História More Than This - Tentar de novo.

Um dedilhado de violão ecoou por todo o salão. O som produzido pelo instrumento era tão agradável que instantaneamente fechei meus olhos sem nem ao  menos olhar para o palco para ver quem estava lá em cima, embora já saiba quem é.

Deixei que aquele som me dominasse, tão gostoso de se ouvir.

  - Eu disse que nunca a deixaria, porque nossas mãos se encaixam como a minha camiseta – a voz rouca começou a cantar.

Senti meu coração sendo esmagado como se fosse um punhado de carne moída e estivesse sendo apertado com tanta força que a carne chegava a escapar por entre os dedos. Foi doloroso, quase insuportável. Insuportável porque ele escolhera a música perfeita que toca num assunto que, embora eu tenha pensado muitas vezes à respeito, ainda está cru na minha cabeça.

Estou morrendo de medo de abrir meus olhos, prefiro deixá-los fechado e fingir que estou no meu quarto ouvindo a musica com meus fones de ouvido.

  - Agora ela está se sentindo tão para baixo, desde que ficou sozinha
Há um buraco no meio do meu coração, como um pólo
E isso não tem graça para mim
Então podemos fazer isso tudo de novo?

  Minha garganta está fechada, quase não consigo respirar e manter os olhos fechados está se tornando incomodo, porque tenho a sensação de estar sendo observada e isso causa certo incomodo, principalmente se seus olhos estiverem fechados.

Quero chorar, chorar de verdade, como uma criança indefesa. Queria ter um pouco mais de coragem para me deitar debaixo da mesa e me desmanchar em lágrimas, ou então correr para casa e me trancar no meu quarto e deixar todo o liquido do meu corpo sair pelos olhos.
Queria realmente não ser abalada por essa música, que a nova Katherine forte fosse capaz de lidar com isso, mas a nova Katherine, coitada, ainda é vulnerável demais, e os antigos defeitos não a abandonaram, continuam aqui e sempre dão as caras nos momentos mais importunos.

  - Se você está fingindo assim, desde o começo
Com o coração apertado, então o meu beijo
Pode consertar o seu coração partido

Abri os meus olhos.

Assim que o fiz, avistei Harry, que estava ao palco cantando, percebi que seus olhos se iluminaram, a expressão preocupada esvaiu de seu rosto e uma leve sombra de um sorriso entrou no lugar.

  - Podemos pegar a mesma estrada por dois dias, com as mesmas roupas
E eu sei exatamente o que ela irá dizer se eu fizer toda essa dor passar

Ao seu lado estava Niall, apenas tocando violão, ele estava concentrado no dedilhado que fazia mas ao mesmo tempo olhava para todos. Quando me avistou de olhos abertos, sorriu.

  -  Independente de estarmos juntos ou separados, podemos os dois remover as máscaras e admitir que nos arrependemos desde o começo. – Harry continuou a cantar.

Desviei os olhos para a mesa e depois para as pessoas, alguns olhavam para o palco, outros para mim enquanto outros alternavam entre os dois. Os garotos da banda olhavam para Harry como se o parabenizassem por tal atitude.

  - Você nunca vai saber como fazer isso sozinha
E você nunca vai demonstrar fraqueza por deixar ir
Acho que você continuará magoada se isso acabar
Mas você realmente quer ficar sozinha? – cantou a pergunta para mim.

Voltei a fitar a mesa.

Eu realmente quero ficar sozinha?

Dei uma olhadela para o palco e o vi retirando o microfone do suporte. Voltei meu olhar para a mesa.

  - Se você está fingindo assim, desde o começo
Com o coração apertado, então o meu beijo
Pode consertar o seu coração partido
E eu posso esquecer tudo o que você disse para mim – ele cantou e aquilo soou como uma proposta.

Realmente não sei que reação ter.

  - E eu posso te emprestar pedaços
Que podem se encaixar assim
E vou te dar todo o meu coração
Então podemos começar tudo de novo

É uma boa proposta.

Ouvi sua voz parecendo tão próxima de mim que fui obrigada a levantar a cabeça. Me arrependi.

Ele estava ajoelhado ao meu lado, já que à minha frente estava a mesa, enquanto cantava a última parte da música.
Minha visão ficou embaçada e tudo perdeu o foco enquanto meus olhos ardiam. Estavam lacrimejando enquanto eu tentava ao máximo não deixar nenhuma lágrima escapar.

Pelo canto do olho olhei ao redor, todos nos olhavam, absolutamente todos, até mesmo Niall, que ainda estava sentado em seu banquinho sobre o palco improvisado, ele estava muito concentrado em nós, embora continuasse tocando sem errar nenhum acorde.

  - Então nós podemos começar tudo de novo – Harry cantou a última frase e me fitou esperançoso.

Naquele instante o tempo parou, foi aquele tipo de momento onde todos prendem a respiração enquanto esperam o que vem a seguir.

Eu me sinto como manteiga derretida, mas ele mesmo disse até mesmo enquanto cantava “Eu disse que nunca a deixaria” no entanto deixou, duas vezes. Ele que não pense que passou despercebido pela primeira vez que eu descobri que ele se encontrava com a loura, eu o amo tanto que fui capaz de perdoar aquilo, mas a segunda vez... bom, a segunda vez foi um belo de um bem feito, por tê-lo deixado passar ileso da primeira vez, a segunda vez veio para fazer com que eu me arrependesse de não ter tomado nenhuma atitude crucial na primeira, a segunda veio para me destruir, e conseguiu, e agora que estou conseguindo me recompor, não irei permitir que haja uma terceira.

Todos ainda prendiam a respiração, o suspense fora lançado ao ar e todos estavam na expectativa. Por mais que eu quisesse perdoá-lo, agradecer pela canção, beijá-lo e tudo mais o que poderia fazer caso aceitasse suas desculpas, da minha cabeça não saia uma vez vozinha que dizia “Não irei permitir que haja uma terceira”

E foi assim que eu fiz o que fiz.
Levantei-me depressa e corri desajeitada até a saída. Com um olhar por sobre o ombro encontrei um Harry incrédulo, boquiaberto, desamparado e arrasado, que olhava na minha direção. Todos os outros estavam boquiabertos e incrédulos.

*

  - O que você fez foi cruel – uma voz me acordou.

  - O que eu fiz? – perguntei confusa e irritada por ter sido acordada.

  - Muito, muito cruel. Ele parecia realmente arrependido.

  - Ele quem? – berrei estressada.

  - Ele deu o máximo de si, e você tão coração de pedra.

  - O quê que você está falando?

  - Do Harry.

Abrir meus olhos e encontrei Matheus sentado ao meu lado segurando uma tigela de cereal com leite.

  - Eu não quero falar sobre isso – minha voz falhou quando tive um pequeno vislumbre da noite anterior.

  - Katherine, você esta péssima! Falta pouquíssimo tempo até que eu volte para à faculdade e você ainda insiste em manter essa farsa. No começo era legal, mas agora eu vejo que isso está te destruindo.

  - Isso não está me destruindo – revirei os olhos.

  - Ah é? – perguntou apontando para o meu travesseiro cuja fronha branca estava manchada de rímel que escorreu por conta do choro. – Sem contar que seus olhos estão inchados e vermelhos, o seu rosto inteiro está inchado. Você chorou a noite inteira e não tente desmentir porque a sua aparência demonstra isso e eu a escutei soluçando ontem à noite. Não acha que já é hora de largar esse orgulho pra lá? Você não percebe que esse orgulho só te afasta da sua felicidade? – perguntou.

Acho que eu ainda não tinha visto por esse ponto de vista, até porque não vou culpar à mim mesma, a errada nessa história não sou eu.

Matt deu uma colherada no seu café da manhã que nessas alturas já virou uma pasta pegajosa e nojenta.

  - Vou te dar um tempo para pensar – suspiro e saiu do quarto.

*
Não vou negar, passei boa parte do meu dia escutando Over Again, mas confesso que preferia ouvir a versão da noite passada, apenas um violão e a voz do Harry colocando tudo o que sentia para fora.

Matt passou grande parte do dia fora de casa e quando chegou me chamou para jantar, mesmo que eu tivesse dito dezenas de vezes que não estava com a mínima vontade de abandonar minha cama, por motivos óbvios e por que o temporal lá fora é desanimador para qualquer um.

  - Kath, aconteceu um imprevisto – disse meu irmão entrando no meu quarto enquanto eu calçava minhas botas.

  - Que tipo de imprevisto? Poxa, só porque eu já estou pronta? – reclamei.

  - Não, calma. É o seguinte, hoje mais cedo eu conheci uma garota no parque – ele começou.

  - No parque? – perguntei desconfiada. Como ele iria ao parque com a tempestade que está caindo lá fora desde cedo sem cessar?

  - É, eu conheci ela antes e vi ela no parque hoje de novo

  - Espera – interrompi-o – você disse que conheceu uma garota hoje mais cedo – arqueei a sobrancelha.

  - Na-na-ni-na-não – balançou a cabeça – eu não disse isso.

  - Disse sim, eu ouvi.

  - Não disse.

  - Disse.

  - Não disse.

  - Disse! Se eu estou falando que disse é porque disse! Eu ouvi! – bati o pé. Odeio ser contrariada quando sei que estou certa.

  - Esquece isso. A questão é que ela quer me ver agora.

  - Agora? Logo agora? E nessa chuva? – perguntei desconfiada.

  - Pois é, vai entender as mulheres – deu de ombros.

  - Ok, eu peço uma pizza e fico vendo tevê – estou acostumada a isso.

  - Nada disso, você vai me esperar no restaurante.

  - Por que não vamos juntos?

  - Porque eu vou me encontrar com a menina.

  - Eu espero.

  - Não!

*

Contra a minha vontade e desconfiada, segui para o restaurante.

Perguntei ao recepcionista sobre onde se localizava minha mesa e ele me guiou até uma área reservada onde só havia uma mesa e alguns sofás, embora fosse bastante espaçoso.
Não era tão iluminado quanto o resto do restaurante, na verdade havia um castiçal sobre a mesa e algumas luminárias de luzes amarelas e fracas em algumas das paredes.

Avistei alguém debruçado sobre a mesa, estava com os braços apoiados sobre a mesa e a cabeça deitada em cima. Um imenso casaco preto com capuz escondia sua identidade.