História Ácidos e Bases - Punição e Rejeição

Capitulo 11  - Punição e Rejeição

Todos os Ursos estavam fazendo suas atividades noturnas comuns, o que sempre faziam. Alguns treinando, outros caçando, trabalhando e assim ia. Para manter a sede em pé era preciso de dinheiro, mesmo que pudesse só pegar o dinheiro, preferiam evitar o caos.

Nenhum deles fazia ideia do que estava acontecendo, mas isso acabou no momento que Suho perdeu a consciência.

A sirene ensurdecedora da sede começou a tocar, e todos ergueram a cabeça assustados, se a sirene estava tocando só podia significar uma única coisa: O rei estava em perigo. Apenas os ancestrais tinham acesso a essa sirene e em menos de três segundos a cede virou um caos total. Todos procurando pela majestade.

Os guardas que ficaram ao longe observando Krystal e Suho, não acreditaram em como podia aquela flecha daquele tamanho ter sido atirada sem que eles percebessem, o susto foi tanto que o choque durou quase um minuto.

- Sinalizador porra! – Um deles disse e o outro pegou o sinalizador desajeitadamente para avisar aos outros da cede onde o rei se encontrava.

Os guardas correram até o corpo imóvel do rei e viram lágrimas cristalinas descerem do rosto da futura rainha, aquilo era um momento raro, ela chorando de joelhos ao lado dele, deixou os dois ainda mais chocados, mas não sabiam se ela estava chorando por causa do rei ou por causa de quem atirou. Era muito difícil acreditar na compaixão de Krystal por Suho, ela o odiava e todos sabiam disso, só não é um assunto que se comenta.

- M-m-majestade... Viu quem atirou? – O guarda gaguejou e ela negou com a cabeça ainda assustada demais para falar – Vamos levá-lo para a sede, uma hora dessa todos já devem estar sabendo – O guarda colocou Suho nos ombros e o levou correndo para a sede.

- Vamos majestade – O outro guarda disse pegando na mão de Krystal – Sei que não faz sentido eu desconfiar de você, mas isso não vai ficar barato, as ancestrais vão querer saber quem é o culpado e vão perguntar a você. Melhor irmos logo... – Ela assentiu e deixou que o mais velho lhe ajudasse a ir para a sede.

Ao mesmo tempo que Suho era levado para a sede da tribo Urso, Chanyeol corria pela floresta sem saber o que fazer. Havia feito uma merda muito grande e tudo por impulso. Ela era uma vampira, e estava beijando seu noivo, hora o que ele esperaria? Que ela deixasse de beijar o cara só porque um humano a beijou? Não fazia sentido na cabeça dele, mas ele também não queria aceitar, estava com raiva, mas ao mesmo tempo não queria ter atirado no vampiro, nem sabia quem ele era, podia muito bem estar matando um futuro aliado, os caçadores viveram séculos graças á aliados vampiros que queriam vingança e faziam alianças com os Park.

Ele parou de correr quando pensou melhor, mordeu o lábio inferior e soltou um grito descontrolado. Era apenas um grito de quem estava perdido demais e não sabia o que fazer. Chanyeol procurou recuperar o fôlego primeiro.

- Porque diabos estou assim? Só conheço essa garota a uma semana. Merda! – Ele jogou o arco no chão e correu de volta para o lugar onde atirou.

Krystal era uma vampira, esse fato não queria deixar a cabeça dele. Ele estava cometendo um erro que nenhum caçador em toda a história se deixou cometer. Nem mesmo seu bisavô que se apaixonara por uma Fênix deixou que ela lhe controlasse. Matou-a sem piedade. Ele estava se envolvendo demais, precisava dar um jeito de concertar a merda que tinha feito, pedir explicações a vampira – o que podia ser perigoso – e descobrir como se infiltrar na sede dos ursos.

Quando ele chegou ao lugar que havia atirado, o vampiro não estava mais lá e Krystal já começava a ir embora com um outro vampiro vestido de preto e cheio de armas nas costas. Chanyeol esperou eles ficarem em uma distancia boa para depois começar a segui-los. A floresta não era mistério para ele, não teve dificuldades para segui-los, assim que viu eles se aproximarem de um muro cinza e alto parou de segui-los e se escondeu de trás de uma árvore.

Uma sirene ensurdecedora não parava de tocar e ela podia ser ouvida desde muito longe. Ele teve que tampar os ouvidos para suportar melhor e ficar observando os vampiros entrarem. Assim que os guardas bateram na campainha as portas grandes se abriram, a sirene parou de tocar assim que o vampiro desacordado ultrapassou o portão.

Chanyeol não precisava ser um Park para entender que aquele era um líder... E como no clã dos Ursos não existia líder e sim um Rei, ele havia se metido com a futura rainha do clã Urso e isso o deixou ainda mais nervoso, podia sentir até os pelos que não tinha se arrepiarem.

Ele ficou ali parado pensando em um jeito de entrar naquele lugar sem ser percebido pelos Ursos, imaginava que um humano entrar lá e sair vivo seria um feito histórico. Pensou por vários minutos até que tomou uma conclusão, precisava voltar para casa e preparar o seu disfarce, se sua aparência não fosse tão parecida com a do avô seria fácil entrar lá dentro, mas como a aparência era quase a mesma resolveu correr para o seu carro e voltar para casa, onde se prepararia para se arriscar a morte.

Quando Suho foi colocado na cama dentro de seus aposentos o nervosismo só não aumentou mais do que na hora que a primeira líder subsequente entrou dentro dele com seus saltos barulhentos e corpo delineado extremamente rígido e marrento. O rosto daquela mulher fazia qualquer vampiro comum urinar nas calças de medo.

Victoria quase nunca aparecia para colocar ordem em alguma coisa, afinal, ninguém gostava de vê-la colocando ordem em alguma coisa já que ela era extremamente rígida e amedrontadora, só aparecia quando as coisas estavam ruins para o lado do rei e o conselheiro dele não estava presente, que seria Kyungsoo.

Assim que ela entrou no quarto todos ficaram em silêncio, Krystal podia jurar que estava suando frio, mesmo que isso fosse quase impossível. Tudo o que podiam ouvir era o barulho do chicote da mais velha de todo o clã Urso arrastando no chão até que ela chegasse bem perto do rei.

- Sabiam que eu tenho mais o que fazer? – Perguntou com a voz baixa e calma, quando todos pensaram em relaxar ela gritou: - QUE TIPO DE VERMES VOCÊS PENSAM QUE SÃO PARA DEIXAR ALGO ASSIM ACONTECER PARA O NOSSO REI?! BANDO DE INÚTEIS! – Cuspiu as palavras em cima dos guardas que ela mesma havia treinado – TENHO VERGONHA DE VOCÊS! E VOCÊ? – Gritou apontando o chicote para Krystal – O que estava fazendo para não perceber alguém se aproximando do nosso rei!

Todos permaneceram calados por vários segundos amedrontadores, alguns ursos estavam a ponto de chorar gelo de tão envergonhados e humilhados.

- O QUE PENSAM QUE ESTÃO FAZENDO?! CHAME A HWA YOUNG AQUI! – Todos os guardas começaram a se mexer a o mesmo tempo.

Assim que todos saíram, Victoria suspirou e colocou o cabelo que havia caído em seu olho atrás da orelha, seu coque apertado a deixava com uma expressão ainda mais séria e rígida, suas mãos estavam tremendo de raiva, como odiava ter que resolver alguma coisa por conta própria... Ela olhou para Krystal semicerrando os olhos e caminhou até ela devagar. Só pelo fato da futura rainha estar tremendo, ela já podia entender que ela tinha alguma coisa com aquilo.

- É impressionante essa sua habilidade de ter expressões humanas tão fortes... Você está amedrontada... Com a face de uma culpada completa. Desde que me entendo por uma vampira útil, trabalho com humanos e desde que me mudei para cá trabalho naquele necrotério como uma simples zeladora... Mas sabe que eu observo tudo, todas as expressões, todas as dores da perda de uma pessoa importante... Todas as faces que se sentem culpadas pelo ocorrido... E você está fazendo uma delas! – Victoria agarrou o braço de Krystal e a levantou da cama, lágrimas começaram a descer pelo rosto da mais nova sem que ela percebesse – Eu não sou tão boazinha quanto Suho... Hoje você vai se ver com os ancestrais, não com a Sulli.

O desespero cresceu dentro de Krystal quando a mais velha começou a lhe puxar para fora do quarto, imaginou a dor que sentiu quando foi punida por Sulli e simplesmente não conseguiu imaginar o que os ancestrais seriam capazes de fazer com ela. Ela se desesperou e começou a puxar Victoria para que lhe soltasse.

- Espera! Espera! – Disse desesperada – Eu digo a você, digo tudo! Mas não me faça ir até lá! Eu juro que já estava aprendendo a lição e que nada disso foi planejado! Eu falo tudo, tudo... Mas não me leve pra lá! – Disse puxando a camiseta de Victoria, só assim ela parou de andar e a soltou com tanta força que Krystal caiu no chão de joelhos. Krystal olhou para a mais velha com os olhos cheios de desespero.

- Comece a falar antes que eu mude de ideia.

Krystal começou a tremer os lábios e demorou pouco para que lágrimas começassem a escorrer.

Hwa Young entrou sem bater e isso deixou Victoria furiosa, mas não se viu na obrigação de punir a serpente porque ela era uma desalmada que era a única que podia salvar o rei naquele momento. Lay entrou logo atrás dela e ficou tenso assim que viu Krystal chorando ajoelhada.

- Noona... – Lay tentou falar, mas Victoria levantou a mão para que ele parasse de falar.

- Segure essa inútil para que ela não saia, tenho coisas a resolver com ela ainda, e você – Apontou para Hwa Young – preciso que fale se o rei ainda tem esperanças.

Sulli olhou para Krystal e sorriu sadicamente, adorava ver aquela criatura sofrer, mas naquele momento tinha algo ainda mais interessante para fazer. Assim que a primeira líder subsequente saiu de sua frente, ela andou com seu salto ainda mais fino que o da outra para perto da cama e que Suho estava deitado.

A flecha estava dolorosamente cravada no coração do rei e isso já fez as esperanças de Hwa Young caírem 50%. Assim que ela se sentou do lado do rei tratou de tirar a flecha. Quando arrancou ouviu um gemido vindo do mais velho que já estava ficando mais branco que a neve, com todas as veias aparentes e os caninos para fora tentando se alimentar de algo que não existia.

Sulli tocou a ponta da flecha com o dedo e depois o lambeu. Sentiu o ácido que ela mesmo portava querer lhe corroer a boca e sentiu também uma sensação estranha provocada por algo que ela não conhecia. Ela colocou a flecha em cima da cabeceira da cama e andou até Victoria novamente.

- Já terminei.

- Como assim já terminou?! – Disse já se irritando – Não está vendo que ele está morrendo?

- Sim, é exatamente por isso que não há nada a fazer – Todos arregalaram os olhos – Eu sei que pode parecer algo assustador, mas eu sei do que eu estou falando. Havia veneno nessa flecha, veneno de serpente e alguns ingredientes a mais, tomaram o cuidado de flechar no coração e isso pode fazer com que o sangue puro da nossa majestade não seja capaz de absorver o veneno assim como o de nossa querida amiga aqui fez – Ela apontou para Krystal com a cabeça, ela viu que a chorona começava a ficar ainda mais desesperada – Não posso fazer nada. Devemos apenas esperar.

Victoria se aproximou de Sulli de forma ameaçadora, segurou o próprio chicote com força e encarou os olhos da serpente bem de perto.

- Deve haver algum outro jeito e você sabe.

- Até tem, mas... – Ela deu de ombros -... Eu teria que pedir permissão para ele. É algo que não deve ser feito sem que a pessoa conceda.

- Então peça a permissão, não importa o que tenha que fazer, estamos em vésperas de guerra, não podemos ficar sem nosso líder. Ainda não há sucessor – Victoria olhou para Krystal com desprezo.

Sulli suspirou.

- Me deixe sozinha com ele.

- Fique esperando por ela Lay – Lay se curvou concordando e Victoria pegou o braço de Krystal – Agora nós duas vamos descobrir o que aconteceu de verdade. Não é? – E primeira líder subsequente levou a futura rainha para fora do quarto. Lay olhou para Sulli fazendo um pedido silencioso para que ela salvasse seu rei e depois saiu.

Sulli retirou suas roupas. Ficou apenas de lingerie e espartilho, se desfez até mesmo de seus saltos. Soltou os cabelos e pegou a adaga que ficava presa no elástico de sua meia calça. Ela andou até a cama novamente e se sentou em cima do rei, podia até mesmo sentir o membro adormecido do mais velho abaixo de sua intimidade, mas procurou não se preocupar com isso. Ela percebeu que Suho já havia acordado, mesmo que muito fraco e quase inconsciente ele conseguia abrir um pouco os olhos e olhar para ela. Ela sorriu com seus dentes brancos perfeitos e lambeu a ponta da faca.

- Só existe uma maneira de salvar você, majestade – Ela olhou para a ponta de sua adaga e depois para os olhos azuis-gelo do vampiro – mas eu não faço esse tipo de serviço de graça. Preciso saber se está disposto a me dar o que eu quero – Suho conseguiu apertar a mão de Sulli em resposta – Muito bem, mas quando eu disse que precisava de uma permissão para fazer o que vou fazer, eu não estava mentindo. A dor é quase insuportável.

- F-faça logo sua vadia, estou morrendo – Ele murmurou com os dentes cerrados.

- Já deve saber o que eu quero como recompensa – Ela disse rasgando um pedaço do lençol e amordaçando a boca de Suho com ele – Talvez isso não adiante de muita coisa, mas eu creio que isso vá doer quase tanto quanto a dor de um parto... – Ela riu e rasgou a camisa de Suho – Conte até dez.

Suho estava amordaçado, o som não saia claramente, mas os murmúrios podiam esboçar a contagem claramente. No Um Sulli terminou de tirar a camisa de Suho. No Dois ela marcou com seu sangue um X no peito esquerdo do mais velho. No Três ela colocou a ponta da adaga no meio desse X. No Quatro, Sulli perfurou o peito de Suho com a adaga e este gritou. No Cinco, ela abriu o peito de Suho fazendo uma reta paralela ao X. No Seis, Suho quase não conseguia pensar direito em como estava conseguindo contar, mesmo que só na mente, mas pode sentir Sulli rasgando sua pele e abrindo o seu peito com vontade. No Sete, Sulli colocou a cabeça no buraco do peito do rei e retirou os resquícios da flecha que ali ainda residiam. No Oito, ela mordeu o coração de Suho e isso fez ele achar que finalmente iria morrer, mesmo que o coração estivesse parado, ainda era um símbolo de fraqueza. No Nove, Sulli começou a sugar o veneno de dentro de Suho, No Dez, ela tirou a mordaça da boca de Suho com a mão livre e o fez morder seu braço que estava cheio de sangue de crianças consumido mais cedo daquele dia.

Suho agarrou o braço de Sulli com força, o sangue estava sumindo de seu corpo, assim como o veneno, se ele não bebesse algo morreria mais rápido do que se tivesse com o veneno no corpo.

Quando e sede cessou Suho soltou o braço de Sulli e olhou para o teto estagnado. Ele tinha escutado, não estava ficando louco, escutou aquele nome maldito com todas as letras... Tentou pensar naquilo melhor, mas seu cérebro não queria funcionar e quando funcionava começava a doer. 

- Quando você estiver recuperado, eu venho buscar a minha recompensa – Sulli conseguiu sorrir mesmo estando cansada. Saiu de cima do rei que ainda estava com o peito aberto, começando a iniciar a fase de cicatrização dos órgãos para depois renovar os tecidos e fechar a pele – Tenho certeza que esse processo de cura não durará mais que uma hora – Ela disse vestindo a roupa novamente.

- Impossível... – Victoria não conseguia mover um músculo depois da confissão da futura rainha – Você é a pior pessoa que os ancestrais poderiam ter escolhido para ser rainha... Você já deveria estar morta! Que tipo de idiota você é para se meter com um Park? Se eu conto isso para os ancestrais você estará morta.

- Eu sei que não mereço a piedade que você nem mesmo tem, mas eu realmente me arrependo muito de ter tentado lidar com ele sozinha. Parece que apesar dele estar sozinho, é mais inteligente do que eu pensava... Pensei mesmo em falar com o Suho sobre ele.

- Você é uma burra. Porque acha que temos tanto ódio desses vermes? – Victoria respirou fundo e chicotou o chão com força, fazendo Krystal levantar os ombros em um susto – Hoje eu vou perdoar você, vou deixar que o próprio Suho decida o que fazer com você, mas eu não vou deixar de puni-la.

Krystal engoliu em seco.

- O que vai fazer? – Os olhos curiosos da futura rainha encararam a face rígida da anfitriã.

- Tire as roupas.

Chanyeol nunca esteve com tanto medo em toda sua vida. Sentia suas mãos tremerem com facilidade e não parava de engolir em seco pensando que estaria morto no segundo seguinte. Colocou as mãos nos bolsos e tentou agir naturalmente, como um vampiro Urso. Entrar na sede havia sido fácil, os guardas estavam loucos dentro dela tentando dar um jeito no rei que estava ferido, ficar lá dentro como se nada tivesse acontecendo era que era difícil.

Apesar de querer mesmo saber a verdade, e saber o tamanho da merda que havia feito, havia sido doloroso descolorir o cabelo. Quase todos os vampiros Ursos tinham essa característica, cabelos brancos como a neve. Okay, o dele não havia ficado tão branco assim, mas dava para disfarçar.

A cede era como uma penitenciária por fora, e um real castelo de gelo por dentro, todas as paredes de gelo, o castelo ao redor de um corredor alto com tetos arqueados cheios de estalactites de gelo. As portas eram duas vezes mais altas que Chanyeol e todas elas tinham imagens de anjos e demônios esculpidas por toda parte.

Os vampiros da tribo Urso estava tensos, corriam de um lado para o outro e nem mesmo notavam a presença dele. Isso era bom por ele não poder ser notado e ruim porque significava que a merda que ele tinha feito era maior do que ele pensava.

Chanyeol estava congelando e já podia sentir que seria pego por estar usando roupas de frio, sendo que um vampiro Urso nunca sentia frio.

Foi quando estava assim, inseguro, morrendo de frio e medo, que ele esbarrou em uma vampira fria como o gelo.

Quando os olhos dele encontraram os da mulher de saltos assassinos ele procurou esconder o medo no seu olhar, pelo menos era uma das coisas que sabia fazer bem. Disfarçar o medo.

- Quem é você? – Ela perguntou olhando para ele de cima a baixo – Eu nunca tinha te visto aqui – Ela inclinou a cabeça.

Chanyeol falou a primeira coisa que lhe veio em mente.

- Você é linda – Ele sorriu maroto e Sulli arqueou a sobrancelha se sentindo lisonjeada.

- Não precisa dizer – Ela sorriu fingindo ser humilde – Eu sei que sou bonita. Fale uma novidade. Está procurando alguma coisa?

- Na verdade eu estou procurando a rainha, ela tinha pedido para eu fazer uma bebida especial para ela.

- Ah você deve ser o cara que faz os vinhos dela... – Sulli revirou os olhos -... Não entendo o que ela vê de tão especial no vinho, não tem gosto de quase nada – Ela suspirou – Você deve ter ouvido a sirene_

- Sim... – Chanyeol abaixou a cabeça fingindo preocupação -... Espero que o nosso líder esteja bem.

- Então, eu acho que Krystal deve estar em um acerto de contas com a primeira líder subsequente agora. Você vai ter que esperar um pouco, e talvez quando ela sair não esteja em muitas condições de te receber – Ela riu maleficamente e saiu andando sem dar mais nenhuma palavra com Chanyeol. O caçador engoliu em seco ao pensar em Krystal sendo castigada.

Não caminhou mais do que um minuto depois disso.

Ele viu um vampiro de cabelos brancos levar uma mulher nua toda machucada nos braços, ele franziu a testa e tentou estreitar os olhos para ver quem era, não foi preciso se esforçar muito para descobrir que era Krystal. O vampiro levava ela para dentro de um corredor no interior do castelo. Chanyeol o seguiu mantendo distância e correu para ficar mais próximo, conseguindo se esconder dos guardas que ainda conseguiam ficar de olho mesmo estando nervosos.

Lay colocou Krystal delicadamente na cama e olhou o corpo da mais nova de cima a baixo. O corpo da futura rainha estava cheio de feridas que tentavam se fechar após serem reabertas várias vezes pelo chicote de Victoria. O sangue cobria a pele pálida que ele tanto admirava, mesmo machucada daquela forma, Lay ainda desejava Krystal. O fato dela ter sido escolhida pelos ancestrais para ser a rainha mudou todo o caminho deles.

Lay se lembrava muito bem do dia que pediu a mão de Krystal em casamento aos pais dela. Ela estava prestes a aceitar quando Suho invadiu o apartamento dando a grande notícia.

- Você deveria ser minha... – Lay beijou a testa da mais nova e sorriu cobrindo o corpo da mais velha com o edredom – Tenha bons sonhos, e tente não fazer mais nenhuma burrada. Vai acabar morrendo se continuar burlando as regras dessa forma.

Assim que Lay se virou para sair deu de cara com um garoto jovem. Ele carregava uma maleta de primeiros socorros e parecia ser alguém que ele nunca tinha visto. Lay franziu a testa.

- Quem é você?

- Harry, senhor – Ele se curvou – Eu vim aqui para cuidar da rainha – O garoto fez pose de soldado e Lay sorriu.

- Crianças... – Revirou os olhos -... Você sabe que ela vai se curar sozinha, não tem muito que fazer.

- Tem sim, senhor. Tenho que limpar a pele dela.

- Não está tentando ver a rainha nua, está? – Lay viu uma vermelhidão aparecer no rosto do garoto e isso o deixou de orelha em pé, mas logo desapareceu.

- Não! – Ele negou ficando nervoso e se curvando como se já tivesse tentado ver a princesa nua e fosse totalmente culpado – Eu só quero ajudar.

- Certo... Mas você sabe a punição de tentar ter relações sexuais com a rainha... – Lay fez sinal de enforcamento -... Apedrejamento para humanos e guilhotina de prata para os Ursos – Lay piscou o olho e começou a andar para fora do quarto.

Chanyeol engoliu em seco assim que o vampiro passou por ele. Ainda bem que havia colocado maquiagem, se não o outro teria percebido que era um humano, vampiros não coram. Assim que ouviu a porta bater Chanyeol se ajoelhou exausto de se disfarçar, queria sair correndo pelado de tão agoniado que estava. Ele tentou se controlar nos primeiros segundos e então finalmente resolveu ir até Krystal.

Ela estava de olhos fechados, as feridas profundas se curando aos poucos, o sangue ainda escorrendo e manchando sua pele branca, seus lábios vermelhos e o cabelo brilhando como metal. 

- C-chanyeol...? – Ela sussurrou com a voz quase inaudível. Ele arregalou os olhos sem acreditar que ela estava mesmo sabendo que ele estava ali – Eu sei... Sei que é você... Eu sinto o seu calor... – A vampira estendeu a mão com dificuldade – Você... Quer morrer...? Fica... Fica aqui... Comigo...– Lágrimas cristalinas desceram dos olhos quase fechados da mais velha.

Mesmo tendo consciência do que Krystal era, a ação de Chanyeol foi involuntária. Ele apertou a mão gélida da mulher e se ajoelhou ao seu lado.

- Temos muito que conversar – Ele disse em tom sério.

***

Ainda estava longe do nascer do sol, era a única coisa que dava segurança a Kai para ele ficar deitado em cima do telhado da casa de Taemin ao lado de Luhan. Os dois olharam para as estrelas por pelo menos meia hora em completo silêncio. O moreno não reclamava, gostava do vento frio da noite de outono e do cheirinho de inverno se aproximando no ar. Não era preciso falar nada apenas deitar e respirar – um hábito humano que não deixava de ser tranquilizador.

- Taemin estava certo, afinal de contas, você gostava de mim – Kai não estava se gabando, realmente era algo que ele não se agradava muito.

- Somente um jumento como você para não perceber. E sim Taemin estava certo, gostava, do verbo não gosto mais. Não do jeito que você acha que ainda gosto – Kai olhou para Luhan com as sobrancelhas arqueadas. Luhan sorriu ainda olhando para as estrelas – quando a gente passa muito tempo gostando de alguém acaba criando expectativas e curiosidade de saber como seria um beijo com ela... Como teria sido uma vida inteira se essa pessoa tivesse fornecido uma oportunidade... Quando você me beijou dentro do quarto tive que me segurar muito para não reagir, fiquei surpreso pra falar a verdade, não esperava que depois de tanto tempo eu ganharia o meu tão sonhado beijo. Esperei tempo demais, achei que você usaria a sua inteligência para me descobrir.

- Não gosta mais... – Kai sorriu contente e Luhan soltou uma risadinha.

- Por causa da minha paixão por você eu fiz muitas coisas que não deveria ter feito... Coisas que em minha sanidade jamais ousaria fazer, até Sehun sabia que eu passava dos limites por sua causa, mas agora é diferente...

- Que tipo de coisas? – Kai estava curioso, não conseguia imaginar Luhan fazendo algo de ruim.

- Um dia você vai saber – Ele cruzou os braços e fechou os olhos – Quando eu conheci Josephine tudo mudou – Confessou – A verdade é que todo esse disfarce é por causa dela. Quando a mulher que me chamou de Kang-woo apareceu naquela praia dizendo que eu era o filho dela que havia morrido, eu planejei deixá-la feliz por um tempo, ela estava louca, eu queria me sentir um pouco humano e ela queria um filho, parecia um bom trato, mas foi quando eu conheci Josephine que resolvi que tinha que permanecer como estava, um vampiro disfarçado de humano. Ela era muito nova para que eu pudesse amá-la... Você sabe que eu jamais ousaria tocar em uma criança, por isso eu resolvi crescer junto com ela, esperar ela se tornar uma mulher.

- Isso é muito nobre da sua parte, deve ter se apagado muito a ela... Assim como eu me apeguei a_

- Sulli – Luhan completou com um sorriso sem humor no rosto – eu te odiei por me substituir por ela tão rapidamente, eu fiquei com ciúmes... Tive ódio de Sulli... Mas hoje eu compreendo o que você sentiu quando pediu que a transformasse mesmo sabendo que ela corria o risco de perder a alma. Quando Josephine morreu eu senti o que você sentiu, é uma dor insuportável... A dor de não poder morrer ao lado da pessoa que ama... Apenas observá-la morrer... – Luhan engoliu em seco e abriu os olhos novamente – Eu tive muita vontade de transformá-la por minha conta... Mas eu me lembrei de Chen e de Sulli... Simplesmente não podia fazer isso com ela... Sem falar que ela é apenas uma moça...  Ainda faltava um pouco para ela se tornar uma mulher completa.

- Eu acho que você deveria ir atrás dela – Kai disse de repente e surpreendeu Luhan.

- Seriamente falando... – Ele fechou os olhos – Eu sei que ela agora é filha do nosso pai, mas isso não significa que o sentimento dela por você mudou, nem mesmo se ela souber que você é um vampiro, eu acho que você deve sim falar a ela quem é verdadeiramente e depois... Se declarar, eu tenho certeza que ela não irá se decepcionar.

- Você sabe que eu odeio o Sehun. Josephine o ama de uma forma que eu tenho nojo, não entendo a confiança que ela coloca nele, é como se ela tivesse plena certeza de que tudo no final vai dar certo... Quando a verdade é que todos dessa ilha estão condenados inclusive nós mesmos.

- Você vai ter que esquecer isso... E confiar no que o seu coração sente por ela.

- Vou pensar sobre isso... – Luhan franziu e testa e se sentou de repente. Kai estranhou o ato e se sentou também.

- O que foi?

- Está sentindo? – Ele disse colocando o dedo indicador direito no ar.

- O quê?

- É um cheiro... Uma presença que não estava aqui há alguns segundos atrás... – Luhan olhou para várias direções antes de olhar para Kai com a expressão de quem perdeu a semifinal de uma competição crucial – É um Urso... Ele está dentro da casa.

Taemin já estava quase dormindo. O frio e o cansaço estavam lhe vencendo, mal conseguia manter os dois olhos abertos, pela demora do mais velho em comprovar se Kang-woo era ou não Luhan, ele já podia deduzir que ele era o irmão mais novo de Kai. Não havia o que esperar, Kai não voltaria aquela noite.

Resolveu então deixar o sono lhe vencer. Fechou os olhos e respirou fundo, ignorando a dor que corria em suas veias, teria que cuidar em fazer outra transfusão no dia seguinte, ele sabia. Taemin podia ver imagens turvas se tornarem em acontecimentos estranhos aos poucos, mesmo que ainda pudesse escutar o som do relógio do quarto funcionando os sonhos já começavam a tomar sua mente.

“Até mesmo o mais forte dos vampiros se torna frágil quando adormece” Taemin conseguiu ouvir alguém sussurrar ao longe. Um momento desesperador que sua mente sabia que alguém se aproximava de seu corpo adormecido, mas não conseguia despertar “Acordar é tão difícil agora...” Escutou a mesma voz que continuava a debochar de sua fraqueza.

Quando Taemin conseguiu despertar, seus olhos se arregalaram ao se encontrarem com olhos azuis-gelo mais frios que um iceberg, ele sentiu o desespero porque via naqueles olhos que não existia piedade. Iria gritar, mas sua boca foi tampada pela mão do vampiro.

- Não adianta gritar... – O vampiro sussurrou no ouvido do rapaz -... Isso não é um filme de terror, nem um sonho. É uma realidade que durará apenas alguns segundos até você morrer, não há ninguém para salvar você – Escutou a risada sarcástica do vampiro e sentiu todos os pelos de seu corpo se irisar.

Kyungsoo sentiu a presença de um lobo se aproximar, mas não tinha tempo para brincadeiras, estava com fome o cheiro daquele sangue era irresistível demais, estava lhe deixando tonto, não conseguia nem mesmo escutar a sirene da sede tocar. Podia sentir o desespero pulsar no corpo do pequeno humano em seus braços, adorava sentir aquilo; as batidas rápidas que eram o prelúdio da morte.

O conselheiro do rei apertou a boca do menor com mais força quando cravou os dentes no pescoço dele.

- LARGA! – Os reflexos de Kyungsoo foram mais rápidos que o ataque de Kai. Ele saltou da cama junto com Taemin e foi parar no outro lado do quarto em apenas dois segundos.

Sentiu o menor tentar se soltar, aproveitando que ele havia afrouxado o aperto. As unhas de Kai cresceram e dentes se tornaram presas dignas de um lobo gigante. Kyungsoo parou de sugar o sangue de Taemin, mas não tirou a boca do pescoço dele, era um jeito de deixar o lobo ainda mais desesperado.

- Larga... Ele... Eu não vou falar de novo – Rosnou com os dentes cerrados. D.O. conseguiu sorrir.

- Eu arranco a pele dele se você der mais um passo – Taemin arregalou os olhos ao ouvir a ameça. Kyungsoo percebeu o quanto Kai ficou nervoso e arqueou a sobrancelha – Parece que ele é mais especial pra você do que parece... – Ele riu afastando a boca do pescoço de Taemin – O sangue dele quase faz meu coração bater, não sei se posso deixar ele ir...

- Se você não largar_

- Me parece que ele não é um alimento comum para você... – Kyungsoo sorriu e puxou o cabelo de Taemin para trás – eu acho que posso provar um pouco dele também – O vampiro sorriu e colou os lábios nos de Taemin a força. Tentou empurrar a língua para dentro da garganta do mais novo e isso deixou Kai a ponto de explodir.

- FILHO DA PUTA! – Kai avançou contra Kyungsoo no mesmo instante que ele soltou Taemin e o empurrou contra ele.

Kai e Taemin saíram rolando no chão do quarto, o sangue negro de Taemin derramando como nunca. Era o momento que iria começar a se divertir de verdade, mas infelizmente no momento que deu um passo para continuar com a brincadeira escutou a sirene da cede tocar.

Kyungsoo olhou para trás e saiu correndo antes que Kai reagisse.

Quando Kai colocou o algodão com álcool nos furos do pescoço de Taemin ele fez careta.

- Está doendo? – Kai perguntou mesmo que fosse óbvio. Taemin assentiu – Eu não sei quem ele é... Não faço ideia do que ele_

- Ele veio atrás do meu sangue, do mesmo jeito que você, você pretendia me matar, lembra? – Kai abaixou a cabeça e assentiu – Ele sentiu o meu cheiro, quando um vampiro aparece perto de mim eu não fico mais tão surpreso quanto na primeira vez – Taemin tirou a mão de Kai de seu pescoço e pegou o algodão com a sua – Estou cansado, quero dormir...

- Melhor irmos á um hospital, você não pode ficar sem sangue.

- Não se preocupe, amanhã cedo peço para Amber me levar – O rapaz se deitou na cama e se embrulhou. Taemin estava sentindo como se seus ossos estivessem se desmanchando de tanta dor, mas preferia se manter calado, não queria que Kai ficasse ali por mais tempo.

- Posso te fazer um pedido, Taemin? – Kai disse se sentando na poltrona perto da janela.

- Contanto que não tenha a ver com eu me afastar de você. Fala.

- Eu quero que você passe a lua cheia comigo – Taemin sentiu um tremor percorrer todos os seus membros – Lembra que eu disse que eu fico preso em uma gaiola de prata? Então... A lua cheia está se aproximando, e eu quero que você veja a minha verdadeira forma de forma segura. Talvez ai você saiba se o que está fazendo é correto. Ficar ao meu lado não vai ser fácil, nem para Luhan foi.

- Porque não pede para ele fazer isso? – Taemin falou fazendo beicinho.

Kai sorriu.

- Luhan não gosta mais de mim como antigamente, Taemin. Ele prefere não se aproximar muito de mim, isso pode fazer ele voltar a ter sentimentos que ele conseguiu se livrar com o tempo, eu imagino que para ele seria frustrante... Ele agora gosta da... Da sua prima.

- O QUÊ? – Taemin se sentou em um sobressaltou Kai riu sem mostrar os dentes – Não, nem pensar, preciso conversar com ele... – Kai se levantou e segurou a mão de Taemin para que ele se acalmasse.

- Não adianta ficar assim, Luhan só fingiu ser humano por causa dela, ele a ama de verdade e isso eu posso te garantir. Sem falar que você não tem moral nenhuma para tentar impedir o relacionamento dos dois – Taemin fez bico e desviou o olha.

- Mas é que... Ela ainda é uma criança!

- Uma moça, vampira ainda por cima.  Você vai ter que aceitar isso um dia... Mas então... Você aceita, ou não?

Taemin suspirou.

- Eu vou pensar.

***

Sem nem mesmo perceber o que estava fazendo, Luhan se viu caminhando a procura de Josephine.

Seus pés pareciam ter vontade própria, sabiam muito bem por qual caminho trilhar para chegar ao destino desejado.

Ele sabia onde encontrá-la, porque todas as noites sentia a presença dela pelo lugar em que passaram o seu último momento bom juntos, quanto ainda tinham vida.

Em duas horas o sol iria renascer, e ela teria que voltar para o seu esconderijo, por isso, ele tomou logo a decisão, iria atrás dela.

As folhas das árvores que há alguns dias estavam preenchidas por folhas marrons e alaranjadas, naquele momento só permanecia o esqueleto. O frio que avançava a cada hora da noite avisava que o inferno logo chegaria, consequentemente, a temperatura e a terra estariam perfeitos para a batalha do século.

Luhan fechou os olhos e tentou não pensar nisso, precisava se concentrar na presença feminina que residia a alguns metros de distância. Quando seus olhos avistaram o corpo pequeno e pálido de Josephine, ele parou de andar. Quis ter tempo para observá-la por horas, mas aquele que mandava em suas ações era o sol, que logo estaria marcando presença e expulsando sua amada dali.

Ele caminhou lentamente até ficar ao lado do corpo de Josephine, ela estava sentada com as pernas suspensas no precipício. Era um lugar perigoso, mas para os corajosos, de uma beleza estonteante. Luhan se sentou ao lado de Josephine e sorriu olhando para o horizonte negro pingado de pequenos pontos brancos; as estrelas se esforçavam para brilhar através da neblina.

- Eu sabia que você viria – Ela disse sem olhar para ele, apenas inclinando a cabeça e a encostando no ombro do mais velho – Achei que você criaria coragem de dizer a verdade para mim, por isso venho aqui todas as noites desde que me transformei para te esperar, Luhan.

- Eu já falei que sua maturidade me assusta? – Ele perguntou tentando olhar nos olhos dela – Foi Sehun que falou para você sobre mim?

- Todos falavam, diziam que você era o tal de Luhan, no começo eu não quis acreditar, mas então eu fui relembrando de coisas... E essas coisas me fizeram deduzir que eu estava lidando com um coelho muito inteligente... – Ela olhou para ele sorrindo.

- E você sabe por que fingi ser um humano?

- Eu fiquei pensando que seria por causa da Ahjumma, Appa falou muito bem de você, disse que foi o filho mais obediente, a pedra preciosa da família e que sempre teve um espírito gentil... Pensei que podia ser porque queria fazer a Ahjumma feliz.

- Não... – Ele negou com a cabeça -... No inicio foi isso sim, mas... – Luhan abriu a boca, mas não terminou de falar -... Eu preciso mesmo falar? Não está na cara? – Ele disse fazendo careta e ela riu.

- Deixa de ser frouxo Kang-woo, quantas vezes vou ter que falar essa frase pra você? Sou só uma menina, e meninas precisam ouvir o menino que ela gosta se declarar.

Luhan colocou as mãos nas bochechas da menina e olhou para os lábios dela, tentando desviar o olhar por alguns segundos.

Quando fixou o olhar nos olhos negros da garota, podia jurar que ela ainda era humana e que ainda estavam naquele inicio de manhã antes de sua morte. Ele teve vontade de amá-la, de beijá-la e possuí-la sobre aquele chão alcatifado de folhas, presente do outono. Ele havia apenas beijado-a, e não podia ter se sentido mais satisfeito.

- Eu te amo – Ele sorriu assim que as palavras conseguiram sair de sua boca – Eu me disfarcei de humano porque eu gosto muito de você... Minha nossa, eu nunca tinha sentido nada igual nem pelo meu primeiro amor. Você é o tipo de sentimento humano que eu desejo ter por toda a minha eternidade, a menina que eu desejei que fosse minha companheira por muito... Muito tempo, mas que infelizmente era pequena demais para entender, e eu... Covarde demais para convidada a ser um monstro como eu. Se você não sentir o mesmo_

Josephine puxou os fios loiros de Luhan para que sua face viesse a ficar mais próxima da sua e o beijou delicada e apaixonadamente ao mesmo tempo. Foi o suficiente para ele entender o que ela queria dizer. Era um alívio para ele que ela o amasse como ele a amava.

Já havia sido rejeitado demais para uma eternidade só.

***

Quando Sehun viu o corpo da mulher estagnado no chão, teve a mesma sensação que havia tido quando encontrou Luhan em cima de um piano com uma bala recente atravessada em seu peito. Não fazia parte dos planos dele que ela morresse antes que ela conversasse com ela, o plano de conquistar o lobo era o mesmo, aproveitar um momento de fraqueza humana para trazê-lo ao mundo dos vampiros, dificilmente os lobos resistiam.

O Kai não foi uma exceção.

Mas Luna era sim uma. Ele podia ver que ela ainda não estava morta fisicamente, mas que a alma dela já estava escapando a horas, o medo a consumia de um modo que ele nunca havia visto algo consumir ninguém, esse foi um dos motivos para ele estranhar as origens da garota.

Como uma mulher tão medrosa poderia se tornar um lobo, como ela conseguiria se controlar? Era um mistério, mas seus instintos nunca falhavam, e eles estavam dizendo que aquela mulher era a alma perfeita para a batalha.

Sehun colocou um casaco ao redor do corpo encharcado da mulher e a segurou nos braços, percebeu que ela já estava mesmo morrendo, escutou o ruído da praga que estava matando as pessoas de Goyang nos pulmões dela e sentiu a pele fria de Luna que ainda tinha o coração batendo devagarzinho.

Sehun correu com Luna nos braços até a sede de sua família, a casa abandonada que havia adaptado para treinar os seus filhos e abrigá-los durante o sono diurno. Um casarão de dois andares e um porão cheio de mistérios que ele havia conseguido desvendar em uma única noite.

Ele não carregou Luna para dentro de casa, percebeu que Onew havia conseguido ascender uma fogueira logo atrás dela. Caminhou lentamente até lá e quando chegou perto da Fênix e da Serpente os dois nem sequer reconheceram Luna em seus braços, já que ela estava coberta pelo casaco de Sehun e estava magra e pálida como nunca.  

- Quem é? – JongHyun perguntou sem mover nenhum dedo para ver quem estava chegando – Novo irmão?

- Não sei – Sehun disse com o rosto inexpressível, percebeu que Onew não estava nem mesmo prestando atenção na sua chegada – Se eu fosse você prestaria mais atenção no que acontecesse ás pessoas que amam você mesmo depois de se tornar um assassino – Onew olhou para o pai com a expressão assustada.

Sehun encostou Luna no que deveria ser a sua cadeira e retirou os cabelos de seu rosto.

Assim que o rosto de Luna foi revelado, Onew se levantou e correu até sua namorada tropeçando em tudo aquilo que aparecia em seu caminho. Mesmo com as calças pegando fogo ele se ajoelhou ao lado dela e pegou em sua mão.

- Luna... – Ele olhou para a mão da namorada com cautela – Está fria... Ela está_

- Ainda não. Ela resolveu banhar na tempestade ou algo assim, eu a encontrei em uma poça de lama no meio de uma rua qualquer da ilha. Só a encontrei porque tinha muita força de vontade. O coração dela está quase parando e... Ela tem praga. Não vai durar muito tempo, quando os sintomas vieram já vão ser junto com a doença que você já sabe que ela tem.

- Síndrome do pânico – Ele confessou fechando os olhos, querendo muito ter ido visitá-la pelo menos alguma vez, para encorajá-la. As crises dela já não aconteciam há tanto tempo que ele já havia até mesmo esquecido que ela era doente e que tudo podia voltar. A doença que era controlada assim com a sua piromania – Droga... Eu deveria_

- Não acho que teria sido uma boa ideia, você fez bem em ficar quieto – Sehun cruzou os braços – Sua namorada tem um medo sobrenatural por cousas como nós. Se ela descobriu que você se tornou um vampiro antes de ter uma crise... Isso significa que se você tivesse aparecido para ela, teria sido pior, as pessoas que não aceitam e têm medo de coisas sobrenaturais não aceitam nossa existência com facilidade.

 Onew apertou a mão da mulher com mais força.

Pensou em todas as promessas que os dois haviam feito depois de ficarem sozinhos, pertencentes apenas de um ao outro, órfãos e ambos dispostos a encarar o problema do outro.

- Salve-a – Ele disse depois de alguns minutos calado.

- Eu sei que não deveria interferir, mas Onew... Você tem que pensar nisso direito, você mesmo disse que Luna não deveria vir para esse mundo, você sabe o que nós passamos, quer mesmo que ela passe por isso? Quer que ela morra por uma coisa que ela nem conhece? – Sehun semicerrou os olhos para a Serpente... Sempre a bisbilhoteira.

- Não importa! Eu a quero do meu lado! Ela precisa de mim, e eu preciso dela! Sempre foi assim e se você prestasse mais atenção, teria percebido isso desde muito cedo!

- Eu sempre soube sobre vocês e sempre soube que isso ia acontecer. Essa dependência que vocês dois criaram só serviu como atributo para a própria destruição de vocês... Sei que pode parecer duro mas_

- Salve-a antes que eu mude de ideia, Sehun – Onew ordenou e Sehun inclinou a cabeça para morder o pescoço da mais nova – Espera... – Sehun parou o que estava fazendo para olhar para o mais novo -... Eu acho que ela tem o direito de morrer como humana.

- Tem certeza? Ela não precisa conhecer o inferno antes de voltar.

- Estou decidido.