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História Entre Sem Bater - Capítulo 02 - Mesmo que digam não?


Escrita por: andreiakennen

Capítulo 2 - Capítulo 02 - Mesmo que digam não?


Entre Sem Bater

Por Andréia Kennen

Capítulo 02

Mesmo que digam não?

 

Diferente do que eu imaginava, além de quase congelar e de assistir ao estacionamento lotado esvaziar, eu não pude desabafar com a Laura naquela noite. Ela resolveu dar carona pra bendita Dafne que morava em um bairro depois do meu e antes do dela.

Ou seja, fiquei no banco do carona atrás, fingindo estar com dor de cabeça enquanto elas tagarelavam na frente. O assunto principal era: “O que teria de bom em Campo Grande no fim de semana?”.

A Dafne convidou a Laura para conhecer o tal “Cabana”, o novo barzinho da moda, o qual a Dafne frequentava com o namorado e o qual garantiu ser “Per-fei-to!”.

Certo. Se estou remendando a fala dela é porque estou mesmo com dor de cotovelo.  

Um pouco antes de ser deixado na esquina de casa, ouvi que elas fariam um tipo de programa de casais no próximo fim de semana e, por educação, a Laura me estendeu o convite. Eu disse que iria pensar no assunto, mas claro que eu não iria ser a vela no encontro de casais.

Aquela noite eu demorei a dormir. Acabei ficando no Face até tarde. Li tudo que estavam publicando sobre a tal “Revolução dos 20 Centavos” e até curti algumas páginas. Fiquei mesmo por dentro do assunto.

Antes de ir para cama lembrei que no fim das contas nem descobrimos o desfecho da discussão do professor Roberto com o Thiago. Porém pelo “Agora estou bem” acompanhando daquele sorriso perfeito que ele tinha, era fato que ele havia se saído vitorioso.

“Droga, comecei a pensar nele, de novo”.

...

Na manhã seguinte o serviço foi um lixo. Começando porque acordei tarde e fiz a Laura se atrasar comigo. Por mais que eu tivesse insistido para que ela fosse sem mim, não teve acordo.

Ambos recebemos uma bela de uma advertência verbal pelo atraso, mesmo depois de ela ter inventado que o pneu havia furado. Deve ser porque ela deu essa mesma desculpa na semana passada.

Na hora do almoço a Laura foi almoçar com o Maurício, o namorado dela, porque precisavam comprar algumas coisas para a viagem. Eu comprei marmitex e almocei no escritório mesmo, depois dormi na sala de descanso.

A tarde se espichou daquele jeito, preguiçosa. No fim do dia eu não estava com pique algum de ir para faculdade, mas a Laura me convenceu com sua animação de todos os dias.

No entanto, meu pouco ânimo se esvaiu no momento em que pusemos os pés para fora do escritório. A Dafne trabalhava no Wallmart, na mesma quadra do nosso trabalho, e adivinhem? Sim. Ela estava esperando lá na frente quando saímos.

Ou seja: as duas, Dafne e Laura, haviam se tornado super-melhores-amigas da noite para o dia. Agora a Dafne seria outra carona fixa. Não que eu tivesse o direito de reclamar, eu era carona também, mas eu ajudava com metade da gasolina, a Dafne iria ajudar? Não sei. Fiquei muito chateado com aquela amizade repentina entre as duas. Além de ser altamente rejeitado pelos pretendentes a namoro agora estava perdendo minha melhor amiga? As coisas não poderiam ficar piores.

Ou poderia.

O Thiago não apareceu na aula na terça. Nem na quarta e nem na quinta. Ouvi de alguém que ele tinha levado suspensão de três dias pela discussão na sala de aula. Eu queria saber se a fofoca era verídica e ir até a coordenação averiguar. A secretária do curso era minha admiradora, ela sempre me dava umas olhadas suspeitas quando eu precisava passar por lá para pegar algo. Mas, óbvio,  não tive coragem.

Era pra eu estar achando bem feito. O Thiago havia sido estúpido suficiente para pedir que eu mantivesse distância dele.

Mesmo assim, depois que fiquei a par do assunto sobre a revolução nas ruas, principalmente sobre o que a mídia televisionava e que não condizia com nada da realidade, eu estava dando razão a ele. Toda a razão.

— Está dormindo, Caio Henrique? — Sobressaltei com o chamado do professor Rubens e me irritei com sua voz paciente me chamando pelos dois nomes.

De novo.  

— Oi, professor?

— Vem pegar o trabalho.

Eu franzi a testa. Era para o meu nome não estar naquele trabalho. E como eu demorei muito pensando, o professor Rubens veio ao meu encontro e depositou o trabalho em cima da minha carteira.

— É. Você está dormindo, Caio Henrique — ele disse, de novo, e virou as costas.

— Quanto você tirou, Caio? — A Laura mal esperou o trabalho esfriar na minha mão para fazer aquela pergunta. Ainda exclamou para toda a sala ouvir: — Uau! Dez?

O “dez” em vermelho destacava-se na folha, mas aquilo não me chamou tanto a atenção quanto a outro detalhe. Os nomes: “Thiago César e Caio Henrique” escrito no topo da página.

Eu conferi a letra do Thiago nas respostas, era inclinada para direita, uma caligrafia bonita, bem desenhada. Era a mesma caligrafia que havia escrito “Caio Henrique” ao lado de “Thiago César”.

Nunca fiquei tão bobo na minha vida por algo tão idiota.

Tentei ignorar o pedido de “deixa eu ver as suas respostas, Caio” da Laura ao meu lado. Ela queria conferir com o trabalho dela e da Dafne e entender porque elas tinham tirado só sete e meio.

— Depois — resmunguei. — O professor vai começar a revisão.

Foi só uma desculpa. Eu não queria entregar para ninguém aquela página tão preciosa, principalmente a primeira página! Não que eu imaginasse que seria impossível ele colocar meu nome. Afinal, o Thiago era um cara que clamava por justiça, por um país mais justo. Apesar de que aquilo não era nada justo. Não era certo eu ganhar a nota nas costas dele. E ele deveria pensar o mesmo.

Aquela noite eu dormi abraçado com aquele pedaço de papel enquanto lia e relia o “Thiago César e Caio Henrique” escrito no topo.

...

A sexta-feira chegou, mas eu estava tão ansioso para ver o Thiago que já havia determinado em minha mente: se ele não aparecesse na aula, eu iria perguntar para o professor Roberto, no fim dos primeiros tempos, o que tinha acontecido. Vai que o Thiago havia até sido expulso e eu não sabia. Não que fosse realmente da minha conta. Mas a ideia de não vê-lo nunca mais fazia meu peito apertar.

O professor Roberto entrou na sala e nem nos desejou “boa noite” e já foi avisando que faria revisão da matéria para a prova da próxima semana. Mal ele começou a falar e duas batidas na porta fizeram meu coração disparar; toda a sala se voltou para a entrada.  

— Posso entrar?

— Entra, rapaz — o professor falou sem muita cerimônia.

Eu vi o Thiago entrar de cabeça baixa, o capacete na mão, a mochila nas costas. Ele passou pelo Roberto, que estava de costas apagando o quadro, chegou na sua carteira, largou o capacete no chão, perto do pé da mesa e colocou a mochila em cima da mesa.

Tá. Ele andava todo esquisitão, estava mal vestido como sempre, mesmo assim meu coração continuava disparado que nem um louco. Não consegui prestar atenção em nada da revisão do Roberto. 

Disfarçadamente eu tentava olhá-lo. Ao contrário dele, que estava bem concentrado na revisão da matéria. Mesmo sendo o professor Roberto, o causador do seu momento de instabilidade e talvez dos seus três dias de suspensão. Mas em nenhum instante o Thiago deixou transparecer remorso, até levantou a mão duas vezes para tirar dúvidas.

Peguei-me ainda mais frustrado. Eu precisava ser como ele e esquecer o que havia acontecido entre a gente. Por mais que ele não gostasse que outros caras (ou, eu, especificamente) o tocassem, ele havia sido camarada suficiente para escrever meu nome no trabalho. Eu queria sustentar que o motivo dele ter feito tal coisa era por ter uma leve simpatia por minha pessoa. Havia ainda a possibilidade de nos tornarmos amigos.

Afinal, nós dois parecíamos não ter muitas amizades dentro da sala.

Eu ainda tinha a traidora da Laura que havia me trocado pela Dafne, mas eu nunca o vi conversando com ninguém além da pouca troca de palavras com a dona Lúcia, que sentava na frente dele, a loira detrás, a qual eu não recordo o nome agora, a Vanessa, que senta ao lado dele, a Maristela, que fica na frente da Vanessa, e o namorado da loira, que fica atrás da Vanessa e ao lado da namorada.

O trabalho parecia estar em chamas dentro do meu caderno. Precisava primeiro achar o melhor momento para entregá-lo e puxar assunto. Acho que a melhor hora seria o intervalo, depois de eu despistar a Laura na área de convivência, o que não seria difícil agora que a Dafne nos acompanhava também. Em seguida, voltaria correndo para sala. Tinha quase certeza que ele passava o intervalo inteiro ali. Seria fácil agradecer, entregar o trabalho e puxar um assunto, o qual eu já havia ensaiado bastante em frente do espelho do banheiro lá de casa.

“E aí, qual foi o motivo do sumiço, cara? Não diga que você foi suspenso? Eu estive lendo sobre o assunto no Face e o Roberto foi um puta injusto com você”.

Meu plano era perfeito.

Mas a aula nunca que acabava, parecia infinita.

Quando finalmente o sinal tocou, eu levantei num pulo.

— Vamos, meninas, vamos — apressei as duas, mas enquanto eu agia de forma eufórica, elas recolhiam as bolsas e os materiais tranquilamente. — Por que estão levando tudo? — eu me senti o professor Rubens, fazendo perguntas cujas respostas eram óbvias.

— Vamos matar os últimos tempos, Caio. Meu namorado está de folga hoje, vamos aproveitar para ir com a Dafne e o namorado dela conhecer o Cabana. Mas, antes, precisamos de um banho, roupas limpas e muita maquiagem, né?  E aí, tá afim?

“Claro que não, suas traíras” definitivamente essa era a minha resposta, mas ao invés disso, beijei cada uma delas em ambas as faces e desejei que se divertissem por mim.

— Vão logo. Eu não posso perder os últimos tempos.

— Me liga quando terminar a aula e eu venho te pegar.

— Laurinha, vai se divertir, caramba. Me esquece um pouco. Eu vou ficar bem.

— Certeza?

— Juro! — Fiz o sinal de jura, beijando meus dedos indicadores cruzados. — Agora vão logo. Fiquem lindas e poderosas para os seus gatos e arrasem no Cabana!  

Dafne riu gostoso e então pegou o pulso da Laura e a puxou.

— Ouviu o que ele disse, amiga. Ele não quer ir. Vamos. Beijos, Caio. Até segunda. — A Traíra me desejou e ainda me soprou beijos. Eu respondi acenando com as pontas dos dedos.

Laura foi puxada, mas ficou olhando pra mim com seus olhinhos de cachorro pidão. Eu ainda fiz um gesto de que eu amava apontando pra mim, depois para ela e desenhando um coração no ar. Ela riu e mandou beijos. Então as duas desapareceram das minhas vistas. Suspirei fundo e só quando olhei pra carteira vazia do Thiago que eu lembrei dele. Bati as mãos ao longo do corpo e praguejei.

— Merda!

Grudei a bunda na minha cadeira e não saí nem para ir ao banheiro. Fiquei monitorando os minutos correndo no display do meu celular. Mas nada dele voltar. O capacete, a mochila e o material ainda estavam ali, deixando claro que ele não tinha ido embora. Mas faltava menos de cinco minutos para acabar o intervalo e imaginei que já não daria tempo de conversarmos. Usei o resto do tempo para pensar em um bilhete para pregar no trabalho que fizemos juntos.

A pressão não ajuda, tudo que eu pensava soava grosseiro: “obrigada pela caridade, mas eu disse que não precisava”, risquei, amassei o papel e coloquei debaixo da carteira. “Eu disse que não precisava, mas agradeço por ter colocado meu nome no trabalho”, ficou grande, esquisito, amassei também. “Não precisava ter colocado meu nome, mas foi legal da sua parte, valeu”. Li e reli, olhei no relógio, tinha que ser aquele mesmo. Me assustei quando o Fabinho entrou falando alto no celular. Precisava agir rápido, antes que entrasse mais gente. Prendi o bilhete com um clipe, dobrei o trabalho, levantei rapidamente e coloquei o trabalho virado para baixo, em cima do caderno dele. Assim ninguém saberia do que se tratava e nem veriam o bilhete. Só ele.

Voltei para minha carteira e no instante seguinte o sino tocou e o pessoal que ficava conversando no corredor, perto da porta, entrou. Baixei a cabeça na carteira e esperei a sala se encher. A professora Cida logo entrou e nada do Thiago.

Por que ele precisava chegar sempre atrasado?

A professora já havia feito dois exercícios de revisão quando finalmente veio as batidas na porta e o costumeiro pedido de “posso?”.

A Cida era legal, só fez um gesto com a mão para que o Thiago entrasse, e continuou passando os exercícios no quadro. Meu coração disparava mais rápido a cada passo que ele se aproximava da sua carteira. Senti o bendito entalar na minha garganta quando ele se sentou e, sem cerimônias, virou o trabalho, correu os olhos sobre ele, tirou o bilhete, amassou na mão e o jogou embaixo da carteira. Depois disso, ele dobrou o trabalho, guardou dentro do caderno, folheou o caderno até encontrar a matéria da professora, cutucou a dona Lúcia na frente dele, provavelmente perguntando o número da página que a Cida estava, e abriu sua apostila.

Eu voltei a respirar. Dolorido. Escondi o rosto entre meus braços e fiquei assim o restante da aula. Ele havia odiado meu bilhete, ou ele literalmente me odiava. Era tudo no que eu conseguia pensar.

Quando o sinal encerrando a aula daquela sexta-feira tocou eu me levantei depressa, dando graças a Deus. Eu não sei se Deus não gosta de mim por eu ser homossexual, mas se tanta gente não gosta, eu esperava que pelo menos Ele, o Soberano dos Soberanos, me desse uma chance.

Fui um dos primeiros a deixar a sala, na verdade, sexta-feira nos últimos tempos a sala só ficava cheia se fosse dia de prova, a metade dos alunos já haviam vazado.

O pior nem foi ser um dos primeiros a sair da sala. O pior foi que eu, idiota e panaca, fui parar no estacionamento! Esqueci que não tinha carona aquela noite e que teria que ir de ônibus. Subi de volta para sair pela guarita do estacionamento de cima quando passei pelo estacionamento de moto. Foi apenas de relance, mas eu o vi. Estava sentado na moto e falava ao telefone. Ele tinha dois capacetes. Era claro que ele tinha dois. Com certeza o Thiago iria pegar alguém, uma namorada, esquisitinha como ele, para passarem a noite juntos. Virei o rosto e continuei andando, fui para Avenida Ceará e só quando vi o ponto de ônibus abarrotado que eu lembrei que poderia ter saído pelo estacionamento debaixo e pego ônibus na Ricardo Brandão, onde tem uma linha bem menos lotada.

— Merda ao quadrado! — praguejei novamente.

Vi que um grupo atravessava a Ceará e seguia em direção da viela encurvada que ia dar na Ricardo Brandão, suspirei fundo e decidi ir atrás dele. Já era horrível ter que pegar ônibus, pegar ônibus lotado em plena sexta-feira a noite estava fora de cogitação.

Várias motos passaram por mim no percurso e a cada barulho de moto meu estômago gelava. Uma delas passou mais devagar e o meu coração assanhado teimou em disparar. Claro que não parou ao meu lado e continuou seguindo. Estava indo em direção ao grupo, eu pensei. Mas de repente o motoqueiro diminuiu a velocidade e parou apoiando o pé no meio fio, ergueu o capacete e retirou o outro que estava preso no banco detrás e deixou repousado sobre a perna. Olhei pra trás para ter certeza que não vinha nenhuma garota, mas não, não vinha ninguém.

Poderia só ser minha imaginação, mas aquela pessoa estava esperando por mim? Me belisquei para ter certeza que não estava dormindo e doeu pra caramba. Então apertei o passo e quando cheguei próximo suficiente, meio sem fôlego, mas pela ansiedade do que pela ligeireza dos passos. Então o cara me estendeu o capacete.

— Onde você mora?

Eu fiquei paralisado por um instante olhando para aquela pessoa e o capacete estendido na minha direção. Ainda achando aquela situação muito surreal. Era mesmo o Thiago. E, sem me dar conta, eu já tinha apanhado o capacete. 

— Uma rua acima da Avenida Bandeirantes — respondi. — Perto da Salgado Filho.

— Monta aí — ele fez o gesto com a cabeça apontando sua garupa. — Eu te levo.

A moto era uma Titan, nada de luxo, mas era muito melhor que andar de ônibus.

— Não tem problema? Não vai ficar fora da sua rota?

— Não se preocupe. Eu só faço o que eu quero. Por isso coloquei seu nome no trabalho também. E, por isso, vou te levar em casa.

Aquela seriedade é que fazia meu estômago comprimir. Thiago parecia do tipo de cara convicto, que sabe o que quer e não se importa com que os outros irão pensar. Ele falava pouco, mas quando falava sua voz soava firme, decidido. E essa firmeza definitivamente me excitava.

Ele colocou a mochila para frente e estendeu as mãos para os cadernos que eu carregava.

— Me dá — ele pediu. — Vou colocar na minha mochila.

— Não tem problema, eu carrego.

— Dá logo aqui ­— insistiu, já puxando os cadernos das minhas mãos. — Eles podem cair se carregar na mão

Era impressão minha, ou ele era do tipo mandão também? Não que eu estivesse achando ruim.

Thiago abriu a mochila, guardou meu material junto com o dele e esperou eu colocar o capacete. Montei na moto e estava pensando em como me segurar sem encostar nele quando ouvi aquela bendita advertência mais uma vez.

— Só não encosta muito.

Ok. Desta vez eu estava preparado para responder.

— Qual é o problema, tem medo de gamar?

Eu poderia ficar sem carona, mas a afronta valeria a pena.

No entanto, a resposta veio em forma de um gesto. De um gesto muito, mais muito inesperado. O Thiago virou a mão para trás e bateu na minha perna, apertou firme a minha coxa e respondeu com um sorriso meio de lado, beirando o malicioso eu diria.

— Né, isso não, neném. Eu só não quero que você sinta nojo de mim. Eu tô fedendo pra caralho! Eu trabalho o dia todo com entregas e venho direto pra faculdade. 

Ele recolheu a mão devagar, fazendo questão de alisar a região por onde ela passeava, e finalmente ligou a moto. Como eu já estava segurando nas alças laterais do banco da moto, e o estado de choque não me permitira reagir, decidi me manter do jeito que estava.

Mas fiquei inerte por um tempo, embasbacado, enquanto ganhávamos velocidade.

O que havia acabado de acontecer mesmo?

O Thiago tinha me chamado de “neném?”. “Neném”? Havia aperado a minha perna? E o motivo para ele não querer que eu chegasse perto era o... fedor de suor?

Certo. Comecei a sentir falta de ar e precisei subir a viseira do capacete para respirar melhor. Nada do que minha mente ridícula havia pensado era condizente com a realidade.

Eu estava redondamente enganado. Redondamente! Mas meu coração estava completamente certo. Em nenhum momento ele se deixou enganar pelo asco que imaginei que o Thiago pudesse sentir por minha homossexualidade. Mais do que isso, não tinha como ser coisa da minha cabeça, ele gostava de caras também. Afinal, que cara chamaria outro de “neném” enquanto alisa sua coxa?

Paramos no sinal do cruzamento da Avenida Ernesto Giesel com a 26 de Agosto. Meu coração ainda batia a mil. Ele aproveitou o sinaleiro para olhar uma mensagem que havia recebido no celular.

— Você bebe? — perguntou na sequência.

— Como?

— Perguntei se você bebe?

— Sim, claro.

— Tem uns amigos meus em um barzinho aqui perto, o Copo Sujo. Não sei se conhece... Mas é bem legal, e aê, tá a fim?

— Eu nem tô arrumado para sair.

— E eu estou? — ele comemorou e bateu a mão na minha perna novamente. — Vamos lá, vai ser legal. 

Depois desse pedido tão amável, quem seria o doido de dizer “não”?

— Sim — respondi, tentando evitar o suspiro.

O sinal de trânsito abriu, ele recolheu a mão para voltar a dispô-la sobre os guidões e saiu.

— Beleza — ele disse com a voz agora abafada pela viseira abaixada. — Bora lá.

Eu sorri e assenti.

— Bora.

Continua...


Notas Finais


Próximo capítulo sairá no dia do Yaoi, sexta-feira!
Espero que estejam gostando!
Beijos, comentem!


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