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História Entre Segredos e Bonecas - Enquanto esperam por notícias...


Escrita por: KriativaLZ

Notas do Autor


Olá meninas.
Desculpem a demora em postar, mas além de ter tido os feriados de Natal e fim de ano, foi bem difícil escrever estar parte da história. Eu reescrevi várias vezes. Ao lerem verão que esta dividido em momentos e a cada momento que eu escrevia algo tinha que ser mudado em algum momento anterior. E como eu fui apenas escrevendo pra depois separar em capítulos, não podia postar sem ter a certeza que não ia precisar mudar mais nada.
Espero que gostem.

Capítulo 151 - Enquanto esperam por notícias...


Fanfic / Fanfiction Entre Segredos e Bonecas - Enquanto esperam por notícias...

# 03/04 #

— Você tem certeza que ele está bem? A dor de cabeça dele já passou? — Nicole não cabia em si de preocupação. Ela sabia que o filho estaria bem estando com o pai por perto, mas ela precisava ver. — Eu vou até lá, ficar com ele.

— Para com isso, Nicole. Eu já falei que o Nathaniel está bem! E você não tem o que fazer lá. Só vai atrapalhar com esse zelo exagerado com nosso filho. — Jhonatan não sabia o porquê ele ainda repreendia a esposa por conta daqueles excessos; era como falar com a porta; ela não mudava. Antes até se continha, mas nos últimos 3 anos ela só faltava querer colocá-lo de volta no carrinho de bebê. — Vá dormir um pouco, pois de certo você passou a noite em claro. Depois ocupe sua mente com o evento de Páscoa e pare de estragar nosso filho com estes mimos.

Jhonatan não errou em deduzir que ela estava cansada por ter dormido mal à noite, preocupada com o filho, mas errou ao achar que ela iria dormir depois dele desligar o telefone.

Clara reforçou a dose de camomila no chá da patroa, que estava se segurando para não ir até a casa do estilista. Hora depois o sono a pegou e ela acabou se rendendo, dormindo até a metade da tarde, quando Jhonatan a despertou.

 

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— Ei. Calma, grandalhão. Assim você me derruba. — Dragon não cabia em si de alegria em ver o dono. — Você está com fome? É claro que sim, né amigão.

Depois de fazer uns carinhos em seu fiel companheiro, Castiel lavou seus potes de ração e água, e depois os encheu. Enquanto Dragon comia e matava sua sede com água fresca, ele foi tomar um banho demorado. Enquanto a água morna batia em seus ombros com força, devido ao turbo da ducha, ele tentava relaxar de toda aquela tensão.

Ele não sabia que pensamento o perturbava mais naquele momento, de não encontrar o amigo ou de desejar uma mulher que ele não podia ter...

 

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Com Maitê e principalmente, Sol, lhe fazendo companhia, esperar por notícia não foi para Nathaniel como foi para Castiel. Ele não saberia dizer se a presença de Maitê foi boa ou ruim, pois ela o inibia e o mantinha comportadinho em relação à Emília, o que evitou que ele se deixasse levar e colocasse seus sentimentos por ela acima da preocupação com Lysandre. Eles passaram quase que o tempo todo vendo TV e atentos ao telefone, querendo na verdade estarem atentos um ao outro.

Por volta das 11h15 o estômago de Emília roncou, deixando-a sem graça, pois Nathaniel ouviu.

— Vamos embora, Emília. Já é quase onze e meia e eu tenho algumas coisas para fazer em casa. — chamou-a, levantando da poltrona. Ela tinha que ligar para o André sobre uma vaga de trabalho, às 13h00.

— Ah, não, tia. Depois nós vamos, por favor. — pediu, cheia de manha. — Eu quero esperar por notícias do Lys.

— Você pode esperar por notícias em casa. Já está perto da hora do almoço e você precisa comer.

— Mas eu vou morrer de ansiedade se ficar em casa. E eu nem estou com fome! — melindrou-se, já com cara de choro, ouvindo seu estômago a contradizer com outro ronco, mais forte que o primeiro. — Talvez só um pouquinho. — admitiu.

— Então vamos para casa. — decidiu, pedindo ao Nathaniel que ligasse quase tivessem alguma notícia.

— Claro, Srta. Berger. Eu ligarei sim.

— Mas eu não quero ir embora agora! — retrucou a jovenzinha, emburrada no sofá. Nathaniel estranhou aquela postura, até porque ela sempre falou bem da tia. Ele não conhecia aquele lado dela.

— Emília! Por favor! Eu não quero me aborrecer com você! — ralhou Maitê, contendo-se ao máximo para não elevar a voz e acabar brigando com a sobrinha na frente do amigo dela, mas se a garota continuasse com aquela postura ia ficar difícil não perder a calma. — Você mal tocou no seu café da manhã e não pode ficar sem se alimentar.

— Eu não vou morrer se ficar um pouco mais de tempo sem comer. Vai a senhora pra casa, almoçar, já que não está tão preocupada com "meu" amigo!

Maitê não esperava por aquela resposta atravessada, ainda mais na frente do Nathaniel, sentindo-se envergonhada e até irritada por aquele destrato. Ela não tolerava desrespeito, mas ali não era lugar nem hora para repreender a garota, até porque sabia que se fizesse isso a situação entre elas ia ficar mais tensa.

— Não diga isso, Emília. Eu estou preocupada com seu amigo, sim. Mas também estou preocupada com você. De certa forma, você ainda está em observação, não esqueça. Então, por favor, despeça-se do seu amigo. Se for o caso nós voltamos depois.

Nathaniel ficou curioso. Por que Emília estava em observação? Estaria ela doente?

— Por que vocês não almoçam comigo? — perguntou ele, tentando dar uma solução para aquele pequeno impasse e preocupado com o bem estar da amiga. — Eu também estou com fome e já estava pensando em ir num dos restaurantes aqui perto.

— Ótimo. Nós almoçaremos com você, Nath. — empolgou-se, mas Maitê não aceitou o convite.

— Desculpe-me, Nathaniel. Mas não posso aceitar. Minha bolsa ficou em casa e estou sem meus cartões ou dinheiro.

Ouvir aquilo fez Emília amuar-se num instante, voltando a sentar no sofá, com seu bico manhoso.

— Por favor, Srta. Berger. Não se preocupe com isso. É um convite, então as despesas ficam por minha conta.

Emília olhou para a tia com cara de "por favor, não diga não", amarrando a cara quando o ouviu.

— Eu não vou fazer você gastar com 3 refeições sendo que eu moro aqui perto. Não é certo. — justificou. — Então, por favor, Emília. Levante-se e vamos para casa!

— Por favor, Srta. Berger. Não é incômodo nenhum. Se preferir, eu posso ligar para uma pizzaria da Gioffredo. Sai o preço de uma refeição básica, então não vou estar excedendo meus gastos. — tentou convencê-la, mas não funcionou.

— Nem pensar! Não vou te fazer trocar uma alimentação saudável por pizza.

O bico de Emília só aumentava, assim como sua birra. Nathaniel percebeu que os olhos delas já estavam vermelhos e mais um pouco ela ia acabar chorando, então tentou novamente negociar sua estadia ao lado dele, mesmo sabendo que era por Lysandre que ela queria ficar e não por ele.

— Não se preocupe com isso, Srta. Berger. Eu não como pizza com frequência, então posso variar por hoje. — argumentou, com um sorriso, tentando convencê-la.

— Realmente, desculpe-me, Nathaniel. Eu agradeço seu convite, mas não posso aceitar.

Não se preocupe. Eu entendo. — rendeu-se. Não tinha como convencer aquela mulher a mudar de opinião quando ela achava que estava certa e de certa forma, ela não estava errada mesmo. Seria um gasto desnecessário.

— Mas por que não? Eu não ligo de comer pizza. Já comi muita pizza em casa. — reclamou, referindo-se a sua antiga casa. — A mamãe vivia pedindo pizza quando o tio Pablo não podia cozinhar. Além do mais, nós já trocamos o jantar por pizza lá em casa, quando o "Castiel" se machucou. — lembrou, irritada. — Por que agora a senhora cismou com comida saudável?

— Por um motivo simples. Você está sem comer nada desde a hora que levantou. — ralhou. Maitê sabia que a garota estava chateada com ela e preocupada com o Lysandre e que estes dois sentimentos juntos a deixara nos tamancos, mas estava começando a ficar complicado aturar aquelas mal criações. — Se tivesse tomado seu café como eu mandei, uma pizza não seria problema agora!

— Desculpe se eu não consigo ter fome quando estou preocupada com alguém que eu amo.

Por sorte Emília estava olhando para a tia quando disse aquilo, pois a expressão de Nathaniel pesou, mas logo disfarçou. Apenas seu coração continuou batendo num ritmo acelerado e como se estivesse numa minúscula caixinha pela sensação de aperto no peito.

— Emília, por favor. Não complica as coisas!

— Mas é a senhora que está complicando tudo! — retrucou, tão seca que até Nathaniel se incomodou, motivado um pouco pelo que estava sentindo por ouvir o que ela falou e também por não aceitar aquele tipo de desrespeito.

— Emília! Não fale assim com sua tia! É desrespeitoso! — repreendeu-a. Para ele, se dirigir de forma desrespeitosa aos pais, à tia - ele tem uma tia por parte de pai - e avós, e até mesmo a sua amada Clara e por que não dizer, a querida Gina, era incogitável, impraticável. Ele preferia morder a língua até sua raiva passar, calado. Seu primo dizia que ele era submisso demais. Se ele tiver que desrespeitar seus responsáveis para deixar de ser submisso totalmente, sempre restaria nele um pouquinho de submissão.

— Ela só está preocupada com seu bem estar. Não precisa tanta grosseria!

Nathaniel a repreender doeu.

— Vamos. — murmurou ao passar pela tia, cabisbaixa. Maitê não falou nada, apenas pediu a Nathaniel que ligasse se algo acontecesse. Ela estava envergonhada por aquela ceninha. Ela não imaginava que Emília podia ser tão birreta e até malcriada. Literalmente, passar feriados, não mais que alguns dias juntas, se divertindo, não era o mesmo que conviver juntas todos os dias. Elas não se conheciam tão bem quanto pensavam.

Da porta da cozinha ela pode perceber que a sobrinha descia a escada chorando, apesar da cara fechada, e por mais nervosa que estivesse com ela, aquilo lhe cortava o coração.

Ao se virar para se despedir do amigo da garota ela percebeu que seu semblante estava um pouco pesado.

— Você gosta de legumes, Nathaniel? — perguntou, da porta, e mesmo sem entender o porquê da pergunta o rapaz respondeu que sim. — Ótimo! Volto daqui 1 hora e meia, mais ou menos, com seu almoço! — falou, indo embora. — E NEM SE ATREVA A SE ENTUPIR DE PIZZA E DEPOIS ME DIZER QUE ESTÁ SEM FOME! FAÇO VOCÊ COMER NA MARRA! — gritou da escada, enquanto descia, pensando no quanto devia estar sendo difícil para ele ficar ali, sozinho, esperando por alguma notícia, preso, sem poder sair porque alguém podia aparecer ou ligar para falar do Lysandre.

Nathaniel não disse nada. Nem um sorriso esboçou. Ele apenas foi para a sacada da sala e as observou irem embora, uma ao lado da outra, estranhamente tão próximas e tão distantes, até que entrou e sentou diante da TV, religando-a. Ele precisava ouvir vozes, mas não porque estava sozinho e precisava se sentir acompanhado; o silêncio lhe permitiria ouvir seus pensamentos e ele não queria, pois estes não paravam de repetir a mesma coisa: "Desculpe se eu não consigo ter fome quando estou preocupada com alguém que "eu amo"." Enquanto o ar fazia seu ciclo natural, entrando e saindo de seus pulmões vagarosamente, ora por suas narinas, ora por sua boca, uma lágrima e outra abandonava aquele par de olhos dourados e tristes. Naquele peito um estranho vazio que ele não conseguia compreender, pois havia algo lá dentro que o sufocava. Com a TV num volume elevado ele desligou seus pensamentos.

 

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Faltando poucos minutos para as 14h00, Sol e Maitê voltaram levando o almoço  do Nathaniel. E embora sem muito apetite, ele almoçou, silenciosamente. Emília perguntou o que ele tinha e este respondeu que estava apenas cansado e com dor de cabeça.

— Eu tenho um analgésico na minha bolsa. Vou até o carro pegar para você.

— Não precisa se incomodar, Srta. Berger. Meu remédio está na carteira. — falou ele, levantando para lavar a louça.

— Pode deixar que eu faço isso. Deite no sofá e descanse um pouco. — pediu Maitê pegando o prato e a esponja das mãos dele, preocupada com aquele olhar pesado. — Durma um pouco se desejar, caso alguém entre em contato eu te aviso. Não se preocupe.

A enfermeira Fran deu ao jovem presidente do Grêmio uma cartela de amostra grátis que ainda tinha 3 comprimidos para dor de cabeça, caso esta voltasse a incomodá-lo nas 48 horas seguintes a que ela o medicou na primeira vez. O grande problema era que aquela medicação era muito forte e o apagava; por isso só podia ser tomada a cada 12 horas. E este era justamente o problema, já havia passado mais de 12 horas que ele se medicara, sendo apenas meio comprimido e o efeito já havia passado. Ele sabia que se não se medicasse aquela dor de cabeça, fruto do estresse que ele andava passando na escola, em casa, no seu coração e até com o sumiço do amigo, ficaria mais forte. Mas ele não queria adormecer.

Agradecendo pelo almoço ele voltou para a sala, sentando no sofá. Mais que cansado e com dor de cabeça, ele estava duplamente preocupado, com medo do amigo não aparecer e com medo do que aconteceria quando ele aparecesse.

A pedido da tia, Sol levou um pouco de água do filtro para ele, que pegou a cartela da sua carteira short de couro azul e tomou a outra metade do comprimido, pois um inteiro o derrubaria por horas e ele só queria dormir o suficiente para não pensar no que havia ouvido, ainda mais com Emília tão perto dele.

Enquanto Sol levava o copo para a cozinha ele recostou a cabeça no encosto do sofá, tentando relaxar.

— Tia.

— O que foi, querida.

— A senhora acha que o Nath está doente? Ele parece tão abatido.

— Não, querida. Até porque, se ele estivesse doente os pais dele não o deixariam estar aqui.

— Mas ele está tão quieto. Mal falou com a "gente" desde que voltamos. — comentou, querendo na verdade, dizer "comigo".

— Dor de cabeça é assim mesmo, Emília, principalmente se for forte. Fechar os olhos e evitar ficar falando ajuda a aliviar a dor, por isso ele está quieto. — explicou, saindo da cozinha.

— Aonde a senhora vai?

— Até o carro. Preciso pegar minha bolsa. — respondeu. — E não se preocupe com seu amigo, ele está bem. Só o deixe descansar um pouco. Então vá até a sala e apague a luz. A claridade incomoda a vista quando estamos com dor de cabeça.

Sol fez o que a tia pediu. Apagou a luz e fechou as cortinas da sala, pois depois do meio dia a luz do sol entrava todinha por aquele janelão; E querendo que ele tivesse espaço para deitar, sentou na poltrona ao lado do sofá.

Ao voltar, da porta da cozinha, Maitê olhou para eles e vendo que estava tudo bem, pegou seu pequeno laptop de 12 polegadas da bolsa e se acomodou na mesa, encarando as pedras do mahjong. Por sorte ela sempre carregava consigo seu pequeno note cor de prata.

Uns 10 minutos já haviam passado quando a dor de cabeça do Nathaniel passou, mas como ele havia tomado apenas meio comprimido, o sono demorou um pouco mais para dominá-lo, mas não mais que meia hora, pois ao contrário de antes, o rapaz não brigou contra ele, deixando-o abraçá-lo.

Os dentes de Emília já estavam partindo para a unha do terceiro dedo por conta de uma ansiedade que a fez fingir que estava prestando mais atenção no que passava na TV que nele. Embora ela não o olhasse diretamente, graças à luz que vinha da TV podia vê-lo mover suas pálpebras vagarosamente enquanto olhava para a tela de LCD, deitado e com a cabeça recostada no braço do sofá, tão próximo e tão distante dela, até que notou que ele não abriu mais os olhos. Seus olhos verdes trocaram a TV pelo jovem Chevalier.

Passado o encantamento inicial ela se deu conta que ele ficar com a cabeça apoiada no braço do sofá lhe renderia um torcicolo, então se levantou, pegou uma almofada, abaixou na frente dele e com cuidado para não acordá-lo a colocou sob sua cabeça.

— Uhn...Sol? — despertou ele com o toque, pois o sono ainda não o tinha apagado totalmente, meio confuso, mantendo os olhos entreabertos.

— D-Desculpe... — sussurrou, pois não queria que ele despertasse e espantasse o sono, coisa que não ia acontecer nem se ela gritasse, pois aquele remédio era tiro e queda; no máximo ele ia sentar novamente e piscar até apagar de vez. — Eu só queria te dar uma almofada. — explicou-se, tão baixinho que ele mal a ouviu, mas entendeu, pois ela ainda estava com a mão sob a cabeça dele. — Volte a dormir.

Meio que instintivamente, fechando os olhos, ele levantou um pouco a cabeça, tirou a mão da amiga debaixo dela e a acomodou sobre a macia almofada, sem dizer nada. Percebendo que ele havia voltado ao seu estado de sono Emília pensou em voltar para a sua poltrona, mas se deu conta que o rapaz, ao tirar sua mão de debaixo da cabeça dele, não a soltou, continuou segurando-a.

Tuntum - tuntum, foi o som que o coração dela começou a repetir aos seus ouvidos, numa batida confusa. Ao se ver segura por ele a ouviu forte e rápida, mas ao perceber que podia puxar a mão devagar e sair dali sem acordá-lo, a ouviu vagarosa e fraca, entendendo que seu coração a queria ali, pertinho daquele gatinho loirinho, de face rosada e serena, cuja respiração tão calma parecia querer roubar o ar em volta deles.

Ajoelhada no chão, sentindo o calor da mão daquele jovem "príncipe adormecido", Emília, esqueceu tudo a sua volta, sua tia no outro cômodo, seu amigo mais gentil sumido e sua amiga CDF cujo coração se partiria se os visse. Enquanto o obsevava, ela, de face rubra, perguntou-se porque as coisas não podiam ser como o coração dela queria que fosse e porque ela não tinha coragem de abri-lo para ele. No fundo, bem lá no fundo, ela tinha uma pontinha de certeza que o coração dele também batia por ela, mesmo que só um pouquinho, mas suas inseguranças sempre foram maiores que suas certezas e com Nathaniel não seria diferente. Suas decepções com os pais a ensinaram a acreditar mais no que seus olhos viam do que no que dizia seu coração, pois este sempre se enganava e ela sofria. O grande problema era que o que seus olhos lhe mostravam daquele rapaz também a fazia sofrer.

— Sol... — murmurou ele, ainda dormindo, apertando de leve a mão dela, que ao ver uma leve expressão de desconforto se alojar na face dele, antes serena, sem pensar, acariciou-a com os dedos, querendo que ele se acalmasse do que ela pensou estar sendo um pesadelo qualquer; e talvez, para ele, fosse.

— Shhhhh.... Está tudo bem... — sussurrou afavelmente, sentindo a pele lisa e macia do rosto dele, que ainda não conhecia a lâmina de barbear, e se tiver puxado a genética do pai, demoraria a sentir. E ajeitando novamente a cabeça na almofada, ele, sem despertar, voltou ao seu estado sereno.

Enquanto ela o observava, vendo sua própria sombra refletida nele devido a luz da TV em suas costas, ouviu novamente seu coração lhe dizer coisas que apenas seu diário sabia. Ela olhou a sua volta e só o que viu foi a luz vinda da cozinha, único cômodo iluminado. A brisa estava fraca então não tinha forças para balançar as cortinas e assim deixar a luz daquele lindo dia invadir novamente a sala, cuja leve penumbra pareceu sombrear os pensamentos daquela garota apaixonada. Novamente ela olhou para a cozinha, desta vez erguendo um pouco o corpo, apoiando-se nos joelhos, pois não era a luz que a preocupava, sentindo uma pequena e estranha pressão no peito, com medo de ser flagrada, sem nem entender o porquê daquele medo, pois só o que ela queria era dizer "tenha bons sonhos" com um gesto ao invés de palavras, e o fez.

Ela o beijou, na face.

A pressão que apertava aquele peito juvenil e inexperiente nas coisas do amor ficou mais forte e pareceu querer lhe sufocar. Enquanto ela não conseguia tirar os olhos da boca dele, tão perto e tão convidativa, sua mente lhe dizia que aquilo não era certo.

"Mas ninguém vai saber!" foi a resposta silenciosa que ela deu a sua consciência, lembrando de um selinho que lhe foi roubado e que ela queria "de volta". E como ela não tinha coragem de pedir a ele, o roubou, sentindo as bochechas queimarem quando seus lábios tocaram levemente os dele, tão rápido quanto da vez anterior, por medo dele acordar ou da tia aparecer. E como nada aconteceu, além de um traço de tristeza marcar seu rosto e do seu coração bater muito forte, querendo apenas ter a lembrança do que ela já definia como seu verdadeiro primeiro beijo, ela tocou novamente aqueles lábios adormecidos num selinho um pouco mais vagaroso, deixando nos lábios dele um leve sabor de morango.

— Emília!

TUM! Foi o som que Emília ouviu seu coração fazer antes de sentir como se todo o fluxo de sangue do seu corpo invertesse o caminho e com isso fizesse tudo parar. No susto ela findou aquele beijinho inocente e encarou a tia, que estava parada diante do sofá, realmente surpresa, fitando-a. Envergonhada por ter sido flagrada fazendo aquilo ela não soube o que fazer.

— E-Eu não... — nem o que dizer, ainda mais pela tia não dizer nada, apenas a olhar com cara de quem também não sabia o que dizer.

Realmente, Maitê não sabia o que dizer. Estranhamente ela não sabia se achava aquilo engraçado ou preocupante, pois sabia o quanto a menina gostava daquele rapaz e que ele era comprometido. Mas bastou a jovem baixar o olhar e morder os lábios para disfarçar o bico de choro que já estava querendo se formar para esta saber, pelo menos, o que fazer.

— Deixe seu amigo descansar, Emília. E levante deste chão antes que ele acorde.

Sem dizer nada a garota obedeceu e a tia lhe entregou uma bolsinha de tecido com alguns euros.

— Eu ia sair para comprar algumas frutas para nós comermos enquanto esperamos, mas acho melhor você ir. — falou, baixinho, para evitar acordar o Nathaniel, que assim que Sol puxou a mão, virou de lado. — Pode comprar o que quiser para você, um doce, não tem problema, mas eu quero fruta.

Emília não falou nada, apenas saiu, passando ao lado da tia de cabeça baixa, vermelhíssima de tanta vergonha, morrendo de medo de levar alguma bronca, mas Maitê apenas voltou para o seu laptop. Assim que a jovem saiu da casa, ela riu, cobrindo a boca para não fazer barulho. Não tinha como negar que aquilo foi infantil e fofo, e que sua sobrinha não tinha mesmo juízo na cabeça. Ela só parou de rir quando ouviu o toque do telefone vindo da sala, correndo para atender, pois podia ser alguma notícia. Mas era apenas uma das colegas de escola do Lysandre ligando para o telefone da loja.

— Não se preocupe, Li, assim que ele aparecer nós avisaremos todo mundo. — disse à jovem chineisinha, que soube através da Ambre, que, desobedecendo a mãe, contou para as amigas, começando pela Li, cujo coração estava apertadíssimo. — E se por ventura ele entrar em contato com você, nos avise. — despedindo-se e desligando o telefone em seguida. Nathaniel nem se mexeu no sofá, de tão profundo sono.

Ela levou os aparelhos para a cozinha.

Os minutos foram passando e nem saborear seus pêssegos Maitê conseguiu direito graças aquele telefone vermelho. Emília devorava sua caixa de bombons na sala e a cada toque corria até a tia para saber quem tinha ligado. Ela já não aguentava mais aqueles adolescentes perturbando. Quando não era o telefone era o interfone. Ela havia esquecido de como uma notícia se alastrava rápido entre os jovens.

Quando o trim-trim do telefone ecoou novamente naquela casa Maitê apertou os olhos e travou os dentes, para não xingar quem estivesse ligando, principalmente se fosse a tal de Li, que no intervalo de uma hora e meia ligou 3 vezes. Mas quando foi pegar o aparelho para atender viu que era o preto a tocar e não o vermelho. Alguém estava ligando para o número residencial.

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