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História As Origens de Sebastian - Capítulo VII - O Príncipe


Escrita por: andreiakennen

Capítulo 7 - Capítulo VII - O Príncipe


As Origens de Sebastian

Capítulo VII

O Príncipe

Após a notícia de que Catherine estava grávida, anunciada de forma esbaforida por seu pai, — que a seu ver, havia escolhido um péssimo momento para dar-lhe a “boa nova” —, seria obrigado a atender ao chamado do futuro rei de Valais[1] com aquela dor irritante na fronte, a qual massageava, enquanto seguia em direção aos aposentos de Benjamin.

A criança que Catherine estava esperando obviamente não era sua. Tinha absoluta certeza pelo simples fato de ainda não ter consumado o casamento com ela. Porém, se instaurava nessa brecha uma preocupação ainda maior: de quem seria o filho que ela estava esperando se não era dele?

Haviam poucos empregados homens em sua casa, e esses poucos eram velhos e de aparência rude, do tipo que pagavam para ter prazer com uma mulher. Além disso, os empregados do pai eram fieis e jamais ousariam a tocar em sua jovem, virgem e recém-esposa. Também não acreditava na possibilidade de ela ter chegado grávida à Valdávia, sua recepção se dera em meados do verão. Casaram-se pouco mais que um mês depois, no final de agosto. Desde então, passaram-se quatro meses, somando tudo, era em torno de seis meses. Pelo que a mãe lhe contara na carta, a barriga da esposa ainda era discreta, estando assim de acordo com o que ela provavelmente imaginava: que a nora estava no quarto mês de gestação.

O problema era que se o período de gravidez estivesse correto, Catherine havia engravidado durante a Lua de Mel. Todavia, como? E, o mais importante: de quem?

Parou abruptamente quando percebeu que estava diante da porta dos aposentos do príncipe, tentou respirar fundo e recompor-se antes de pedir autorização para entrar, teria que retomar aquele assunto mais tarde. Se possível, pediria à corte um pedido de licença de uma semana para viajar até Valdávia. Havia uma possibilidade remota passando por sua cabeça, mas que não acreditava ser verdade, sequer possível.

Deu duas batidas na porta e ouviu a voz abafada do príncipe permitir-lhe a entrada, dependendo da conversa que teriam, aproveitaria o ensejo para anunciar a sua alteza a “boa” notícia e pediria ali mesmo a licença. Sentia uma necessidade crescente de voltar à Valdávia o mais rápido possível e aliviar aquela dúvida que preenchia seu peito sobre uma dupla traição. Pois não queria que a dor da desconfiança envenenasse seu peito e corrompesse seus puros sentimentos.

Segurou a maçaneta de bronze com o brasão em alto-relevo da águia sobrevoando a coroa, símbolo do reino, e abriu a porta ainda com a cabeça dando voltas. Mas sua mente desprendeu-se completamente dos seus problemas quando ouviu os gemidos entrecortados vindos da cama com dossel no fundo do quarto, por um instante afobou-se ao imaginar que estava interrompendo um momento de intimidade do seu príncipe e pensou em voltar por onde acabara de entrar, mas o chamado de Benjamin o deteve.

— É você, Cris? Porque está parado aí? Se... ai, mulher, cuidado com os dentes.   

— Eu não pretendia atrapalhá-lo, Vossa Alteza, mil perdões, voltarei em...

— Não... Ah...  

Crispian retesou-se, não sabia se o príncipe estava falando com ele ou coma mulher com quem acabara de retrucar. Não conseguia visualizá-lo direito devido as cortinas de renda na cor champanhe que caíam do dossel e cobriam parcialmente o leito, mas assumindo que era com ele, deu alguns passos para trás.

— O mensageiro deve ter se equivocado, Vossa Alteza, perdoe-me, eu...

— Ah! Minha nossa!

Ao ouvir aquele gemido, Crispian deteve sua fala e virou-se, tendo certeza de que deveria ir, mas foi impedido antes de sua mão tocar a maçaneta da porta.

— Já pedi que se aproxime, Cris... Ai, ai, ai, minha cara — ele voltou a reclamar com a mulher em sua cama. — Mais devagar, devagar, estou tentando dialogar aqui — informou e voltou a falar com Crispian. — Você não está atrapalhando, meu caro. Fui eu quem solicitei sua presença, os mensageiros da corte jamais se equivocam, tal erro poderiam custar-lhe a cabeça, por isso eles são bem cuidadosos... — O príncipe parou para soltar um novo gemido. — Não está esperando que eu repita de novo o pedido para que se aproxime, não é?

Depois daquela fala, que soou-lhe claramente como uma ordem, Crispian aproximou-se da cama a passos comedidos. Deteve-se diante do leito e, não tendo certeza se deveria se curvar ou não, apenas ficou estático, notando pelas frestas das cortinas de véu delicado o corpo nu do futuro rei, que tinha uma mulher ruiva, de longas madeixas encaracoladas, debruçada sobre seu ventre. Ele sorriu-lhe amavelmente, mas o pedido que fez a seguir o desnorteou totalmente.

— Tire a roupa e suba.

O jovem lorde de Valdávia franziu o cenho.

— Perdão, Vossa Alteza, como?  

— Isso mesmo que ouviu, Cris. Ande, não questione seu príncipe, apenas tire toda roupa e suba, antes que essa rameira me arrance aquilo que tenho de melhor fora.

— Não está bom, meu príncipe? — ouviu a mulher reclamar.

— Quem disse que poderia desocupar sua boca pra falar, minha cara? Continue fazendo-o crescer, mas cuidado com os dentes — a advertiu novamente

Com a boca já ocupada novamente, a mulher apenas resmungou em concordância.

Quando Crispian notou os olhos castanhos escuros do seu príncipe repousarem sobre si achou que deveria se mexer e passou a despir-se. Primeiro fez com que a pesada capa de pelo de urso escorregasse por seus ombros e fosse direto para o chão, então desafivelou a sobretudo de couro bege, o cinto, e peça por peça foi deixando o seu corpo rapidamente, até restar somente o longo camisão e a calça de malha fria que servia-lhe de roupa de baixo.

Benjamin, que estava recostado na cabeceira da cama, com os braços cruzados atrás da cabeça, observou-o atentamente e aquele mero olhar o fez entender que ele o queria completamente nu.

Mesmo sentindo aquele estranho incômodo, Crispian obedeceu. Por mais estranho que fosse, ainda era um pedido superior, ao qual não poderia dar-se ao luxo de contestar. Retirou o camisão por cima da cabeça e abaixou a calça. Finalmente viu seu príncipe sorrir, malicioso, e estender-lhe a mão.

— Venha, suba — convidou-o.  

Seus joelhos afundaram-se no colchão enquanto engatinhava sobre ele, apanhou a mão do seu príncipe e acomodou-se ao lado dele. Benjamin tocou o rosto da mulher, segurou-a pelo queixo, fazendo-a com que detivesse o sexo oral nele e erguesse seus olhos verdes, atenuados pela luxúria, sobre ambos. Então o príncipe direcionou o rosto, e os lábios úmidos e entreabertos da bela meretriz ruiva, para o ventre do rapaz ao seu lado.

— Vou trocar de posição com esse belo loiro, minha cara. Veja como ele está desanimado — o homem fez um aceno com a cabeça em direção ao ventre de Crispian e ao sexo flácido entre suas pernas. — Desperte-o e dedique-se como se estivesse ainda com o falo real na boca.

A mulher riu divertida e Crispian nem teve tempo de ordenar seu raciocínio quando a boca dela engoliu todo seu membro e passou a sugá-lo e lambê-lo com destreza. Crispian notou que o príncipe se divertiu com sua reação, pois o viu sorrir abertamente depois que a mulher se debruçou sobre seu ventre e engolfou todo seu membro de uma única vez.

— Eu vou ficar com a parte detrás — o príncipe o informou, piscando-lhe um dos olhos e deslizando as mãos sobre as costas da ruiva, que estava com o quadril empinado e em posição. — Eu gozo com mais avidez quando minhas mãos massageiam essa vastidão de carne macia e meu falo se arremeta com dificuldade dentro de tão estreito canal.

Quando fora chamado por Benjamin, Crispian imaginou de tudo, menos que fosse dividir a cama com ele.

Era estranho assistir ao príncipe se arrematando com força para dentro da meretriz ruiva, estapeando as nádegas dela, enquanto ele mesmo perdia o controle sobre seus sentidos ao ter seu sexo sorvido com tanto empenho. Mas o príncipe foi o primeiro a entrar em êxtase, emitindo urros desregulados que preencheram todo o quarto e quando o percebeu sair de dentro da mulher, sentiu-se aflito por não ter alcançado o ápice ainda.

— Não fique tenso... — Benjamin tentou confortá-lo, sentando-se diante dele, ao lado da ruiva, a qual passou acariciar os cachos rubros. — Levante daí, minha querida — pediu, erguendo a cabeça dela ao segurá-la pelo queixo. Ele mesmo tirou alguns fios vermelhos do rosto da mulher e passou a mão na boca, limpando o excesso de saliva dos lábios carnudos, levemente inchados de tanto sugar. — Já está ótimo, agora, deite-se.

O príncipe a empurrou e a meretriz se deitou para trás, de pernas abertas.

— Agora é sua vez, meu rapaz. Tome-a. Veja como ela está ansiosa, úmida, perfeita.

Crispian encarou a mulher, os cachos vermelhos forraram a cama embaixo dela, admirou os seios fartos, o rosto levemente ruborizado, seus pelos eram ruivos até mesmo debaixo dos braços e na parte íntima. Engoliu em seco e voltou-se para o seu príncipe, a incerteza daquilo que ele queria lhe assaltando. Não era só estar partilhando daquele momento íntimo com Benjamin que o incomodava, mas até aquele momento só pertencera a um único ser: Earthen.  

— Hesitas?

— Eu sou um homem recém-casado, Vossa Alteza.

A gargalhada que rompeu os aposentos fez Crispian se encolher e contemplar seu príncipe com os olhos arregalados e a face ainda mais transtornada.

— Você me diverte, Cris! — ele exclamou, acalmando a crise de riso. — Agora percebo que a pureza e inexperiência estampadas em sua expressão não é um mero charme para seduzir esse príncipe libidinoso — comentou ele, tocando o rosto de Crispian, enquanto umedecia seus lábios ressequidos com a língua. — Você me fascina, Crispian. Fascinou-me no momento que entrou nesse castelo ao lado do seu ambicioso pai. Juro que quando conheci o barão Edward, jamais imaginei que ele me traria tão bela surpresa.

— Perdoe-me, mas eu ainda não o compreendo, meu príncipe.

— Prazer, Cris. Estou falando de prazer. Prazer nada tem a ver com votos matrimoniais, meu belo Lorde de Valdávia. Em breve também estarei casado e com a geniosa duquesa Anabel, por infelicidade minha. Mas esposas são meros recipientes para gerar nossos herdeiros, o prazer nós buscamos em outros corpos, em outras carnes, em ousadas posições. Veja — ele apontou a meretriz na cama. — Diga-me que não se sente tentado. Afirme, se for capaz, que a santa Catherine é mais atraente que toda essa carne suculenta esparramada diante dos seus olhos. Aprenda, meu jovem lorde, que esposas, tratamos com honra, essas, podemos abusar, meter onde bem pretendermos, atravessá-las até as entranhas e elas ainda irão rir e se derramarão em poças de prazer.

Crispian admirou seu príncipe, notando que a paixão com que ele falava começava a excitá-lo. Não podia negar que não o compreendia, mas também não podia contar-lhe a verdade, não conseguia imaginar como ele reagiria ao saber que jamais havia se deitado com uma mulher na vida e, mesmo assim, não era inexperiente.

Mas não conseguiu evitar quando seus olhos lhe traíram e correram rapidamente o peitoral de Benjamin, detendo-se nos lábios dele. O físico e a beleza do príncipe não chegavam nem aos pés do seu Earthen, mas os longos e ondulado cabelos negros lhe remetiam vagamente ao seu homem-lobo. Lembrar-se de Earthen, e dos meses distante do seu corpo ardente, o animou ao ponto de fazê-lo umedecer os lábios enquanto seus olhos ainda estavam fixos nos do príncipe.

Benjamin notou aquela leve mudança de postura do jovem lorde e seus olhos se estreitaram para observá-lo melhor.

 Crispian ao perceber a gafe cometida, desviou os olhos para mulher que esfriava deitada no leito, mas no segundo seguinte, sentiu as mãos do príncipe segurar seu queixo e fazê-lo voltar a olhá-lo.

— Não desvie os olhos da sua fonte de desejo nunca, milorde...

Depois que o príncipe de Valais disse aquilo, o rapaz loiro só teve tempo de prender a respiração no peito e na sequência teve os lábios cobertos pelos de Benjamin. Crispian sentiu seu coração acelerar, não por estar sentindo algo pelo príncipe, como acontecia quando Earthen o beijava, mas sim pela excitação causada por aquele momento. Seus olhos se mortificaram, seu corpo despertou por completo e acabou por corresponder ao beijo, abraçando-se ao pescoço de Benjamin.

Quando o beijo foi apartado, o príncipe o empurrou para mulher, que não estranhara a cena, e o recebeu de braços abertos.

Enquanto a penetrava, Crispian sentiu Benjamin acariciando suas costas, massageando suas nádegas, apartando-as e enfim sentiu o membro dele roçando sua entrada. Não surpreendeu-se quando ele finalmente o penetrou. E a partir desse momento não conseguiu segurar-se, sua mente apagou-se e deixou-se envolver pelo sexo.  

No meio da madrugada, Benjamin dispensou a meretriz para que ele e Crispian ficassem a sós. Levantou-se para servir-se de uma bebida e notou o rapaz loiro deixar a cama e passar a se vestir também.

— Eu dispensei apenas ela, não a você — ele comentou, encostando-se a mesinha de bebidas e encarando o rapaz que parou de vestir-se.

— Devo tirar tudo novamente?

O príncipe riu.

— Não. Está tarde, é melhor que vá descansar.

Crispian voltou a se vestir, sem dizer nada.

— Eu escolhi você — anunciou Benjamin de repente, fazendo Crispian se deter no afivelamento do cinto e erguer somente seus olhos azuis para ele. — Nessa posição que o vejo, você me parece ainda mais lindo.

— O que está dizendo, Alteza?

Benjamin desencostou da mesinha para virar-se e servir mais uma dose da bebida que havia acabado de entornar.

— Estou dizendo que eu o escolhi para o cargo de meu assessor. Eu não quero nenhum daqueles velhos babões me importunando, quero alguém jovem como eu, e que falemos a mesma língua. Eu notei que teria isso de você no momento em que te vi — ele explicou, direcionando o copo de bebida aos lábios, e sorvendo a bebida levemente. — Eu descobri que o queria no momento que coloquei meus olhos sobre você.

Aquela alegação fez os olhos de Crispian se arregalar. Deveria sentir-se feliz por finalmente saber que teria o cargo almejado pelo pai, mas as condições que ficavam agora evidente o fez sentir-se pior do que a meretriz que saíra há pouco dos aposentos. Era tudo que queria, mesmo assim, não estava certo. Amava Earthen. Ainda era marido de Catherine, mesmo com a notícia daquela inconcebível gravidez. Não podia simplesmente aceitar ser o novo brinquedo do príncipe, seu olhar se endureceu.

— Escolheu-me para ser seu brinquedo?

A sua resposta não agradou à Benjamin, que ficou sério de repente, e largou o copo de bebida na bandeja para aproximar-se dele.

— Não senti objeções enquanto eu o tomava como a pior das putas desse reino — o príncipe foi ferino em sua argumentação, largando a cordialidade de lado ao perceber o tom mais agressivo do lorde. — Aliás, notei que sua passagem está mais que acostumada a receber o que te dei hoje.

Crispian inspirou fundo. Os olhos selvagens do príncipe o pressionando.

— Minha mulher está grávida — tentou criar outro argumento. — Preciso de uma licença para visitá-la.

A notícia não abalou Benjamin.

— Anunciarei minha resposta no baile de primavera. Não quero que deixe o castelo até lá.

— Primavera? Daqui há três meses?

— Sim — ele afirmou calmamente, voltando para a mesinha de bebidas e apanhando o copo que havia deixado pela metade, retornando para cama, onde se sentou de pernas cruzadas à beirada. — Não quero você vagando por aí nessa neve, correndo o risco de morrer congelado. Eu o quero bem protegido entre as muralhas do castelo e de preferência em meus braços. Chegará a tempo de ver seu filho nascer na primavera e então você trará à ambos, sua mulher e sua criança, para viver no castelo. Aí você pode ser fartar de vê-la emprenhar-se e ter filhos quantas vezes quiser. Até lá, você me servirá todas às vezes em que eu mandar chamá-lo. Mas não quero que pense que sou um príncipe maligno, deixarei a sua disposição meus melhores mensageiros, não deixará de ter notícias de sua bela Catherine enquanto estiverem longe. Acho que é só isso, milorde, agora vá. Descanse — o homem ergueu o copo em cumprimento e voltou a beber.

Crispian encheu-se de respostas, mas elas se entalaram no meio caminho em sua garganta, por mais que Benjamin o desejasse, era um objeto fácil de ser substituído para alguém com o poder dele, se o afrontasse perderia a cabeça e nunca mais teria o prazer de estar nos braços de Earthen. Resignando-se, espirou, curvou a cabeça, fez uma breve mesura com a mão e então se retirou, em silêncio.

Estava chegando em seu limite, não aguentaria ficar mais três meses sem seu Earthen e, muito menos, saber o que aconteceu com Catherine. Pensaria em um meio de trazê-lo até ele.

...

Catherine entrou no quarto acariciando a barriga que em menos de um mês havia dobrado de volume e já despontava em suas roupas. Sabia que o tamanho seria normal se sua gravidez fosse de cinco ou seis meses, o problema era que estava grávida somente a um mês. Aproximou-se arfante do homem nu parado diante da janela aberta por onde entrava uma fria corrente de vento.   

— Recebemos outra carta — ela avisou, mostrando o papel em sua mão.

Earthen apressou-se e fechou a janela, aproximando-se dela e ajudando-a a sentar-se na cama.

— Não deveria ficar perambulando pela casa em seu estado, milady.

— Estou bem. — Ela sorriu, gentilmente, estendo à ele o pergaminho que não estava mais lacrado.   

— Foi violado novamente? — Earthen observou, ao apanhar a carta.

— Sim. Lady Francine continua desconfiada. 

— Você a leu?

— Não, esperei para lermos juntos.

— Leia você.

Ela sorriu, repousou uma das mãos sobre a barriga e com a outra segurou a carta diante dos olhos, a qual passou a ler.

— “A cada crepúsculo e novo alvorecer minha ânsia de vê-los aumenta, minha doce milady. As noites nunca foram tão frias sem seus abraços, sem seus beijos. Desejo-a ardentemente dia e noite, na mesma proporção em que sonho com a face misteriosa dessa pequena criatura que carregas em seu ventre. Como ela nascerá? Quando? Será uma menina? Um menino? Terá olhos azuis? Você não me respondeu na carta passada quem está alimentando meu lobo. Apenas respondeu que ele não passa fome, mas quem o está alimentando? Onde ele está dormindo? Sabe que me preocupo com vocês, mais do que a mim mesmo. Earthen é um ente da família e já negociei com o príncipe e o trarei junto com a gente para corte na primavera, pergunte à ele o que pensas sobre isso? Queria muito vê-los. Mas viajar com à ameaça de tempestades de neve constante é arriscado. Entretanto, acredito que não seria para um lobo corajoso como Earthen que viveu na Floresta e salvou-me a vida quando criança. Mas para nós, meros humanos, querida Cath, é perigoso. Despeço-me agora com pesar no coração e aguardarei ansiosamente pelo mensageiro e as respostas de vocês. Com amor, Cris”. — Catherine repousou a carta ao lado e direcionou seus olhos para o homem-lobo que a encarava firmemente. — Vê? Ele nunca menciona a mãe, é isso que a deixa furiosa. — Catherine observou, sorrindo para Earthen. — Você entendeu, não é? Ele quer vê-lo.

— Eu entendi.

— Vá até ele, Earthen.

O homem-lobo moveu os olhos do rosto de Catherine para a barriga, notando o tecido fino que encobria sua barriga se mexendo.

— Eu vou ficar bem.

— Não vai, Milady. Está fraca, pálida, sua saúde está se esvaindo aos poucos, enquanto minha cria cresce em seu ventre. O que está esperando não é humano. Devo ficar e assisti-la.

Ela suspirou e mantendo o sorriso no rosto, repousou a mão sobre a saliência que ainda se mexia, escondendo-a do olhar vigilante de Earthen.

— Você disse que não sabe quanto tempo será essa gestação.

— Eu não me lembro da minha. Também nunca vi outro igual a mim.

— Ele não vai nascer antes que o “outro pai” esteja de volta — Catherine garantiu. — Crispian merece uma explicação. E ele sabe que não pode exigi-las por cartas que são violadas antes de sair do reino e antes de chegarem em nossas mãos.     

— Como sabe que é “ele”? — Earthen se viu curioso, ao perceber que Catherine sempre se dirigia a criança como se soubesse que ele seria um menino.

— Eu sei porque o vi em meus sonhos.

— Sonhos não são reais, milady.

Ela apenas sorriu em resposta.

— Ele será minha única companhia enquanto estiver fora, gostaria de chamá-lo por um nome então. Mas pensei em tantos e não cheguei a nenhum. Diga-me você, que nome gostaria de dar ao seu filho?

Earthen não pensou muito e a resposta veio em forma de um saudoso sussurro.

— Sebastian.

O rosto de Catherine se iluminou com um imenso sorriso.

— É lindo. De onde veio?

— Eu o nomearia como sendo meu “primeiro dono”, mas acho mais prudente chamá-lo de meu pai.

Catherine manteve o sorriso leve no rosto e comentou com a barriga.  

— Viu, Sebastian, você herdou o nome imponente do seu avô.

Earthen retirou o colar de ouro que usava no pescoço, desencaixou dele o losango central e voltou a recolocá-lo no pescoço, então andou calmamente até a cômoda do quarto e após encontrar o que queria dentro de um porta-joias, retornou até Catherine e colocou em seu pescoço um cordão de ouro com o losango central da sua coleira como pingente.

Cath pegou o pingente e dedilhou o nome “Earthen” em alto relevo.

— É lindo.

— Um presente para você, milady, e para o nosso Sebastian.

— Deve ser algo muito estimado. Acho que não...

Ele a calou com o dedo indicador sobre os lábios e após ela compreender que não tinha o direito de recusar, assentiu e Earthen descobriu os lábios dela, para voltar a selá-los com um beijo.

— Vou responder a carta, o mensageiro deve estar esperando — ele disse ao afastar-se dos lábios dela e vê-la respirar cansada. — Descanse enquanto isso.  

— Não se importa se eu me deitar?

— Obviamente que não. Já disse, descanse.

— Diga à ele que irá vê-lo, Earthen — ela pediu novamente, abrindo a boca em um bocejo e se acomodando na cama.

— Seu pedido é uma ordem, milady.

...

“Nosso filho ainda está tão pequeno, mas eu já o sinto ansioso para vir ao mundo. Ele está crescendo depressa. Eu sonhei que ele era um menino, e nesse sonho eu o chamava de ‘Sebastian’. Se importaria se esse for o nome dele? Também sinto muito a sua falta. Principalmente das nossas noites juntos, de dormir em sua companhia, meu doce milorde. Realmente não podemos vencer a distância instaurada entre nós, o jeito é esperar. Earthen está inquieto, talvez sua inquietação seja em parte pela vinda do bebê e em parte por você não estar presente. Como eu disse, não se preocupe, ele está se alimentando bem. Eu estava pretendendo soltá-lo para que ele vague um pouco pela floresta, não é bom para um animal selvagem viver tanto tempo enclausurado. Quem sabe ele o alcance onde está, não é? Lobos, assim como os cachorros, devem ser animais fieis, e devem conseguir farejar o dono pelo rastro, mesmo com essa densa neve que cai. Não se esqueça, nunca, milorde, nós te amamos. Com carinho, Cath.”.

Benjamin deu mais uma boa olhada na carta, virou-a de um lado à outra e então voltou a despejar cera sobre o lacre rompido, e selá-la com o brasão que mandará confeccionar com o símbolo da família Valdávia.

— Espere esfriar e a entregue — ordenou ao mensageiro, que se levantou rápido do chão onde estava curvado e apanhou a carta estendida pelo seu príncipe.

Sem olhá-lo nos olhos e mantendo-se de cabeça baixa, o rapaz se retirou.

— Com sua licença, Vossa Alteza.

Assim que o mensageiro saiu, Benjamin se levantou e caminhou até à janela do seu escritório, onde deteve-se, observando o imenso pátio do castelo e as poucas pessoas que transitavam por ali. Contorceu os lábios e elevou a mão no queixo, o qual esfregou pensativo.

“Ou você é muito esperto, Lorde Crispian, ou é mesmo um honrado homem de família e sem segredos à esconder. Não há nenhum deslize nessa troca melosa de correspondência, mas ainda assim, sinto que há algo. E eu vou descobrir. Ah, tenha certeza que vou.”

Continua...

[1] A Referência não é exatamente a Valais, um dos Cantões da Suíça, o reino é fictício, assim como o Feudo (ou Baronia) de Valdávia, pertencente a família de Crispian, também é fictício. 


Notas Finais


Agora não tem mais como vocês dizerem que não sabem quem é Sebastian, né? ;D

Nosso querido lobinho está a caminho, Nalu, Bebel, e demais que estão acompanhando essas história. /o\ Não é lindo? *--*

Me perguntaram quantos capítulos terá essa original e eu posso dizer que ainda não sei bem. Mas acredito que estamos nos encaminhando para metade.

Será que Earthen vai mesmo até o palácio prestar esclarecimentos à Crispian? E o príncipe Benjamin, qual é o motivo dessa obsessão em saber o que Crispian está escondendo?

Deixem seus comentários! Não esqueçam que eles são o sangue que essa escritora aqui, meio-humana, meio-lobo-demônio, precisa pra sobreviver e manter na história ativa!

Beijos! o/


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