garota. Ele olhou para o pescoço pálido e depois para os pulsos brancos. Ele tinha o rosto bem desenhado e lábios carnudos e rosados. O cabelo mais negro que o seu... Como era possível um mortal ser tão bonito?

Os mortais até não podiam ver o que ele via, mas Kai tinha olhos de vampiro, via coisas no garoto que ninguém poderia ver.

Kai caminhou até ficar em frente o garoto e ele finalmente parou de andar, percebendo que estava sendo seguido o tempo todo. O mais baixo olhou para os pés do vampiro e subiu a visão até chegar ao rosto. Os olhos dele estavam vermelhos e ficaram confusos quando tiveram contato com aquele ser tão sobrenatural, pareciam ter perdido completamente a noção do perigo.

O vampiro respirou fundo e abriu a boca em êxtase, seus caninos brancos ficaram completamente a amostra.

Taemin franziu a testa. Estava ficando louco? Viu mesmo o tamanho exorbitante dos dentes dele? Ou era apenas uma ilusão?

- Quem é você? O que quer? – Perguntou com a voz baixa.

- O seu sangue... – Taemin fez careta -... você tem alguma doença? – Taemin ficou aliviado. Estava na cara que aquele doido estava drogado. Estava relaxado como se tivesse fumado muita maconha e respirava fundo como se ainda estivesse cheirando. Teria que dar um jeito de se livrar dele logo.

- Ah... Sim, eu às vezes preciso de doações... – Ele olhou ao redor – eu preciso ir, cara... – Ele começou a andar para frente, mas Kai segurou o seu braço com força – Ei cara, me solta – Falou tentando se soltar, mas logo viu que não seria solto coisa nenhuma. Os olhos daquele cara estavam vermelhos e não eram de maconha não. Eram sobrenaturais mesmo – É sério... Deixei minha prima em casa... Está doente...

- Não quero saber disso... – Kai olhou para o mais baixo diretamente nos olhos -... Quero você. Infelizmente hoje você não vai voltar para casa.

Taemin arregalou os olhos e nem teve tempo de pensar antes que Kai cravejasse os dentes em seu pescoço. Ele gritou alto, a dor era insuportável e não parecia doer somente nele, o vampiro também parecia sentir dor. A sensação que ele sentia era que todo o seu corpo estava sendo queimado por aquele novo líquido, mas a adrenalina descarregada era inacreditável.

Não demorou muito tempo. Taemin não era idiota. Assim que percebeu o que estava acontecendo, e percebeu que o aperto do vampiro já não era tão forte, mordeu o ombro dele com toda força que tinha. Não era muita, mas o vampiro se afastou o empurrando com força.

Assim que caiu no chão Taemin viu o homem moreno vomitar seu sangue escuro no asfalto. Como se seu sangue tivesse feito mal a ele. Tudo estaria bem que ele não tivesse perdendo tanto sangue, podia sentir o sangue jorrando, sua vida sendo levada por aquele líquido precioso. Com toda certeza ia morrer. Sua professora de Biologia sempre dizia que se o sangue saia em jatos é porque atingiu uma veia muito importante. Era o que estava acontecendo.

Viu o homem alto se levantar aos poucos. Praguejando algo sobre alho e se aproximando de si.

Taemin esticou os braços tentando mate-lo afastado, mas não era o suficiente. O vampiro se aproximou se ajoelhou ao seu lado, rasgou sua camisa e segurou se pescoço com as duas mãos, conseguindo até estancar o sangue. Não iria adiantar de muita coisa, porque logo Taemin estava sentindo ele morder seu peitoral esquerdo.

Estaria morto em dois segundos. 


Notas Finais


UUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU ARRASEI NÉ? SEI QUE SIM hahahahaha aguardem o proximo capitulo. <3 Vou responder os comentários com carinho;
Notas:
*Swan Song nessa versão: https://www.youtube.com/watch?v=6tznmOHr2cs


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