História Clave - Capítulo 1 - A Viagem

Clave: Do latim "clavis" que significa "chave".

A clave indica qual a posição de uma das notas musicais e todas as demais são lidas em referência a essa nota. Dessa maneira, a "chave" usada para decifrar a pauta é a clave, pois é ela que vai dizer como as notas musicais devem ser lidas.

Prólogo

Canadá - Vancouver

Segunda Feira - 10h11min ?

Quando se pisava nos primeiros degraus da grande escadaria da escola já era possível ouvir o som agradável do piano na sala de música do segundo andar. Conforme se andava pelo corredor de construção européia, mais viva a música se tornava e mais tentadora era a vontade de descobrir quem tocava.

Ao abrir as duas portas monumentais da grande sala de música estava ele, o melhor pianista da escola, Luhan. 

Com os olhos concentrados no que fazia, os dedos finos moviam-se pelas teclas do piano de forma incrivelmente ágil acompanhando o ritmo dinâmico da valsa. Tal perfeita melodia era talentosamente tocada de uma forma tão leve que iludia qualquer pessoa que observasse, como se dissesse "É fácil, quer tentar?", mas na verdade ninguém saberia tocar tão bem quando Luhan.

- Luhan, você não vai acreditar! - Falou um aluno ao invadir a sala eufórico.

Um pouco longe dali, para ser mais exato no quarto andar desativado da escola, os sons que vinham do banheiro dos fundos não eram tão harmoniosos como os que soavam da sala de música. Quanto mais próximo do local se ficava mais nítidos eram os ruídos um tanto suspeitos que ecoavam por de trás daquela porta velha de madeira.

Estava ali dentro ninguém menos que Sehun fazendo o que ele mesmo chamaria de Prática de Educação Sexual.

Entre as pernas de uma das líderes de torcida, ele se movia em uma velocidade descomunal contra o corpo de curvas acentuadas da garota. Ela não media esforços para gemer o mais alto que podia fazendo disso praticamente uma placa de "Entre e participe!", o que na verdade não aconteceria bem assim.

- Sr. Hastings e Srt.ª Stalteri! O que está havendo aqui?! - Falou uma das inspetoras ao entrar no banheiro horrorizada.

Assim como a melodia do piano se espalhava rapidamente pelos cantos da escola, acontecimentos como esses corriam de boca em boca na velocidade da luz. Não demorou absolutamente nada para que a escola inteira ficasse em polvorosa. Exceto uma pessoa, é claro.

- Sehun foi pego com a Emma no banheiro do quarto andar! - Disse o aluno que invadira a sala de música agora pouco.

- E você veio me atormentar só para falar das peripécias sexuais do meu meio-irmão acéfalo? - Perguntou Luhan um pouco irritado por ser interrompido. - Quando sair feche a porta, sim?!

De fato exceto uma pessoa estava nem um pouco interessada no novo escândalo do herdeiro Hastings, mas como o próprio Luhan diria se fosse questionado, não era o primeiro e nem o ultimo escândalo então era melhor fazer algo mais produtivo.

Enquanto todos da escola corriam para o 4º andar só para ver Sehun sendo levado pra diretoria com sua expressão de vitória conquistada, Luhan permaneceu na sala de música treinando para seu recital. Ou melhor, tentou.

- Luhan? - A supervisora deu dois toques na porta da sala e a abriu com cuidado. - Você pode me acompanhar até a diretoria? - Ela perguntou de forma doce.

Luhan apenas confirmou com a cabeça e se levantou. Ele já sabia muito bem o que viria.

A relação de Luhan e Sehun como meio-irmãos era realmente um mistério para os outros alunos, principalmente devido o fato de ambos dificilmente interagirem em público. Chegou até mesmo correr boatos pela escola de ambos se odiarem por causa do casamento repentino de seus pais há três anos, mas a realidade por trás da falta de contato público é porque seus temperamentos sempre foram muito opostos.

A imagem que Luhan quer passar de alguém refinado e com classe não combina em nada com a imagem "fuck the police" que Sehun sempre ostentou. Como alguns podem imaginar um esnobe fresco do lado de um playboy metido nunca sai conversas muito amigáveis, então para não manchar a reputação com discussões eles preferem manter a socialização nos limites da mansão onde moram.

1º Capítulo - A viagem

12h22min ?

O motorista particular da família Hastings parou com o carro em frente aos grandes portões de ferro da mansão e esperou apenas o reconhecimento para que conseguisse entrar com o carro na propriedade. Com tanto dinheiro em jogo era sempre bom ter uma boa segurança. Quando o carro finalmente parou ao pé da escadaria que dava para a casa, antes que um dos empregados ao menos conseguisse ir abrir a porta do carro, Sehun saiu irritado de dentro do veículo seguido por Luhan.

- Boa tarde Sr. Hastings e Sr. Lu Han. - Falou o empregado na entrada.

- Oh Sehun! Quantas vezes preciso mandá-lo me chamar de Oh Sehun?! - Berrou já dentro da casa.

- Não ligue para ele, ele está estressadinho porque foi suspenso. - Falou Luhan para o empregado antes de entrar.

E quem esboçava um sorriso de vitória no rosto agora era Luhan e não mais Sehun, mas também não era pra menos. O jovem chinês estava pronto para passar o resto da semana na casa de campo de família e bem longe dos escândalos de seu meio-irmão coreano.

- Sehun e Luhan, eu posso falar com vocês? - Falou uma voz masculina de dentro do escritório.

Sehun e Luhan se entreolharam estranhando a existência de mais alguém ali, mas obedeceram ao chamado. Assim que empurraram a porta de madeira maciça do escritório confirmaram suas breves suspeitas.

- Pai? - Perguntou Sehun ao entrar um pouco desconfiado.

- Mãe! - Disse Luhan surpreso. - Eu não sabia que vocês voltariam hoje. - Completou se aproximando para abraçá-la.

Seus pais dificilmente ficavam na cidade, por isso era tão estranho vê-los em casa em pleno meio de agosto.

- Realmente não voltaríamos hoje. - Respondeu sua mãe sempre calma e elegante.

- Mas recebemos uma ligação da escola. - Completou o pai de Sehun com uma expressão séria. - Você foi suspenso novamente, Sehun?

Por seus pais viverem viajando a negócios, eram raras as vezes que Luhan e Sehun sentiam a presença de responsáveis para quem precisavam dar satisfações.

- Eu não acredito que interromperam a viagem de vocês com algo tão trivial! - Disse Sehun indignado.

- Trivial?! Você está ciente que na sua próxima suspensão será expulso?! - Respirou fundo para controlar a raiva. - Me diga Sehun, o que se passa na sua cabeça para fazer o que fez?

- Quer mesmo que eu diga? - Falou cruzando os braços.

- Eu estou farto de seu desrespeito com essa família! Sabe o quão absurdo é eu e sua madrasta termos que lidar com suas aventurinhas?

- Vocês não precisam lidar com isso, o senhor principalmente! Basta ignorar como sempre faz!

 - As coisas não funcionam assim, Oh Sehun! Se você for expulso da escola o que vai fazer? Correr pro colo de sua mãe? - Viu que Sehun não disse nada e continuou. - É, eu acho que não.

Sua mãe não morava mais no Canadá desde a separação e mesmo que morasse, Sehun não saberia lidar com uma vida sem tantas mordomias. Era triste, mas não tinha como responder a altura.

- Ok então. - Sehun abaixou um pouco mais o tom, mas sempre mantendo a mesma pose superior que o pai. - Qual o castigo dessa vez? Mais um ano de terapia?

- Luhan... - Falou ao desviar o olhar para o outro jovem na sala. - Eu sei que você vai para a nossa casa de campo praticar para seu recital essa semana, mas poderia me fazer um favor?

- Com toda certeza Sr. Hastings, o que o senhor deseja?

- Sehun poderia ir com você?

- O QUÊ? - Perguntou Sehun perplexo. - Eu não preciso de babá! Muito menos ele! - Apontou na direção de Luhan indignado com o que seu pai estava sugerindo.

- Amor, você pode fazer isso pela gente? - Perguntou a mãe de Luhan carinhosamente para seu filho.

Luhan não estava gostando nem um pouco daquele pedido, pelo contrário, deve-se confessar que quis ter a mesma reação que Sehun, mas era mais controlado. Vendo-se em um beco sem saída, respirou fundo e finalmente aceitou.

Sehun olhou para seu pai que simplesmente ignorou qualquer protesto. Não importa o que prometesse ou o quanto implorasse, estava decidido. Ele iria com Luhan para a casa de campo e quando voltassem sua suspensão já teria acabado e estaria isento de novos escândalos, ao menos nesses cinco dias.

- E lembre-se disso Sehun, mais uma suspensão e sua próxima escola será um internato bem longe daqui! - Disse firme e decidido. - Agora podem se retirar.

Luhan se despediu de sua mãe e de seu padrasto e saiu primeiro, sendo seguido por um Sehun mais conformado. O que definitivamente era estranho, pensou o menor. Quando ambos estavam aos pés da escadaria que dava para o andar de seus quartos Luhan olhou para o sorriso que Sehun esboçava em seu rosto e parou de andar.

- Por que você está sorrindo? - Perguntou achando aquilo muito suspeito.

- Não posso mais sorrir? - Disse de forma cínica.

- Não depois do piti que deu a alguns minutos atrás sobre eu ser sua babá! - Falou esperando que falasse logo o que estava tramando.

- Ora ora irmãozinho querido, estou sorrindo porque eu e você... Cinco dias sozinhos na casa de campo... Não sei como não vi antes o quão perfeito é isso! - Sorriu com o canto da boca se aproximando e pegando Luhan pela cintura.

- Tire suas mãos nojentas de mim, seu pervertido imundo! - Afastou-se empurrando o corpo maior para longe de si e tratou de subir a escada.

- Oh verdade, esqueci que você é um inocente hétero virgem. - Riu de deboche.

Antes que Luhan conseguisse chegar até o meio da escadaria, ao ouvir o que Sehun acabara de dizer deu meia volta e desceu todos os degraus até parar rente a ele.

- Escute aqui, Oh Sehun. - Disse em um tom de voz firme. - Se você não quer que a escola inteira saiba que você não trepa apenas com a ala feminina desse mundo meça bem suas palavras quando falar de mim, seu boqueteiro enrustido!

- Sabemos aqui qual dos dois é o boqueiteiro enrustido na verdade, não é?

E exatamente após Sehun proferir essas palavras Luhan lhe deu um tapa no rosto que ecoou pelos quatro cantos da entrada da casa.

- Cale essa maldita boca ou eu não me responsabilizarei se acidentalmente meu piano decapitar você.

- Ok ok, vamos fazer uma trégua, tudo bem? O seu segredo fica a salvo, o meu também e ninguém morre! - Disse ainda sorrindo.

Luhan apenas suspirou revirando os olhos e deu meia volta voltando a subir as escadas. Ele tinha certeza que essa trégua não iria acontecer, mas não valia a pena continuar aquela conversa.

16h38min ?

O carro que levaria os jovens para a casa de campo afastada de Vancouver estava parado na entrada da mansão. Luhan foi o primeiro a sair com dois empregados logo atrás carregando suas malas.

- Tenham cuidado com minhas coisas, sim? - Disse antes de olhar para dentro do carro e ver que não havia mais ninguém dentro dele a não ser o motorista. - Onde está Sehun? Não podemos nos atrasar!

- Sem pressa amado meio-irmão. - Disse Sehun ao sair da casa carregando apenas uma mala. - Entre no carro, vocês vão na frente.

- Como assim "vocês vão na frente"?!

- Eu irei no meu carro, viajar com você não é uma opção, prefiro ir sozinho. - Falou recebendo as chaves de seu amado porsche cayman preto.

- Ótimo! - Falou Luhan por último entrando finalmente no carro onde iria.

Sehun entrou no seu, jogou a mala no banco do passageiro e assim que o motorista a frente tomou o caminho para fora da casa, deu a partida e saiu logo atrás. Tinham um longo caminho pela frente.

Toda a viagem deve ter demorado aproximadamente três horas, ou um pouco mais certamente. Entretanto, a paisagem canadense compensava o cansaço de ficar muito tempo sentado dentro de um carro. Sehun ficou ouvindo suas músicas favoritas durante todo o trajeto enquanto Luhan lia um livro. O importante é saber que se ambos estivessem no mesmo carro não teria sido tão tranquilo assim.

Já estava escuro quando finalmente chegaram à casa de campo. Só havia dois empregados e se tratava exatamente do próprio caseiro e sua esposa. Ambos ajudaram Luhan com as malas enquanto Sehun insistiu que sabia se virar com suas coisas.

- Já aviso que o quarto dos meus pais é meu. - Falou Sehun passando por Luhan para subir as escadas.

- Corrigindo, o quarto do seu pai e da minha mãe! - Disse ao entrar na casa e dar uma boa olhada nela. - Mas faça bom proveito dele, eu ficarei com o que costumamos dividir.

A casa em si era realmente interessante. Por fora era bem rústica com muitas árvores altas, nenhuma iluminação praticamente, arbustos raramente aparados e até mesmo um lago esquecido nos fundos, dificilmente alguém se arriscaria a andar por ali de noite o que garantia certa segurança até. No entanto, por dentro ela era inteiramente mobilhada com móveis luxuosos e confortáveis. Um contraste inegável digno dos donos resumidamente. 

Sehun não havia ficado com o maior quarto ainda que fosse a lógica por ser de seu pai. Porém ainda era um quarto incrível. Assim que entrou tratou de fechar a porta e jogou sua mala em um canto qualquer, desamarrou o cadarço do coturno que usava e jogou cada par em alguma área do imenso chão enquanto cruzava o cômodo até o banheiro.

Luhan havia ficado com o maior quarto, o usado pelos dois meio-irmãos quando a família inteira fica na casa. Como uma boa pessoa organizada, ele ajeitou as malas ao lado de um divã e sentou-se para pegar as roupas que usaria. Separou até mesmo sua toalha e roupão, não gostava de usar coisas tecnicamente velhas e tudo daquela casa não era usado a mais de um ano, ou seja, já considerava velho.

Todo o silêncio que uma casa no campo lhe proporciona pode ser irritante ou acolhedor, mas um fato inegável é que você perde a noção do tempo ali. Assim que cada um tomou seu banho e vestiu roupas limpas, a esposa do caseiro chamou para irem jantar. E como é bom comer comida com aquele gosto de interior. Sehun e Luhan não conversavam entre si na mesa, então a mulher fazia o dever da socialização perguntando pequenas coisas a respeito da família e a própria vida dos garotos ali presentes. As horas foram passando e o próprio cansaço da viagem vinha dando as caras.

Cada um se despediu ao seu tempo e foram para seus quartos. Os próximos dias prometiam mais do que o esperado então era bom ter os ânimos recuperados.