História Summertime Sadness - Something Great

Meu corpo foi jogado para o lado no mesmo instante que minha orelha queimou. Meu ouvido estalou duas vezes antes de Nico botar suas mãos em meus dois ouvidos. Fechei meus olhos com força, não estava preparada para ver a cena que me esperava.

- Annie, Annie, abra os olhos, olhe para mim - Nico pediu, elevando minha cabeça - Você está bem?

Assenti com a cabeça e respirando fundo, abri meus olhos para ver duas fendas negras me olhando com preocupação. Seus braços me envolveram e eu apoiei minha cabeça em seu ombro, sem conseguir segurar as lágrimas.

- Me desculpe… Eu não pensei que fosse conseguir chegar a tempo, Percy…

Ele não continuou. E nem precisava.

Percy e Bianca estavam abraçados no chão, ele acariciava sua cabeça enquanto ela limpava o rosto das lágrimas. Ele havia escolhido ela. Depois de tudo… a competitividade, o beijo na festa, o VDPJ, o ciúmes incessante de Nico - tudo sempre foi por causa dela? De Bianca? Me recusava a pensar nisso, tinha que ter uma explicação, eu não podia ser tão sem importância para ele. Mas eu não podia pensar nisso agora, coisas mais importantes esperavam por mim.

Saí dos braços de Nico e me virei. Frederick estava algemado e desmaiado - pelo menos eu esperava - no chão. Um policial que tinha o ombro esquerdo sangrando estava falando com alguém pelo walkie-talkie, outro estava falando furiosamente com quem eu imaginava ser o pai de Percy, Poseidon.

- Sua orelha está sangrando, venha, vamos falar com alguém. - Nico disse, pegando minha mão e me levando até Poseidon.

- Eu não me importo! Ele ia matá-las, o que você esperava que eu fizesse?

- Não é seu trabalho manter as pessoas seguras! - o policial gritava.

- Bom, deveria ser, porque eu o faço melhor do que você. - Poseidon revidou, a voz incrivelmente fria.

Nico engoliu em seco.

- Poseidon. - Nico chamou, e ele se virou. Seu olhos verdes estavam frios quando nos viu, mas quase instantâneamente se suavizaram. - Annabeth está ferida, acho que a bala passou de raspão…

- Certo, - ele pegou minha cabeça, olhando atentamente meu ferimento - Leve-a para a enfermaria.

- Não acho que isso seja possível.

- Sim, o garoto está certo - o policial disse - Eu pedi para Quíron tirar todos daqui assim que vi os carros chegando.

- Você nasceu idiota ou foi ficando assim com o passar do tempo, Doren? - Poseidon verocifou - Estamos longe de qualquer hospital ou posto de saúde, então você tem a brilhante ideia de mandar a enfermeira do acampamento ir embora? Como você pretende que seus parceiros se curem?

O rosto do policial Doren esquentou.

- Já chamei a emergência, Jackson, e não se esqueça que somos amigos, mas eu ainda posso te prender por desacato.

- Desacato - Poseidon imitou com uma voz de mulher, e se eu não estivesse me sentindo tão tonta e cansada, teria rido - E não se esqueça de chamar os cães de busca. - ele murmurou.

- Cães de buscar? - ele fez uma pausa, lembrando de algo - Ah, certo… Senhora Chase, farei isso imediatamente.

Poseidon o fuzilou com o olhar quando ele pronunciou o sobrenome da minha mãe. Senti tudo ao meu redor girar. Minha mãe… Fechei os olhos com força e me virei, caminhando em direção a floresta.

- Annabeth, para onde você está indo? - Nico perguntou, me alcançando.

- Vou procurá-la. - respondi rápida, forçando meu cérebro a se organizar e funcionar direito. - Vou procurar minha mãe.

- Olha, criança, eu te entendo-

- Não me chame de criança! - gritei irritada.

Poseidon me olhou assustado por um momento e senti mais olhares caindo sobre mim.

- Me escute, eu te entendo, você passou por muita coisa nos últimos dias e não foi só você que perdeu alguém que amava, mas se você for procurar por ela… - ele balançou a cabeça - Não acho que você vá aguentar ver o que te espera.

- Eu consigo lidar com isso. - respondi baixo.

- Não, você não consegue. - ele respondeu, no mesmo tom.

- Não tem como você saber.

- Ninguém consegue ver o corpo da mãe morta com tanta facilidade! - ele gritou, irritado.

Suas palavras caíram como chumbo sobre mim. Eu não havia pensado na provabilidade dela estar morta. Ela não podia estar morta - era apenas um ferimento que precisava de cuidados, e depois tudo ficaria bem. Isso. Apenas um ferimento. Tinha que ser apenas um ferimento.

- Ela não está morta. - eu respondi, fria e continuei andando na direção da floresta.

- Annie, escute Poseidon…Você passou por coisa demais, precisa descansar.

- Não, Thalia, você não… Por favor. - limpei uma lágrima teimosa.

- Certo, então todos nós vamos com você.

Parei de andar e olhei para trás. Thalia, Luke, Nico, Poseidon, Percy e Bianca estavam logo atrás de mim, todos tinham um semblante cansado, e não me permiti imaginar o meu estado - descabelada com cara de choro, e possivelmente maníaca. Assenti levemente com a cabeça e voltei a andar, dessa vez ouvindo o passo de todos atrás de mim.

Enquanto andava, percebi que não sabia como eu ainda conseguia ficar em pé. Fiquei desmaiada por dois dias, e que eu saiba, sem nenhum tipo de alimento. Eu havia nada no meu corpo além de uma sopa e um copo de água, e mesmo assim, já sentia minha garganta arranhando. Nunca havia me sentido mais fraca do que agora, e nunca passou pela minha cabeça que um abandono de pai iria ter tantas consequências na minha vida. Eu sabia que tudo agora iria ser diferente, tudo iria mudar, mas não tinha certeza se seria para melhor.

Frederick iria preso, e essa ideia não teve nenhum efeito sobre mim - seria como se ele nunca tivesse voltado. O problema era minha mãe. Eu não podia, simplesmente não conseguia acreditar que ela estava… Não. Ela estava viva, estava bem, estava por perto me esperando para cuidar dela como ela sempre cuidou de mim. Ela estava me esperando para dizer que tudo agora iria ficar bem, nossas vidas iriam seguir em frente, como se tudo isso fosse apenas um pesadelo que acabou, tudo iria ficar perfeito e assim iria continuar. Em dois anos eu me formaria e iria para a Southern California Institute of Architecture, fazer minha faculdade de arquitetura. E então, depois de muitos anos trabalhando para minha mãe, eu assumiria a presidência da Chase’s Builder. Sim, já tínhamos tudo planejado.

Mas quando cheguei perto do rio e vi seus cabelos loiros banhados com sangue que saía do seu ombro, meu corpo gelou e minhas pernas cederam. Ela estava ali, tão perto e tão longe. Ela estava bem ali, mas seu corpo não se movia, seu peito não subia nem descia com sua respiração, seus olhos não piscavam e ali, eu soube que nada ficaria bem, tudo seria diferente.

***

O dia estava claro, o sol brilhava intensamente e não havia uma única nuvem no céu. Eu me sentia devastada. Era uma grande irônia.

Meu vestido balançava lentamente com a brisa suave de verão. Havia muitas pessoas ao meu redor, todas chorando - algumas alto e outras eu só via os ombros chacoalhando - mas de mim não saía mais uma gota sequer. Eu não sabia que era porque eu já havia chorado tanto no último dia ouse porque a verdade já estava clara para mim, e eu não via outra saída se não aceitar que eu não tinha mais mãe. Na verdade, eu não tinha mais ninguém além de Thalia.

Ergui meus olhos e vi Poseidon, ele estava chorando e ao contrário de outros homens dali, não fazia esforço algum para esconder seu sofrimento. Confesso que fiquei com raiva quando ele me disse que estava namorando com minha mãe há meses, e ela nem se esforçou para me contar, sempre falava o quanto ele era ignorante e egocêntrico, e agora que eu o conhecia, até concordava um pouco com ela, mas me sentia mais confortável com Poseidon do que com Percy. Senti que estava sendo observada e passei meus olhos pelo cemitério. Percy tinha os olhos verdes presos em mim. Eu estava fugindo dele desde que saímos do acampamento. Ele me ligava, ia à casa de Thalia de hora em hora implorando para falar comigo, mas eu não conseguia. Era apenas… doloroso demais pensar que, para ele, sempre foi Bianca. Ele dizia que eu estava interpretando tudo errado, que ele cometeu um erro ao correr para ela e que para ele, só eu importava. Mas era difícil acreditar quando ele não demonstra isso. De qualquer jeito, eu não tinha tempo para pensar em Percy, ou em Nico - que passou as últimas vinte e quatro horas ao meu lado, cuidando de mim com Thalia -, havia coisas mais importantes para eu decidir, e Problemas com Garotos não estava em minha lista.

Depois de tantos abraços e palavras confortadoras que eu recebi, estava me sentindo cansada e agradeci quando Zeus e Hera decidiram ir embora.

- Como você está querida? - Hera perguntou assim que entramos no quarto.

- Exausta. - respondi com um suspiro.

Ela assentiu com a cabeça e olhou para Zeus, que piscou para ela, em seguida olhou para Thalia e as duas fizeram algum tipo de conversa silenciosa.

- O que houve? - perguntei curiosa.

- Estávamos pensando… Bem, você não precisa aceitar se não quiser, mas acho que no momento é a sua melhor opção, sem pressão, claro, só queremos o seu bem e você e Thalia se conhecem há tantos anos-

- Fale de uma vez, Hera. - Zeus resmungou, impaciente.

- Ora, Zeus, estou sendo apenas delicada!

Thalia revirou os olhos.

- Queremos que você vá morar conosco. - ela disse de uma vez.

Hesitei antes de responder para analisar minhas opções e bom, eu não tinha nenhuma. Minha mãe era filha única e meus avós já haviam morrido, eu estava, literalmente, sozinha no mundo. Meus avós paternos… bom, nem pensar. Poseidon havia me feito o mesmo convite, mas imaginei que não seria apropriado ir morar com ele, ainda mais sendo ele o pai de Percy.

Zeus e Hera sempre foram muito simpáticos comigo, mas eu sabia que eles só estavam fazendo aquilo porque sentiam pena de mim - e talvez porque tenham sido ameaçados por Thalia, ela era realmente boa nesses assuntos. Mas como Hera disse, essa era minha melhor opção, eu não tinha mais lugar para ir, e sendo menor de idade, não iria poder morar sozinha. Além do mais, os policiais não saíam da minha cola, estavam sempre em todos os lugares fazendo perguntas estúpidas que já tinham respostas, mas de qualquer jeito, eu era sempre educada e respondia a tudo pacientemente. Frederick foi condenado a vinte anos, sem direito de julgamento. Isso me dava um bom tempo de paz, certo?

- Seria um prazer morar com vocês - respondi com meu melhor sorriso - Obrigada.

Thalia me abraçou e Hera bateu palminhas. Senti lágrimas de emoção encherem meus olhos, mas eu não queria chorar. Tinha medo de que se começasse, não iria conseguir parar nunca mais. Então assim fomos até chegar a casa dos Olympus: Zeus assoviando, Hera cantarolando, e eu e Thalia abraçadas.

Senti um alívio quando paramos em frente à gigante casa cor de marfim, finalmente poderia ter um descanso - sem mais policiais. Mas assim que saí do carro, um garoto de terno me esperava apoiado distraidamente em uma das colunas gregas. Seus olhos verdes se abriram quando abri minha porta e desci do carro. Percy deu um passo na minha direção.

- Percy, não acho que sej-

- Preciso falar com você - ele me disse, ignorando Thalia - e não vou embora até você me escutar.