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História Falling in love for the last time. - Freedom.


Escrita por: gimavis

Notas do Autor


Oi, amooooores. Sei que demorei 30 séculos, mas cá estou eu. Bem, esse capítulo é um dos decisivos e eu espero que gostem dele. Espero! Falta pouco para ao fim e eu ainda não sei como me sinto em relação a isso. Enfim! Aproveitei. Comentem, falem comigo no Twitter, me xinguem, sl. USAUAHSAUHSASHU Gostaria que escutassem uma música a partir do momento que aparecer o "1 semana depois". Vou deixar o link lá embaixo. Qualquer erro eu conserto depois. Amo vocês. ♥

Capítulo 59 - Freedom.


Fanfic / Fanfiction Falling in love for the last time. - Freedom.

17 de Maio.

 

 

Camila POV.

: - O que você quer fazer no nosso aniversário de oito meses de namoro?

Eu ergui as sobrancelhas de forma preguiçosa, ainda de olhos fechados. Mantinha minha cabeça sobre os seios de Lauren, meus braços e pernas em torno dela como uma gata manhosa. A cama com os lençóis brancos bagunçados indicava o que havíamos acabado de fazer, ou refazer. O dia amanheceu chuvoso e nos trouxe a deliciosa vontade de permanecer sobre o colchão macio e fazer amor por horas e horas. Eu estava sonolenta, uma vez que tive um número considerável de longos orgasmos, poderia dormir o dia inteiro. Estiquei-me um pouco e esfreguei meu rosto em seu pescoço levemente suado, sentindo uma essência de sexo, mulher e shampoo de baunilha. 

: - Podemos transar.  – Lauren soltou uma risada delicada no topo da minha cabeça, deslizando as pontas de seus dedos da mão direita pela minha coluna. – Ou você tem em mente algo melhor?

: - Isso nós fazemos todos os dias, amor. – Ganhei um beijo doce na testa. – Diga-me algo em que não precisamos retirar as roupas. Podemos jantar fora e levar a Ally para despistar. Ou curtir um cinema. Parque de diversões?

: - Em todos eles teríamos que levar a Ally de qualquer jeito.                           

Comentei enquanto afagava sua barriga quente por debaixo do edredom. Não que fosse uma ideia ruim ter Ally conosco, mas sim por ser completamente desconfortável para ela ter que ficar de vigia.

: - Você sabe que ela não se importa.

Lauren suspirou, me abraçando e me aconchegando mais contra ela.

: - Mas eu sei que ela fica desconfortável e eu a entendo. Quando chegar dia 23, se não tivermos nenhum compromisso grande, vamos curtir algo aqui em casa mesmo. O importante é estarmos juntas.

: - Não vai adiantar eu insistir para sairmos, não é?

Seu tom frustrado indicava que eu havia ganho a batalha. Mas no fundo ela sabia que eu tinha razão, por mais desapontada que tivesse ficado com minha decisão.

: - Não. – Ergui um pouco o rosto e beijei seu seio direito, vendo-a afundar a cabeça no travesseiro de penas tediosamente. Seu rosto se contorceu em uma expressão emburrada, e um sorriso apaixonado cresceu em meus lábios. – Você fica linda emburradinha, Lo. Só faz com que eu me apaixone mais ainda.

: - Eu estou tentando ficar brava com você. Quem sabe assim não muda de ideia?

Como uma criança sapeca, ela abriu apenas um de seus olhos, me espiando com aquela íris verde água de todas as manhãs.

: - Nem perca seu tempo. Se faço isso é para nos poupar dores de cabeça.

Lauren respirou fundo e me puxou mais para cima, colocando-me praticamente sobre seu corpo gostoso e quentinho. Suspirei de prazer. Não era exatamente de modo sexual, mas emocional. Havia uma certa ligação invisível naquele gesto, uma necessidade de senti-la arder, por dentro e por fora. Enchia-me a alma de satisfação e o coração de amor.

Ergui a mão e deslizei os dedos por seu maxilar, subindo para os lábios, os afundando no calor de sua boca quando me vi tentada demais para resistir. Ela chupou os dois bem devagar, me observando com olhos de pupilas dilatadas e chamativas. Mordi meu próprio lábio inferior, soltando um suspiro longo.

: - Eu sei. – Ela disse em um tom baixo quando colocou os meus dedos para fora, beijando a palma da minha mão. – Você tem um gosto muito bom.

Eu ri sentindo minhas bochechas queimarem, a mudança rápida de assunto me fez piscar algumas longas vezes. Ela era uma surpresa constante.

: - Já ouvi isso algumas vezes. – Abaixei a cabeça e selei seus lábios, me ocupando em beijar seu doce sorriso. – Você não costuma poupar elogios.

: - Eu não costumo poupar você. – Me arrepiei todinha quando suas unhas curtas desceram por minhas costas, com toda a certeza, marcando a minha pele. Ah, era tão bom... Fechei meus olhos, sorrindo de canto. – Inclusive, já estou sentindo falta.

: - Lauren... – Neguei com a cabeça, me preparando para sair de cima dela quando seus braços envolveram minha cintura com força. – Já chega!

: - Ainda não estou satisfeita, nunca estarei. – Ganhei um beijo molhado no pescoço, gemi baixinho. – Suba mais um pouco e abra suas coxas, eu quero chupar você.

: - Deus!

Eu resfoleguei e apertei meus olhos, me erguendo sobre os meus braços. O jeito que ela falava, o que me fazia sentir... Eu nunca iria me acostumar com aquela sensação de ser submissa a alguém. Ela era minha dona, no melhor sentido da palavra. Dona dos meus sorrisos, desejos e prazeres. Talvez existisse uma explicação, mas naquele momento, eu estava mais interessada no delicioso sexo oral que ela me faria.

: - Você no café da manhã. Essa é a melhor forma de ter um ótimo dia.

 

E coloque ótimo dia nisso. Começar a manhã com Lauren era sempre interessante, eu não precisava mover um dedo para nada, ela fazia tudo. Me deu um banho longo e quente, me ajudou a desembaraçar o cabelo e a me vestir. Acabei dentro de suas roupas, não que eu me importasse com isso. As meninas ainda dormiam quando descemos para a sala de mãos dadas, trocando sorrisos e abraços curtos pelo caminho.

O mês de Maio começou como os outros, cheio e corrido. Muitas coisas haviam mudado desde então. Há, Dinah terminou com Siope. Se eu fiquei chocada ao saber? Confesso que não. Chocada eu ficaria se ela continuasse com ele, estando de joelhos por Normani. Falando nela, eu não conseguia parar de sorrir quando a via, parecia mais bonita, mais viva. Ainda que a relação com Dinah não tivesse título e cobranças, ela parecia feliz demais para querer mudar isso.

Minha relação com Clara havia melhorado e muito, conversávamos mais e até trocávamos abraços. Eu entendia que tinha de ir com calma, tudo era muito novo para ela, e uma vez que ela chegou na nossa casa recentemente acompanhada de minha mãe, Lauren e eu estávamos nos comportando muito bem. Evitávamos nos agarrar pelos cantos, trocar carícias intensas e frases ousadas. Era difícil não tocá-la o tempo todo. Faziam alguns dias desde a chegada de minha sogra. Disposta a passar um tempo com a filha e cuidar dela como uma boa mãe faria, Clara nos pediu permissão para permanecer por um tempo. Lauren ficou eufórica e bem, nós também. Minha mãe decidiu acompanhá-la, deixando a mansão cheia e animada quase 24 horas por dia. Apenas por aquela semana, onde permaneceríamos em Los Angeles.

Fomos seguindo o aroma gostoso que escapava da cozinha, uma mistura de panquecas, ovos e bacon. Lauren vestia um blusão azul que cobria até a metade de suas coxas, seu cabelo estava amarrado em um nó frouxo no alto da cabeça. No rosto, ela deslizou óculos de descanso em armação preta. Lindos e sexy. Há basicamente uma semana ela começou a reclamar de dor de cabeça e atrás dos olhos, insisti para que fossemos ao oftalmologista fazer uma verificação. Desde então, ela passava a maior parte do tempo com eles, as dores diminuíram e eu fiquei imensamente satisfeita.

: - Por que está me olhando assim?

Ela me perguntou desconfiada quando paramos no final do corredor, prestes a entrar na cozinha.

: - Gosto desses óculos, fazem você parecer mais inteligente do que já é.

Ela corou forte nas bochechas, curvando-se para frente e deixando um beijo suave em minha testa.

: - Você é adorável, Camz.

Eu sorri com a língua entre os dentes, devolvendo o beijo em sua bochecha como uma virgem. Bem, Lauren amava quando eu me comportava como uma menininha inocente. Seus olhos verdes piscaram sob um brilho intenso, e sua mão direita se ergueu para afagar meu cabelo.

: - Eu te amo.

Eu disse com os ombros encolhidos.

: - Eu também te amo, princesa.

Princesa. Amava tanto quando ela me chamava daquele jeito, fazia com que eu me sentisse dentro de um conto de fadas. Talvez vivêssemos um conto de fadas um pouco diferente. Ainda que Lauren e eu tivéssemos apenas dezoito anos de idade, eu sentia como se não significasse nada, e realmente não significava. Parecia que ela e eu completaríamos 30 anos em breve. Nossas mentes e a forma com a qual pensávamos fez de nós maduras muito cedo. Éramos donas de nossas próprias vidas, responsáveis por tudo o que nos rodeava. Minha mãe uma vez me disse que a maturidade nasce com as experiências, não com a idade. E aquela era a maior verdade.

Dei a mão para ela depois de um selinho escondido e entrelacei nossos dedos, a puxando para a cozinha. Quando entramos, encontrei minha mãe no fogão e Clara com uma cesta na mão, arrumando a bancada da cozinha com um farto café da manhã. Minha barriga roncou na hora, toda a energia que perdi durante a manhã gritou para ser reposta. Lauren suspirou ao meu lado, ajeitando os óculos no rosto com a ponta do dedo indicador.

: - Meu Deus! O que estão fazendo? Isso cheira gostoso demais.

Clara virou imediatamente na nossa direção, uma expressão assustada dando lugar a um sorriso discreto logo depois. Minha mãe fez o mesmo que ela, secando a mão em um pano de prato.

: - Bom dia, crianças. – A forma doce como ela se referia a nós aquecia o meu peito por dentro. Ela estava se esforçando e tendo tanto sucesso que eu não conseguia, nem por um minuto sequer, lembra da mágoa do passado. – Sinu e eu fizemos um café reforçado hoje. Espero que estejam com fome.

: - Céus, mãe, você não sabe o quanto o meu estômago quer colar nas minhas costelas agora de tão vazio que está.

Lauren deixou que seus ombros caíssem, se arrastando na direção de Clara que abriu os braços para recebê-la. Eu troquei um olhar cúmplice com minha mãe, caminhando na direção dela.

: - Vocês me parecem cansadas. Dormiram bem essa noite?

Sinu perguntou um tanto preocupada, segurando meu rosto entre as mãos e beijando minha testa. Corei intensamente, desviando meus olhos para qualquer canto na cozinha.

: - É... Sim. Deve ser a fome.

Lauren respondeu igualmente vermelha, se afastando de Clara um pouco para focar o olhar em nós.

: - Hmmm... – O olhar de minha mãe, intrigado demais, denunciou que ela sabia o motivo do nosso cansaço, e isso a fez sacudir a cabeça rapidamente como se quisesse se livrar de seus pensamentos. Eu quis rir. – Já que estão com tanta fome assim, sentem essas bundas grandes nesses bancos e comam. Não quero que sobre nada. Devo acordar as meninas?

Lauren e eu nem mesmo esperamos elas terminarem de falar e já havíamos nos sentado, enchendo nossos pratos e copos.

: - Acho melhor não, Sinu. Deixe que durmam até a hora que quiserem, devem estar cansadas.

Clara respondeu puxando um banco ao lado de Lauren, enquanto minha mãe trazia para a bancada uma jarra de suco.

: - Com certeza. – Eu disse de boca cheia depois de morder uma fatia enorme de bolo, me esforçando para engolir a tempo de voltar a falar. – Elas vão xingar até a próxima geração de vocês se forem acordadas.

: - Camila! – Sinu me olhou de cara feia. Arregalei os olhos. – O que eu já te disse sobre falar de boca cheia? Onde está a educação que lhe dei? Ora essa!

Lauren explodiu em uma risada, cobrindo a boca com a mão. Clara negou com a cabeça sorrindo, colocando rodelas de pães em seu prato. Eu encolhi meus ombros e sorri sem graça, limpando a boca com as costas das mãos.

: - Desculpe, Mama.

: - Está desculpada. Agora coma.

Ela sorriu para mim daquele jeito que apenas mãe sorri, aliviando o recente esporro. Depois disso, comemos caladas por um tempo. Não era preciso palavras, com o silêncio e olhares carinhosos, selávamos um laço familiar mais do que necessário. Reconstruímos relações quebradas, reforçamos amores ameaçados, deixamos para trás o passado. Clara e Lauren haviam renascido, era como se nunca tivesse existido a dor, as lágrimas e a intolerância. Mãe e filha estavam de novo onde sempre deveriam estar, cúmplices, completamente entregues em um amor sem medidas. Amor de mãe, amor de filha. Um amor sem limites, um cuidado avassalador, uma certeza. Quando os dias parecem escuros demais e nos fazem sentir vontade de deitar embaixo da cama, nos esconder do vento que nos leva para caminhos errados, e da chuva de confusão que cai quando menos esperamos, sempre desejamos estar nos braços de apenas uma pessoa, exatamente aquela que nos deu a vida. Independente dos erros, das palavras ditas sem pensar e da mágoa que um dia se criou, ela nos amou, nos criou, nos ensinou que no mundo, não há amor maior e melhor que o dela. Nossas mães, as vezes erradas, as vezes exageradas, as vezes bravas, as vezes chatas, as vezes preocupadas demais, as vezes coisas demais... Ainda sim, são nossas mães, aquelas que devemos amar independente do que houve no começo, no meio e do que haverá no fim.

 

~

 

Nos preparar para o show não era uma tarefa muito fácil, nunca conseguíamos nos concentrar o bastante para um resultado excelente. Sempre tinha alguém para tirar o foco e naquele dia não estava sendo diferente. Jodi passou o dia todo nos telefonando e torrando a nossa paciência, ainda não havia entendido o motivo de tantos avisos se faríamos o que estávamos acostumadas. Normani estava sofrendo de uma cólica interminável, reclamando mais que tudo até do desnecessário. Era um dia ruim e eu não a julgava, sangrar como se fosse morrer não é a melhor coisa do mundo. Ally e eu éramos as únicas dispostas a nos concentrar porque Dinah e Lauren... Bem, Dinah e Lauren estavam como cão e gato. Eu perdi as contas de quantas vezes gritei para que elas parassem. Eu não conseguia manter a porra dos pepinos sobre os olhos e nem mesmo permanecer deitada, toda hora tinha que levantar e dar esporro como se fosse uma mãe histérica. Também não sei porque diabos me mandaram ficar com a porra daquelas rodelas no rosto, só estava me fazendo sentir fome e eu só queria comê-las. A mansão ficou silenciosa demais por um instante e aquilo me pareceu completamente assustador. Não deveria ser mais que duas da tarde, em breve teríamos que acabar com a sessão spa e ir para a passagem de som no local do show.

: - Por que temos que ficar com isso na cara? Qual é a graça se nem mesmo posso comer essas merdas?

Perguntei impaciente a Ally, que estava deitada ao meu lado na mesma posição que eu. De barriga para cima, braços esticados, queixo erguido e pepinos nos olhos.

: - Segundo nossas maquiadoras, estamos com bolsas demais. Não temos dormido muito bem, Mila, infelizmente. Trabalhamos até tarde, acordamos algumas poucas horas depois. Não há quem aguente.

: - Eu não nasci para isso. Talvez Deus tenha errado o meu sexo, Ally. Você pode descobrir isso pra mim, ou terei que conviver com essa dúvida?

Bufei irritada, bocejando um pouco enquanto dobrava as minhas pernas sobre a esteira. Ally soltou uma risada controlada, dando um pequeno tapinha em minha barriga.

: - Não fale besteiras. – Ela riu novamente, se ajeitando. – Você é do sexo que deveria ser. Deus não erra, Mila, já lhe disse isso. Você só se comporta como um menino... As vezes.

: - Queria mesmo ser um menino.

: - Lauren não iria gostar de você se fosse um menino, Chancho. Então agradeça por ter uma boceta.

: - Dinah!

: - Dinah!

Ally e eu gritamos ao mesmo tempo, primeiro por susto ao ouvir a voz dela brotar do nada ao nosso lado, segundo pelo o que disse. Retirei o pepino dos olhos e me sentei, piscando algumas vezes até conseguir enxergá-la nitidamente na minha frente. Sua cara estava coberta por um creme gosmento branco, seu cabelo preso em um coque e seu corpo enrolado em um roupão.

: - O que foi que eu fiz? – Ela perguntou com uma cara de chocada, erguendo as mãos ao ar em defesa. – Eu só disse a verdade.

: - Você é uma idiota.

Eu neguei com a cabeça e ri, mordendo um pedaço de uma das rodelas de pepino. Fiz uma careta, mas até que aquilo era bom.

: - Que nojo!

: - Nojo de quê? Sua cara está coberta por uma merda branca que parece esperma, e você quer me falar de nojo?

Perguntei enquanto ela se sentava ao meu lado, ajeitando o roupão sobre as coxas.

: - Ai gente, por favor! Eu não sou obrigada, viu? – Ally se levantou na mesma hora, nos olhando como minha mãe me olharia, negando com a cabeça e nos dando as costas. – Eu vou terminar o meu descanso no quarto antes que saia grávida daqui.

: - Dedo ainda não goza, Allycat.

Dinah gritou quando Ally passou pela porta da varanda, recebendo uma série de “Em nome de Jesus! Credo! Minha nossa senhora!” em troca. Nós gargalhamos de vir lágrimas nos olhos, era engraçado demais tirar Ally do sério.

: - Isso é pecado, você sabe.

Eu disse esticando os braços acima da minha cabeça, me espreguiçando.

: - Ally precisa de um pouco de maldade na vida, Chancho. Aposto que será mais feliz.

: - Deixe ela.

Alertei colocando as minhas pernas para fora, pisando descalço no chão frio. Dinah bocejou e encostou a cabeça na parede atrás dela, fechando seus olhos. Ela parecia confortável com aquele roupão felpudo, por isso me arrastei sorrateiramente sobre o sofá e me aconcheguei em seu corpo, deitando a cabeça em seus seios.

: - Seus peitos são tão macios.

Comentei os afofando com a cabeça, me acomodando melhor. Dinah riu baixinho e passou seus braços ao meu redor, me puxando mais para ela.

: - Você é muito lésbica. Se não fosse quase minha irmã, aposto que iria pedir pra mamar nos meus peitos.

Eu soltei uma risada mais alta e suspirei, fechando os meus olhos quando ela começou a nos embalar de um lado para o outro.

: - Os de Lauren não são enormes assim, mas eu posso mamar neles quando eu quiser. Então não, eu prefiro os dela.

: - Eu realmente não precisava ouvir isso, Camila. Que merda! Vou ter pesadelos.

Dinah resmungou no alto da minha cabeça, nos balançando como se quisesse me por para dormir. Era tão bom ficar daquele jeito com ela, conversar sobre tudo, sorrir, reclamar, chorar. Realmente não imaginava acordar um dia e não ouvir mais sua voz na mesma casa, na minha rotina. Naquele momento eu só queria que o dia de minha partida nunca chegasse.

: - Ficou quietinha. O que foi?

Sorri triste, negando com a cabeça. Abracei sua cintura com força, querendo ficar ali para sempre.

: - Nada. - Beijei seu pescoço e acabei sujando minha bochecha com aquele creme fedorento que ela tinha no rosto. Mas não me importei. – Onde está Mani?

: - Na cama. Acabei de dar um remédio pra ela, espero que essa cólica passe antes do show, ou vai ser complicado.  

: - Tadinha! Ainda bem que ela tem você para cuidar dela.

Eu não estava vendo, mas sabia que Dinah estava sorrindo. Ela suspirou longamente, esfregando minhas costas com as mãos.

: - Ainda bem que eu tenho alguém para cuidar.

Ela concordou em um tom manhoso, deixando-me completamente satisfeita. Era maravilhoso ouvir a paixão na voz dela, o carinho, a consideração. Nada no mundo valia mais do que aquilo. Ficamos em silêncio alguns minutos, apenas aproveitando a companhia uma da outra.

: - Eu te amo, Cheechee.

Eu disse quando a vontade de falar foi forte demais para resistir.

: - Eu também te amo. Amo mais quando você fica assim toda carente, no meu colo como se fosse um bebê. Não que você não seja porque você é. Mais velho, mas ainda sim o meu bebê.

Ouvir aquilo fez o meu peito inflar de amor, um amor diferente e tão puro quanto amor de mãe. Amor de irmã, amor de melhor amiga, amor inenarrável, amor tão grande e sufocante que pensar em perder doía mais do que quebrar um osso. Eu a amava e ela era minha, mesmo que existissem no mundo milhões de pessoas dispostas a tomar o meu lugar, ela era minha e de mais ninguém. Minha irmã, minha melhor amiga, minha protetora, minha Cheechee, minha Dinah. E ai de quem não concordasse com isso. Amizades não são definidas por tempo, mas sim por intensidade. Pessoas vem e vão, mas amigos de verdade veem e ficam. Quando Deus te der a opção de fazer daquela amizade uma das coisas mais importante da sua vida, faça. Porque quando o mundo estiver contra você, ela estará contigo contra ele.

: - DINAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Cheechee e eu fomos retiradas de nossa bolha pela voz histérica de Lauren, caindo sobre nós como uma bomba nuclear. Me separei dela e a olhei com olhos arregalados, vendo seu rosto se contorcer em uma expressão de horror.  Lauren brotou na varanda pisando duro, passando pela porta de vidro central como um furacão. Vestindo apenas uma cueca boxer vermelha e uma regata branca, ela tinha seus pés descalços, cabelos molhados e um pote roxo na mão. Eu iria perguntar o motivo de sua explosão, mas nem mesmo tive tempo de abrir a boca.

: - QUE MERDA VOCÊ FEZ COM O MEU CREME DE MASSAGEM? POR QUE MEU CABELO ESTÁ FEDENDO A OVOS COMO SE EU FOSSE UMA GALINHA?

: - Oh meu Deus!

Eu encolhi meus ombros e cobri o rosto com as mãos. Eu não queria nem ver quem iria sair morta primeiro. Não estava acreditando que Dinah tinha aprontada uma daquelas. Comecei a pedir para Deus, por tudo o que fosse mais sagrado, que eu saísse sem nenhum arranhão.

: - Ué, eu só misturei uma clara de ovo no seu creme. Você reclamou comigo que seu cabelo estava seco, e eu li em algum lugar que ela ajuda a dar brilho.

Dinah respondeu da forma mais inocente possível, em um tom controlado e até um pouco receoso. Será que ela não havia feito por mal? Não, não, ela era a Dinah, rainha das trollagens.

: - SÓ? VOCÊ COLOCOU A PORRA DE UMA CLARA DE OVO NO MEU CREME DE CABELO, O DEIXOU FEDENDO DE UM JEITO QUE NEM O SHAMPOO AJUDOU E DIZ SÓ? EU VOU MATAR VOCÊ.

Lauren partiu para cima de Dinah, que apavorada a deu as costas e correu para o jardim. Eu vi a morte passando na minha frente quando Lauren jogou o pote de creme no chão, bufando tanto que seu rosto estava em um vermelho vivo.

: - LAUREN, EU SÓ QUIS AJUDAR. EU JURO! EU SÓ QUIS TE AJUDAR.

: - LAUREN! – Eu gritei desesperada, ainda que quisesse rir da situação, sabia que Lauren estava brava demais para relevar. Seu cabelo era seu bem mais precioso, causar danos a ele era como assinar atestado de óbito. – PARA COM ISSO, LO! ELA SÓ QUIS AJUDA VOCÊ.

Como caça e caçador, as duas começaram a correr pelo jardim. Dinah na frente fazendo sua defesa, Lauren atrás fazendo ameaças de morte. Eu fiquei ao lado, tentando parar as duas de uma forma que não acabasse levando um soco.

: - EU TENHO UM SHOW PARA FAZER ESSA NOITE, UM MEET E ESTOU FEDENDO COMO UMA GALINHA. EU TE ODEIO, DINAH!

: - EU NÃO FIZ POR QUERER, EU... – Dinah perdeu a fala quando Lauren, com a força do Diabo, chocou seu corpo contra o dela, a fazendo cair na grama mais do que verde do jardim. Levei as mãos a cabeça. – AI! DESCULPA! EU LAVO SEU CABELO E O CHEIRO VAI SAIR. EU PROMETO.

Lauren estava sentada sobre o quadril de Dinah, a empurrando contra a grama pelos ombros. Tudo o que eu conseguia ouvir eram xingamentos e pedidos de desculpa, movimentos rápidos e o rosto de Dinah coberto por aquela gosma branca torcido em desespero e divertimento ao mesmo tempo. As duas eram duas crianças chatas que eu já havia cansado de dar esporro. Tinha coisas demais para fazer ainda aquela tarde, não iria mesmo ficar ali tentando separar uma “briga” que, como eu bem sabia, mais cedo ou mais tarde terminaria em melação.

: - Ah, querem saber? Se matem. Eu não tenho mais paciência pra vocês.

Joguei as mãos para o ar em rendição, negando com a cabeça antes de dar as costas para as duas e caminhar para fora do jardim sob resmungos. Francamente, viu? Nem Sofia conseguia ser tão irritante com suas amigas como elas. Deus precisa me dar uma recompensa muito boa no final da vida, por passar boa parte dela tendo que aturar Lauren e Dinah entre amor e ódio.

 

Lauren POV.

Meu corpo doía como se eu tivesse lutado com uma manada de búfalos. Não pensaria duas vezes em trocar o show daquela noite por uma boa hora de sono. A pequena briga com Dinah me rendeu arranhões e manchas roxas, por ser branca demais, minha pele ficava marcada facilmente. Meu cabelo estava com um cheiro mais agradável, depois de passar horas embaixo do chuveiro com ela esfregando as mechas, era o mínimo que poderia acontecer. Dinah ainda me devia uma explicação mais aceitável sobre o fato de ter colocado ovo no meu creme, deixo claro que não acreditei em sua boa vontade. Mas como ela e eu vivíamos de forma inconstante, desci de suas costas em um dos grandes corredores que cortavam os bastidores da Arena, onde faríamos o nosso show as 20:00, ajeitando o short que havia embolado em minhas coxas. Estiquei os braços acima da minha cabeça, ouvindo meus ossos estalarem, um por um.

: - Vou lhe deixar com sua mulher e vou tirar um cochilo no camarim.

: - Como?

Ergui minhas sobrancelhas, desviando de um cara que passava pelo corredor empurrando uma grande caixa. Dinah rolou os olhos, olhando por cima de meus ombros.

: - Camila está vindo lá atrás e não me parece nenhum pouco animada.

Segui o olhar de Dinah e virei o pescoço para olhar em minhas costas, vendo Camila cruzar o longo corredor em passos de tartaruga, fazendo-me sorrir tristemente. Ela estava cansada, e parte disso era culpa minha. Não pela grande jornada de sexo que tivemos, mas sim por não deixá-la descasar por conta de minhas brigas idiotas com sua melhor amiga.

: - Deixe que eu cuido disso.

Me virei para Dinah e dei um leve soco em seu ombro, ganhando um rápido beijo na cabeça e um sorriso de canto.

: - Até mais tarde, galinha.

: - Vai se foder, babaca.

Dinah soltou uma gargalhada enquanto se afastava de mim, rebolando mais do que o necessário e eu sabia muito bem que era só pra me irritar. Rolei meus olhos sem deixar de sorrir. Eu amava aquela criatura, mesmo que fosse infernizada por ela todos os dias.

: - Vocês já estão se amando.

Ouvi a voz exausta de Camila e me virei para encará-la, meu coração enchendo-se de peninha.

: - Sim, estamos. Você deveria achar isso bom.

Eu comentei enquanto me aproximava mais dela, erguendo a mão para afagar suas bochechas coradas. Camila bocejou, seus lindos olhos enchendo-se de lágrimas. Ela olhou rapidamente para os lados e então, pela glória de Deus, deitou sua cabeça em meu peito, o que me fez entender perfeitamente que tudo o que ela queria era um abraço.

: - Eu acho ótimo, portanto que não torrem a minha paciência...

Eu ri do tom tedioso que ela usou, passando meus braços ao redor de seu corpo e a abraçando com força. Suspiramos juntas, nos deliciando naquele toque mais do que adorado, necessário. Era de um completo incômodo passar horas sem abraça-la, tocá-la, beijá-la, nunca iria me acostumar com a ausência. Respirei fundo para sentir seu cheiro doce, deixando um beijo casto em sua testa quente.

: - Por que não dorme um pouco, Camz? Ainda falta uma hora e meia para o show. Tire um cochilo com Dinah no camarim.

Esfreguei suas costas com as mãos, me arrepiando quando sua respiração quente acariciou meu pescoço.

: - Dormir pouco é pior do que não dormir, Lo. Prefiro ficar acordada.

Em certa parte, ela tinha razão.

: - Então vou lhe comprar um copo de café bem grande, ok? Vai fazer com que se sinta melhor.

: - Não pode ser um copo de vodka?

Eu ri de seu pedido, tirando o cabelo de cima de seus ombros para apertá-los com cuidado, procurando relaxá-la.

: - Claro que não, não é dia e nem hora de beber, princesa.

Eu vi um sorriso nascer em seus lábios quando ela se afastou um pouco de mim, seus olhos brilhantes diziam-me que eu havia acertado na resposta.

: - Eu gosto quando me chama de princesa.

Ela corou nas bochechas de forma adorável, fazendo o meu coração acelerar. Desviei de algumas pessoas que passavam sem deixar de olhá-la, sem me preocupar se estavam ou não nos observando. Naquela altura do campeonato, eu não tinha mais nada para perder, e nem ela.

: - É porque você é uma. E minha, só minha.

Sussurrei em seu ouvido seguido de um beijinho no local, rindo quando ela encolheu os ombros.

: - Pare com isso, Lo, estamos em público.

O tom de voz que ela usou me mostrava que aquela preocupação era apenas capricho, porque no fundo ela não estava nem ai para nada, assim como eu.

: - Pouco me importa, Camz, eu só ligo pra você.

: - Você gosta de viver no perigo.

Ela riu manhosa e me abraçou outra vez, afundando o rosto em meu pescoço. Devolvi o abraço com carinho. Era naqueles momentos em que eu sentia que carregava meu mundo inteiro nos braços, e que minha função era cuidá-lo.

: - Eu só te amo demais. – Beijei sua cabeça. – Agora deixe-me ir comprar o seu café, não quero que fique indisposta em cima do palco.

: - Não demora.

Camz me olhou como um cachorrinho sem dono, fazendo beicinho. Que vontade de beijá-la. Estava tão cansada que minha vontade era de pegá-la no colo e colocá-la para dormir.

: - Não vou demorar. Prometo!

A afastei de mim pelos ombros, a virando de costas e a empurrando delicadamente para frente. Camila soltou uma gargalhada preguiçosa, fazendo manha.

: - Hmmmm.

: - Vai, preguiça. Ou vai com os próprios pés, ou vou lhe carregar no colo até lá.

: - Não! – Ela exclamou alerta, me olhando por cima do ombro direito antes de começar a se afastar em passos largos. – Não está mais aqui quem reclamou.

Eu mandei um beijo para ela, amando ver aquele sorriso em seu rosto, coberto parcialmente pelas mechas de cabelo maravilhosas que voavam contra ele. O que eu não fazia por ela? Não havia nada que eu não pudesse fazer, nada. Eu andaria quilômetros apenas para atender um desejo seu, eu deixaria de dormir para virar a noite lhe massageando os pés, eu enfrentaria o Diabo para defendê-la. Eu faria qualquer coisa pela garota que eu amava, qualquer coisa boa... E qualquer coisa ruim também. Mesmo que me custasse a sanidade, se fosse para o bem dela, eu faria.

Não levei muito tempo para comprar o café de Camila, a fila da cafeteria do local estava pequena e, bem, como eu fazia parte do grupo que faria o show naquela noite, tinha alguns privilégios. Comprei alguns biscoitinhos amanteigados também, sabia que ela amava e deveria estar com fome. A ideia de vê-la sem se alimentar por muito tempo me atormentava, nunca iria me esquecer do incidente no Brasil. Por isso, sempre que eu passava na frente de uma lanchonete de onde estávamos, ou da cozinha de casa, pegava algo para ela comer.

Estava indo na direção do camarim com as coisas em mãos, usando o mesmo corredor que usei para sair, quando vi uma cena que me chamou bastante atenção. Camila cruzou de uma ponta a outra correndo, eu estava longe, mas ainda sim consegui perceber uma expressão chorosa em seu rosto. Sua mão direita cobria sua boca, o que me fez apertar o passo com o coração acelerado para chegar até ela o mais rápido possível. Foi quando, por segundos, vi Jodi entrar em uma porta bem escondida no final escuro do corredor, sumindo da minha visão. Meus pés travaram na mesma hora, me impedindo de continuar. Naquele momento eu soube que o que tinha feito a minha garota chorar, partiu daquela mulher imunda. Apertei o copo de café quente com mais força, forçando os meus pés para frente. Foi como se eu tivesse passado a enxergar tudo em vermelho, vermelho vivo, tão forte que um palpitar intenso brotou na minha cabeça. Cheguei na frente do nosso camarim tão rápido que tropecei em meus próprios pés, derrubando uma quantidade enorme de café quente em minha blusa.

: - Merda!

Gemi baixinho sentindo o líquido queimar meus seios, mas não tinha tempo para me preocupar comigo.

: - Mila, olha pra mim. Para de chorar e me diz o que aconteceu.

Ouvi Dinah dizer, o que me fez apoiar o ombro na porta para ouvir melhor. Se eu entrasse e exigisse uma explicação, Camila, com toda a certeza do mundo, não me diria. E eu mais do que ninguém queria saber o que aconteceu.

: - Jodi. – Ela soluçou um pouco, fazendo um aperto sem fim se formar em meu peito. Odiava vê-la chorar, odiava que a fizessem chorar. – Me disse umas coisas, me humilhou. Eu sei que ela sempre diz esse tipo de atrocidade, mas hoje... Hoje não é um dia em que eu precisava disso. Eu não precisava ouvir que provoquei tudo isso, que destruí meu sonho, que coloquei as pessoas que amo em maus lençóis. Eu não queria ter que lidar com isso, eu... Sinto muito. Eu sei que fiz uma escolha e sei que a mesma me trouxe consequências, mas eu não queria que tudo terminasse assim. Eu não podia simplesmente não escolher Lauren, eu não podia optar por meu sonho e deixar quem eu mais amo na minha vida. Eu não podia. Me desculpem!

Eu fechei meus olhos com força, encostando a cabeça na parede. Ouvir aquilo foi como levar um soco no estômago, um tapa na cara de uma realidade dura e inevitável. Camila, pela primeira vez, estava se culpando por algo que nem ela e nem eu tínhamos culpa. Os dias estavam passando rápido, as horas cada vez mais apertadas nos lembrava do que nós queríamos esquecer. Não era preciso dizer nada, quando nos olhávamos, sabíamos que em breve teríamos que deixar tudo para trás. O medo já não precisava ser anunciado, ele estava lá, ele sempre esteve lá. A insegurança, as lembranças, a dor. Nada disso havia ido embora. Quando eu acordava todos os dias pela manhã, agradecia a Deus por tê-la em minha vida, e lamentava o final que as coisas teriam. Ainda que eu tivesse uma única certeza, todas as consequências doíam. Camila não precisava de alguém cutucando suas feridas desse jeito, fazendo-a chorar quando eu só queria que ela sorrisse. Ela não tinha que passar por isso e eu, estando exausta fisicamente e mentalmente de tudo, não deixaria que aquela situação terminasse daquela forma. Se existia alguém que daria a última palavra naquela noite, esse alguém seria eu.

Larguei o copo de café e o saquinho de biscoito em cima de um banco, posicionado ao lado da porta do camarim, partindo em passos rápidos atrás daquela mulher que havia infernizado a minha vida. Eu parei de ouvir, parei de enxergar, eu só sentia raiva, um ódio violento que me fez fechar as mãos em punhos. Meu coração batia com força, acelerando minha respiração e fazendo minha cabeça latejar. Poucas vezes na minha vida havia perdido o controle daquela forma, e em todas as vezes que isso aconteceu, foi por conta de Jodi. Lágrimas brotaram em meus olhos, onde fiz questão de secá-los brutalmente com as costas das mãos. Quando parei de frente para a enorme porta preta, onde vi que ela entrou há minutos atrás, ergui os punhos e comecei a socá-la com força, assustando algumas pessoas que passavam atrás de mim.

: - Mas que merda é...

 Ela abriu a porta no mesmo segundo em que eu ia socá-la outra vez, o que fez meus dois punhos descerem com força em seu peito. Jodi cambaleou para trás, o que me impulsionou para frente, invadindo aquele ambiente apertado, mal iluminado e abafado.

: - SUA ESTÚPIDA! – Eu gritei para ela, incapaz de medir meus atos, de abaixar o tom de minha voz. – O QUE MAIS VOCÊ FALOU PRA ELA? DIZ PRA MIM! REPETE PRA MIM O QUE DISSE PRA ELA.

: - Você está maluca. – Jodi esbravejou por trás dos dentes, olhos vermelhos e vibrantes, narinas dilatas e igualmente avermelhadas. Parecendo um alguém que sofre de esquizofrenia, ela negou com a cabeça algumas vezes e passou o antebraço pelo nariz, fungando. – Não grite comigo, sua vadiazinha. Você e essa sua namoradinha não sabem do que sou capaz.

: - VAI FAZER O QUE, VAI ME MATAR? – Eu soltei uma risada alta, vibrando de raiva, respirando tão forte que sentia meus pulmões arderem. – VAI ME BATER? VAI, BATE SE VOCÊ TEM CORAGEM. BATE, JODI PORQUE EU ESTOU LOUCA PRA REVIDAR. BATE!

Eu iria avançar nela outra vez, mas mal tive tempo de raciocinar. Gemi em susto quando ela me empurrou para trás pelos ombros, chocando o meu corpo contra a parede do outro lado do cômodo. Eu arregalei os olhos em horror quando suas mãos imundas tocaram o meu rosto, seu corpo duro e muito maior que o meu me apertando com força, impedindo os meus movimentos. Eu ia gritar, mas ela foi mais rápido e cobriu minha boca.

: - Fica quieta. – Ela rosnou no meu ouvido, me fazendo fechar os olhos e tremer em um nojo inimaginável. Eu queria vomitar contra sua mão aberta, tê-la tão perto de mim fazia com que eu sentisse pavor da minha própria pele. Seu nariz deslizou por minha bochecha, e sua mão livre desceu com força pela lateral direita do meu corpo. – Está assustada? Shiiii! Desculpe. Eu jamais bateria em você, jamais. Não poderia marcar esse rostinho tão bonito.

Que merda era aquela? Que porra ela estava fazendo? Eu comecei a tremer como se fosse ter uma convulsão. Seu tom de voz me deixou alarmada, seu humor parecia inconstante demais para um alguém em sã consciência.

: - Você é tão bonita, Lauren, tão bonita... – Ela ia dizendo enquanto arrastava aquele nariz nojento no meu pescoço, me causando calafrios de nojo. Eu senti as lágrimas descerem por meus olhos, lágrimas de ódio, de exaustão. Tentei mover a boca para morder sua palma, mas ela a apertava com tanta força que aquilo se tornou impossível. Passei meus olhos ao meu redor, conseguindo enxergar algumas malas abertas no chão e a pouca iluminação que vinha de fora, entrando pela porta aberta apenas pela metade. – Por que você tem que fazer isso comigo? Por que tem que me perturbar tanto? Tudo seria tão diferente se você não mexesse desse jeito com a minha cabeça. Mas você escolheu ficar com aquela garota desprezível, insuportável.

Jodi ergueu sua mão livre e deu um soco na parede ao lado da minha cabeça, fazendo com que eu encolhesse os meus ombros. A minha ficha começou a cair como uma bomba, me deixando fraca sobre as pernas.

: - O que acha que ela pode dar pra você? O que uma garota infantil de dezoito anos pode dar pra uma mulher como você? Hein, Lauren? Responde!

Usando as duas mãos, ela sacudiu os meus ombros incontáveis vezes, deixando-me dolorida.

: - Tudo o que você nunca vai dar. - Eu consegui dizer depois de respirar fundo, encarando os olhos dela como quem encara o Diabo. E era ele, em pessoa. – Eu tenho pena de você. Você nunca será o que Camila é pra mim. Eu tenho nojo do seu toque, nojo de te olhar.

: - Cale a boca. – Ela rosnou irada, empurrando meu corpo com força contra a parede de um jeito que me fazia buscar o ar em desespero, por estar praticamente sufocando. Eu não podia simplesmente gritar e ir embora, eu tinha que enfrentá-la, eu tinha que mostrar pra ela que eu havia perdido uma batalha, mas a guerra eu ganharia. Saber que ela nutria algum tipo se sentimento doentio por mim me deixou enojada e assustada, mas também sabia que eu podia usar aquilo ao meu favor para atormentá-la, e eu usaria. Ainda que fosse arriscado demais, eu usaria. Eu faria qualquer coisa desde que provocasse nela tudo o que causou em mim e em Camila por todo aquele tempo. – Você não sabe do que está falando, você está cega. Eu podia te dar tanta coisa... Tudo o que quisesse. Ela não pode te dar nada além do que você já tem, Lauren.

As lágrimas caíam livremente por meus olhos, o vomito querendo subir na garganta. As coisas que ela dizia, o jeito que tocava em mim fazia com que eu sentisse como se estivesse sendo estuprada, e indiretamente, estava. Pelo muito que já havia visto daquilo na vida, tinha consciência de que Jodi estava sob efeito de drogas, e não era pouca. Ela tremia e resmungava, dizia coisas desconexas, apertava os meus braços com tamanha força que chegava a queimar.

: - Você é um nada perto dela. – Eu disse engolindo a saliva que se formou em minha garganta, fechando os olhos com força enquanto ela subia as mãos por minha clavícula, envolvendo o meu pescoço. – Eu sei que você sofre por eu não te amar, porque afinal, ninguém ama. Nem eu e nem qualquer outra pessoa. Você é desprezível e só o que sabe é destruir. Camila é o amor da minha vida e já você... Você é a pessoa que mais me enoja.

: - Pare! – Ela choramingou, eu sorri. Ali, naquele quartinho apertado e a meia luz, eu sorri com toda a mágoa que eu sentia, pela primeira vez na minha vida me senti imensamente bem por estar atormentando alguém, causando dor. Eu me sentia transbordar e ainda que a água prestes a jorrar fosse de rancor, era a melhor sensação do mundo. – Por favor! Não me odeie, eu faço qualquer coisa, eu...

: - Me solte. – Eu disse entre os dentes, tomando inúmeras respirações profundas. – Agora!

Aos poucos o aperto firme que ela matinha em meus braços foi se desfazendo, deixando o meu sangue voltar a circular pelo local. Eu fui soltando a minha respiração bem devagar, como se estivesse me preparando psicologicamente para qualquer passo que ela fosse dar. Se Camila estivesse por perto, me daria um tapa na cara e me diria que aquela ideia era a pior que já tive em toda a minha vida. Em algum momento, mais tarde, eu pediria perdão à ela por isso, mas não podia perder a oportunidade de me vingar nem que fosse apenas um pouco daquela criatura infeliz.

Jodi deu alguns passos para trás, sua expressão completamente perturbada. Parecia que o que eu havia dito à ela a havia afetado mais do que o uso das drogas. Eu tomei uma respiração profunda, fechando os meus olhos brevemente. Senti falta de uma luminosidade maior, aquela luz fraca estava me deixando tonta. Tudo parecia querer me engolir naquele ambiente, e eu estava ciente que era apenas fruto da pressão interior presente em mim. Eu pensei algumas vezes antes de caminhar até a porta entreaberta e fechá-la, mas não tinha muito tempo para refletir. Camila deveria estar se perguntando onde eu estava, e eu só esperava que ela fosse rápida quando eu a mandasse uma mensagem de socorro. Socorro. Aquela palavra nunca se encaixou tão bem na minha vida, nem mesmo quando eu achei que fosse morrer em cima daquela cama, no meu quarto em Miami.

: - Por que fechou a porta?  Por que não vai embora?

Jodi perguntou-me completamente abalada, andando para trás como se tivesse medo de mim. E naquele momento, eu soube, ela tinha. Ela tinha medo do que eu causava nela, medo dos sentimentos que a consumiam. Talvez se ela estivesse limpa, não me deixaria ter poder algum sobre sua mente, mas a situação era outra, e eu precisava me aproveitar disso.

: - Nós vamos conversar um pouquinho.

Eu disse calmamente, tentando controlar a minha respiração.

: - O que você quer? - Sua voz estava trêmula, assim como o resto do seu corpo. Eu observei em alerta quando ela se ajoelhou no chão, na frente das duas malas que estavam por lá abertas. – Eu posso te dar qualquer coisa, eu já lhe disse.

Revirando a mala como um cão faminto, Jodi retirou de lá um enorme saco preto, o colocando no chão na frente de seus joelhos.

: - Eu não quero nada de você, apenas que me diga o motivo de ainda continuar aqui.

: - Eu não vou deixar você. – Ela ergueu seus olhos vermelhos pra mim e piscou rapidamente, voltando a abaixar a cabeça. Suas mãos rápidas desfizeram o nó presente no saco. As palavras saíam desconexas de sua boca e aquilo só estava me deixando mais nervosa ainda. – Eu não vou embora e deixar você viver em paz com essa menininha estúpida.

Eu engoli a saliva que se formou em minha boca quando vi o que tinha dentro daquele saco. Quando ela virou o mesmo entre seus joelhos, milhares e milhares de tubinhos transparentes contendo cocaína rolaram pelo chão. Sacos iguais aquele estavam dentro das duas malas, e só então fui me dar conta do que estava acontecendo. Jodi iria passar aquilo para as mãos de alguém, não eram drogas para consumo próprio. Ali deveriam conter quilos e mais quilos de cocaína. Havia alguém naquele show, aquela noite, que iria pagar por elas e Jodi era a fonte. De repente, tudo começou a se encaixar na minha cabeça. Os mistérios que ela fazia com suas ligações durante todos os últimos meses, as ordens e mais ordens para o show daquela noite, sendo que faríamos a mesma coisa de sempre e não havia necessidade nenhuma de restrições. Comecei a me perguntar se ela fazia parte de alguma formação criminosa, se havíamos lidado todo aquele tempo com uma traficante. E se ela estivesse armada? Se dentro de uma daquelas malas cheias de drogas tivesse algo a mais? Se o meu medo antes era dominado pela minha raiva, naquele mesmo segundo a minha raiva passou a ser dominada pelo meu medo.

Eu arregalei os olhos e me afastei um passo, a observando abrir um daqueles tubinhos e derramar o pó na palma da mão. O tempo da minha respiração travar na minha garganta, foi o tempo que ela levou para cheirar toda a quantidade, esfregando o nariz com força quando voltou a erguer a cabeça. Eu não podia correr, eu não podia e nem seria covarde ao ponto de fugir bem naquela hora. Ainda que por dentro estivesse me corroendo em pavor, por fora eu mostraria que quem tinha o controle era eu.

: - Você quer ficar aqui para que, Jodi? – Para tentar livrar o meu corpo do tremor que surgiu, comecei a andar de um lado para o outro em passos lentos. – Olhe só ao seu redor. O que é que você tem aqui? Você não tem nada. As pessoas não te suportam, ninguém aguenta nem mesmo ficar na tua presença. Você destruiu qualquer oportunidade de tentar se dar bem com todo mundo e tudo isso em função de quê? De me separar da Camila?

Eu soltei uma risada, não mais nervosa, mas sim sarcástica. Meu corpo estava enchendo-se daquela sensação gostosa de quando a audácia chegava, retirando qualquer medo aparente. Eu havia esperado por aquele momento por muito tempo, por noites sonhei com o dia em que poderia dizer a ela tudo e muito mais. Como uma criança indefesa e em uma das reações ao uso da droga, ela se encolheu toda no canto da parede, abraçando o corpo com seus braços.

: - Bem, então eu tenho uma péssima notícia pra você, pois veja só, você não conseguiu. – Eu parei de frente para ela, um pouco mais perto. Ergui o queixo e a olhei de cima, olhando-a como se fosse um inseto, do mesmo jeito que ela costumava me olhar em um passado não muito distante. – Você não conseguiu tirar ela de mim, e olha que tentou e muito. E sabe porque teus atos não tiveram o efeito esperado? Porque nós nos amamos, porque eu a amo mais do que qualquer outra coisa que eu tenha na minha vida e faço tudo por ela. Amor, esse sentimento avassalador que você nunca vai sentir.

: - Eu... Eu sinto. – Ela tremia tanto que quase não conseguia falar. – Muito... Eu sinto tanto.  Eu amo você. Você não pode me dizer que ela sabe o que é amar alguém melhor do que eu.

: - Ama nada. – Eu ri enojada, negando com cabeça, ouvindo um soluço alto engasgar em sua garganta. – O que você sente é obsessão, doença. Você é doente. – Com o corpo rígido de tanto ódio, eu me curvei para frente, apoiando minhas mãos em meus joelhos para fitá-la o mais perto que eu podia. – Você é uma pessoa doente, sozinha, sem caráter, imunda. Nem mesmo acredito que tenha alma. Desumana. É isso que você é. Uma pessoa como você jamais será capaz de amar alguém. O amor é um sentimento puro, feito para ser honrado com atos de carinho, compaixão e fidelidade. E você só honra a desgraça, a mentira, a raiva.

: - Chega!

Jodi cobriu os ouvidos com as mãos, tremendo como se estivesse tendo uma crise de abstinência. Então, um choro baixo seguido de um chiado escapou de sua garganta enquanto ela se balançava pra frente e para trás, como se pudesse se livrar da dor que minhas palavras causavam nela. Mas não podia, ninguém pode se livrar da cobrança, de ficar do outro lado da moeda quando o mundo resolve dar a tão esperada volta.

: - Mas eu vou te dizer uma coisa, Jodi. Eu tenho que te agradecer. – Voltei a me erguer, passando a mão pelo bolso detrás do meu short para verificar se meu celular continuava ali. – Eu te agradeço por todas as vezes que fez Camila e eu chorar, que nos fez sofrer. Por todos aqueles dias de tormento, perseguição. Por todas as horas em que nos enlouqueceu e pelo momento que entregou nossa carreira nas mãos de pessoas que nem mesmo sabem o que são sentimentos. Eu te agradeço por tudo isso porque foi graças a todas essas atrocidades, que Camila e eu hoje somos fortes o bastante para passar por cima de qualquer coisa. Obrigada por ter nos derrubado um dia, porque hoje nós estamos de pé e estamos juntas. Fifth Harmony nunca deixará de ser Fifth Harmony, você não conseguiu fazer com que deixássemos de ser uma família. Ainda que tenhamos que partir daqui a poucos meses, seremos apenas nós no coração de todas aquelas pessoas que estão lá fora. E quer saber o grande ponto? Eles nos amam, porque eles nos apoiam, porque eles sabem que independente das pessoas que vão passar a ocupar o meu lugar e o de Camila, Fifth Harmony terá sua formação eternizada em Dinah, Normani, Ally, Camila e Lauren. Você pode ter vencido uma batalha, Jodi, mas a guerra terminará com a nossa vitória. No final de tudo, prevalece quem tem amor, cai quem só tem discórdia.

Foi ali que um sentimento de vingança tremendo invadiu o meu corpo, uma sensação quase tão boa quanto o orgasmo. Um poder absoluto, uma leveza na alma. Fui ensinada desde criança que nutrir ódio por alguém não nos leva a lugar algum, só nos faz mal. Mas ali, olhando para aquela mulher que havia me feito comer o pão que o Diabo amassou, eu percebi que as coisas não são tão complexas como parecem ser. Vingar-se de alguma forma, ainda que verbalmente, estava revigorando o meu ser. Foi como se eu tivesse tirado uma tonelada de concreto das minhas costas. Enquanto Jodi falava sozinha e lamentava sob lágrimas, completamente fora de si, eu peguei o Iphone com as mãos trêmulas e mandei uma mensagem rápida para o grupo no wpp que mantinha com as meninas, dizendo onde estava e ordenando que acionassem a polícia. Eu só esperava que elas pudessem ver enquanto eu ainda tivesse tempo.

: - Lauren! Me perdoa! – Jodi implorou, chorando como uma criança indefesa e eu só conseguia sentir nojo. – Você não pode fazer isso comigo, não pode, não pode.

Em uma cena lamentável e humilhante, ela abraçou as minhas pernas, fazendo com que eu tivesse que me apoiar na parede para não cair. Travei a mandíbula e respirei fundo.

: - Olhe pra mim. – Eu rosnei com dentes travados, ansiando por apenas uma coisa. Eu precisava ter aquele momento, eu devia aquilo à ela desde muito tempo. – OLHE PRA MIM AGORA.

Eu gritei, minha voz saiu tão medonha que nem mesmo me reconheci. Em poucos segundos ela ergueu a cabeça para mim, e no mesmo instante eu desci a palma aberta ao lado esquerdo de seu rosto no tapa mais forte que eu já havia dado em alguém na minha vida. Jodi soltou minhas pernas e tombou para o lado, as mãos na bochecha e uma expressão de dor. Minha mão latejava, mas eu me sentia como se tivesse ganhado um Grammy.

: - Estou acertando uma dívida. – Abri e fechei meus dedos, passando o braço livre por minha testa, retirando o suor que havia se formado. – Esse tapa foi por mim, por Camila e pelas meninas. E por nossos fãs também. Pouco perto do que você merece.

: - Pois agora é sua vez de ganhar o que merece.

Quando Jodi se colocou de pé sobre pernas bambas, eu soube que estava perdida. E mesmo estando entre a cruz e a espada, não me arrependia. Ainda que tivesse que passar por um dos piores momentos que passaria em minha vida, eu lutaria. Eu não estava sozinha, eu tinha as meninas. Seus olhos desorientados e inchados me disseram que não adiantaria nem mesmo tentar correr, que ela me pegaria. Mas eu tentei, corri e estiquei o braço para tocar a maçaneta da porta encostada, mas antes que eu chegasse lá, seus braços me puxaram pela cintura e chocaram minhas costas em seu peito. Eu gritei de pavor, sacudindo as minhas pernas para acertar qualquer coisa que me livrasse dela.

: - Agora tá com medo, Jauregui? É? Eu vou te mostrar que sou melhor que ela.

: - VOCÊ É NOJENTA. – Eu gritava e me debatia, gemendo de dor quando senti minhas costas baterem com força no chão frio, por cima dos tubinhos de cocaína que estavam espalhados pelo local. – ME SOLTA! SAIA DE CIMA DE MIM.

Eu chorei, as lágrimas grossas rolavam por meus olhos enquanto eu lutava para tirar aquela mulher enorme de cima do meu corpo. Parecia estar entrando em um processo de embriaguez, onde as coisas acontecem mais rápidas e tudo ao seu redor parece girar.

: - NÃO! – Soquei-a nos ombros com toda a minha força, empurrando-a para trás. Nem se eu estivesse morta, ela tocaria em mim daquele jeito. Eu lutaria contra até o fim. - PARE! VOCÊ NÃO VAI ME FAZER ISSO, VOCÊ...

: - LAUREN!

Eu ouvi vozes do lado de fora, e foi como ouvir a voz de Camila no hospital quando acordei do quase coma. Um estrondo se fez presente no pequeno ambiente e a porta foi escancarada. Uma explosão de pessoas falando e gritando, uma movimentação tão rápida que me deixou tonta, mas em meu peito um alívio enorme quando o corpo de Jodi foi retirado de cima do meu. Eu sorri, ainda que parecesse loucura, eu estava sorrindo. Fechei meus olhos com força e senti mãos tocaram o meu rosto.

: - Lauren, pelo amor de Deus. – Era Normani, suas mãos tocaram qualquer lugar acima da minha clavícula. – Você está bem? Fale comigo.

: - Eu estou bem. – Eu disse em um sussurro, abrindo meus olhos. Algumas mãos me ajudaram a ficar sentada, e entre elas eu identifiquei Dinah e Sinu. Ao fundo, Jodi era imobilizada por alguns policiais que estavam no local para fazer a segurança do show, e pelo lado de fora eu ouvia a voz de minha mãe gritando em bom som. – Eu estou bem, não se preocupem.

: - O que houve aqui, o que... O que são todas essas drogas? O que ela fez com você?

Sinu dizia rápido demais, levando as mãos até a cabeça. Com calma, eu me ergui, sendo ajudada por Dinah e Normani. Pela primeira vez eu vi Dinah sem ter o que dizer, uma expressão tão apavorada no rosto que senti vontade de abraçá-la. Agradeci por Camila não estar ali, não queria que ela tivesse visto aquela cena. Tinha certeza que Ally a havia mantido dentro do camarim e me lembraria de agradecê-la muito por isso. Eu iria responder Sinu, mas me calei quando uma voz grossa e intimidante chamou minha atenção.

: - Senhora, estás sendo presa por porte de drogas e tentativa de estupro. – Um policial negro e bem alto, retirou uma algema do bolso e fez cara de poucos amigos, negando com a cabeça. – Qualquer coisa que disser poderá ser usado contra você no tribunal. Terá direito a um advogado. Agora, vire-se para que eu possa algemá-la e se tentar qualquer gracinha, será pior para você.

Jodi me lançou um olhar completamente perdido, abaixando a cabeça antes de se virar de costas e oferecer seus punhos fechados. Eu me sentia vingada, aquele era um dos meus sentimentos no momento. Ela era digna de pena. Sem acreditar no que estava acontecendo, todas assistiram o momento em que ela foi algemada, culpada por traçar o próprio destino por um caminho sem voltas. Com calma os policiais foram a levando para fora, onde as pessoas foram abrindo caminho para que ela passasse. Eu permaneci ali, de pé, observando tudo com o coração batendo tão calmo que era quase inacreditável.

: - Acabou!

Eu sussurrei para mim mesma, fechando os meus olhos e me perdendo em um choro de alívio e felicidade. Não era felicidade pela desgraça dos outros, mas sim pela minha liberdade. Minha vontade era me por de joelhos e agradecer a Deus. Recebi os braços das meninas e de Sinu ao meu redor, embalando minhas lágrimas e repetindo que tudo ficaria bem. Aquela era a minha certeza.

 

1 semana depois...

 

O vento soprava fraco, jogando com leveza as mechas de cabelo contra o meu rosto. Ao longe, eu podia ver o lindo horizonte se tornar alaranjado, o sol se pondo atrás das montanhas proporcionava um verdadeiro espetáculo. A vida parecia mais fácil, mais leve, ou talvez eu tivesse apenas me livrado de alguns problemas. Desde a prisão de Jodi, andar era como flutuar, relaxar em uma penugem sem fim. Tive que ir até a delegacia por dois dias seguidos dar depoimento, e descobrimos que Jodi fazia parte de uma quadrilha há tempos procurada pela polícia. Convivemos com uma criminosa durante meses e nem mesmo percebemos. Como poderíamos imaginar? A vida estava sempre nos surpreendendo, negativamente e positivamente. O show daquela noite de horror foi adiado, a bomba sobre as drogas caiu na imprensa e foi durante toda a semana o assunto mais comentado. Não havia nada que pudéssemos fazer para mudar, apenas agradecer por ter acabado. E mesmo com tudo isso, mesmo assim... A vida estava mais bonita.  

Ah, Portugal, era um país ainda mais belo visto de perto. Descemos em terras portuguesas para um par de show’s, sendo presenteadas por um dia de folga antes deles. Estávamos em Sintra, a 45 minutos de trem partindo de Lisboa, aconchegadas em uma casa de campo maravilhosa. O típico friozinho Europeu estava presente, mas ninguém parecia se importar com ele. De cima da varanda enfeitada por pedras que me lembravam as construções colônias, eu observava Camila e Normani correrem pela grama verde, coberta por inúmeras flores brancas. Pés descalços, vestidos leves e amarelos, me fazendo sorrir por elas terem decidido combinar a cor aquela tarde. Aquela cena merecia ganhar uma moldura, ficar eternizada em nossa casa, ou em qualquer lugar da minha mente. Eu ergui a mão para retribuir o aceno de Camila, a mandando um beijo pelo vento. Tão bela que me fazia suspirar, perdida de amores e finalmente, depois de tanto tempo, sem medo de caminhar, sem ser observada, sem me sentir perseguida.

: - Quer um pouco de vinho, Laur?

Ouvi a voz de Ally ao meu lado, mas não desviei meus olhos da cena no campo. Sorri.

: - Não, obrigada! Prefiro beber depois do jantar.

Alguns segundos em silêncio.

: - Sabe, Lauren, as vezes precisamos passar por coisas horríveis na vida para só então nos darmos conta do que realmente importa. – Ally disse antes de beber mais um gole de seu vinho, olhando para o horizonte, onde seus lindos olhos brilhavam sob a luz alaranjada que emanava dele. – Ainda que tenhamos que caminhar por um longo tempo tendo que lidar com a dor e com o sofrimento, o que é nosso está lá, esperando por nós. Deus não nos dá um peso maior que o nosso para carregar. Quando passamos por situações difíceis, é porque podemos aguentá-las e superar. O ponto é nunca desistir, sempre lutar. Nunca olhar para trás, sempre caminhar em frente porque uma hora vai acabar. E veja só... Acabou.

Ally soltou um suspiro longo, como se estivesse prendendo por muito tempo. Eu desviei meus olhos de seu rosto e olhei para onde ela fixava os seus, no maravilhoso pôr do sol que parecia ter sido feito especialmente para nós. Como uma benção divina depois de tantas nuvens negras.

: - Nós estamos aqui, juntas. Por isso, não perca tempo. Viva! Tire esses chinelos e desça até lá, vá ficar com a Mila sem medo, sem se preocupar se tem ou não alguém vendo. Vá provar dessa liberdade, Laur porque vocês demoraram muito para conseguir. Essa é a hora de mostrar que valeu a pena lutar por tanto tempo.

Nem mesmo sei dizer o que estava sentindo, talvez fosse como renascer. Provei de uma liberdade quando me assumi para mim mesma, e provaria de outra sem medo de cair. Me aproximei de Ally e a dei um beijo na testa, ganhando um pequeno riso em troca. Tirei meus chinelos, os largando no cantinho da varanda, erguendo a barra do vestido branco que eu usava até as coxas para descer a escadinha com pressa.

: - Lauren, nós podemos jogar uma partida de vôlei. – Eu ouvi a voz de Dinah da porta da grande casa, quando ganhei a grama úmida. – LAUREN! ESTOU FALANDO COM VOCÊ. LAUREN MICHELLE!

: - Deixe ela, Dinah. Deixa ela ir.

Ally a repreendeu com uma risada, e tudo o que fiz foi a acompanhar e rir enquanto corria. Camila e Normani estavam mais ao longe, caminhando em passos lentos. As flores acariciavam as minhas pernas descobertas, o vento soprava mais forte e meu cabelo voava para todas as direções possíveis. Meu coração batia acelerado dentro do peito, uma alegria sem tamanho. Eu quis chorar, por motivo nenhum, por todos os motivos possíveis.

: - CAMZ! – Gritei segurando com mais força a barra do meu vestido enquanto corria, minha voz perdendo o volume por conta do barulho do vento. Uma sensação deliciosa em meus pés descalços sobre o orvalho. Eu não conseguia parar de sorir. Estava ofegante. – CAMILA!

Ela virou-se e ao me ver correndo em sua direção, abriu um sorriso enorme.

: - EU TE AMO! – Eu gritei chegando perto, perto o bastante para ver seus olhos brilharem sob o os últimos raios de sol. Normani se afastou e em segundos eu tinha Camila em meus braços, chocando o meu corpo contra o dela e a erguendo da grama. Ela soltou uma gargalhada maravilhosa, eu a girei no ar como se pudesse fazer aquilo para sempre. – EU TE AMO MUITO.

Suas mãos estavam em meus ombros, suas pernas no ar, seu vestido leve e amarelo voando para os lados.

: - Eu também amo você.

Ela disse sem conseguir parar de rir, olhos fechados e um sorriso tão lindo que agradeci a Deus por ele.

: - Grite!

Eu pedi segurando sua cintura com força para que ela não caísse.

: - EU TE AMO, LAUREN.

Camila abriu os braços e gritou com todas as forças, os músculos de sua barriga tencionados contra o meu peito.

Eu soltei uma gargalhada e a coloquei no chão com calma, vendo-a ofegar e corar nas bochechas. Eu não sabia onde Normani havia se metido, mas deveria estar em algum lugar atrás de nós nos observando. Para ser sincera, naquele momento, eu não me importava com mais nada que não fosse Camila. Ergui a mão e tirei algumas mechas de cabelo que caíam sobre seus olhos, encarando seu olhar apaixonado e feliz.

: - Você é linda. – Eu disse enquanto a admirava, puxando-a para mais perto com uma das mãos, pela cintura. – E minha. A única pessoa nesse mundo que me faz feliz como eu nunca fui na minha vida.

: - Eu posso fazer muito mais por você, Lo. Eu sempre farei o melhor.

Ela disse abrindo um sorriso puro, deixando sua mão quente por cima da minha em sua bochecha.

: -  Você é o melhor. – Fechei meus olhos e aproximei nossos rostos, roçando meu nariz ao dela bem de leve, em uma carícia simples e especial. – Nunca deixará de ser. A melhor parte de mim... – Beijei sua bochecha. – A melhor pessoa dos meus dias... – Beijei seu queixo. – O meu melhor motivo para amar.

Encostei nossas testas e massageeis seu pescoço com as pontas dos dedos, suspirando ao sentir o vento gostoso soprar contra nós.

: - Lauren...

Ela não precisava dizer mais nada, eu sabia o que ela queria. Era exatamente o que eu precisava. Deslizei meus dedos para dentro de seu cabelo e trouxe sua boca para mais perto, juntando nossos lábios sem pressa, sem medo, sem ligar para o exterior. O importante era o que estava dentro, no interior de nós, pulsando no peito, correndo nas veias. Nossas línguas se entrelaçavam com saudade, provando o gosto da liberdade, dizendo em silêncio o que apenas nós precisávamos saber. Haviam flores ao nosso redor e um jardim inteiro de emoções dentro do meu peito, sendo regado e cuidado com dedicação pela única pessoa que fazia eu me sentir daquele jeito. Camila. Ela havia plantado em mim o melhor tipo de prazer que existia, e eu iria retribuí-la com flores e amor pelo resto da minha vida. 


Notas Finais




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