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História Pintando O Sete - Hikari - Parte 2


Escrita por: andreiakennen

Capítulo 5 - Hikari - Parte 2


Pintando O Sete

Revisado por Blanxe

Capítulo 05 - Hikari - Parte 2

No fim da tarde, depois de relacionarem em tópicos tudo que precisariam para o festival e dividirem as tarefas que seriam definidas para grupos em suas respectivas salas, Bara, Hikari e Kinizuna deram por encerrada a reunião no quarto de Bara.

— Ah, estou um caco! — a loira anunciou, se jogando para trás no carpete.

Bara ouviu o barulho das portas do guarda-roupa de Hikari correndo e imaginou que o irmão acabara de chegar. Não conseguiu deixar de sentir aquela veia de irritação latejar novamente em sua testa. O irmão não tinha treino aquela semana, entretanto ele não voltou para casa assim que a aula terminou e ela e os amigos já sabiam o motivo: a confissão da primeiranista.

Depois que assistiram aquela cena no portão da escola, eles viram Hikari sair acompanhando a menina, o que deixou entender que ele havia aceitado a proposta de namoro. Algo que irritou Bara profundamente. Irritou por ela saber que, se o irmão tivesse mesmo aceitado o pedido, seria por um motivo bobo qualquer, como a beleza da pretendente, e não porque levava em consideração seus sentimentos ou os dela.

Também não haveria motivos para ela se importar tanto com as escolhas de Hikari se essas não a afetassem diretamente. No entanto, se afetava seus melhores amigos, não tinha como não afetá-la. Hiroki sentia um amor pelo irmão o qual o próprio considerava “platônico”. Sentir um amor o qual se tem certeza que jamais será correspondido é um fato dolorido por si só. Por isso que, desde que descobrira o sentimento do amigo pelo irmão, Bara vinha tentando animá-lo e fazê-lo acreditar que para o amor verdadeiro não havia barreiras; seus próprios pais eram sinônimos dessa crença. Porém, as atitudes do irmão não a ajudavam.

 Além disso, tinha a amiga Giovana que, apesar de se mostrar forte e tentar não transparecer mágoa, era visível que ainda ressentia-se com o rompimento repentino do namoro deles.

Bara se ergueu do chão.

— Eu vou trazer suco para gente. 

— Ótimo. Estou mesmo com cede — concordou Giovana que estava respondendo as mensagens do chat do WhatsApp[1] do seu celular desde que terminaram as listas de tarefas.

— Arigatô, Bara-chan — agradeceu Kinizuna, entretido, brincando com o Kora, o novo camaleão da amiga.

Bara saiu do quarto e desceu as escadas calmamente, entrou na cozinha e avistou o irmão retirando da geladeira os mantimentos que iria precisar para o jantar.

— Achei que fosse tomar banho primeiro — Bara comentou, encostando-se na lateral da geladeira, esperando o irmão sair para ela apanhar a caixa de suco.

— E eu vou. Mas antes vou temperar o peixe, colocar os legumes no vapor e o arroz para cozinhar. Estou muito atrasado.

— Se o papai chegar você vai ter problemas. Sabe que ele detesta quando a gente deixa as panelas no fogo e sai da cozinha.

— Eu não vou demorar. Não vai dar tempo dele chegar — ele garantiu confiante, saindo da geladeira e deixando o espaço para irmã segurar a porta e apanhar a caixa de suco.

— Está por sua conta e risco — Bara disse depois de colocar a caixa de suco de morangos na mesa e apanhar três copos no suporte anexo a pia.

— Seus amigos ainda estão aí? — Hikari mudou de assunto ao ver a quantidade de copos que Bara servia.

— Estão. Algum problema?

— Nenhum, sua grossa. Só queria saber se eles vão ficar para o jantar para eu aumentar as medidas da comida.

— Hm. Sei — ela resmungou, olhando o irmão de rabo de olho. — Provavelmente eles não vão ficar.

— Hein?

— O quê?

— Obrigado.

— Pelo quê?

— Oras, por você ter conseguido mudar o projeto da minha sala.

— E você acha mesmo que fui eu?

Hikari se virou para irmã e a encarou, confuso.

— Quem seria então?

— Quem você deduz?

Ele se esforçou, mas não conseguiu pensar em ninguém.

— Foi o Hiro-chan.

— O Quatro-Olhos?!

— Não chame o Hiro-chan assim. Tenha um pouco de respeito pela pessoa que colocou em risco duas amizades preciosas só pra livrar o “Pop da Escola” de passar o maior carão da vida dele.

— Ah, não precisa se estressar — ele falou, vendo a irmã abrir uma porta atrás da outra do armário de parede, certamente atrás da bandeja de copos, a qual estava no escorredor da pia. 

— Ué! Cadê a bandeja dessa casa?

— Aqui. — Ele bateu com o objeto na cabeça dela. — Sua tonta.

— Ai! Você que é o tonto aqui.

— Hein, como ele fez isso, Bara? Como ele sabia?

— Ele ouviu a gente conversando no corredor e depois disso agiu sozinho.

— Eu não entendi.

— A única coisa que você tem que saber é que quem livrou seu pescoço do vexame foi o Hiro-chan e se está devendo um favor agora, é para ele e não para mim — ela explicou, arrumando os copos na bandeja e devolvendo a caixa de suco a geladeira.

Hikari ficou em silêncio, mas esboçou um sorriso discreto, o qual Bara não foi capaz de captar já que ela estava de costa para ele.  

— Sinto pena dessa sua nova namoradinha que tem um jeito de bobinha. Se ela soubesse que está caindo nas mãos de um tarado idiota. 

— Namoradinha? — Hikari olhou a irmã por cima do seu ombro.  

— Não se faça de lerdo. Estou falando daquela do primeiro ano que se declarou pra você hoje na saída da escola.

— Nossa, as notícias chegam ao seu ouvido em uma velocidade assustadora — ele voltou a lavar os legumes.  

— É você que é um indiscreto. Ninguém me contou. Eu vi vocês dois no portão da escola como qualquer um teria visto.

— Pensando bem, você acha que ela é mesmo do tipo ingênua, nee-chan? Estou começando a me arrepender por não ter aceitado sair com ela. Ela parecia mesmo do tipo que não reagiria caso eu tentasse tocar nos joelhos e com o tempo fosse subindo para as coxas, quem sabe até conseguiria tocar os seios por cima da blusa e...

A pancada que Hikari sentiu na cabeça o fez perder o fio de pensamento.

— Ai! Isso doeu.

— Era pra doer. Eu não quero ficar ouvindo suas fantasias pervertidas, idiota!

Bara apanhou a bandeja de copos e seguiu para saída da cozinha.

— Você queria o quê? Eu sou um garoto na puberdade. 

— Tenho certeza que nem todos “os garotos na puberdade” são nojentos e pervertidos como você.

Hikari riu e depois que a irmã saiu da cozinha ele parou para pensar no que Bara tinha dito sobre Hiroki e abriu um sorriso ainda maior.

— É. Eu vou agradecê-lo, mas será do meu jeito.

...

Depois de antecipar tudo o que conseguia para o jantar, Hikari subiu para tomar um banho rápido. Não demorou muito no banheiro, porque precisava concluir o jantar. Tomou uma ducha na água fria mesmo, mal se secou e saiu do box com a toalha enrolada na cintura. Olhou-se no espelho acima da pia e passou as mãos nos cabelos molhados para retirar o excesso da água, quando estava prestes a sair percebeu a maçaneta da porta girando e apressou-se em abrir a porta, dando de cara com Kinizuna.

— Vejam quem está aqui? É o meu herói.

— C- c- como?

Hikari viu o rosto do garoto se afoguear e ser tingido por um intenso vermelho. Antes que ele desse meia-volta e fugisse, o rapaz loiro o apanhou pelo pulso e o puxou para dentro do banheiro, trancando a porta e o empurrando para que se encostasse ao batente de madeira agora fechado.

Kinizuna arregalou os olhos.

— Go- gomen. E- e- eu não quis...

— Psiu... — Hikari sussurrou, cobrindo os lábios dele com seu dedo indicador. — Não tem problema usarmos o banheiro juntos, somos dois caras.

— M- m- mesmo a- a- assim i- isso n- n- n- n- não é certo.

— Parabéns. Você conseguiu ficar mais gago do que o normal. Está tão nervoso assim? — Hikari perguntou, descobrindo a boca dele e se deliciando internamente por provocar aquela reação.  

— E- eu...

— Já te falei algumas vezes, mas vou deixar claro. Tem duas coisas que detesto em você, Kinizuna. Não. Pensando melhor, são três. Não. Melhor, são quatro. Essa gagueira insuportável, esses óculos alaranjados ridículos, o fato de você ser o melhor amigo da Bara e o pior de tudo: você ser gay. 

Kinizuna não soube o que responder. Não tinha ideia do que falar para alguém que enumerava seus defeitos enquanto o pressionava contra uma porta trancada e tinha os lábios tão próximos aos seus. Apenas encarou o rosto de Hikari enquanto procurava controlar o ritmo de sua respiração. Teve medo que até mesmo o choque de suas respirações acrescentasse mais um número àquela lista.

Tateou a madeira atrás dele como se quisesse encontrar uma alavanca mágica que ao ser acionada o transportasse para longe dali, obviamente não a encontrou.

Sentiu uma estranha vontade de chorar, mas se segurou. Não podia dar-se ao luxo de derramar lágrimas na frente do causador delas — ao menos foi o que imaginou que Bara lhe diria.

— Po- por f- favor... Hi- Hi- Hi-...

Hikari sorriu ao vê-lo desistir de tentar completar seu nome.

— Fale — o loiro o instigou. — Complete meu nome sem gaguejar. É tão simples. Repita: Hikari.

O amigo de Bara negou com a cabeça e o loiro notou que ele pressionava as pernas uma na outra.

 — Está apertado, não está? Quer usar o banheiro? — perguntou, sentindo ser impulsionado por algo que o aquecia.

Havia tomado gosto em provocar Hiroki, só para vê-lo ter aquelas reações que o fascinavam e o estimulavam a avançar cada vez mais. Sentia vontade de fazer com ele coisas que não ousaria fazer com uma garota, somente pelo prazer em torturá-lo, em ver o rosto delicado que tinha ficar totalmente vermelho, a voz quase sumir e os olhos se encherem de água.

 Lambeu os lábios ao imaginar qual seria a reação dele se o tocasse ousadamente naquela parte mais íntima que era friccionada por ambas suas pernas. E, não se esforçando nenhum pouco para conter aquele impulso, Hikari sobrepôs sua mão sobre o volume da calça social do uniforme escolar que Hiroki vestia e o apalpou.

Arrepiou-se ao ouvir o meio-gemido que escapou dos lábios de Hiroki que, para evitar que novos gemidos escapassem, abafou a boca com as duas mãos rapidamente. Mesmo assim, o gesto não foi suficiente para fazer com que Hikari recolhesse a mão, ele continuou apalpando devagar, achando estranha a sensação de tocar o sexo de outra pessoa.

— Está duro. Eu sei que fica assim quando estamos com vontade de urinar, mas... Eu tenho quase certeza que não é só por isso. Talvez, seja excitação, não é?

Ao ouvir aquilo, Kinizuna destampou a boca rapidamente e usou as mãos para espalmar o peito de Hikari e tentar afastá-lo.

— P- p- por f- favor Hi- Hi- Hi- Hi-...

Por um breve instante, Hikari sentiu um pouco de remorso. O amigo da irmã tremia dos pés a cabeça e os olhos estavam inundados por lágrimas que pareciam prestes a se derramar a qualquer momento. Decidiu dar-lhe uma chance de escapar.

— Se disser meu nome sem gaguejar, eu paro.

— É- é- é i- i- impo- impossível...

— É possível, sim. Se esforce. Basta dizer: “Pare, Hikari”.

— Pa- pa- pa...pa-re... Hi- Hi- Hika- Hika-...Hika-ri-kun...

Hikari revirou os olhos impaciente. Então moveu a mão para a braguilha do outro, encontrando o puxador do zíper.

— Sem honorifico e sem gaguejar. Se você não conseguir, vai ficar muito pior — ele ameaçou.

Os dedos de Hiroki perderam a força e deslizaram pelo peito de Hikari até estagnarem inertes ao lado do seu corpo. Ele dava indícios claros de que não suportava mais a pressão e não iria mais reagir. Começou a chorar, simplesmente.

Hikari balançou a cabeça em sinal de incredibilidade. Sorriu e finalmente recolheu sua mão, para erguer os óculos que ele usava para o meio dos cabelos, então encostou sua testa na testa dele.

— Não chore, Idiota. Você é um homem ou não?

Mesmo fungando e soluçando, Hiroki balançou a cabeça positivamente.

— Então erga a cabeça e olhe para mim.

Após dar um profundo e soluçante suspirar, ele obedeceu.

— Eu só estou te enchendo a paciência. Não tem por que chorar.

— V- você m- me o- odeia...

— Não te odeio, idiota. Se eu realmente te odiasse, eu não estaria tão perto de você agora.

Hiroki conseguiu acalmar o choro, mas ainda soluçando ergueu os olhos e encarou os azuis claros de Hikari.

— E- e- então p- por que fa- faz i- isso c- comigo?

— Eu só queria te dar uma recompensa por te me ajudado hoje.

Os olhos do amigo de Bara se arregalaram.

— Não fique se fazendo de ingênuo só para me seduzir, Kinizuna. Você sabe do que estou falando: da mudança do tema da minha sala do Festival Cultural desse ano.

Kinizuna não conseguiu responder. Estava confuso. As informações se misturavam em sua cabeça. Não entendia como Hikari enumerava que detestava tantas coisas nele e ao mesmo tempo o provocava, alegando que não o odiava.

“Hikari-kun, você não está apenas perturbando minha mente, mas também meu corpo e meus sentidos” ele pensou.

Estava começando acreditar que o irmão da amiga gostava de brincar com seus sentimentos, de vê-lo desorientado.

Porém, mesmo sabendo que não passava de pura provocação, Hiroki decidiu que queria a recompensa que Hikari lhe oferecia. No entanto, lhe faltava coragem para dizer.

Hikari observou os olhos de Hiroki ficando mortiços. Sentiu o hálito dele, carregado de aroma de morangos, adentrar suas narinas. Não precisava ser um gênio para entender o que aquele gesto significa, não era muito diferente de uma menina quando queria ser beijada.  

— Feche os olhos — Hikari pediu.

— M- m- mas...

— Só me obedeça. Feche-os.

Hiroki obedeceu, apertando-os firmemente. Mas quando sentiu a mão de Hikari segurar seu queixo a pontada em seu estômago foi tão intensa que precisou reabri-los. Por isso não apenas sentiu, mas viu quando os lábios de Hikari roçaram e tocaram os seus. Entretanto, não houve tempo para que aquele toque se prolongasse e tornasse um beijo real e profundo, pois o barulho de passos apressados se aproximando da porta do banheiro fez Hikari recuar assustado.

Logo, vieram as batidas impacientes na porta.

  — Hikari você está ai dentro?

A voz nervosa de Sasuke do lado de fora fizeram Hikari arregalar os olhos.

“Merda! Larguei a panela no fogo!”

 — Sim, otou-san — ele respondeu rápido, tampando a boca do outro garoto com sua mão, temendo que ele emitisse algum som que denunciasse que havia mais alguém ali dentro.  

— Você deixou os legumes cozinhando enquanto veio tomar banho? Quantas vezes eu já disse pra não deixar panelas no fogo sem ter ninguém por perto para olhá-las, Hikari?! Está querendo provocar um acidente?

— Gomen, otou-san. Já estou saindo.

— Saia agora mesmo!

— Se esconde no box — ele ordenou em um tom de voz quase inaudível e soltou do garoto que correu para o  local e se escondeu.

Assim que Hikari abriu a porta, ele apagou a luz. Em seguida saiu para o corredor e encostou a porta. Apesar de ter acabado de sair do banho, sentia o suor brotando frio na sua testa ao se deparar com a expressão irritada de Sasuke.

— Eu não vou ficar te dando sermão a minha vida toda, Hikari — foi a primeira advertência de Sasuke. — Ou você começa a ter mais responsabilidades, ou vou fazer com que a tenha do jeito difícil.

— Eu já pedi desculpas, otou-san.

— Não estou atrás dos seus pedidos de desculpas. Eu não quero é ficar te advertindo a vida inteira. Não quero ficar repetindo que você não deve tomar banho enquanto deixa o fogão aceso sozinho. Se continuar agindo de maneira irresponsável, eu vou voltar a conversar com seus avôs sobre ingressá-lo na escola militar.

— Agora? Que eu já estou terminando o ensino médio?

— Não me responda.

Hikari abaixou a cabeça.

— Não pense que está livre da academia militar por já estar cursando o ensino médio, Hikari. Você ainda tem um ano e meio pela frente. Um ano e meio que você pode muito bem cursar na academia. Então se você preza mesmo pelo seu basquete, por esses seus cabelos compridos e a vida boa que tem, é melhor andar na linha. Agora vá trocar de roupas e desça para terminar o jantar.

—Sim, senhor.

Hikari entrou no quarto e chutou sua cômoda.

— Merda! Merda! Velho insuportável!

No outro cômodo, Bara e Giovana ouviram os esturros e os chutes de Hikari nos móveis.

— Eu o avisei — Bara falou, dando de ombros.

— Nossa, Bara-chan. Vou te falar a verdade, o que o seu pai Sasuke tem lindo ele tem de horripilante. Que bafão é esse sobre o Hikari-kun ir para uma academia militar?

— Faz tempo que ele o ameaça com isso. Você sabe que meus avôs são ex-militares, né?

— Sim. Você me disse que eles são aposentados e que agora dão aula.

— Exatamente. Eles sempre quiseram que meu pai Naruto ou meu pai Sasuke tivesse seguido a carreira militar, mas como nenhum dos dois quis, eles depositaram a fé nos netos: Hi-chan ou Yoru-nii-chan. O Yoru-nii-chan frequentou a academia militar, mas depois foi para uma faculdade comum e não quis saber de servir a FAJ[2]. Mas desde cedo sempre foi óbvio que o Hi-chan jamais iria colocar os pés em uma academia militar. Ele tem fobia só de ouvir esse nome.

— Foi por isso que você quis entrar então?

Bara suspirou.

— É. Mas todos da família foram contra. O vovô Iruka principalmente. Ele disse que nunca aceitaria que uma família formada quase toda de homens deixasse a única mulher ir para as forças armadas.

— Agora eu entendi.

A porta do quarto de Bara se abriu e as duas olharam ao mesmo tempo para o rosto pálido do garoto que acabara de entrar.

— Você demorou, Hiro-chan — comentou Bara.

— Com certeza ele deve ter ficado paralisado quando ouviu seu pai brigando com o Hikari. Olha a cara dele de quem viu fantasma! — debochou Giovana.

As duas meninas riram, mas Hiroki continuou sério.

— Você não parece mesmo bem, Hiro-chan — observou Bara se levantando e se aproximando do colega para poder analisá-lo melhor. — Por que está segurando a barriga? Está sentindo dor?  

— E- estou um pouco enjoado. V- vou para casa.

— Sério? Então eu vou com você.   

— N- Não precisa, Bara-chan. Eu vou ficar bem. Acho que só preciso de um pouco de ar fresco.

Giovana aproveitou a deixa para puxar a sua mochila para o ombro e também anunciar sua saída.

— Eu vou também, minha amiga. O clima na sua casa não tá nada bom. Melhor eu puxar meu barco.

Bara fez um bico, mas concordou.

— Acompanho vocês até a porta.

No piso inferior, Hiroki e Giovana se despediram de Bara.  

— Pode deixar que eu guio o Hiro-chan até o ponto de ônibus.

— N- não precisa, Giovana-san.

— Fique quieto. Precisa sim. Bye, bye, Bara-chan! Até amanhã!

— Até amanhã.

Já na rua, Giovana jogou o braço por cima dos ombros de Hiroki enquanto caminhavam.  

— Pronto. Agora você já pode me contar tudo o que aconteceu, Kinizuna-kun.

— D- do que está falando, Giovana-san?

— Do que aconteceu entre você e o Hikari-kun, oras — ela disse, se afastando e passando apenas caminhar ao lado dele.   

— Hã?

— Escuta, Kinizuna-kun, a Bara, apesar de muita inteligente, é um pouco ingênua para as coisas óbvias. Mas eu não. Além disso, conheço o irmão dela em quesitos que talvez ela desconheça. É claro que aconteceu algo entre você e o Hikari-kun que te deixou nesse estado. Primeiro, você foi ao banheiro. Segundo, demorou pra caramba. Terceiro, descobrimos pela gritaria do Sr. Sasuke que o Hikari-kun estava tomando banho. Só tem um banheiro para uso de todos na parte de cima daquela casa, o outro é da suíte dos pais da Bara, onde você certamente não se meteria sem a devida permissão. Você não deu indícios de que estava no corredor esperando o Hikari-kun desocupar o banheiro, porque o corredor era um lugar visível e o Sasuke-san certamente não seria tão duro com o Hikari se tivesse diante de uma visita. Basta fazer os cálculos. É como somar dois mais dois. Tudo indica que você estava no banheiro com o Hikari-kun e por isso o Sr. Sasuke não o viu. Você deve ter ficado lá dentro enquanto o Hikari-kun levava a bronca do pai no corredor e só quando cada um deles entrou em seu respectivo quarto foi que você saiu, pálido e suando frio, por quase ter sido flagrado dentro do banheiro com o Hikari. Estou errada?

— Su- sugoi, G- Giovana-san.

— Na mosca, né? Eu sei que sou incrível. Agora abre o bico. O que tá acontecendo entre o Hikari e você?

Os dois pararam de caminhar ao chegar ao ponto de ônibus. Havia um banco de madeira e Hiroki se sentou. Giovana sentou ao lado dele.

— Sabe, Kinizuna-kun. Não se culpe tanto por estar escondendo isso da Bara. Sei que está fazendo por medo de que ela exploda com o irmão e isso abale a relação já fragilizada dos dois. Porque a Bara é esse tipo de pessoa mesmo e não vai mudar. É do tipo que quer sempre lutar em prol do mais fraco. E ela te vê assim, o garoto frágil, que sofre bullying e precisa ser protegido. Mas se você não desabafar logo com alguém, quem vai explodir é você. E isso sim vai machucá-la. Eu prometo guardar segredo até você decidir que é o momento de se abrir com ela.

— A- arigatô, Giovana-san — ele disse, encostando a cabeça no ombro dela. — E- eu também tinha medo de me abrir com você. A- afinal, você e- era a na- namorada d- do Hikari-kun.

— Não se preocupe com isso. Na verdade, esse é o fator que nos faz semelhantes e no fundo nos une. Afinal, ambos gostamos do tipo de homem que não valoriza nossos sentimentos, não é?

— P- parece que s- sim.

...

Hikari tocou os lábios com a ponta dos dedos. Já havia beijado algumas garotas, mas nunca tinha sentido tanta adrenalina apenas na tentativa de beijar uma delas.

“... é melhor andar na linha” relembrou da bronca do pai e sentiu raiva novamente, fazendo a imagem de Hiroki se esvair do seu pensamento.

De repente, batidas na porta.

— Entre — autorizou, sentando-se na cama. 

Naruto adentrou o quarto escuro do filho, iluminado somente pela luz neon da luminária na parede, ao lado da cabeceira da cama dele.

— Você fez o jantar e não quis descer para comer?

— Estou sem fome — explicou, cruzando os braços no peito.

— Seu pai me falou que discutiram.

— Foi ele quem discutiu comigo — retificou a informação. — Ficou me ameaçando aos berros, como sempre faz quando quer me intimidar. Eu sou a parte podre da maçã que ele gostaria de jogar fora, não é? Mas estou pouco me importando com o que ele pensa. Ele não é meu pai de verdade.

— Eu já disse pra não falar essas coisas, Hikari. É claro que o Sasuke é seu pai. Se ele ouvir algo desse tipo vindo de você ou da Bara, ele vai ficar muito magoado. Estamos juntos desde que vocês nasceram então não tem como ele não ser seu pai.

Hikari encarou o olhar vívido daquele que era seu pai legítimo e, por ele, resolveu deixar sua revolta aplacada.

— Desculpe.

— Eu sei que você e a Bara estão na adolescência e essa é uma fase complicada — Naruto falou, elevando a mão direita na nuca e massageando-a. — Mas tente entender uma coisa, Hi-chan. Nós somos seus pais e nós dois amamos você e sua irmã incondicionalmente. O Sasuke pode parecer mais duro com você do que é com a Bara, mas ele só é assim porque ele se vê em você. Ele tem medo de que você venha cometer os mesmos erros que ele cometeu no passado.

O garoto concordou com um menear de cabeça.

— Não precisa ficar repetindo essa história, oyaji. Eu já entendi. Desculpe.

— Que bom. Vou deixá-lo descansar então, boa noite.

Hikari se deitou, mas antes do pai sair, o chamou.

— Oyaji?

— O quê?

— Quando você descobriu que estava apaixonado pelo otou-san, o que sentiu?

Pego de surpresa e muito constrangido, Naruto voltou a elevar a mão na nuca. Era comum ouvir de Bara aquele tipo de pergunta, mas Hikari sempre fugia dos assuntos românticos.

— É difícil explicar com palavras. Mas acho que até hoje eu sinto um pouco daquilo. A cabeça não pensa direito, as pernas tremem, falta ar e o coração bate forte. É como entrar em transe e ao mesmo tempo estar em constante adrenalina.

— Hm.

— Por quê?

— Nada não. Só curiosidade.

— Curiosidade, é? Sei... — Naruto desconfiou. — Apague logo essa luz e vai dormir. Boa noite.

Naruto saiu do quarto. Hikari sorriu e desligou a luminária.

— Boa noite.

Continua...

[1] WhatsApp: é a nova mania do momento (?). Talvez. É um aplicativo que permite comunicação instantânea, tipo um Messenger, só que para celular.

[2] FAJ – Forças Armadas Japonesas.


Notas Finais


Obrigada pela recomendação lindíssima que você fez no Nyah, Mary! <3 Amei demais!!

A todos que vão ler e deixar seus comentários, meu muito obrigada já antecipado.

Deu a entender que Kinizuna e Hikari estavam evoluindo em alguma coisa, mas o Kinizuna-kun, que é muito sensível, acha que o Hi-chan só tá de brincadeira com a cara dele, e aí, o que vocês acham?

Convido-os também para ler minha nova fanfic de Naruto disponível somente na Área Exclusiva do blog: “Corrompidos”! <3

Próximo capítulo já está quase pronto, então certamente não vai demorar!

Até o próximo!

Comentem! /o\


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