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História Cinderela às Avessas - Depois faz as pazes com a irmã perversa


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 21 - Depois faz as pazes com a irmã perversa



Ela acordou bem cedo e se espreguiçou gostosamente. Como era bom dormir em uma cama! Após arrumar tudo com cuidado para que Cassandra não percebesse, ela decidiu tomar um banho. Mas tinha que ser um banho decente, o que não era possível naquele banheiro minúsculo onde o chuveiro ficava quase em cima do vaso.

Uma idéia totalmente maluca surgiu. Havia quartos de hospedes na casa e ela sabia que eles tinham banheiro com chuveiro. Problema resolvido! Depois bastava limpar tudo muito bem para ninguém perceber.

- Ah... que coisa boa! – ela exclamou sentindo a água correndo pelo corpo no primeiro banho decente em quase um mês. Como não tinha limite de tempo, ela até lavou os cabelos. Depois vestiu uma roupa confortável e depois de limpar tudo, voltou ao quarto de empregada para planejar sua vida dali por diante.

Cascuda estava certa. Era preciso fazer as pazes com Cassandra e descobrir qual era o problema dela. Desde o primeiro dia, a outra se mostrou ríspida e hostil sem que Carmem soubesse a razão de toda aquela raiva.

- Hum... peraí... deixa eu pensar! Vamos, força! Eu consegui bolar um plano pra ajudar a Cascuda em trinta segundos, então consigo pensar em alguma coisa também! Por que a Cassandra me odeia?  

Ela repassou todos os episódios entre as duas desde sua chegada e não conseguiu encontrar a raiz do problema. Havia ali algo que ela não conseguia enxergar, o elo perdido. Bem... talvez a única solução fosse encostar Cassandra na parede e colocar tudo em pratos limpos. Do jeito que estava, não dava para continuar.

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- Tchau, meus amores! Prometo que domingo estou de volta! – Marlene prometeu se despedindo das filhas e dos pais. Como era triste deixar sua casa para voltar aquela mansão!

Pelo menos o natal tinha sido muito bom e ela até levava alguns restos da ceia para ter algo decente para comer por um dia ou dois. O caminho de volta foi longo e ela sentiu falta do Rafael. Ele não podia mais usar o carro para buscá-las. Que avareza!

Sentada no banco do ônibus, ela ia pensando numa forma de sair daquele lugar horrível e começar seu próprio negócio. Ela podia usar seu fundo de garantia para ter capital e começar aos poucos, talvez fazendo marmitex para vender. Era seu sonho. Porém tinha o medo de não dar certo. Ela tinha duas filhas para criar e seus pais não iam dar conta sozinhos. Tudo teria que ser muito bem planejado.

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Cassandra desceu do ônibus triste por ter deixado sua família e ao mesmo tempo feliz em saber que ia rever Rafael. Será que ele tinha sentido sua falta? Era provável que não, já que ele demonstrou gostar da Carmem. Sem falar que ele tinha ficado muito desapontado por conta do episódio da saia. Se ao menos desse para voltar atrás!

Ela sentiu um aperto no coração ao imaginar que ele deve ter dado um lindo presente para aquela garotinha mimada. Aliás, não seria nenhuma surpresa se ele a tivesse levado para sua cidade. Pensar nessa possibilidade fez seus olhos se encherem de lágrimas. Por fim, ela desceu do ônibus.

Lá estava a mansão dos Aguiar. Fria como sempre. O luxo e a beleza eram apenas para os patrões, não para os empregados. Ao entrar, ela levou um susto ao escutar o som do aspirador de pó vindo da sala.

- Heim? Já chegou? – ela perguntou surpresa.
- Cheguei ontem à tarde.
- E dormiu aqui sozinha?
- Se tivesse dormido na casa da minha amiga, ia chegar tarde aqui pra fazer o serviço. Ai, qual é o problema desse treco? Por que não funciona direito? – ela olhou a mangueira do aspirador sob vários ângulos e Cassandra falou.
- A sucção está fraca. Vê essa tampinha aí? Tem que fechar para ficar mais forte.
- Ah, é? Valeu, eu nem sabia!

Ela foi guardar suas coisas e trocar de roupa. Ao voltar, viu que Carmem estava trabalhando melhor. Outra coisa a intrigou. Ela estava sozinha, sem Rafael. Então havia chances de eles terem passado o natal separados e não juntos como ela temia. Seu humor até melhorou um pouco.

- Você não leva jeito pra essas coisas não, né?
- De jeito nenhum! É tão difícil!
- Sua mãe não te ensinou?
- Er... eu não tenho mãe... agora... – Carmem falou sem jeito deixando a outra também um tanto sem graça.
- Você vivia mesmo na rua? Não tem família?
- Não. Eu tô sozinha mesmo.

Ela esfregou a nuca sentindo a consciência pesar um pouco. Para disfarçar o embaraço, ela apenas falou.

- Espera, abaixa um pouco mais o cano do aspirador. Assim você pega a sujeira debaixo do sofá.
- Ah, tá.

Em poucos minutos, Carmem terminou aquele tapete e ia passar para o outro quando Cassandra resolveu arriscar uma pergunta.

- Você passou o natal com sua amiga mesmo?
- Foi. As famílias deram uma grande festa e eu participei. – Ela mentiu porque não queria entrar em detalhes desagradáveis. - Dormi lá e cheguei ontem a tarde. Foi muito bom e até trouxe umas coisinhas que eles me deram.
- E o Rafa, esteve lá?
- Não, ele foi passar o natal com a família dele. Acho que moram em outra cidade.
- Então ele não passou o natal com vocês?
- Não.
- E você não viu ele?
- Hora nenhuma.

Ela coçou o queixo, olhou para baixo, mordeu os lábios e Carmem ficou desconfiada com uma coisa.

- Por que perguntou pelo Rafa? Ah, peraí! Você gosta dele, não gosta? – ela perguntou deixando a outra morrendo de vergonha.
- Não é da sua conta!
- Hahaha, você ficou toda vermelha, é caidinha por ele!
- É, mas ele gosta de outra. – ela falou em voz baixa sentando-se no sofá.
- Que outra? Alguma piriguete que conheceu por aí?
- Estou olhando pra ela agora mesmo!

Carmem olhou para os lados e só então se deu conta de quem Cassandra estava falando.

- Quê? De mim? Cruzes, ele é muito velho!
- Só tem vinte e cinco anos!
- E eu nem tenho dezesseis! Seria esquisito demais!
- E-então você não gosta dele?
- Claro que não!
- E nem ele de você?
- Que eu saiba, também não!
- Mas aquelas coisas que ele te deu...
- Ele nunca me deu nada! Foi a prima dele quem me deu aquelas roupas. Usadas ainda por cima.

O queixo da mais velha caiu.

- Eu não quis falar porque fiquei com vergonha, tá?
- Sério mesmo? Pensei que tivesse comprado aquelas roupas cafonas de propósito!
- Hahaha! Você também acha isso?
- Credo, quanta falta de estilo!
- Também acho, mas a moça que me deu tem um grande coração e não são tão ruins quando a gente se acostuma. Pelo menos tenho algo pra vestir.

Cassandra ficou bem mais aliviada ao saber que no fim, não havia nada entre Carmem e Rafael.

- Você implicava comigo esse tempo todo por causa dele?
- É... quando você chegou, vi os dois conversando...
- Porque ele é primo da minha amiga, ué!
- Ah, claro... e vocês já se conheciam. Ufa...
- Então? Tratado de paz? Eu não quero nada com ele, sério!
- Você não é tão ruim assim, então acho que dá pra gente conviver em paz.

O som de alguém chegando chamou a atenção delas. Era Marlene e minutos depois, Rafael.

Eles conversaram, comeram alguns doces e salgados que Carmem tinha trazido e Rafael teve que ir buscar os patrões. Com aqueles dois por perto, tudo ia ficar ruim novamente.

- O que deu em vocês duas que estão se entendendo agora?
- A gente conversou um pouco e ficou tudo bem. – Cassandra respondeu já mais a vontade.
- Então as brigas acabaram? Ainda bem! Agora vamos trabalhar que daqui a pouco aqueles dois voltam.

Cada um foi cuidar dos seus afazeres e de Cassandra até cantava, coisa que só fazia quando os patrões estavam fora porque tinha medo da reação deles. Ela tinha mesmo uma voz muito bonita, melhor até que a da Magali!

“Hum... e se... é! Isso pode funcionar!” Carmem foi arquitetando um plano em sua cabeça que se funcionasse, poderia lhe ajudar bastante no futuro.
 



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