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História Pintando O Sete - Bara - Parte 2


Escrita por: andreiakennen

Capítulo 2 - Bara - Parte 2


Pintando o 7

Revisado por Blanxe

Capítulo 02 - Bara - Parte 2

Na manhã seguinte, assim que acordou, Bara enviou uma mensagem de texto para o celular da melhor amiga e minutos depois o interfone da casa já estava tocando. Foi Sasuke quem saiu da cozinha secando as mãos no avental e abriu a porta para recepcionar a colega de escola de Bara que parecia ter vindo de uma maratona, pois estava arfante.

— Ohayo, Uzumaki-san! — ela o cumprimentou, curvando metade do corpo.   

— Tão cedo, Giovana?

— É uma emergência! — a adolescente exclamou ainda com o ar afobado. — Pelo menos, de acordo com a Bara.

­— Estou aqui em cima, Gi-chan! — Os dois ouviram o grito abafado de Bara que estava no piso superior da casa.  

— Não disse? — ela falou, abrindo um grande sorriso.

— Tá. Sobe — Sasuke autorizou, abrindo espaço para que a amiga da filha entrasse.

Depois de deixar os sapatos na soleira da porta, a adolescente subiu as escadas correndo, mas Sasuke a repreendeu.  

— Sem correr, Giovana.

— Opa. Esqueci — ela disse, encolhendo os ombros e diminuindo o ritmo dos passos. — Mas não posso correr nem quando for caso de emergência? — a jovem ainda insistiu.

— Não — respondeu categórico.

— Certo — ela concordou e continuou subindo, em um ritmo menos acelerado.

Sasuke voltou para a cozinha e para Naruto que concluía a lista de produtos que teria de comprar para o restaurante naquele dia.

— Tudo para essas meninas é emergência. Tudo — Sasuke resmungou. — Ficam banalizando o termo e quando for uma emergência de verdade ninguém vai dar a importância devida.

— Deve ser só coisas de crianças — Naruto sugestionou ao concluir a lista de compras.

— A Bara não é mais uma criança se você ainda não percebeu, Naruto! — Sasuke o corrigiu; mal-humorado. — Ela é uma adolescente.

Naruto inspirou fundo e espirou, evocando sua paciência. Então se levantou da mesa, amassou a lista de compras dentro do bolso da calça jeans e terminou seu café. Aproximou-se de Sasuke que finalizava os obentos dos filhos no balcão da cozinha e o beijou nos lábios.

— Então elas estão falando coisas de meninas adolescentes, certo? — Naruto se corrigiu e erguendo os ombros se despediu. — Tenho mesmo que ir. Está tendo convenção no Hotel Saito de novo e um grupo grande fez reserva para almoçar no Ki-Ramen hoje, preciso mesmo fazer compras.

— Você não está se esquecendo de algo importante não, Naruto?

O loiro se deteve com os olhos arregalados sobre Sasuke. Tentou fazer a mente pensar rápido, pois sabia que quando o marido dizia aquela frase era porque estava se esquecendo de que o dia em questão era uma data importante. Mas tinha certeza de que não era aniversário de nenhum deles, sendo assim, por eliminação, pensou na única data que comemoravam fora os aniversários e as datas de festividades do ano.

— E você achou mesmo que eu me esqueceria do nosso aniversário de casamento? — respondeu o mais rápido que pode, torcendo para que Sasuke não percebesse que ele havia sido lembrado naquele momento.

Sasuke deu um sorriso de lado.

— Devo deduzir que estava planejando uma surpresa?

— Pois é! — ele concordou rápido, mantendo o sorriso exagerado no rosto. — Era pra ser se você não se apressasse tanto em me cobrar. — Naruto deu outro beijo nos lábios do marido e se afastou. — Agora me deixe guardar o restante da surpresa para hora certa. Tenho de ir. À tarde a gente se fala e eu te explico o que planejei. 

Sasuke meneou a cabeça negativamente.

“Conheço muito bem essa sua cara de desespero, Naruto. Tenho certeza de que esqueceu e que agora deve estar ligando para Ino para tentar preparar algo de emergência”. Sasuke aumentou o sorriso sádico no rosto. “Vai ser divertido ver isso”.

— Bom dia, pai.

— Bom dia, filho.

— Ah... Feliz aniversário de casamento — o garoto desejou, aproximando-se do pai e lhe dando tapinhas nas costas.

— Obrigado — disse Sasuke, ainda empenhado em terminar os onigirii que fazia para abastecer as duas marmitas.

Hikari retirou a jarra de café na cafeteira e serviu uma xícara

— E o pai Naruto?

— Acabou de sair.

— Ele se lembrou? ­­— perguntou o garoto, já sorrindo.

— Meio que o obriguei a lembrar.

O adolescente abriu mais o sorriso e depositou a xícara no balcão da pia após bebericar o líquido.

— E quais são os planos para hoje?

— Nada de grande. É dia de semana. Vou esperar seu pai ligar. Seja o que for, vamos fazer em família.

— Não deveria ser algo especial só entre os dois?

 — Teremos o fim de semana para isso.

— Hm...

— Está querendo ficar sozinho para poder namorar a Giovana?

O rosto do garoto corou e ele se engasgou com o café que havia recomeçado a tomar. 

— Lógico que não, otoosan! — se defendeu rapidamente.

— Eu não sou ingênuo, Hikari. Já tive sua idade antes e foi nessa idade que engravidei a mãe do seu irmão. Não quero que você cometa o mesmo erro que eu cometi. Lembre-se de que você tem uma irmã, não faça com a sua namorada o que não gostaria que fizessem com a Bara.

— Pai, você tá viajando... Quem faria o quê com a Bara? Ela sabe se defender melhor que os três homens dessa casa juntos — Hikari alegou, deixando a xícara vazia dentro da pia e pegando a marmita preta com desenhos de bambus na tampa, a qual o pai havia acabado de fechar. — Eu vou indo porque hoje é o meu dia de limpar a sala. Ittekimasu!

— Itteirashai.

...

No quarto de Bara.

— Você o quê, Bara-chan? — Giovana encarava a amiga, atônita.

— É isso mesmo o que você ouviu, Gi-chan. Eu quero ser como você.

— Calma, Bara-chan. Vamos começar do princípio. Primeiro: eu sei que sou linda, maravilhosa e perfeita. Mas mamãe e papai, que foram responsáveis por essa obra-prima aqui, certamente não repetiriam a fórmula duas vezes. Eu sou única.

Bara revirou seus olhos azuis nas órbitas.

— Eu sei, Gi-chan. Você ainda não me entendeu. Eu quero ser como você e não ser seu clone. Eu já sou gêmea de alguém e confesso que não é algo muito divertido.

Giovana apenas sustentou o olhar na amiga e Bara tentou explicar com mais calma.

— Deixe-me tentar ilustrar de outra forma. Eu quero usar essa coisa que você usa em cima dos olhos.

— Sombras?

— E essa coisa rosa nas bochechas.

— Blush?

— E ficar com os cabelos lambidos.

— Você quer fazer chapinha? — a garota arregalou os olhos.

— Viu? Agora você entendeu.

— Por que você quer mudar seu estilo de uma hora pra outra? Tá a fim de alguém e não me contou?

— Por que diabo uma garota precisa envolver caras na sua escolha? — Bara reclamou, apoiando ambas as mãos na cintura.

— Certo. Então, você jura de pés juntos que essa sua vontade de mudar partiu do nada? E não tem nada haver com nenhum ‘cara’? Você só dormiu ontem como a Bara que todos conhecemos e acordou hoje querendo ser como eu?

Bara parou um minuto para pensar. Giovana a conhecia muito bem. Apesar da aparência de menina que se preocupa mais com as unhas e os cabelos, a colega não era desprovida de inteligência e fora exatamente aquele fator que fez delas boas amigas. Bara pensou que não estaria sendo sincera em dizer que sua escolha não tinha nada haver com um cara, pois tinha. Mais do que isso, três caras. Os dois pais e o irmão. Mas confessar aquilo era algo que feria seu orgulho.

Giovana aguardava a explicação da amiga, quando percebeu, estampada em seus belos olhos azuis, a guerra interna pela qual ela passava. Decidiu aliviá-la daquela tensão.

— Esquece minha pergunta. Não precisa se torturar para me dar essa resposta agora, Bara-chan. Você deve ser a garota mais sincera da face da Terra. Sei que tem os seus motivos os quais me dirá quando sentir que é o momento. Agora se você buscou a ajuda da sua Super-Best-Friend-Forever para se transformar em uma garota tão deslumbrante como moi, é claro que vou te ajudar! — Giovana abriu sua mochila e retirou dela uma pequena maleta. — Nada que meu kit básico de maquiagem de bolsa e minha chapinha de mão não possam resolver! 

Bara abraçou a amiga.

— Você é mesmo super, Gi-chan. Arigatô.

...

Todos que passavam por Bara e Giovana nos corredores do colégio as seguiam com olhares de perplexidade.

— Gi-chan? — Bara chamou a colega, puxando-a pela manga do uniforme.

— Hm?

— É impressão minha ou estão todos olhando pra gente?

— Não é impressão. É isso mesmo. Bem-vinda ao time dos populares. Todos que são belos e superiores nasceram para serem admirados. Vai se acostumando com isso.

— Mas não é bem admiração que estou notando nos olhares deles, parece mais ao contrário. Estão me olhando como se eu fosse um monstro de outro planeta.

— Impressão sua, Bara-chan. Você ficou deslumbrante — afirmou Giovana, detendo a caminhada e ficando de frente com a amiga. — Mas daqui em diante você segue sozinha. Tem apresentação de biologia no primeiro tempo e eu preciso correr pra minha sala. Aproveite seu dia de glória. Na hora do intervalo a gente se encontra e aí você me conta todos os detalhes. Até mais tarde!

Giovana se despediu e seguiu na direção das escadas, precisava subir mais um lance para chegar à sua sala.

— Gi-chan, não vá ainda. Espera. Já foi. Droga.

Notando que estava por conta própria, Bara suspirou fundo e seguiu pelo corredor que levava para o 2º B. Enquanto caminhava, tentava repassar mentalmente o passo-a-passo que a amiga veio lhe ditando no caminho para escola.

“Um dos primeiros passos para ser popular é agir como um, Bara-chan. Ande sempre ereta. Aja como se nada a atingisse. Não sorria e nem acene para todos. Fingir indiferença é um dos atrativos dos que são populares. Então, ignorar o mundo a sua volta é uma regra básica, nada referente aos outros te interessa. Finja não estar sendo observada também, essa parte é fácil, basta imaginar que os corredores da escola estão vazios enquanto caminha.”.

“Isso soa tão arrogante! A Gi-chan disse tudo isso, mas ela não age assim. Essa atitude se encaixa mais com o Hi-chan. Aliás, acho que ela estava pensando nele quando me disse tudo isso. Só pode!” Bara suspirou, notando mais dos olhares embasbacados. Até que finalmente alguém teve coragem de se aproximar e falar com ela. Dois dos colegas de Hikari, companheiros do time de basquete, e só então pode compreender a confusão que estava acontecendo.

— Você tá maluco, Uzumaki? O quê é isso?

— Que brincadeira é essa, Hikari-kun? — disse o outro pegando uma mecha do cabelo de Bara. — Você está usando o uniforme feminino e... Isso no seu rosto é maquiagem?

Bara abriu a boca, mas não conseguiu emitir som nenhum, e em poucos segundos um tumulto se instaurou no corredor diante da sala do 2º-B.

Mesmo depois de alegar, em tom exasperado, que não era o irmão, Bara não conseguiu sobrepujar as risadas de deboche. Decidiu sair do meio da confusão e se livrar daquela maquiagem, quando deu de cara com o amigo Kinizuna.

A princípio Kinizuna também a confundiu com Hikari, pois notou que a reação dele ao vê-la fora a mesma que ele tinha quando se deparava com o irmão: sobressalto, bochechas coradas e abraço apertado nos cadernos. Mas ao menos a confusão do seu colega de sala durou pouco, depois de alguns segundos, ele relaxou os ombros.

— Ba- Bara-chan? É você?

— Achei que não iria me reconhecer, Hiro-chan. Vem comigo. — ela apanhou o pulso do amigo e o puxou com ela em uma corrida apressada pelos corredores da escola, até chegarem ao banheiro mais próximo. ­

Depois de ficarem em dúvida de qual banheiro entrar e de Kinizuna se recusar a entrar no feminino, eles entraram no banheiro masculino.

— Bara? O quê você está aprontando desta vez? — Kinizuna perguntou, realmente preocupado.

— Foi uma ideia estúpida. Ah! Que saco! — Ela chutou a lixeira de metal que caiu com um baque estrondoso no chão.

Kinizuna se assustou com o barulho e depois de deixar os cadernos sobre a pia, se abaixou e ergueu a lixeira.

— Mas que ideia foi essa, Bara-chan?

Bara iria começar a explicação quando o barulho da porta principal do banheiro, que era separada do mictório por uma parede, se abrir em um baque estrondoso.

— Droga. Tá entrando alguém. Preciso me esconder! — ela disse já correndo para uma das repartições unitárias e se trancando.

— Ah? Mas o que eu faço?

— Fala que o banheiro está interditado! Pede pra voltar depois.

— Ha- hai.

Kinizuna se voltou para entrada e por muito pouco não bateu de frente com o outro adolescente que entrava. Quando viu de quem se tratava Kinizuna arregalou os olhos e prendeu o ar no peito.

— Hi- Hi- Hikari-kun? — ele gaguejou, sentindo o coração disparar na mesma proporção que sentia o rosto todo se afoguear.

— Cadê a Bara? — Hikari perguntou com o ar de poucos amigos, empurrando o colega de Bara para o lado e abrindo espaço para passar.

— A- a- a.. B- B- Bara-chan?

— Isso mesmo, Kinizuna. A Bara. Pare de gaguejar, merda! Isso me dá nos nervos! — Hikari o censurou. — Eu sei que a minha irmã entrou aqui.

Ao ouvir os gritos do irmão com o amigo, Bara saiu da repartição em que havia se escondido.

— Quantas vezes já te pedi pra não gritar com o meu amigo, Hi-chan?

— Aí está você. Então era verdade.

Hiroki, que não tinha coragem de encarar os gêmeos diretamente naquele momento, notou pela primeira vez — através do reflexo do espelho que cobria toda a parede em cima da pia — o quanto os gêmeos eram mesmo semelhantes. A diferença entre Bara e Hikari sempre fora o cabelo. Eles usavam o mesmo cumprimento, mas penteados diferentes. Bara arrepiava os cabelos com auxílio de gel, enquanto Hikari preferia deixá-los ao natural; lisos, com a franja cumprida caindo de lado e cobrindo o olho esquerdo. Bara também gostava de fazer mechas coloridas com um produto que saía após a lavagem. Porém, naquele momento, Bara estava com os cabelos lisos e sem o retoque das mechas, o que fazia dela uma cópia exata de Hikari, se não fosse pela maquiagem. Até mesmo os seios — que podiam ser um diferencial para defini-la como a gêmea do sexo feminino entre os dois —, eram discretos e estavam bem escondidos embaixo do blazer do uniforme.

Hikari encarava a irmã com ar estarrecido. Mas antes de começar o discurso, ele se voltou enfurecido para o colega dela e exigiu que os deixasse a sós.

— Saia! — ordenou, apanhando os cadernos do garoto sobre a pia e os empurrando no peito dele. — Espera lá fora e não deixe ninguém entrar.

— Para de dar ordens para o meu amigo, Hi-chan!

— Tu- tudo bem, Bara-chan. Eu vou. Qual- qualquer coisa é só me chamar.

Assim que a porta do banheiro se fechou Hikari começou.

— Por que você tá fazendo isso comigo? É vingança por causa de ontem, não é? Por que falei que queria ter uma irmã normal? Agora a escola inteira está rindo nas minhas costas achando que eu vim travestido para aula!

Bara ficou em silêncio por um instante, observando toda a alteração estampada no semblante de Hikari. Sabia que era inútil conversar com o irmão quando ele estava irritado, mas tentou.

— Eu percebi que houve uma confusão, só que minha intenção não era essa, Hi-chan.

— Não? Então por que você está me imitando e ainda usando maquiagem?

— Eu não estava te imitando, idiota! Eu não pedi pra nascer com a cara igual a sua.

— Seu cabelo está igual ao meu! Você odeia maquiagem! Qual é o motivo de tudo isso então, Bara?

— E- eu... eu... eu... eu...

Bara suspirou fundo. Era mais fácil mentir e confessar aquilo que o irmão esperava ouvir dela do que dizer a verdade e admitir que estava querendo ser o tipo de garota que sempre repudiara por considerar fútil.

Em um ataque de raiva, Bara abriu a torneira da pia e enfiou a cabeça debaixo da água, juntou água com as mãos e jogou no rosto, esfregando com força; deixando Hikari ainda mais confuso.  

— Bara o quê...?

— Deixe-me entrar, Kinizuna-kun.

— M- mas, o Hikari-kun disse...

Ao perceber que era a voz da namorada, Hikari ordenou que Kinizuna a deixasse entrar.

— Ela pode entrar, Kinizuna.

— Ha- Hai, Hi- Hikari-kun.

Giovana entrou esbaforida dentro do banheiro e assim que viu o namorado começou a se justificar.

— Hikari-kun, me perdoa? Eu ouvi os rumores pela escola e não acreditei. Eu juro que não sabia que a intenção da Bara era brincar com você.

Ao ouvir a tentativa de se justificar da melhor amiga Bara parou de esfregar as mãos no rosto imediatamente, fechou a torneira e se ergueu; não se importando se a água que escorria do seu rosto iria molhar seu uniforme. 

— Você não fez nada demais, Gi-chan. — Ela olhou para a amiga com um ar de reprovação. A maquiagem borrando seu rosto, tornando-a quase irreconhecível.  — Eu também não fiz nada de errado. Eu não tenho culpa de ter nascido gêmea do Hikari e as pessoas dessa escola serem tapadas o suficiente para não notarem a diferença entre uma garota e um garoto!

— Espera? — Hikari olhou para namorada. — Você ajudou a Bara nesse plano ridículo?

— E- eu ajudei. Mas eu sou inocente. Eu não sabia.

— Não acredito nisso... — Bara revirou os olhos e meneou a cabeça negativamente.

— Eu que não acredito nisso. Você era a minha namorada, Giovana.

— Como assim “era”, Hikari-kun? Eu ainda sou.

— Não é mais. Não quero uma namorada que se junta a minha irmã louca pra me fazer passar por pervertido diante de toda a escola. Quer saber? As duas deveriam ficar juntas. Vocês garotas se merecem. Tchau. Vou voltar para sala.

— Espere um pouco, Hi-chan — Bara pediu. — Você não pode terminar com a Gi-chan por minha causa!

Mas Hikari não deu ouvidos ao pedido nem ao apelo da irmã e apenas saiu do banheiro.

— Ele não pode estar falando sério, Gi-chan. — Bara tentou consolar a amiga que já tinha os olhos marejados.

— Eu achei que fossemos melhores amigas — Giovana falou, aumentando a expressão estarrecida no rosto de Bara. — Mas uma amiga de verdade não se aproveita da confiança da outra para ajudá-la a fazer o irmão, que é namorado dessa amiga, se passar por um crossdressing[1].

— Não, Gi-chan — Bara rebateu rapidamente. — Você, o Hi-chan, a escola toda! Todos estão enganados. Eu não fiz isso com essa intenção.  

— Agora não, Bara — Giovana falou, limpando as lágrimas que margeavam seus olhos com as pontas dos dedos. — Depois a gente conversa. Eu preciso ir atrás do Hikari-kun e fazê-lo entender que sou inocente.

Mas Bara impediu a amiga de sair do banheiro ao segurá-la pelo punho.

— Não faz isso — Bara pediu, sustentando um olhar sério sobre o semblante da amiga. — Não se humilhe a esse ponto, Gi-chan. Nenhum homem merece isso de uma garota tão boa como você. Muito menos o Hi-chan que é tão imaturo. Eu falei que você era inocente. Você também se alegou inocente. Não acreditar em mim porque ele está puto comigo tudo bem, mas se ele não acredita em você, isso prova que ele não é digno de tê-la. Será que não percebe que ele está usando esse evento como desculpa?

— Você tá falando que o Hikari-kun queria mesmo terminar comigo e achou que essa confusão era o momento oportuno para isso, Bara-chan?

— Sim — Bara confirmou, largando o punho da amiga. — É o que eu acho. Estou sendo sincera como fui antes de vocês começarem a namorar, como sempre fui. Eu te disse que não aprovava esse relacionamento porque o Hi-chan é um idiota e a faria sofrer. Você disse que acreditava na minha sinceridade, mas que nenhum garoto iria fazê-la sofrer tão facilmente e que sua intenção era fazer do Hikari um homem melhor. Mas se humilhar pro Hi-chan agora, Gi-chan, irá ter o efeito contrário, além de alimentar o ego dele, irá torná-lo um homem muito pior no futuro. Eu não te contei o porquê da minha transformação e fiquei muito feliz quando você disse que confiava em mim. Então, esse é o momento de provar que acredita mesmo nas minhas palavras, somos Super-Best-Friends-Forever... ou não?

Giovana suspirou fundo, olhou para um lado e depois para o outro, então respondeu.

— Desculpe-me, Bara-chan.  — Foi sua resposta e saiu.

Só depois que Giovana deixou o banheiro masculino às pressas foi que o amigo de Bara, Kinizuna Hiroki, entrou. Ele encontrou a amiga com a testa encostada no espelho e os olhos fechados, parecia concentrada, buscando forças em seu interior para lidar com todo aquele reboliço que causara.

— Tá... Tudo bem, Bara-chan?

— Eu só queria parecer uma garota normal — ela confessou de repente.

— Mas você é.

— Não, Hiro-chan. Eu não sou. Eu não penso em namorar os garotos mais bonitos da escola. Não deixo o cabelo crescer. Não sou fã de banda de ídolos. Odeio maquiagem e cabelos lambidos. Viu? Nem feminina eu consigo ser. Eu só decepcionei todos os homens a minha volta e... as mulheres. Minha mãe, a minha melhor amiga. Até mesmo meus pais. Afinal, eu não consegui continuar sendo a princesinha que eles queriam. Aliás, eu acho que nunca fui a princesa.

— Para mim você é mais do que uma princesa.

Bara abriu os olhos e virou um pouco a cabeça para olhar o amigo.

— Você precisa aumentar o grau dos seus óculos, Hiro-chan.

— Não estou falando do exterior, Bara-chan. Apesar de achar que você é muito linda por fora também. Mas foi você mesma quem me ensinou a ver o interior das pessoas. Para mim, você faz mais o tipo da heroína. É aquela que defenderia a princesa, o príncipe, o rei, a rainha, os súditos, a plebe, todos. Até se uniria aos cavaleiros e lutaria contra os dragões se fosse preciso. Exatamente como fez agora, ao aconselhar a sua melhor amiga a não se humilhar por alguém que não a valoriza. Como já me ensinou também a não abaixar a cabeça para as pessoas que querem me rebaixar por eu ter uma opção diferente. Você inspira confiança e dá forças. Seus pais deveriam ficar orgulhosos por terem criado uma heroína e não uma frágil princesinha.

— Hiro-chan... — Bara desencostou a testa do espelho e foi ao encontro do amigo, abraçando-o com os olhos totalmente lacrimejados. — Obrigada.

Um pigarro fez os dois se separarem e ela se surpreendeu ao ver Giovana.

— Gi-chan?

— Eu lembrei que tinha um kit demaquilante na mochila. — Ela ergueu a nécessaire que trazia nas mãos. — Depois de convencer a professora que estava atendendo uma emergência e implorar que ela deixasse nosso grupo se apresentar na próxima aula, eu corri de volta pra cá. Não podia deixar minha Super-Best-Friend-Forever assistir aula parecendo um daqueles mortos-vivos horríveis da série The Walking Dead. — Giovana sorriu. — Eu ouvi tudo, Bara-chan. O Kinizuna-kun tem razão. Você é mesmo do tipo heroína. Mais do que isso: é do tipo super-heroína. Eu confio de verdade em você. Estou do seu lado. Se está me dizendo que não quis tirar uma com a cara do Hikari-kun, o que seria divertido de se ver também, eu acredito em você.

Bara sorriu e se juntou aos dois amigos em um abraço triplo.

— Vocês dois são mesmo os melhores. Obrigado, minna.

Continua...

 

Vocabulário de Japonês:

 

Arigatô: ありがとう Obrigado;

Onigirii: bolinho de arroz;

Ittekimasu: Estou indo (mais informal);

itteirashai!: Vai (ou vão) com cuidado!

Minna: pessoal, galera;

[1] Crossdressing / cross-dressing: é um termo que se refere a pessoas que vestem roupa ou usam objetos associados ao sexo oposto, por qualquer uma de muitas razões, desde vivenciar uma faceta feminina (para os homens), masculina (para as mulheres), motivos profissionais, para obter gratificação sexual, ou outras. Não está relacionado com a orientação sexual, e um crossdresser pode ser heterossexual, homossexual, bissexual ou assexual. O crossdressing também não está relacionado com a transexualidade.

Nota da autora: Mas no Japão, assim como em outras culturas, as pessoas têm a ideia equivocada de que, homens que usam roupas femininas, que se passam por mulheres ou até mesmo que são homossexuais de verdade, são pervertidos. Por isso, existe mesmo essa reação de repúdio diante de alguém travestido. 


Notas Finais


Tentei fazer uma fanart do Kinizuna com o Hi-chan, mas o Kinizuna não ficou bem como eu queria. T^T Enfim, depois tento desenhar de novo.

Mas a Raquel Sumeragi, que é desenhista profissional, está fazendo a capa da fic. Então, não se preocupem, ela irá caprichar. Mas meu desenho ficou desse jeito aí embaixo:

Aliás, quem se arrisca na arte de desenhar e quer me enviar seus trabalhos, fanart de um algum personagem da fic, pode enviar no meu e-mail: [email protected] e irei receber com muito carinho e postar nas notas finais de cada capítulo.

Sobre o capítulo, só tenho a dizer: Kinizuna apareceu! Hikari merece um soco. Será que a Bara ainda fará a tatuagem? Deixem seus comentários!

Vejo vocês no próximo capítulo! o/


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