História Ácidos e Bases - Perguntas de uma alma perdida

Capitulo 18 - Perguntas de uma alma perdida

Provavelmente aquela noite foi a melhor noite de sono que ele teve em dias. Fazia várias noites que não dormia por causa das atividades noturnas que era obrigado a realizar ao lado de Krystal. Por isso pediu a ela que lhe desse três dias de folga. Não era muito, mas dava para fazer alguma coisa.

Naquele meio tempo já havia conquistado uma candidata para lhe ajudar. Andando dentro daquela cabana ele só tinha certeza de uma coisa.

Não fazia mais nenhuma idéia do que estava fazendo ali.

O que ele faria? Enquanto todos os humanos da ilha morrem sem nem mesmo os médicos poderem fazer alguma coisa o que ele faria? Mataria um ou dois vampiros? Do que isso adiantaria? Nada. Ele estava sozinho em um campo minado, apaixonado e sem agir racionalmente na maior parte do tempo. Precisava de ajuda, precisava muito de alguma ajuda.

Foi quando esses pensamentos desesperados invadiam a sua cabeça que ele escutou a porta bater. Ele franziu a testa e olhou no relógio de pulso. Ainda era muito cedo, o sol nem mesmo havia nascido ainda. Estava perto, mas ainda não, a neve ainda não parava de cair, o que diabos uma pessoa estaria fazendo em um lugar tão frio?

“A não ser que não seja uma pessoa” Ele pensou e caminhou até a porta devagar, olhou pelo olho mágico e viu uma pequena figura tentando se esquentar esfregando as mãos. Ele arqueou a sobrancelha “Que estranho...”

- Quem é?

- Um amigo... – A voz era de garoto, e tremia bastante -... Sou neto de um amigo do seu avô Park. Meu avô disse que provavelmente você estaria aqui... Por favor, me deixe entrar, acho que vou morrer de frio – Chanyeol ainda suspeitava, mas ficou com pena. Ele estava congelando.

Depois que o menino entrou parecendo um cubo de gelo de tanto que estava com frio, Chanyeol cuidou logo em fazer alguma coisa para esquentá-lo, disse que se ele quisesse acender a lareira podia, ele iria fazer o chocolate quente.

Quando voltou com duas xícaras de chocolate quente a lareira já estava acesa e o garoto estava de cócoras, bem próximo do fogo.

- Era bem mais fácil ascender essas coisas antigamente – Ele murmurou ainda tremendo os lábios.

- Ei garoto, se ficar perto do fogo desse jeito vai acabar se queimando – Chanyeol sorriu e colocou as xícaras em cima da mesa. Assim que o garoto viu correu e bebeu dois goles de uma só vez. Chanyeol fez careta e o garoto gritou.

 - Ahhh! Quente, quente – Ele praguejou, mas continuou bebendo – Ahhhh que dor! – Voltou a beber mais um gole.

- Você está com tanta fome assim para se queimar desse jeito? – O garoto assentiu por trás da xícara e Chanyeol ofereceu alguns biscoitos que estavam dentro de um pote e o garoto começou a comer desesperadamente – Você veio de onde para estar tão varado de fome assim?

- De bem longe, é que eu estava procurando a sua casa, e não comi nada a noite toda. Eu não tinha dinheiro... Enfim, estou aqui – Ele deu de ombros e continuou comendo.

- Não sabia que aqui estava no inverno? Essa sua camisa é de manga, mas é malha... Não serve para frio.

- Eu sei. Desculpe, acho que eu vim despreparado. Meu avô não detalhou muito Goyang, não me avisou que estava no inverno e o pior de tudo, eu fui roubado quando cheguei aqui – O garoto fez cara de tristeza.

- Estranho – Chanyeol arqueou a sobrancelha – A criminalidade aqui em Goyang é quase zero por cento.

- É? – O garoto colocou a mão no queixo – Pois então eu devo ser muito azarado.

- Talvez. Pode se apresentar, sou todo ouvidos – Ele sorriu e se acomodou no sofá começando a tomar o seu chocolate.

- Meu nome é Byun Baekhyun. É um prazer imenso conhecê-lo. Meu avô falava imensamente bem de sua família. Eu desejo me tornar membro dos Park – O rapaz se levantou e se curvou em um ângulo de noventa graus.

 Chanyeol ficou parado por alguns minutos até que quando reagiu, foi com um sorriso sádico nos lábios.

- Muito bem, eu realmente cheguei a achar que caçaria esses vampiros sozinho, mas antes que você se torne um membro da caça, eu preciso saber de uma coisa – Chanyeol se levantou e andou até o garoto. Olhou no fundo daqueles olhos miúdos e castanhos – Preciso ter a prova de que você é realmente humano. No passado todos faziam esse teste, pois os vampiros estavam sempre tentando acabar com Chanyeol. Eu preciso ter a prova.

Baekhyun abaixou a cabeça assentindo.

Baekhyun? Não, aquele nome era familiar demais para o seu gosto. Depois que falou, ele jurou ter visto uma gota de suor escorrer pela testa do menor. Ele estava nervoso?

Depois de alguns segundos o garoto sorriu.

- Já sei como provar – Ele parecia mais aliviado – Nenhum tipo de vampiro mantém o coração batendo nem devagar nem na velocidade normal, nenhum deles bate o coração de forma alguma com exceção do lobo que bate o coração um pouco mais lento que o coração de um humano quando está transformado. Tendo isso em mente, vou lhe provar agora que eu sou humano – Baekhyun tirou a camisa listrada, folgada para o seu pequeno tamanho, e mostrou um peitoral franzino e ombros ossudos. Ele era branco, mas tinha marcas levemente avermelhadas por toda a sua pele, e foi então que ele voltou a dizer – Toque no meu peito esquerdo e saberá.

Chanyeol sorriu, ele era esperto. Ele fez o que ele disse sem cerimônias. Apenas se aproximou um pouco mais e colocou a mão no peito morno do rapaz. Cinco segundos bastaram.

- Certo. Você é humano – Baekhyun finalmente conseguiu respirar aliviado – Porque o alívio? Não tinha certeza da sua humanidade?

- É que por um momento achei que meu coração poderia querer me zoar e parar bem na hora que você tocou – Ele limpou a testa suada rindo.

- Não era nem preciso eu ter sentido o seu coração bater para saber que você é humano. Sua pele é quente e corada. A pele dos vampiros é fria e extremamente branca, tem algumas exceções, mas são raras. Geralmente a pele não demonstra presença de sangue e no momento que você tirou a camisa eu vi o seu sangue.

- Então, eu posso entrar para a caça? – Baekhyun perguntou vestindo a camisa.

- Não sei dizer – Chanyeol coçou o queixo e o menino ficou tenso – Me desculpe, eu já confio em você não se preocupe, é que você não tem nem dezesseis anos direito, é pequeno e eu tenho medo do que possa acontecer com você.

- M-mas... Você está duvidando do meu talento? Além de eu ser muito útil para ficar aqui enquanto você faz algo importar, a minha mira no arco e flecha é perfeita. Não sou muito inteligente com estratégias, acabo sendo um pouco lerdo às vezes, mas eu sei que sou capaz de ajudar.

- Muito bem, darei uma chance a você.

Ele não era um vampiro afinal, era apenas um adolescente assustado e como ele mesmo disse azarado. Que tipo de avô levaria o neto a entrar em um grupo tão perigoso?

Ele não iria discutir, conhecia bem como eram os velhos, principalmente aqueles que tinham conhecimento da caça, provavelmente o avô de Baekhyun teria ensinado ele desde pequeno que deveria procurar Chanyeol para matar vampiros. Era bem típico, destino escolhido pelos mais velhos, ele sabia bem como era isso.

- Quando o sol nascer, começaremos alguns treinamentos.

- O sol... – Baekhyun engoliu em seco e olhou para a janela – Parou de nevar e daqui a pouco o sol deverá nascer, será que teria problema se você me levasse para um lugar que eu pudesse ver o nascer do sol... Bem bonito?

- Porque quer isso?

- Onde eu morava o sol estava sempre debaixo de nuvens de chuva – O garoto deu de ombros.

- Okay.

***

- Às vezes eu penso muito, penso bastante. Penso tanto que cansa, mas agora eu não paro de pensar em que tipo merda vocês tinham na cabeça quando resolveram cometer uma atrocidade daquelas. Eu sou o rei claro, e os meus súditos devem conhecer bem as minhas regras – Suho se levantou e começou a andar em círculos, aquilo não deixou só os dois convocados nervosos, mas a rainha também. Krystal que não ligava para as decisões de Suho estava preocupada, ele nunca puxava tanta conversa, sempre ia direto ao ponto – Vamos á elas. Primeiro: todos os Ursos que se prezem sabem que não pode matar humanos sem pedir permissão, acho que todos nós sabemos que estávamos passando uma fase de racionamento de sangue. Os humanos estão morrendo e estamos ficando sem alimento isso é o óbvio, mas não é o suficiente para justificar a minha raiva por vocês terem feito algo assim sem permissão...? Ok. Então eu vou falar a segunda regra... Essa ainda mais séria – Suho parou de andar e olhou nos olhos de Sulli – Nunca em hipótese alguma, alguém do nosso clã deve matar um humano com tendências humanas a ser Urso. E vocês infligiram essas duas regras.

- U-urso? – Os olhos grandes de Kyungsoo ficaram ainda maiores, ele abriu a boca sem saber o que fazer, olhou para a Sulli quase implorando para ela fazer alguma coisa, explicar que os dois não sabiam, mas quando viu o rosto nada abalado da serpente, viu que ela sabia de tudo – Você sabia disso? E não me falou nada!

- Não teria me ajudado se eu dissesse – Sulli deu de ombros – e você Suho, lembra do favor que eu disse que iria cobrar quando eu salvei a sua vida do veneno do Park? – Ela mordeu o lábio inferior sorrindo – Acho que posso pedir para você absorver esta criança – Sulli abraçou Kyungsoo – Ele não teve culpa, não sabia que o garoto era um Urso, disse como ele deveria fazer tudo para me ajudar sabendo que o que Taemin era por isso. É a única coisa que peço.

Suho ficou calado por um tempo. “Porque ela está protegendo Kyungsoo? Deveria estar protegendo a si mesma. Está tão confiante de que eu não irei castigá-la? Ou será que é impetuosidade de serpente? Só porque ela sabe que não pode sentir dor? O quanto é ingênua... Vai acabar morrendo desse jeito, o que eu deveria esperar de uma desalmada?”

- Certo então.  Pode ir Kyungsoo, depois conversaremos, não quero que saia de perto de mim nem por um segundo depois que eu conversar com a senhora Hwa-young. Diga a Lay que vai demorar – O rei cruzou os braços e esperou que o menino saísse. Não demorou muito, ele estava louco para ir embora mesmo – Você me surpreendeu agora.

- Eu iria pedir para transar com você, mas então lembrei que não sentiria nada com isso, e que você se casou, então eu achei que deveria compensar o garoto pela ajuda – Ela deu de ombros e Suho sorriu.

- Você será castigada, e sabe disso, não é?

- Claro que sei, diz logo que eu vou ter que fazer, nada é pior do que eu já não tenha passado.

- Tem certeza? – Suho perguntou rindo, depois gargalhando e colocando a mão no rosto para se acalmar – Tão ingênua. Você não sabe o que os ancestrais fazem com as pessoas para as fazerem sofrer? Pois eu sei, e não é só dor física, se fosse eu não teria me ‘traumatizado’ tanto – Disse colocando aspas no ar – Krystal.

Krystal levantou o olhar e olhou para o marido.

- Eu sei que a vida de rainha é um saco, sei muito bem disso, mas hoje acho que poderei tirar o seu tédio. Castigue Hwa-young – Krystal arqueou a sobrancelha sentindo um pouco de animação escapar pelo cantos de seus lábios através de um sorriso – Sim, ela não poderá reagir porque se trata de um castigo, e como você sabe que Hwa-Young não sente dor, deve ter planejado isso muitas vezes, não é? Quer se vingar... Daquele castigo que eu a mandei dar em você... Não é?

- Sim – Ela falou se levantando da cadeira e caminhando devagar até Sulli – Suho nunca me falou dos castigos que os ancestrais davam para ele de verdade – Ela disse ficando ao lado do rei – mas eu sempre tentei adivinhar o que era – Krystal liberou um sorriso sádico – Já ouviu o ditado ‘a dor está na nossa mente’? A mente é provavelmente a maior arma dos humanos e também o maior ponto fraco. E mesmo que você não tenha alma, existem coisas que ferem você sem você nem perceber.

Sulli riu.

- Você está blefando, nada é capaz de me atingir.

- É mesmo? – Krystal estalou a língua – Eu diria que a morte de Taemin foi algo que atingiu você em cheio. Você não teria ligado para ele, mas seu orgulho foi ferido ao ver que aquele que já te amou estava com os olhos em outra pessoa e te atingiu mais ainda saber que ele era mais bonito que você – Os olhos de Sulli se arregalaram de ódio – Ah sim... Você odiou admitir, mas ele era lindo. Você poderia ter matado Taemin apenas do modo comum, rápido e fácil, mas preferiu destruir a beleza dele primeiro, arrancou os dedos, deformou o rosto e retirou o seu sangue, fez isso e matou dois coelhos numa cajadada só – Krystal riu – Matou aquele que lhe superava e atingiu aquele que a trocou por ele. Eu meio que já escutei essa história em algum lugar, onde foi mesmo? – Ela se perguntou disfarçando estar mesmo em dúvida – Ah, é mesmo. Aquela historinha que os humanos contam para as crianças. A branca de neve – Ela sorriu – eu amo aquela_

- AHHH! – Sulli gritou e tentou atacar Krystal, mas Suho socou o rosto dela antes que ela encostasse o dedo em Krystal – Sua idiota! – Colocou a mão no rosto deformado pelo punho de Suho – Isso apenas me deixou com mais raiva de você, isso não é castigo!

- Não é? – Ela sorriu – E se todos da sede estivessem ouvindo?

Sulli arregalou os olhos não acreditando no que ela dizia, mas podia ser verdade, Krystal tinha um poder estranho de reproduzir cenas ao vivo na cabeça das pessoas. E se ela estava fazendo isso, todos estariam sabendo que ela, a serpente mais bela do mundo, havia perdido para um humano.

- AAAHH EU VOU ACABAR COM VOCÊ! – Sulli tentou avançar, mas Suho a agarrou.

- Você não vai fazer nada. Apenas vai assistir todos rirem de você, isso será o seu castigo, e aliás, Lay vai ficar muito decepcionado! – Suho gritou afastando Sulli de Krystal e a levando para a porta.

- EU VOU ACABAR COM VOCÊ, SUA VADIA! EU VOU DESCOBRIR UM PODRE SEU E VOU TE DESTRUIR! – Suho jogou Hwa-young fora do salão principal e trancou a porta. Ele suspirou e depois sorriu começando a bater palmas.

- Muito bem, você agiu melhor do que eu esperava. Nunca mais tinha usado os seus poderes.

- Não havia tido necessidade – Krystal ajeitou os cabelos – Ela mereceu o meu esforço, doeu como o inferno ter o veneno daquela víbora dentro de mim – Ela arqueou a sobrancelha e olhou para Suho – Ela vai cismar comigo agora, espero que não acredite em qualquer coisa que ela invente.

- Eu sou o rei, sou extremamente justo em meus julgamentos.

Krystal cruzou os braços e permaneceu calada.

- Pobre Taemin – Ela disse depois de algum tempo – Deve ter sofrido muito.

- O pior que ele seria muito importante... Provavelmente ele seria o urso traidor que lutaria ao lado de Sehun, mas agora eu não tenho certeza. Ursos não são nada fáceis de trazer de volta. A raposa tem que ser muito esperta para responder as perguntas.

- Que perguntas?

- Não convém a você saber, nem eu mesmo entendo muito bem.

***

O sol ainda demoraria alguns minutos para nascer quando Baekhyun e Chanyeol chegaram ao famoso penhasco. Ele estava vazio como o esperado, mas o frio atacava o corpo do pequeno por inteiro, ele sentia que iria morrer e que seus ossos iriam derreter – até porque a sensação de congelar era como a de queimar.

O mais novo estava vestido nos casacos que Chanyeol havia lhe emprestado, o que não havia sido uma boa idéia porque eles eram enormes comparados ao seu pequeno tamanho. Apesar de amenizar o frio ele ainda sentia o corpo todo querer tremer como se tivesse dançando uma dança maluca.

- Ainda está com frio? – Chanyeol perguntou e Baekhyun assentiu – É... Não posso morrer de frio por sua causa então, se você desmaiar eu te levo pra casa.

- Nossa... – Ele fez bico -... Você é grosso – Ele riu e se sentou debaixo de uma árvore, se encostou ao tronco e esperou – vou ficar aqui esperando... Espero por isso há muito tempo – Chanyeol olhou para o menino e olhou para ele, ainda estava intrigado. Queria saber de onde conhecia aquele nome, ele era familiar, muito familiar – Não vai sentar? – Ele perguntou e Chanyeol acordou de seus devaneios.

- Vou... – Ele murmurou e se sentou ao lado do garoto sem fazer perguntas. O nascer do sol já estava próximo. As nuvens começam a ficar mais claras no horizonte – Eu tento me lembrar, mas não consigo. Eu acho que me lembro de um nome parecido com o seu, mas não consigo me lembrar de onde.

- Bom... – Baekhyun deu de ombros -... Meu avô foi muito amigo do seu avô, eles traçavam estratégias. Ele disse que ficou perto dele até o dia em que ele descobriu que a sua avó estava grávida do seu pai. Era isso que ele me dizia... Você parece muito com o seu avô só que ele não tinha esse cabelo... – Baekhyun fez uma careta estranha e Chanyeol sorriu.

- Eu descolori e depois platinei.

- Você o quê? Tipo... No cabelo? Como se faz isso? – Chanyeol franziu a testa achando estranho um jovem de quinze anos não saber como se platina um cabelo – Ah desculpe, eu morava em uma cidade pequena.

- Eu acho que você morava no fim do mundo. Porque para não ter sol e você não saber como se platina um cabelo. Você deveria morar dentro do mato...- Chanyeol pensou por alguns segundos – Você sabe o que é google? – Baekhyun engoliu em seco e ficou sem palavras – Wi-fi...? – Baekhyun fez que não com a cabeça – Você por algum acaso sabe o que é internet?

- Parece que está tentando falar grego comigo. Eu não sei do que está falando.

Chanyeol ficou calado por um tempo, era impossível alguém em pelo século XXI não saber o que era internet.

- É como se você tivesse adormecido por anos... – Ele olhou para o garoto com mais atenção, ele ainda estava confuso, mas parecia estar ciente de si, ciente do mundo que estava, era só como se ele estivesse na época errada. Como se ele tivesse vindo de outro espaço de tempo.

“Lobo?” Ele pensou achando pouco provável, o que um lobo iria querer com um amigo de seu avô? Sim, porque se ele era de outra época, provavelmente não era o neto do amigo do avô Park e sim ele próprio em pessoa. E tem mais, lobos são os que mais têm medo de usar o seu poder secreto, um lobo não voltaria no passado para buscar alguém, por nada. Não... Deveria ser outra coisa, o menino podia estar falando a verdade afinal, mas... Não conhecer internet? Quem diabos não conhece internet?

- Byun... – Baekhyun olhou para ele -... Eu só quero lhe pedir uma coisa.

- Pode pedir.

- Quero que seja sincero comigo, em todos os momentos, não minta para mim de jeito nenhum eu estou confiando minha vida a você, qualquer deslize meu e eu estarei assinando o meu atestado de óbito por isso... Não minta para mim, jamais – Baekhyun engoliu em seco e assentiu – Obrigado, confio em você – Ele sorriu e percebeu que o sol já começava a nascer – Ali está o astro rei que você tanto esperava.

“Astro rei? Lembro-me de alguém que o chamava assim” Pensou o garoto sorrindo. Finalmente poderia ver o nascer do sol... Livre. Completamente livre, seria eternamente grato.

“Eternamente grato” Ele pensou e seguiu com os olhos a luz, que aos poucos vinha se aproximando dos dois, em silêncio. O sol quase não emanava calor, a neve disfarçava a sua quentura, mas ele não se importou. Tirou os sapatos antes que o sol chegasse aos seus pés e quando estava chegando sentiu um frio na barriga, um soco no estômago.

Baekhyun sentiu seus pés ficarem mornos, mesmo com tanto gelo no chão, seus pés estavam mornos, era a luz do sol que chegara a eles.

O garoto se levantou, não aguentando de ansiedade e colocou seu corpo inteiro no sol. A luz era insuportável aos olhos, mas ele não podia deixar de olhar, era lindo. Poucos segundos e lágrimas já desciam de seu rosto ele abaixou o olhar sentindo toda a sua vista arder e sorriu, abriu os braços queria sentir aquele calor, aquele calor que ele jamais achou que sentiria de novo.

Riu, e riu mais alto ainda, e quando notou já estava girando em círculos. Era maravilhoso magnífico. Nada na humanidade se comparava a aquilo.

Baekhyun caiu no chão cheio de neve completamente tonto e Chanyeol correu para ajudá-lo. Sangue começou a escorrer do joelho do menino e ele gemeu um pouco.

- Tome cuidado, estava parecendo um retardado girando daquele jeito – Chanyeol tirou um lenço de dentro da mochila, rasgou a calça de Baekhyun onde machucou e amarrou a ferida para que parasse de sangrar.

“Eu estou sangrando... De verdade”

- Parecia que nunca havia visto o nascer do sol, ou melhor, parecia que nunca havia sentido o calor dele.

- Você é esperto, Chanyeol, é por isso que estou ao seu lado – Baekhyun sorriu.

***

Amber acordou passando mal. Mal havia acabado de abrir os olhos quando sentiu embrulho no estômago e correu para o banheiro pra vomitar. Colocou tudo o que tinha comido durante a madrugada depois do enterro para fora. Quando chegou a casa com Kang-woo, estava tonta de tanta fome, comeu coisas demais, talvez fosse por isso. Ela abraçou o próprio corpo e se levantou depois que percebeu que não sentia mais vontade de colocar os bofes pra fora.

A legista se levantou e olhou no espelho, estava horrível. Se os médicos fossem lá com certeza encheriam ela de exame para que ela pudesse sair da ilha caso não estivesse infectada com o vírus. Ela estava parecendo um zumbi, talvez até fosse convidada a fazer testes.

Amber tirou as roupas e ligou a torneira da banheira. Ela estava querendo morrer? Talvez, mas precisava tomar banho, não fazia aquilo já há quase uma semana. O frio era cruel e praticamente não deixava ela fazer algo tão relaxante.

Quando a banheira ficou pronta, com espuma a tudo quanto é direito, Amber entrou na água morrendo, mesmo que ela estivesse morna. Deu gritinhos que se espalharam pela casa enquanto dançava de frio dentro da banheira.

Alguns minutos depois que finalmente conseguiu relaxar na banheira escutou a porta bater.

- Quem é? – Ela perguntou fazendo um moicano com espuma no cabelo.

- Sou eu Amber, quem mais podia ser? – Kang-woo perguntou e aquilo feriu ela por dentro um pouco – Desculpe eu não_

- Entra.

Assim que o garoto entrou deu dois passos para trás e fechou a porta.

- Noona, você está pelada.

- Não estou não, estou debaixo das espumas, não precisa ter vergonha, entra, pode falar – Luhan entrou no banheiro de novo, mas desta vez fez questão de ficar na porta do banheiro – O que foi?

- É que os médicos estão na rua, vamos atender? – Amber ficou pensativa por algum tempo. Não sabia dizer se era uma boa idéia, não sabia mais de nada, só tinham ela e Kang-woo, o mais apropriado mesmo seria ir embora – O que vamos fazer?

- Se arrume, e abra a porta para eles quando eles aparecerem, vamos fazer os exames... E se formos aprovados, iremos embora – Kang-woo ficou pensativo por alguns segundos e depois assentiu – Achou que eu ficaria? – O menino levantou o olhar – Eu pensava em ficar, mas eu não posso, não há mais nada a fazer aqui. Eu sinceramente vou apenas resolver um último assunto e irei com eles... Você ainda não é meu filho, mas é menor de idade, não posso te deixar sozinho. Eu vou te levar comigo, tem alguma objeção?

- Ah... – Luhan mordeu o lábio inferior -... Não.  Eu vou também.

- Muito bem – Ela sorriu – Então vista uma roupa melhor, eu irei terminar o meu banho e receberemos os médicos.

Assim que Luhan saiu do banheiro, Amber saiu da banheira e terminou o banho. Enxugou o cabelo com o secador e se embrulhou em um roupão grosso que estava pendurado no cabide. Quando ela entrou no quarto fez questão de vestir a melhor roupa que tinha, quase não tinha roupas pra falar a verdade, não saia quase nada de casa e o necrotério não era lugar de vestir roupa de festa. Por isso colocou algo até simples.

Quando escutou a campainha tocar colocou o perfume, se embrulhou em um casaco e desceu as escadas rapidamente.

Kang-woo havia acabado de abrir a porta quando ela chegou à sala.

- Bom dia – Amber disse e se curvou rapidamente.

- Bom dia – Um dos médicos falou e se curvou também – Posso entrar? – Amber abriu a porta melhor e ele entrou, pelo visto estava sozinho – Desculpe estar sozinho, eu achei que não morava ninguém nesta casa, viemos ontem e... Enfim. Meu nome é Yifan. Sou especialista em doenças cardiorrespiratórias... Acho que tem algo nos incomodando bastante nesta ilha, não é mesmo? – Amber sorriu assentindo e ele ficou calado por um tempo.

- Ah... Meu nome é Amber Liu e este é Kang-woo. Ele não é nada meu registrado, mas eu cuido dele desde que a mãe dele morreu por conta da praga... Vamos sentar! – Ela guiou o médico e ele sentou no sofá que ficava na frente do sofá que os dois se sentaram – Tem alguma pergunta, ou vai fazer logo os exames.

- Os exames são muito simples, é só uma analise do corpo e irei tirar uma gota de sangue de cada um de vocês e colocar neste aparelho – Ele mostrou um aparelho que se parecia com um termômetro elétrico – Vou colocar a gota de sangue nesta lâmina e ele vai me dizer se o sangue está infectado ou não. Será rápido se colaborarem.

Amber olhou para Kang-woo e sorriu.

- Tudo bem – Ela tirou o casaco e Yifan se preocupou um pouco.  Ela estava muito magra e pálida – Pode começar – O médico se levantou e tirou o estetoscópio do pescoço para colocar nos ouvidos e colocou o auscultador no peito da mais nova.

- Você é anêmica? – Perguntou enquanto ouvia o coração e a respiração da mulher – Respire fundo.

- Não – Ela disse respirando fundo.

- Você está magra para a sua altura e sua pele está amarelada. Isso muito típico de falta de sangue. Tem sentido muito cansaço?

- Sim, mas é porque eu não tenho conseguido manter a comida no meu estômago, eu estou grávida e eu ando muito enjoada – Yifan franziu a testa, ela ainda não tinha barriga devia ser recente. Pegou o aparelho e uma pequena agulha.

- Isso vai doer um pouco, me dê o seu polegar – Amber deu a mão e ele furou a pontinha do dedo até que saísse uma gota de sangue, o suficiente para o aparelho funcionar – E onde está o pai do seu filho? Deve ser recente.

- Sim, é. Ele morreu de praga também. 

- Quantos da sua família morreram?

Amber abaixou os olhos, não podia dizer que Taemin havia morrido de praga, mas talvez fosse melhor do que falar a verdade.

- Três. O meu namorado, meu primo de vinte e três anos e minha prima de onze.

- Isso é muito triste – O aparelho apitou – Você não está infectada, e está realmente grávida. Deve sair da ilha o mais rápido possível, vou providenciar para que você vá o mais rápido possível, o nosso número de carros quarentena ainda são limitados, mas colocarei você como prioridade – Amber assentiu e se curvou em agradecimento – Agora você garoto – Luhan engoliu em seco.

- Ah, poderia não tocar esse negócio em mim? – Ele disse apontando o estetoscópio – É que eu não gosto nada deles. Tenho certeza que com esse aparelho não é obrigatório usar.

- Não é, mas é importante garoto.

- Apenas coloque o aparelho, se ele der alguma coisa, você examina.

Yifan assentiu e pegou o polegar do menino. Tentou não dar muita atenção, mas a pele do garoto era muito fria, não chegava a congelar, mas não era a temperatura normal de um ser humano, ele furou com a agulha e o sangue não saiu. Ele franziu a testa e apertou um pouco mais o dedo do garoto até que com muita dificuldade uma gota saiu e ele colocou na lâmina.

- Eu tenho síndrome de Raynaud  - Ele confessou e o médico tentou se lembrar o que exatamente significava, levou alguns segundos – minhas mãos ficam frias assim quando ocorre mudança brusca de temperatura.

- Entendi – Mesmo assim o resultado do exame foi intrigante. Tão intrigante que ele ficou com um pouco de medo – Está normal. Os dois poderão ir para a quarentena na Coréia do Sul. Basta... Assinarem isso... – Yifan entregou os termos e ficou pensativo.

Quando Kris saiu daquela casa, olhou para ela com a sensação estranha de que as suas suspeitas de que algo sobrenatural estava acontecendo naquela ilha estavam acontecendo aumentar. Era tudo estranho demais, era impossível os melhores médicos da Ásia, estarem ali e não conseguirem resolver nada, mas o que deixou ele assustado mesmo foi o resultado do exame do garoto de mãos frias.

O resultado da garota foi:

“Normal, sem presença de vírus, asma controlada, gestação em andamento”

E o resultado do garoto foi:

“Normal, sem presença de vírus, asma controlada, gestação em andamento”

- É como se ele estivesse com o sangue dela dentro do corpo.  O que diabo está acontecendo?

***

Luhan ficou pensativo depois da visita do médico. Ele com certeza havia percebido, só não havia demonstrado, talvez porque provavelmente estava assustado demais para expor as suas dúvidas. Ele teve sorte, se o médico tivesse feito um escândalo, Amber descobriria que ele era um vampiro e pior, descobriria que Luhan bebia do seu sangue.

Talvez você pense que Luhan fazia isso por maldade, mas a verdade é que encontrar sangue na ilha estava cada vez mais difícil. Sempre que achava ter encontrado um humano com sangue saudável e comestível, ele já estava no seu limite de falta de sangue – provavelmente porque outro vampiro chegou primeiro e o deixou assim – e sem falar que as noites agitadas o deixavam sem tempo para caçar.

Ele só estava tentando sobreviver.

É lógico que ele se sentia culpado quando mordia o pé de Amber enquanto ela dormia, era covarde até, mas precisava. O pé era mais fácil de ela não perceber, Amber dificilmente dava atenção para eles e ele havia percebido isso com o tempo.

Depois que o médico foi embora, Amber se trancou dentro de um quarto e começou roncar. “Ela vai passar o dia inteiro assim” pensou enquanto descia as escadas, pronto para sair e realizar o pedido que Sehun havia feito na noite anterior.

“Quando Sehun colocou Luhan na cama, olhou para ele ainda com aquele olhar cheio de saudade e pena. Luhan revirou os olhos e colocou o braço em cima dos olhos, estava cansado de saber que ele sentia pena. Não precisava daquele olhar.

- O que você quer? Se ainda não foi embora é porque quer alguma coisa. Diz logo, assim eu me livro dessa sua cara de porta.

Sehun riu e se sentou ao lado do garoto birrento.

- Provavelmente Kai irá levar Taemin para ser enterrado no cemitério assim que ele morrer.

- Sim... – Ele queria esquecer que Taemin deveria estar morrendo naquele momento – Mas o que eu tenho a ver com isso?

- Eu não queria trazer Taemin para o mundo dos vampiros sem falar com ele, mas como não consegui salvá-lo vou ser obrigado a fazer isso. Kai não é idiota, ele sabe que preciso de Taemin e a consciência humana dele deve estar clamando para que ele esconda Taemin, para que eu não o encontre e o transforme. Por isso ele, com toda a certeza que eu tenho no meu primeiro filho, vai enterrar Taemin no cemitério e deixar o coveiro de vigia. Ele é muito previsível para mim, o que eu quero que você faça é simples. Durante o dia, peça a ajuda de Minho e desenterrem Taemin sem que Kibum perceba. Pode não parecer, mas Kibum é um humano muito esperto e astuto, ele me lembra de eu mesmo quando era jovem... E se fosse um vampiro, seria uma ótima raposa.

- Pera... Você não está querendo dizer que...

- Sim, Kibum é uma raposa. Eu juro que quase chorei quando percebi isso – Ele pensou por alguns segundos – mentira, mas eu fiquei muito emocionado. Não imaginei que iria encontrar uma raposa nesta ilha, percebi que ela é bem fértil. Raposas são tão raras quanto os ursos. Sabia?

- Sim... Mas você não terminou de falar. Quer que eu leve Taemin para você? Você vai mesmo trazê-lo de volta?

- Você quer o quê? Que eu mate Amber e a traga de volta no lugar dele? Ou prefere que a morte de todas as pessoas da ilha sejam em vão? Porque se esta batalha não acontecer é isso que vai ser, mais de duas mil pessoas mortas ou desabrigadas por nada!

- Tudo bem, pare de falar, eu não gosto nem de pensar nisso... Eu ajudo, mas Sehun... Porque matar tantas pessoas por causa... Daquela mulher?

- Não é só por causa dela – Ele disse irritado por ninguém conseguir entender, nem Luhan que sabia da história – é por causa de todos os vampiros, todas as pessoas! Isso tudo vai acabar! Tudo bem que eu nem mesmo vou receber a glória que mereço quando conseguir, ninguém nem mesmo vai se lembrar de mim, ou nem mesmo saberão que eu existi, mas pelo menos eu vou ter feito o certo. Tirar toda essa minha raça de demônios deste mundo e ainda darei uma nova chance aos justos.

- Do quê está falando?

- Você saberá, na hora certa”

Quando Luhan chegou ao cemitério, a primeira coisa que fez foi procurar por Minho. O garoto estava dormindo e quando Luhan chegou lá, o mais velho teve que fazer um esforço para acordá-lo. Bateu na janela várias vezes e quando ele acordou Luhan fez um gesto para que ele fosse para fora da casa.

- O que foi? – Ele perguntou com a voz baixa, provavelmente porque Kibum ainda estava dormindo.

- Eu preciso que você leve Kibum para um passeio.

- Por quê?

- Eu preciso fazer uma coisa e eu acho que não seria nada interessante que ele visse.

- Okay.

Demorou uma hora até que o cemitério estivesse vazio e pelo que via dos médicos pela cidade, tinha que se apressar. Luhan começou a cavar o mais rápido que pôde, por não poder cansar, terminou em trinta minutos. Quando abriu o caixão teve que parar de respirar.

- Puta que pariu, esse sangue fede ainda mais depois de morto... – Ele ignorou e tirou o corpo de Taemin de dentro do caixão. Com muita dificuldade colocou Taemin em um saco grande de arroz (vazio) e fechou o caixão.

Depois fez tudo de novo ao contrário, colocou o caixão de volta no lugar e colocou toda a areia de volta em seu devido lugar. Quando acabou percebeu que Minho e Kibum estava voltando e se apressou, pegou o saco e saiu correndo pela flores com sua velocidade e agilidade de vampiro, não demoraria até que chegasse lá.

Quando Luhan chegou à sede, ainda estava muito longe do sol se por, por isso ele andou até o quarto de Sehun e colocou o corpo de Taemin deitado ao lado do caixão negro do mais velho. Luhan não se prolongou, não tinha o que fazer em um lugar onde só se encontravam vampiros adormecidos.

Ao voltar pelo salão da casa viu o retrato da mulher e sorriu.

- Como vai Kristin? Ainda planejando maldades? – Ele disse andando de costas até a porta, depois se virou.

***

Sehun não esperava que Luhan lhe obedecesse logo de cara, provavelmente ele havia feito aquilo porque queria devolver o favor de salvar a sua vida... Se bem que nem era um favor, era uma desgraça, Luhan sempre dizia aquilo para ele, mas não importava. Importava para ele que o corpo do garoto estava ao lado do seu caixão pronto para voltar.

Quando deram mais de sete horas da noite, Sehun colocou Taemin no colo e o jogou em cima de sua cama. Ele não a usava, mas percebeu que era necessário ter uma cama de vez em quando.

Apesar de estar com o rosto deformado por conta da surra que levou e por que o corpo já estava começando a se decompor, Sehun ainda tinha que admitir que ele era uma beleza rara.

- Você deve ter deixado Sulli muito puta de raiva, não foi? – Ele sorriu e se sentou ao lado dele na cama.

Sehun observou Taemin por alguns segundos usando seus olhos de raposa. No primeiro momento o que lhe surpreendeu foi o fato da alma do garoto não estar tão distante. Pra falar a verdade, ela estava muito próxima, e isso intrigou Sehun.

A raposa se levantou e se acocorou para que ficasse com os lábios na altura do ouvido do rapaz. Fechou os olhos e tentou enxergar onde Taemin estava. Não era fácil, ele estava muito perto, mas também estava muito escondido, era quase como se a alma dele estivesse invisível, ou perdida.

“Onde você está...” Ele pensou enquanto procurava.

Sehun abriu os olhos e se aproximou um pouco mais do ouvido do menor. Começou a sussurrar em um som quase inaudível:

- Hanaganimautiasari. Elatiraprajukisu. Muatianyoumuntuo. Gamatuieoaku.

O garoto não acordou. E não era essa a intenção de Sehun, a entenção dele era achar Taemin primeiro, para depois chamá-lo de volta. Conseguiu alcançar seu objetivo, quando fechou os olhos de novo, conseguiu ver a alma de Taemin.

O lugar era infinitamente branco e para ver tudo bastava que ele fechasse os olhos. Ele estava entrando exatamente no lugar em que Taemin estava. O garoto estava acocorado cuidado das únicas flores que se destacavam naquele lugar infinitamente branco. Ele parecia impressionado com elas, tocando-as como se elas fossem algo que merecesse ser investigado. Vez ou outra ele soltava um sorriso, mas não parecia estar feliz.

Sehun foi caminhando até ele devagar, tentando observar as ações dele antes que começasse a falar com ele “Não existe alma mais difícil de trazer de volta do que a de um urso” Ele havia escutado aquela frase na primeira e única vez que fracassou ao tentar trazer de volta uma alma. “As perguntas, você tem que estar preparado para elas, almas de ursos já são pré-preparadas para receberem a proposta, é como um cofre que prepara uma senha de segurança máxima quando já sabe que o ladrão virá tentar lhe roubar” Ele respirou fundo, precisava ter tudo aquilo em mente se quisesse sair vitorioso.

- Belas rosas, Taemin – Sehun falou e Taemin olhou para ele com o dedo indicador dentro da boca, ele estava com uma expressão diferente, como se estivesse pensando profundamente em outras coisas enquanto Sehun tentava falar com ele – Você está cuidando delas?

- Não. Porque eu cuidaria de rosas depois e morrer? – A alma de Taemin respondeu – Isso é tão entediante, eu gostaria de ter atravessado a ponte, mas algo me impediu, eu não consegui seguir a minha família... Algo me impediu, só gostaria e saber o quê.

- Você acha que deixou assuntos inacabados na terra?

- Os únicos que não deixam assuntos inacabados na terra são aqueles que morrem no fim da vida, na velhice... Quando já estão cansados demais para continuar, eu morri de repente, é lógico que deixei assuntos inacabados – Taemin voltou a acariciar as rosas vermelhas.

- E você quer voltar para acabar com eles? – O garoto parou de se mexer – Vampiros são imortais, mas podem ser mortos, você pode voltar apenas para terminar o que começou e poderá fazer de uma forma que nunca imaginou. Eu posso levar você de volta.

- Você está tentando me corromper – Desta vez era a alma de Taemin que falava, e Sehun sentia isso – quer macular a minha pureza, eu não posso permitir.

- Eu só quero que não fique aqui para sempre remoendo as suas mágoas, se não resolver os seus assuntos, não vai conseguir atravessar a ponte e então ficará aqui pelo resto a eternidade.

- Eternidade parece ser muito tempo.

- Sim.

- Durante os meus últimos dias de vida, eu me perguntei várias coisas que não tive respostas, se você responder, talvez eu volte com você – Sehun se preparou, precisava ser mais esperto que a alma de Taemin.

- Pode perguntar – Sehun esperou e Taemin se levantou para ficar de frente para ele.

- Porque vejo flocos de neve quando estou quase adormecendo? – Ele inclinou a cabeça e esperou. Sehun não precisou pensar muito para responder.

- Porque são eles que purificam a sua mente e alma enquanto você dorme.

- O que é mais frio e delicado do que a neve? – Uma pergunta um pouco mais difícil, mas já haviam feito aquela pergunta em um momento de sua vida.

- A pureza e a castidade.

- Porque uma bola de neve cresce tão rápido? – A pergunta mais fácil.

- Porque você a deixou crescer.

- Porque a neve é tão cruel e mata as flores?

Desta vez ele precisou pensar com mais calma. A expressão do espectro do garoto estava séria e por um momento achou que estava indo mal com as perguntas, não poderia dar a primeira resposta que viesse em sua mente. Precisou pensar por quase um minuto.

- A neve e as tempestades matam as flores, mas nada podem contra as sementes – Assim que Sehun recitou a última resposta Taemin sorriu – Você virá comigo?

- Bom... Agora que eu tenho as respostas, posso finalmente atravessar a ponte, lá do outro lado onde estão a minha família... Mas eu ainda sinto que tenho algo a fazer, sinto que tenho muitas coisas a resolver lá em baixo, pessoas a proteger e situações para terminar. Eu vou com você sim, você respondeu as minhas perguntas, é o mínimo que eu posso fazer.

- Então vamos.

Quando Sehun abriu os olhos, o corpo de Taemin ainda estava do mesmo jeito, mas aos poucos o corpo do garoto começou a perder a flacidez, a pele se tornou ainda mais branca e todas as aberturas que tinham na pele começaram a se fechar.

Sehun viu com seus próprios olhos o cabelo e Taemin ficar branco fio por fio. O preto se descolorindo e se transformando em branco. Todas as poucas imperfeições que Taemin tinha foram corrigidas e em pouco tempo os olhos dele começaram se mexer.

Taemin abriu os olhos e se sentou sobressaltado.

- AAAHH! ONDE EU ESTOU?! – Gritou olhando para todos os lados.