1. Spirit Fanfics >
  2. Falling in love for the last time. >
  3. One plus One.

História Falling in love for the last time. - One plus One.


Escrita por: gimavis

Notas do Autor


Oi, meninas. <3 Trinta anos depois, voltei. USAUSAAUHSSHAUSHUA Acabou o VMA, graças a Deus. Estamos livres de votações por enquanto, então... Consegui escrever. Esse capítulo é especial e sobre o aniversário da Camila, fiz algo bem doce e espero que gostem. Como sabem, faltam seis ou sete capítulos para o fim da fic e eu não poderia estar me sentindo mais estranha. )))): Será terrível não ter mais essa estória para escrever. A partir desse capítulo eu vou começar a fazer pequenas passagens de tempo, prestem a atenção para não se perderem. Vocês podem ouvir "One plus One - Beyoncé" no POV da Camila? Bem, assim que ela sair do elevador, podem dar play. Eu escrevi com carinho e espero, do fundo do meu coração, que também possam tirar algo bom disso. Eu amo vocês e até o próximo.

Obs: Qualquer erro, conserto depois quando perceber.

Capítulo 55 - One plus One.


Fanfic / Fanfiction Falling in love for the last time. - One plus One.

 

Lauren POV.

3 de Março de 2015.

Um pouco mais de um mês havia se passado. Sob um clima chuvoso e uma agenda cheia, nós estávamos em Nova York para alguns compromissos. Eu poderia considerar aquele dia igual a todos os outros, mas eu estaria mentindo para mim e para quem quer que fosse. Três de Março. Talvez para você seja um dia normal, um número qualquer, apenas mais um na contagem de doze meses do seu exaustivo ano. Mas para o meu antigo e novo “eu”, aquela data era, exatamente, a melhor entre todas as outras. Era o aniversário de Camila. Finalmente ela estava fazendo dezoito anos, com os mesmos traços de menina inocente, mas mantendo uma mente perigosamente inteligente.

Eu estava feliz, mais até do que posso tentar lhe dizer. Aquele mês estava sendo especial de tantas formas que eu não podia apontar apenas um motivo. Prolongando pensamentos, discussões internas e externas, dividindo com paredes e janelas as minhas questões depois da conversa que tive com Dona Laura, eu cheguei à conclusão que queria chegar há muito tempo. Pela primeira vez na minha vida consegui dizer em voz alta o que eu realmente era, o que sempre fui e nunca compreendi. Eu iria contar para Camila aquela noite, depois da pequena surpresa de aniversário que estava preparando para ela.

: - Isso aqui é enorme, Laur. Quantos dólares você deu no aluguel?

Ouvi a voz de Dinah atrás de mim, abafada pelo vento forte que batia contra o meu rosto, levando minhas mechas de cabelo para todos os lados. Olhei para baixo, o Central Park aos meus pés com os topos de suas árvores em um balanço perfeito.

: - Te chamei para me ajudar a arrumar as coisas, não para perguntar quanto paguei pelo espaço.

Eu soltei entre uma risada, observando-a parar ao meu lado, apoiando as mãos na barreira de vidro onde eu estava debruçada. Eu havia alugado a cobertura do hotel onde estávamos para passar a noite do aniversário de Camila. Gastei bons dólares com o aluguel, fora o silêncio de duas ou três pessoas que comprei. Nunca fui a favor daquele tipo de ação, mas aquela era por uma boa causa. Jodi não se meteu, até porque ela não poderia. Andava estranha nos últimas dias, vivia no telefone e para o meu alívio, não voltou a me encher a paciência. Mas eu tinha o meu pé atrás com toda aquela situação, afinal, quando as coisas ficavam quietas demais...

: - Você pagaria um milhão se fosse o caso, eu não duvido. – Concordei com a cabeça, virando o meu rosto para frente outra vez. Fechei os meus olhos para sentir a brisa gelada de uma maneira mais intensa. – Mila está chateada, você sabe... Ela está resmungando no meu ouvido desde cedo o fato da namorada dela ter dito apenas “parabéns” junto de um selinho.

: - Ela acha que estou fazendo pouco caso.

Eu ri baixinho, mordendo o lábio inferior.

: - Sim, ela acha.

Dinah bufou, podia apostar que estava rolando os olhos.

: - Eu também estaria chateada se fosse ela. Mas eu posso usar a desculpa da agenda cheia, as poucas horas livres e a cabeça lotada com todas as nossas responsabilidades. Acha que é uma boa maneira de justificar o “tanto faz”?

: - Não. – Nós rimos juntas com sua resposta sincera. – Mas use-a, ela vai esquecer qualquer coisa quando souber seus reais motivos.

Era aquela a minha intenção, fazê-la esquecer qualquer coisa ao nosso redor enquanto estivesse comigo. Olhei para Dinah e abri um sorriso pequeno, me arrastando para perto até que pudesse deitar a minha cabeça em seu ombro direito. Ela não me repreendeu, apenas deitou sua cabeça sobre a minha, me puxando mais para perto pela cintura. Ficamos alguns longos minutos em silêncio, apenas fitando o horizonte coberto por nuvens cinzentas, ouvindo os barulhos do tráfego intenso de Nova York lá embaixo, a movimentação das pessoas indo e saindo de seus trabalhos, a vida de uma grande metrópole que não parava nunca.

: - Você anda tão misteriosa nas últimas semanas. Eu sei que tem algo acontecendo e pelo brilho novo em seus olhos, imagino o que se trata. – Dinah quebrou o silêncio, esfregando sua mão direita em meu braço. Suspirei. – Vou esperar até que possamos conversar sobre isso, mas quero que saiba que estou, profundamente, feliz por você.

: - Você tinha razão.

Eu disse baixo, mas o suficiente para que ela escutasse. Aconcheguei-me mais em seu corpo, fechando os meus olhos sob a rajada forte que soprou contra nós.

: - Sobre o quê?

: - Quando disse que eu estava a poucos passos de alcançar a verdadeira liberdade.

Sussurrei mais para mim do que para ela, ciente da paz assustadora que invadia o meu peito. Nunca havia me sentido daquela forma antes, completamente leve e satisfeita comigo, com minha vida, com os acasos. Por mais que linhas tortas continuassem nos levando para um fim trágico, eu não conseguia parar de dizer para mim que Deus tinha seus motivos, e se ele tinha seus motivos, tudo o que eu poderia fazer era confiar nele.

: - Se sente livre agora, Laur? Do jeito que deveria se sentir desde o começo?

Usando de um carinho que eu via apenas com Camila, Dinah envolveu seus braços ao meu redor, abraçando-me com firmeza, me passando calor, amor, satisfação e acima de tudo, companheirismo. A abracei de volta, escondendo o meu rosto em seu peito, buscando proteção e encontrando a Dinah que eu havia perdido há algum tempo. Ela estava ali para mim, me dando o abraço que um dia recusei, dizendo-me com aquele ato que nunca mais me deixaria sozinha outra vez, que eu não precisava estar sozinha. Apertei-me nela, nem mesmo a agitação do Central Park lá embaixo conseguiu amenizar o som alto e oco do meu coração em meu peito. Eu queria aquilo todos os dias, eu perdi muito tempo negando os meus desejos, recusando investidas, me desfazendo da minha vida. Eu queria viver e eu viveria, com consciência que a partir daquele momento Dinah estaria ali, como deveria ter estado por todos os anos se eu, cruelmente, não tivesse feito com que ela se afastasse. Mas aquele era um dia novo para mim, um nascer diferente. Finalmente, o meu verdadeiro “eu”.

: - A liberdade tem um gosto muito bom. – Podia sentir o seu sorriso contra a minha testa, onde logo seus lábios se fecharam em um pequeno beijo. – Sinto-me cheia dela como nunca imaginei.

: - Essa é a melhor coisa que você poderia me dizer. Estou tão orgulhosa, você conseguiu. Apanhou, doeu, chorou, mas olha só pra você... Merda! Você conseguiu, Laur.

O coração de Dinah deu uma pequena acelerada, podia ouvir contra o meu ouvido sob a grossa blusa que ela vestia. Constatei daquela forma que ela havia ficado mais feliz do que eu achei que pudesse ficar. Ela tinha orgulho de mim, aquilo me fez sentir uma vontade enorme de gritar. Abrir os braços ao céu de Nova York e dizer que eu era digna do orgulho dela, depois de todas as mágoas que nos causei.

: - Você acha que Camila terá uma reação como a sua quando eu contar tudo para ela essa noite?

Perguntei querendo me certificar, afinal, Dinah conhecia Camila tão profundamente como eu.

: - Quer saber o que ela vai lhe dizer quando você contar a ela? – Apenas sacudi a cabeça em positivo, recebendo um carinho gostoso nas costas. Dinah limpou a garganta, fazendo-me rir baixinho quando ouvi sua voz idêntica a da minha namorada. – “Esse é o melhor presente de aniversário que você poderia me dar, amor.”

: - Talvez ela diga isso mesmo.

Dinah me empurrou para trás pelos ombros, usando de um carinho desconhecido. Olhou-me nos olhos e nos seus eu pude enxergar o quanto ela estava alegre em saber que eu havia chegado ao final do meu caminho. Com calma ela colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha, abrindo um sorriso doce.

: - Ela vai dizer. Eu não tenho dúvidas de que você fará esse aniversário ser o mais especial para ela. Você a ama e isso é o suficiente para deixá-la feliz.

Apertando de leve o meu nariz entre os dedos, Dinah me deu uma piscadela, fazendo-me sorrir e abaixar a cabeça com um movimento leve de negação.

: - E você?

Perguntei com o lábio inferior mordido, fitando os meus dedos da mão direita rodarem o anel de prata que eu tinha no indicador esquerdo.

: - Eu o quê?

Seu tom curioso me fez corar por algum motivo que eu não sabia. Não era como se eu estivesse carente, mas eu queria ouvi-la dizer apenas para acreditar que ela estava ali para mim de novo.

: - Você me ama?

Perguntei baixinho, erguendo uma das sobrancelhas ainda sem olhá-la. Ficamos em silêncio alguns segundos, comecei a sentir o tempo mais frio do que realmente se encontrava e soube que estava nervosa. Não queria parecer uma idiota insegura, mas também não iria me preocupar se estivesse sendo.

: - Algumas vezes eu te odeio. – Eu ri com o começo de sua resposta, sentindo-me amolecer completamente quando ela continuou. – Mas no fundo... Eu te amo. Mesmo quando eu estou te odiando, eu te amo. E quer saber de uma coisa? Hoje, depois de ter a minha certeza sobre o que estava acontecendo com você, estou te amando mais ainda. Você é uma puta vencedora, Lauren, digna de todos os “eu te amo” que recebe. Teus fãs, Camila, Mani, Ally e eu temos uma admiração sem fim por você. Tenha isso em mente sempre e sorria porque você se deu uma nova chance.

Eu olhei para ela uma vez que recebi a minha resposta, as lágrimas irritantes enchendo as bordas dos meus olhos. Dinah sorriu para mim outra vez, nos olhos maternais havia apenas um pedido: Não chore e me abrace.

Eu encurtei a nossa distância e a abracei, deixando com que ela me escondesse do vento frio que batia no topo do Central Park, automaticamente me aquecendo por dentro e tornando Nova York ainda mais aconchegante.

: - Eu também te amo.

Sussurrei ao fungar, quase me pendurando em seu pescoço. Dinah beijou a minha bochecha e riu baixinho, me dando alguns tapinhas na bunda.

: - Estamos parecendo com casal meloso, Jauregui. Você já pode me largar.

Está vendo só como Dinah nunca deixava de ser Dinah? Eu gargalhei limpando os meus olhos, me separando dela e recebendo um beijinho na testa.

: - Você sempre tem que quebrar o clima.

: - Você está menstruada? Está sensível demais. Onde está a minha égua?

Rolei os meus olhos para ela e a empurrei para trás pelos ombros. Ela riu com seus lindos fios de cabelo voando contra o seu rosto.

: - Vai se foder.

: - Ai ela está. – Esfreguei uma mão na outra, negando com a cabeça. – Coices. Eu amo os seus coices, até porque é maravilhoso te devolver em uma intensidade maior.

: - Estou me arrependendo de ter lhe chamado para me ajudar.

Caminhei com calma na direção de uma mesa redonda, localizada em um dos cantos daquela cobertura. Dinah seguiu os meus passos entre risadas, olhando ao seu redor.

: - O que aconteceu com o “eu te amo” de alguns segundos atrás?

Peguei meu celular e destravei a tela, verificando o Twitter rapidamente. Estava uma loucura por conta do aniversário de Camila, as declarações me faziam sorrir tanto que eu dedicaria um bom tempo lendo todas elas mais tarde.

: - Esqueça ele.

Ela riu divertida, fazendo-me sorrir.

: - Ok! Agora vamos agilizar as coisas antes que Camila resolva sair te procurando pelo hotel. Do jeito que ela está chateada com você é melhor não arriscar.

: - Certo!

Concordei, até porque eu conhecia mais do que ninguém o gênio ruim de Camila. Teria que levar um curto tempo para organizar as coisas e orar para que ficasse tudo bem feito.

Depois de uma hora ajeitando tudo, finalmente havíamos terminado. Não deu muito trabalho, mas como eu sou perfeccionista, perdi bastante tempo colocando atenção onde não precisava. Dinah foi para o seu quarto dormir um pouco, havíamos tido uma manhã cansativa. Eu, por minha vez, fui caminhando com receio para o quarto de Camila, com medo de não resistir ao encontrá-la com um bico lindo nos lábios. Olhei para os lados e dei três batidinhas na porta, deixando minhas mãos caírem ao lado do meu corpo logo depois. Eu usava uma calça jeans, coturnos e um sobretudo branco, o que me lembrou a forma que eu me vestia em Paris. Saudades, sabe? Cheguei a suspirar perdida nela. E ah, Deus, suspirei outra vez quando a porta foi aberta, revelando uma Camila coberta por um roupão preto, pés descalços e cabelos presos em um rabo de cavalo. Sorri para ela, extasiada de forma familiar, igualmente a todas as vezes em que a via tão natural. Ela retribuiu, me deixando ver todos os pontos de seu incômodo. Senti-me mal na mesma hora, mas não havia muito o que fazer, caso contrário estragaria os meus planos.

: - Posso entrar?

Perguntei mordendo o lábio inferior, olhando para dentro do quarto.

: - É claro, Lo.

Com calma ela chegou para o lado, me dando passagem. Assim que passei por ela e entrei no quarto, Camila fechou a porta atrás de nós, fazendo-me ouvir um pequeno clique. Estava quente lá dentro, um clima completamente diferente do clima pelo lado de fora. A cama bagunçada, suas roupas espalhadas pelo chão na sua conhecida bagunça. Ri baixinho me virando de frente para ela.

: - Você demorou. – Sabia que iria ouvir algo do tipo. – Podia ter me esperado para irmos juntas.

: - Você estava sonolenta, Camz, merecia descansar um pouco. Fui com Dinah, comemos e pronto, voltamos.

Eu prolonguei a desculpa que havia dado para ela sobre me ausentar. Pela expressão de seu rosto eu sabia muito bem que ela não gostou nenhum pouco. Camila era quase um bicho preguiça, daqueles que trepam em você e te fazem carregá-lo para todos os cantos. Ela estava constantemente agarrada em mim, me tinha sob sua visão vinte e quatro horas por dia, perder esse contato visual e até mesmo corporal por muito tempo a deixava irritada. Mas eu não reclamava, até porque não faria sentido reclamar quando eu, particularmente, amava essa necessidade de estar perto.

: - Hmmm. – Ela resmungou e me olhou de esguelha, como se estivesse desconfiada. Segurei o riso e me aproximei um pouco, levando a mão até o nó do sobretudo que vestia. – Eu estava indo tomar um banho quando você chegou. Não vou demorar.

: - Deixe-me lhe ajudar.

Eu disse dengosa, desfazendo o nó do sobretudo para retirá-lo do meu corpo, o jogando sobre a cama. Não havia segundas intenções no meu pedido, eu queria apenas mimá-la, esticar a linha do que eu havia planejado para a noite sem que ela soubesse. Lhe cobrir de carinho, alguns beijos, quem sabe uma massagem. Esfregar suas costas, lavar seu cabelo, tratá-la como ela merecia naquele dia. Eu sabia que ela não tocaria no assunto sobre o meu rápido parabéns, esperando que eu puxasse primeiro. O que era bom, assim eu poderia ignorar a questão e não me arriscar a contar a verdade para ela.

: - Não faça esse tom de voz para mim.

Camila abaixou os seus olhos para as minhas mãos, que de forma habilidosa desfizeram o nó de seu roupão. Abri a peça que me impedia de vê-la nua, deslizando as mãos por seus ombros por debaixo do tecido, fazendo com que ele caísse aos seus pés. Não ergui meus olhos para encarar seu rosto, fiz com que eles vagassem perdidos em seu corpo, cheios de novas curvas, novos traços, novos encantos. Ela estava fazendo dezoito anos e era como se estivesse na casa dos vinte. Por conta do sol que passou a tomar com frequência, sua pele estava mais bronzeada, mais viva. Eu deslizei a língua pelos lábios, como se pudesse sentir seu gosto em minha boca. Ela estava tornando-se um vulcão em erupção e ele era meu, só meu, pronto para me fazer arder a qualquer hora do dia. Não que ela não fosse quente antes, muito pelo contrário, mas naquele momento eu enxergava uma chama a mais, o ar do amadurecimento físico, de uma imagem adulta. Ela era uma Cubana de corpo e alma, e me deixava de joelhos, sem que houvesse uma chance de correr quando ainda me restava tempo. Mas para onde eu poderia correr se o melhor lugar para se estar era exatamente aquele, queimando ao lado dela? Respirei fundo.

: - Você prefere a banheira ou a ducha?

Perguntei ao ignorar sua recente ordem, erguendo o rosto para encarar seus olhos. Encontrei os castanhos brilhando de forma intensa, me avaliando de um jeito tão profundo que fez minhas bochechas arderem.

: - O que você quiser. Escolha.

O fato de ela me passar as opções me excitou a alma, me fazendo sorrir em adoração pelo poder de comandar o que quisesse. Desci as mãos por seus braços e peguei a sua direita.

: - Então eu vou encher a banheira com água bem quente. – Puxei sua mão para cima e a levei até a minha boca, beijando os nós de seus dedos, um de cada vez, colocando meia dúzia de beijos na aliança de prata presente em seu anelar, simbolizando o nosso relacionamento. Camila suspirou sob o meu olhar, mordendo o lábio inferior daquele jeitinho que me fazia delirar. Sua expressão inocente me deixava sufocada, como se eu estivesse prestes a tirar a pureza que ela já não tinha há muito tempo. – Você quer uma massagem nas costas? Posso estender para os ombros, coxas, pés. O que me diz sobre isso?

: - Agora. – Eu ri com sua resposta, virando sua palma aberta para cima e depositando um beijo no meio. – Você pode massagear o meu corpo inteiro desde que seja agora. Eu não recebo uma proposta tentadora como essa há muito tempo. Já posso me sentir relaxar só em imaginar.

: - Espere só até eu colocar as minhas mãos em você, Camz.

Mordi a ponta de seu dedo e a vi tremer um pouco, agarrando na gola alta da blusa que eu vestia, puxando-me para frente.

: - Oh sim, Lauren. – Eu ri de sua ansiedade quando ela começou a me arrastar para o banheiro. – Vem.

A segui até o ambiente em passos largos, onde fui tirando a roupa pelo caminho. Quando entramos no banheiro, curvei-me e coloquei a banheira para encher junto com um líquido que fazia espuma, enquanto Camila fazia um nó no cabelo para que não molhasse. A observei parada de frente para o espelho, me olhando por ele quando comecei a me aproximar. Parei em suas costas e juntei nossos corpos nus, abraçando sua cintura. Larguei meu queixo em seu ombro direito, sorrindo quando ela encostou nossas bochechas.

: - Você é linda. – Eu disse em seu ouvido, roçando meus lábios em sua orelha sem deixar de olhar a nossa imagem no espelho. Camila se arrepiou em meus braços, fechando seus olhos. Seus dedos faziam círculos nas costas das minhas mãos em sua barriga. – Irritantemente linda, Camz.

: - Falando no meu ouvido desse jeito eu vou fazer tudo, menos relaxar, Lo. – Ela riu corando nas bochechas, fazendo-me sorrir. Beijei seu pescoço. – Mas eu gosto dessa tua voz arrastada soando perto assim.

: - Eu sei que gosta. – Colei meus lábios em sua orelha outra vez, mordiscando o lóbulo. – Por isso eu faço.

: - Hmm... Repete.

Ela pediu toda manhosa, se encolhendo no meio dos meus braços, esfregando com delicadeza o seu rosto no meu.

: - Qual parte?

Perguntei subindo minhas mãos por seu abdômen, acariciando as costelas, voltando para baixo.

: - Aquela em que você me elogia. – Ela sorriu com o lábio inferior entre os dentes, abrindo os olhos para encontrar o meu olhar através do espelho. Não era como se ela não soubesse, mas assim como eu, às vezes necessitava ouvir. – Diga!

: - Você é linda. – Eu repeti segurando nossos olhares, a abraçando com mais força. – Eu amo Cubanas, latinas no geral. Eu já lhe disse isso? Você está no topo da minha lista.

Camila riu e retirou os meus braços da sua cintura, virando-se de frente pra mim. Beijei seu nariz e seus braços envolveram o meu pescoço, nossos seios pressionados. Suspirei.

: - Quer dizer que você tem uma lista de latinas favoritas?

: - Tenho, top dez. – Beijei o canto de sua boca, salivei com seu hálito cheiroso. – Você quer saber quais são?

: - Não. – Camila negou com a cabeça, enfiando os dedos entre as mechas do meu cabelo, cravando suas unhas perto da minha nuca. – Não sei como me sinto sobre isso, prefiro não saber para não morrer de ciúmes.

: - De qualquer forma você é a número um, deveria se sentir feliz.

Brinquei ao encostá-la na pia, tocando com as mãos todos os cantos de seu quadril. Ela estava quente, deixando-me quente, criando um clima abafado.

: - Eu não estou muito animada hoje.

: - Shiiiu!

Sabia o motivo de sua reposta, para evitar o assunto eu a beijei, capturando seus lábios cheios entre os meus, pedindo espaço com minha língua para que pudesse provar da sua. Suspirei ao sentir seu gosto sempre doce, viciante, me fazendo sugar sua língua com impaciência, ouvindo-a gemer baixinho. Dávamos um beijo delicioso enquanto suas mãos maltratavam o meu cabelo, puxando e ditando o ritmo, embolando as mechas, buscando apoio. Eu não dei sinais de que queria um término, mas Camila pareceu não entender isso.

: - Lo?

Ela disse contra a minha boca, ofegante enquanto eu beijava seus lábios, puxando entre os dentes vez ou outra.

: - O que foi?

Beijei seu queixo, colando mais o meu corpo no dela, ansiando por mais daquele calor que me era oferecido.

: - Você fez xixi nos meus pés?

Achei graça de sua pergunta, roubando selinhos antes de encará-la. Ergui as sobrancelhas.

: - Por que eu iria fazer xixi nos seus pés? Não gosto dessa prática no sexo. – Eu disse rindo da minha piadinha e me movi um pouco para trás, só então me dando conta de que também tinha meus pés molhados. Ergui as sobrancelhas e olhei para baixo, encontrando uma poça enorme de água ao nosso redor. – Mas que... Merda!

: - A banheira, Lo. – Camila gritou com os olhos arregalados olhando por cima dos meus ombros, o que me fez virar de costas para ela e encontrar a grande banheira redonda transbordando. – Ai, meu Deus! Desliga. Anda, Lauren.

: - Cacete, Camila. – O estrago já estava feito, havia água quente com espuma em todo o banheiro, quase uma piscina rasa. Comecei a rir desesperada enquanto praticamente corria para desligar o jato, tomando cuidado para não escorregar, e escorregando mesmo assim quando fui subir os degraus que antecediam o espaço onde ficava a banheira. Cai de joelhos, minhas palmas abertas bateram na borda da banheira com força, espirrando água em meus olhos e em todos os cantos. – PORRA!

Eu xinguei alto ouvindo a gargalhada de Camila, o que me fez sorrir, mas parar imediatamente quando os meus olhos começaram a arder como o inferno por causa da espuma. Fiquei desesperada e cometi o erro de levar as mãos até eles, que por estarem sujas com o líquido, só pioraram a situação.

: - Os meus olhos. – Comecei a disparar enquanto usava as costas das mãos para tentar, em vão, retirar a espuma. – Estão ardendo... Camz!

: - AMOR, DESLIGA ISSO LOGO. O BANHEIRO ESTÁ INUNDADO.

Camila gritou para mim de onde estava, o tom passando de divertido à nervoso quando ela viu que a água não parava de jorrar, sem escutar o que eu havia dito.

: - TEM ESPUMA NOS MEUS OLHOS. – Eu gritei de volta mostrando o meu desespero, eles queimavam tanto que eu sentia vontade chorar. Olhos claros são mais sensíveis que olhos escuros para qualquer coisa, imagine uma quantidade enorme de espuma sobre eles. Eu não conseguia abri-los. – Estão ardendo... Ardendo muito. Só... Me ajuda a tirar, por favor.

Eu virei na sua direção e sentei-me na área alagada, enfiando as mãos dentro da banheira e as colocando de novo no rosto, tentando fazer aquilo parar.

: - Não, Lo, essa água está suja, não faça isso. Espere!

Naquele momento eu não estava desesperada sozinha, Camila estava em algum lugar perto de mim igualmente nervosa. O tempo parecia se arrastar, eu não podia ver o que ela iria fazer, mas logo senti sua mão tocar a minha para retirá-la de meu rosto.

: - Tira. – Eu choraminguei quando ela começou a passar um pano molhado em cima dos meus olhos. – Camila, por favor. Está insuportável... Por favor.

: - Eu estou tirando, eu estou tirando... – Ela começou a repetir para mim enquanto me socorria, espremendo o pano contra os meus olhos para que a água limpa pudesse lavá-los. Os abri pela metade, deixando a água entrar na procura de alívio. – Fica calma ou iremos parar as duas em um pronto socorro.

Seu tom de voz e suas mãos trêmulas a denunciavam, o meu desespero a deixou mais nervosa do que a situação em si.

: - Estão queimando, eu... – Solucei me sentindo sensível ao extremo, nunca passei por uma situação onde o foco da tragédia fosse os meus olhos. – Merda! Por favor, Camz...

Eu implorei deixando as lágrimas descerem, forçando sua mão com o pano contra os meus olhos. Ergui a cabeça e senti um jato de água gelada cair em meu rosto, em cima do pano, onde abri os olhos rapidamente sob ele.

: - Vai passar... Deixe a água entrar em seus olhos, vai parar de arder. – A mão livre de Camila segurava o meu rosto, a outra o que estava jogando o jato de água em mim. – Está tudo bem, amor... Já vai passar. Eu estou aqui.

Ela dizia como se eu fosse uma criança, naquele momento eu me sentia uma. E burra.

: - Eu sou uma idiota. – Eu sussurrei fungando quando Camila tirou o jato de água do me rosto, sentindo aos poucos o alívio da ardência. – Eu quase me ceguei, estraguei meus planos de passar um tempo com você na banheira, inundei o banheiro. Céus, Camz! Você deveria me bater.

: - É uma idiota sim, mas é minha. E eu não me importo com o resto desde que você esteja bem. – Ela riu ainda preocupada, me livrando do pano. Meus olhos estavam fechados de novo, por isso apenas senti quando seus lábios tocaram minhas pálpebras, beijando uma, duas, três vezes. – Se sente melhor? Está passando a ardência?

Sacudi a cabeça em positivo, fungando de leve.

: - Vamos, olhe para mim, me deixe ver seus olhos. – Camila beijou meus lábios e acariciou o meu rosto. – Vamos, amor...

Abri os olhos bem devagar, enxergando tudo embaçado. Pisquei rápido algumas vezes, observando Camila sentada na minha frente com um semblante preocupado. Senti-me mais imbecil ainda.

: - Estão bem vermelhos. Parece que você fumou alguns baseados. – Ela disse rindo, mas sem deixar de acariciar as minhas bochechas, pescoço. Ela era tão carinhosa. Eu era uma idiota de sorte. – Mas vai voltar ao normal rapidinho. Quando eu era criança isso vivia acontecendo comigo, sempre caia shampoo nos meus olhos. Em meia hora essa vermelhidão saia.  

: - Oh sim, com certeza você vivia deixando cair shampoo em seus olhos.

Eu confirmei porque aquilo era a cara de Camila. Eu nunca conheci um alguém mais estabanado que ela. Sua risada gostosa inundou o banheiro. Falando em inundar... Olhei para baixo e suspirei de forma frustrada, havia água com espuma em todos os cantos. A banheira já havia sido desligada, evitando assim que a água acabasse invadindo o quarto.

: - E agora? – Perguntei abaixando os ombros, piscando para me livrar do incômodo ainda presente. – Com vamos limpar isso?

: - Nós não vamos. – Ela disse suspirando, tomando cuidado para levantar. Ergui meu rosto e olhei para ela, suas coxas molhadas e seu cabelo bagunçado. – Vou ligar lá pra baixo e pedir pra alguém vir limpar.

: - Eles vão te xingar mentalmente umas trinta vezes. Talvez o hotel te proíba de usar a banheira.

Eu ri da careta que ela me fez e apoiei as mãos no chão para me levantar, pegando a toalha de rosto que Camila usou para me livrar da espuma.

: - Isso é culpa sua que se distraiu e esqueceu de desligar.

Deslizei a toalha por minhas coxas, tirando a espuma.

: - A culpa da minha distração é tua. Se você não fosse tão convidativa eu teria desligado a banheira antes e estaríamos dentro dela agora.

: - É porque eu sou irritantemente linda.

Camz usou a minha frase contra mim, me abrindo um sorriso com a língua entre os dentes. Fiz um gesto de positivo com a cabeça e fui caminhando devagar na direção dela, dessa vez tomando mais cuidado para não cair. Uma vez perto o bastante, tomei sua cintura entre os meus braços e encostei suas costas na parede, grudando nossos corpos.  

: - Eu poderia me distrair no trânsito com você ao meu lado e bater o carro. – Comentei ao deslizar meus lábios por sua bochecha. Ela suspirou. – Ou morrer atropelada ao atravessar o sinal porque te vi do outro lado da rua. Também poderia cortar os dedos enquanto estivesse cozinhando porque me distrai com você na cozinha. Cair em qualquer canto porque fiquei te olhando e esqueci de olhar onde estava pisando. Mas existe algo que acontece com frequência por conta da forma que você me deixa distraída.

: - O quê?

Sua voz saiu abafada contra o meu pescoço, onde ela depositou alguns beijinhos molhados. Arrepiei-me inteira, adorava aquela sensação. Sorri mordendo o lábio inferior antes de beijar sua orelha, sussurrando.

: - Eu esqueço de cantar quando estamos no palco ou em qualquer outro lugar, e sabe por quê? Porque eu fico te olhando. Eu me distraio com você, com a tua voz, com o teu sorriso, com as tuas palhaçadas, ou até mesmo com a forma que você para e encara o nada. Todas as tuas ações prendem a minha atenção e eu esqueço do mundo. Não tem como manter o foco em nada quando você está por perto. O centro da minha atenção passa a ser você e a tua boca... Eu só penso na tua boca, eu não paro de olhar pra ela e desejar te beijar. É uma obsessão.

: - Eu acho que sou a morte pra você. – Camila sussurrou contra os meus lábios, mole nos meus braços. Eu sentia o meu peito inflar quando ela se entregava para mim daquela forma, e não é no modo sexual que estou falando. É de alma, de coração, de sentimentos. – Uma morte nua, mas ao contrário da que conhecemos, completamente quente. Céus, Lauren... Você está tremendo. Teu corpo está pelando e eu amo tanto quando você reage assim. Desse jeito eu posso te matar em dois segundos.

: - Eu não me importo de morrer, então... – Beijei sua boca, deslizei as mãos por seu corpo me sentindo vibrar, como se fumaça estivesse saindo dos meus poros. – Eu morreria por você, Camz. Você sabe que eu morreria por você.

Usando o sentido literal da palavra, eu a senti estremecer. Ela sabia, ela sempre soube que eu morreria por ela. E eu digo morrer, parar de viver, passar desse plano para o outro. Eu morreria por ela se não tivesse outro jeito, se tivesse que escolher entre a minha vida e a dela. Eu morreria por ela e não havia dúvidas nisso. Por quem nesse mundo você morreria? Existe um alguém que te faria abrir mão da sua vida se não houvesse outra escolha? Dizer que viveria por alguém é algo fácil, mas e morrer? Aceitar o pior apenas para ver o melhor de alguém. Morrer. Ver a sua vida fugir dos seus dedos e mesmo assim ficar feliz por saber que aquele alguém ficará bem. Amar ao ponto de dizer que vive por aquela pessoa, mas que morreria por ela se algo desse errado. Você já pensou nisso alguma vez na sua vida? Como ser os olhos de quem se ama se ela não pudesse mais enxergar? Ser as pernas se ela não pudesse mais andar? Ser a voz se ela não pudesse mais falar? Ser os ouvidos se ela não pudesse ouvir? Dar o teu coração se o dela não pudesse mais bater? Você faria isso por amor? Eu faria por Camila.

: - Eu te amo, Lo. – Ela selou os meus lábios. Seu tom emocionado me fez sorrir. Morri de vontade de contar para ela o que tinha lá em cima esperando por nós. Em um movimento rápido ela me abraçou, envolvendo seus braços em meu pescoço com força, fazendo-me respirar com dificuldade. Mas não me importei, retribui da mesma forma, mostrando que eu estaria ali enquanto ela me quisesse. – E eu também morreria por você.

Eu sorri quando Camila sussurrou no meu ouvido, me fazendo fechar os olhos ainda muito sensíveis para afundar o rosto na curva de seu pescoço. Não precisávamos dizer mais nada, qualquer coisa a mais poderia estragar o momento. Apenas ficamos ali abraçadas, sentindo o calor delicioso que passávamos uma para a outra, deixando o silêncio nos dizer que em todo aquele mundo, não havia nada mais certo que nós duas.

 

Camila POV.

Depois da zona que nós fizemos no banheiro e do episódio horrível com seus olhos, Lauren foi para o seu quarto. Resmunguei, choraminguei, implorei para que ficasse no meu, mas ela me deu alguns beijos e disse que queria ficar um pouco sozinha, eu entendi que precisava pensar. Mas pensar em quê? Durante todo aquele mês ela andava um pouco distante, não de propósito, mas sim porque estava pensativa demais. Tentei conversar algumas vezes, mas ela sempre fugia. Sentia-me incomodada e me senti pior ainda quando ganhei um rápido parabéns dela aquela manhã. Na minha cabeça algo estava acontecendo e talvez a culpa fosse minha. Mantive aquele pensamento até ela aparecer toda doce em meu quarto, me dizendo coisas lindas, fazendo com que eu me sentisse quente e especial. Retirei a conclusão que havia chegado de que a culpa era minha. Ai ela simplesmente foge de mim outra vez e eu me perguntei: Que diabos está acontecendo? Eu queria saber, mas também não queria ser chata, então decidi que esperar era o melhor que eu poderia fazer.

Deitei na cama e deixei a minha cabeça afundar no travesseiro, sentindo frio demais para quem estava coberta por um grosso edredom. Estava cansada, a manhã foi cheia de gravações para comerciais e uma longa reunião com os diretores da Victoria’s Secret, sobre uma campanha que faríamos para a nova linha de cosméticos. Eles queriam rostinhos bonitos e jovens, nada melhor que a maior girl group do momento para agradar e chamar a atenção.

As meninas foram bem calorosas, iríamos comemorar mais tarde com uma festinha ali mesmo no hotel. Segundo Mani, mandou fazer até o meu tipo de bolo favorito. Fui passando o meu tempo lendo as felicitações dos fãs no Twitter, me pegando em lágrimas algumas vezes. Eles eram maravilhosos, eu tinha que agradecer muito a Deus por tê-los em minha vida. Tirei uma selfie e postei com a legenda “Finalmente 18”, claro, para o delírio deles e o meu. Falei com meus pais por telefone, com Sofi, com tios. Enfim, falei com todo mundo, aquela era a parte mais cansativa de se fazer aniversário.

: - Mila! Mila, abre a porta. – Deveria ser oito da noite quando ouvi a voz de Normani do lado de fora, socando a minha porta. Assustei-me e pulei rápido da cama, correndo para ver o que estava acontecendo. – Rápido, Mila.

: - Meu Deus, o que está aconte... – Eu abri e porta e mal tive tempo de continuar a falar, Normani e Dinah invadiram o meu quarto como dois furacões, esbarrando em mim e me fazendo cair sentada. – Mas que merda é essa?

Perguntei aborrecida e com a bunda dolorida enquanto elas me olhavam apavoradas, Dinah trancando a porta.

: - Meu Deus! Pensei que fossemos ser pegas.

Mani comentou levando a mão ao peito, ofegando tanto que parecia ter corrido uma maratona.

: - Será que alguém pode me responder?

Eu esbravejei enquanto me levantava, esfregando minha bunda com as mãos em uma careta. Dinah passou a mão pela testa ao parar do lado de Mani, abraçada à uma garrafa.

: - Nós roubamos uma garrafa de Tequila.

Ela disse em um riso nervoso enquanto Normani a encarava com olhos arregalados. Ergui a sobrancelha.

: - Roubaram de quem? E pra quê?

: - Do quarto da Jodi. – Minha boca se abriu em um perfeito O, eu encarei as duas como se elas fossem dois fantasmas. – Você precisa virar uma dose disso agora, vou te sacudir de cabeça pra baixo e voltar correndo para colocar a garrafa no lugar.

: - Meu Deus! Vocês... Se ela der falta dessa garrafa e perceber que está aqui nós estamos ferradas. Nós não temos idade para beber aqui, isso será motivo para ela falar e causar o inferno pelo resto do ano todo. Eu não vou beber isso e ninguém vai me sacudir de cabeça pra baixo. Porra! Coloquem essa garrafa no lugar.

Eu comecei a dizer rápido demais enquanto apontava para a porta, com medo de que Ally ou Jodi entrassem naquele momento e nos comessem vivas.

: - Mila, você tem que beber, você está fazendo dezoito anos.

Mani se aproximou com um pequeno copinho na mão enquanto Dinah abria a garrafa. Afastei-me alguns passos.

: - E dai? O que isso tem a ver?

Perguntei olhando para a porta.

: - É para lhe dar sorte e emoção.

Dinah pegou o copinho da mão de Mani e encheu até a boca, derrubando um pouco no chão.

: - Bebe, Chancho, anda logo.

: - E por que tem que me sacudir de cabeça pra baixo?

Perguntei aterrorizada com a ideia, pegando o copinho. Ela rolou os olhos e bateu o pé impaciente.

: - Faz parte do ritual, Chancho. Bebe, porra.

: - Eu nunca ouvi falar disso... – Eu respondi.

: - Claro que não, Dinah e eu acabamos de inventar. Agora beba.

Eu iria reclamar, mas quando abri a boca para isso, Dinah empurrou a minha mão para cima e virou o líquido. Quase me engasguei, engolindo com tanta pressa que senti aquela merda descer rasgando a minha garganta. Eu nunca havia bebido Tequila antes, aquela não havia sido uma boa forma de começar. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu tossi quando senti o calor no estômago.

: - Isso, Chancho, mostra a Mexicana que existe em você.

Dinah soltou uma risada e se curvou, passando os braços por meus joelhos. Eu gritei e ela me levantou, me colocando por cima de seus ombros.

: - DINAH! ME COLOCA NO CHÃO.

Meus braços caíram em suas costas, o copinho no tapete. Minha cabeça quase tocando sua bunda, meus cabelos praticamente arrastando no chão. Ela me sacudiu, Mani riu, fiquei tonta na hora.

: - Pensa em coisas boas, Mila, rápido.

Mani disse rindo enquanto dava alguns pulinhos, colocando a mão na minha testa.

: - Eu só consigo pensar em vomitar. – Dinah deus alguns tapas na minha bunda. – Eu estou ficando tonta. Cheechee!

Choraminguei e ganhei mais algumas sacudidas, sentindo logo depois os meus pés tocarem o chão. Cambaleei para o lado, parecia sentir a tequila no meu cérebro. Sentei-me na ponta da cama e respirei fundo, os dois demônios rindo da minha cara e na minha frente.

: - Pronto. Já está batizada.

Dinah fechou a garrafa que antes estava no chão e deu para Mani, sorrindo de forma orgulhosa. Levei a mão ao peito, mexendo a língua na boca para buscar saliva.

: - Bem-vinda aos dezoito, Mila.

Mani comemorou, batendo as unhas no vidro da garrafa. Eu queria matar as duas.

: - Isso... Vocês quase me mataram. Essa foi uma péssima forma de me iniciar na Tequila. Eu não bebo isso nunca mais.

Tossi mais algumas vezes, desejando um copo de água.

: - Agora é que você vai beber mesmo. Uma vez com a boca na Tequila, nunca mais vai querer saber de outra coisa.

: - Duvido.

Fechei os olhos e respirei fundo, meu estômago estava um pouco embrulhado.

: - Não conte isso para a Laur, Mila. Se ela souber que te balançamos de cabeça para baixo com Tequila no estômago, eu nem sei o que vamos sofrer.

: - Eu deveria contar e pagar pra ver.

Olhei para elas e sorri de forma malÍgna, estreitando os meus olhos.

: - Nem pense nisso, mocinha, ou vai levar uns bons tapas na cabeça. – Dinah bagunçou o meu cabelo, pegando no braço de Mani. – Agora nós vamos colocar a garrafa no lugar antes que a Zumbi dê as caras. Você não viu nada e não sabe de nada caso ela venha te perguntar.

: - Do que estão falando?

Fiz-me de cínica e sorri amarelo. Dinah piscou um dos olhos para mim e puxou Mani pela mão.

: - Essa é a minha garota.

Mandou-me um beijo quando chegou na porta.

: - Até mais tarde, Mila. – Mani riu e acenou uma vez – Beba um copo de água.

: - Saiam daqui.

Bufei levemente irritada e ouvi a risada das duas antes de sumirem do meu campo de visão. Elas me pagariam, com certeza me pagariam. Eu iria sentir a minha garganta queimar durante uma semana. Inferno de Tequila.

Um pouco mais tarde ainda naquela noite, recebi uma mensagem de Lauren no wpp. Fiquei tensa com o seu pedido, mas aliviada ao mesmo tempo porque finalmente ela me chamou para conversar. Disse que estava na cobertura fumando, que era para eu subir até lá. Torci o nariz para essa parte, por mais que não pudesse impedi-la de fazer o que queria, não gostava de saber que ela andava fumando com mais frequência. Coloquei apenas meu sobretudo vermelho por cima da camisa e do short que eu vestia, calcei os chinelos e ajeitei o cabelo sobre os ombros, saindo do quarto. Caminhe com pressa para o elevador, esperando impaciente até que ele apontasse na cobertura. Alta demais, diga-se de passagem. Quando a porta de aço se abiu e eu coloquei os meus pés para fora, fiquei parada no mesmo lugar, pasma.

O vento bateu em meu rosto e eu pisquei, ciente de que não estava errada sobre o que enxergava. Havia uma trilha feita no chão com milhares de potinhos de vidro, dentro deles pequenas velas acesas, iluminando todo o caminho que levava à uma mesa. Na grande cobertura branca e baixa que protegia aquele local, havia alguns envelopes vermelhos pendurados, acima do caminho que eu comecei a seguir enquanto sentia o meu coração acelerar. Minhas mãos tremiam, mas eu ergui a direita para pegar o primeiro envelope que balançava por conta do vento. O tirei da cordinha e abri, puxando um papel completamente branco lá de dentro, sorrindo com o lábio inferior mordido ao reconhecer a caligrafia perfeita.

Quer saber qual foi a primeira coisa que eu amei em você quando te vi nos bastidores do The X Factor? Abra o outro envelope e descubra.

Minha barriga estava contraindo de nervoso, uma curiosidade misturada a ansiedade, resultando em êxtase e uma felicidade tremenda. Eu não conseguia parar de sorrir, eu não podia acreditar no quão perfeita ela era. Fechei o envelope que tinha em mãos e ergui o braço para pegar o outro, retirando o papel igualmente branco lá de dentro. Suspirei, as mechas do meu cabelo voando contra o meu rosto quando um vento mais forte soprou. O sorriso rasgando o meu rosto mais ainda quando li a resposta.

Exatamente esse teu sorriso, esse que você está dando agora. Esse sorriso cheio de vida, puro, que me mostrou naquela época o quão magnífica você era, e que me fez perceber o quão feliz eu sou por tê-lo nos meus dias. Você pode conquistar o mundo com esse sorriso, Camz, apenas pelo fato dele nascer e morrer em seus lábios. Eu poderia te contar a segunda coisa que amei em você quando te vi pela primeira vez. Você quer saber? Você é curiosa, eu sei que quer. Pegue o outro envelope.

Eu corei, primeiro pelos elogios e segundo por ela dizer o quanto eu era curiosa. Lauren mais do que ninguém sabia o quão louca de curiosidade eu poderia ficar, e a melhor parte é que ela estava usando aquilo deliciosamente contra mim. Com o coração batendo na garganta, andei mais para frente e peguei o outro envelope, abrindo. Soltei uma pequena risada encantada ao ler.

As suas bochechas coradas como estão agora, essa foi a segunda coisa que eu amei em você. Quando eu te disse – Oi! – pela primeira vez e você corou intensamente, eu me derreti inteira. Quando peguei na sua mão para andarmos juntas pelos bastidores e você corou de novo, eu senti o meu coração acelerar. Você era a pessoa mais fofa que eu já havia visto na vida, Camz, eu me encantei por você, eu me viciei em você, eu venerei você. E sabe o que aconteceu quando eu encarei os seus olhos fixamente pela primeira vez? Você já sabe o que fazer... Pegue o último envelope.

Tremendo mais do que antes e emocionada ao extremo, dei mais dois passos para frente e peguei o último envelope, ouvindo o barulho da vida no Central Park lá embaixo, nunca parando, apenas embalando o momento que eu vivia bem no topo. Ela me conhecia tão bem, era sufocante saber que o comando da minha vida estava nas mãos dela. Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, passando os olhos pela pequena mesa maravilhosamente arrumada antes de ler o papel.

Eu me apaixonei por você, Camila. Quando eu olhei nos teus olhos fixamente pela primeira vez, eu me apaixonei por você. Eu não era mais minha, eu passei a ser tua. Meus sorrisos passaram a ser seus, meus olhares, meu ritmo, meu canto, minha ansiedade e o meus dias. Eu era tua e de mais ninguém. Eu fui tua em segredo por um longo tempo, eu fui escrava do teu caráter, da tua personalidade forte, da tua bondade, da tua linda alma. Eu fui me reinventando em você, eu fui vivendo em você e sabe por quê? Porque você era melhor do que eu, você era e é a melhor pessoa que eu já conheci na minha vida. Eu criei espelhada em você a Lauren que sou hoje. Eu tenho orgulho de quem você é, orgulho da tua riqueza de espírito, da tua vontade de viver e de fazer tudo valer a pena. Hoje você faz dezoito anos e eu tenho agradecido a Deus desde a hora em que acordei por mais um ano da sua vida. E o melhor de tudo isso é saber que faço parte dela.

Feche seus olhos, Camz... Feche esses olhos que tanto amo e só abra quando eu mandar. Mas antes de fazer isso, leia repetidamente essas três palavras mais abaixo.

                                      Eu amo você.

Eu não sabia dizer se estava chorando ou se não estava, na verdade, eu não sabia mais de nada além do fato de que aquela garota me amava. Eu só sabia o quanto ela era absurda e o quanto me amava. Li aquela pequena frase umas quinze vezes, limpando o nariz com as costas das mãos ao fechar os meus olhos. Fiquei ali parada pensando em tudo, pensando em minha vida, pensando em mim, pensando nela, pensando em nós. O vento batia mais fraco em meu rosto, levando para longe as mechas do meu cabelo bagunçado. Quando senti seu cheiro perto de mim, abri a mão que segurava os envelopes e deixei que eles caíssem no chão, revelando o quão relaxada fiquei ao saber que ela estava ali. Sem aguentar, sorri, sorri abertamente.

: - Abra a sua boca, Camz. – Sua voz soou calma, seu hálito cheiroso invadiu a minha respiração e eu me segurei para não beijá-la. Meu coração acelerado me fazendo respirar mais rápido. Abri um pouco a boca como ela pediu, sentindo seus dedos tocaram os meus lábios antes de depositarem uma pequena coisa doce em minha língua. – Mastigue bem devagar, deguste.

Comecei a mastigar da forma mais lenta que consegui, o gostinho de cravo era delicioso e me lembrava pequenas balas de açúcar. Derretia na língua. Suspirei.

: - Algo doce para adoçar os seus dias.

Eu me perguntei se aquele era mais um dos rituais de aniversário que eu teria que passar aos dezoito anos, em um contraste perfeito com a sensação amarga que desceu por minha garganta com o que Dinah e Normani me fizeram engolir. Ali era Lauren, como sempre, adoçando a minha boca da melhor forma possível.

: - Isso é bom...

Suspirei, deslizando a língua pelos lábios ainda sem abrir os olhos, erguendo uma mão para tentar encontrar seu corpo. Achei seu braço, segurei nele.

: - Eu sei... – Eu sabia que ela estava sorrindo, era como se pudesse sentir a vibração daquele sorriso na pele. – Agora prove na minha boca, dessa vez para adoçar os nossos dias.

: - Sim, por favor.

Eu gemi baixinho, sem aguentar ao dar a minha resposta ansiosa, louca para beijá-la. Levou apenas alguns segundos até que eu sentisse seus lábios nos meus, me fazendo vibrar sobre as pernas bambas. Agarrei-me em seus cabelos como se precisasse de apoio, deslizando a minha língua para dentro de sua boca a procura de seu gosto, ou do gosto doce que senti há alguns segundos atrás.

Beijamos-nos calmamente, aquele pedaço de algo doce entre nossas línguas, suspirando de desejo, de paixão, de satisfação. Gemi frustrada quando ela separou os nossos lábios, me dando alguns selinhos e iniciando uma carícia leve em minha bochecha.

: - Pode abrir os olhos. – Eu suspirei e abri as pálpebras, a observando ali parada, me encarando profundamente, como se pudesse desvendar a minha alma. Sorri. A minha garganta já não era o limite para as batidas frenéticas do meu coração. – Feliz aniversário, Camz. Para você hoje e sempre toda a alegria do mundo, e um jantar delicioso em minha companhia.

Eu pulei e seus braços, a fazendo cambalear para trás e a abracei com toda a minha força, ouvindo sua risada gostosa perto do meu ouvido.

: - Você é inacreditável, Lo. Eu mal posso acreditar que me fez pensar que não estava ligando para o meu aniversário, só para me preparar essa surpresa. Eu deveria mesmo te bater, mas tudo o que posso fazer agora é dizer o quanto estou feliz e emocionada.

Enchi suas bochechas de beijos, onde ela me tirou do chão para girar comigo nos braços rapidamente. Eu explodi em uma gargalhada, meu sorriso nascendo em minha boca contra a sua bochecha.

: - Você acha mesmo que eu seria tanto faz para o seu aniversário, Camz? Eu te amo demais para não fazer dessa data a mais importante do ano para mim.

: - Eu também te amo. – Eu disse quando ela me colocou no chão outra vez, curvando-se para frente e beijando a minha testa. – E eu amo essas suas surpresas.

: - Eu sei, eu posso ver. – Seus olhos verdes brilhavam, onde as chamas das pequenas velas refletiam em seu olhar. Eu estava encantada, me apaixonando de novo e de novo. Lauren enfiou a mão dentro do bolso do sobretudo e retirou alguma coisa de lá, pegando a minha mão direita. Abri a palma e ela me encarou antes de soltar uma linda correntinha no meio dela, me olhando com as bochechas coradas. Eu derreti no mesmo instante. – Eu não sabia muito bem o que dar de aniversário para uma pessoa que tem tudo, então eu mandei fazer algo simples, mas que você possa carregar contigo por ai e lembrar-se sempre o quanto és especial para mim.

Abaixei o meu olhar e toquei a correntinha com as pontas dos dedos, sorrindo mais do que antes, mais do que em todas as horas daquele dia. Ela era linda, toda delicada e pela cor, sabia muito bem que era ouro branco. No final havia uma pequena plaquinha, pendurada por uma das pontas. Mordi o lábio inferior ao ler o que estava delicadamente gravado em uma caligrafia perfeita.

1 plus 1 equals 2,

and it's me and you.

"1 mais 1 é igual a 2,

e sou eu e você."

: - That's all you have when the world is through “Isso é tudo que você tem quando o mundo está acabando”. – Completei o trecho da música ali presente com lágrimas nos olhos, olhando para ela. – Obrigada. É tão delicada e perfeita, eu não poderia querer outra coisa. Você pode colocar para mim?

Perguntei fungando um pouco, a entregando a correntinha e me virando de costas. Lauren se aproximou, jogando o meu cabelo por cima do ombro direito. Com calma ela colocou o seu presente em meu pescoço, depositando um beijo em minha nuca ao terminar. Arrepiei-me e sorri de olhos fechados, tocando a corrente em meu pescoço.

: - 'Cause baby, we ain't got nothing without love. “Porque baby, nós não temos nada sem amor.”

Sua voz rouca aqueceu o meu corpo, eu soube naquele momento que não precisava de mais nada.

: - Vem, vamos jantar. Eu não sei você, mas eu estou morrendo de fome.

Lauren pegou em minha mão para me puxar até a mesa, onde observei o sorriso lindo que ela tinha nos lábios enquanto o vento bagunçava as mechas do seu cabelo. O sobretudo que ela vestia parecia aconchegante, mas eu tinha em mente que o meu corpo era o lugar certo para aconchegá-la em algum momento daquela noite.

Depois do jantar japonês maravilhoso que nós comemos, fomos aproveitar a vista que tínhamos lá de cima. Subi em uma parte mais alta que havia perto da grade, fazendo os olhos de Lauren quase saltarem da face quando ela viu onde eu estava. Depois de muito implorar, ela subiu atrás de mim, me abraçando pela cintura e largando o queixo em meu ombro. Abri meus braços e cantarolei a melodia de “Titanic”, fazendo Lauren gargalhar no meu ouvido e encher o meu peito de alegria. Eu me sentia tão bem, tão leve, era como estar voando. Ali, no alto do Central Park, o vento batendo no rosto, o corpo balançando, as pessoas lá embaixo parecendo formigas de tão pequenas. Tão bom, tão marcante.  

: - Camila... – Lauren suspirou, meus olhos estavam fixos nos grandes prédios que rodeavam Nova York. – Quero te contar uma coisa.

: - Conte-me.

Pedi baixinho, abaixando os meus braços e segurando em suas mãos. Ela me abraçava como se eu fosse cair dali a qualquer momento, tremia um pouco e eu comecei a achar graça da forma como ela reagia ao medo de me acontecer algo. Alguns longos segundos foi o tempo que ela demorou para voltar a falar, e quando falou, eu não levei a sério.

: - Eu sou gay.

Comecei a rir baixinho, arrastando minhas unhas nas costas de suas mãos. Ergui os olhos para o céu observando as nuvens cinzentas completamente carregadas.

: - Não... Você bateu a cabeça?

Brinquei, ouvindo seu suspiro longo em meu ouvido. Eu brinquei porque aquilo era inacreditável, ouvir aquilo saindo de sua boca era bom demais para ser verdade. Logo... Ela estava brincando comigo.

: - Não, Camila, eu não bati a cabeça. – Lauren respirou fundo, identifiquei em suas mãos um leve suor. – Eu sou gay.

Ela não estava brincando, ela falava sério. Eu respirei fundo antes de me virar para ela, encontrando seus olhos verdes um pouco mais claros, livres da vermelhidão de mais cedo, intensos, verdadeiros... Felizes. Eu sorri abertamente, tocando seu rosto com a mão direita.

: - Ok... Quando chegou a essa conclusão?

Perguntei com uma sensação de orgulho enorme rasgando o meu peito.

: - Nas últimas semanas. – Ela respondeu mordendo o lábio inferior. - Eu poderia ter te contado antes, mas eu achei que hoje seria um bom dia para lhe dizer que, finalmente, eu sei o que sou.  

: - E como você chegou a essa conclusão?

Eu queria saber de tudo, queria que ela me contasse seus pensamentos, suas duvidas, suas respostas. Eu queria que ela compartilhasse sua vida comigo, como eu compartilhava a minha com ela.

: - Eu andei pensando muito depois de uma conversa que tive com aquela senhora, a dona Laura. Eu sabia que faltava algo em minha vida desde pequena, mas não sabia o que era. Eu sempre gostei dos homens, nunca os odiei, mas também não me sentia completa com eles. Era como comer, comer, comer e não ficar satisfeita. Depois dos beijos, depois dos abraços, depois das conversas eu sempre me pegava procurando por algo e nunca encontrava. E eu encontrei quando te beijei pela primeira vez, não por você ser você, mas sim por ser uma mulher. Era isso o que faltava, a delicadeza, o cheiro, o gosto. Uma  mulher me deu o que vários homens não conseguiram me dar. Eu não entendia isso, para mim eu poderia ser simplesmente bi, por que não? Mas como ser bi se ficar com homens não me satisfaz o corpo e a alma? Por que continuar aceitando o pouco quando eu posso escolher o muito? Por que fugir de mim, fugir do mundo? Eu não quero mais viver presa nos meus medos, eu não posso mais recusar a minha liberdade e continuar sendo covarde. Eu disse para mim há alguns dias e estou dizendo para você agora: Eu sou gay e nunca me senti tão feliz em admitir algo para mim antes.

Ela não chorou, aquele papel foi meu. Eu tinha as lágrimas descendo pelo meu rosto quando ela terminou de falar, me deixando inundar em uma alegria tremenda por vê-la, finalmente, livre. A maior liberdade nessa vida vem quando você se aceita e Lauren havia feito isso depois de muito apanhar. A garota que eu amava era uma nova pessoa, livre da covardia, do medo, da mágoa, do rancor, do preconceito. Ela passou por cima de todas as pedras presentes em seu caminho, chegando ao final e me dizendo com orgulho o que ela era. Eu me sentia como uma mãe se sente vendo a vitória de um filho.  

: - Eu estou tão feliz, Lo. Meu Deus! Por quanto tempo eu orei esperando pelo dia em que você se aceitaria, que me diria isso. Eu estou com vontade de gritar para Nova York inteira ouvir. Sua aceitação foi o meu melhor presente de aniversário.

Lauren riu corando violentamente nas bochechas, beijando a palma da minha mão que antes estava em seu rosto. Com calma ela limpou os meus olhos, me puxando pela nuca para grudar os lábios na minha testa em um pequeno beijo.

: - Você é a melhor coisa que Deus colocou na minha vida. – Eu fechei os meus olhos e envolvi suas costas com os braços, sentindo algo parecido com um orgasmo de tão prazeroso. – Se não fosse por você, hoje eu não saberia quem sou.

Lauren beijou a minha testa novamente e me abraçou com força, me deixando esconder o rosto na curva de seu pescoço. Nos apertados uma na outra como se fossemos cometer suicídio juntas, nos jogando daquela altura. Um vento forte batia contra nós, misturando nossos cabelos e arrepiando nossos corpos. Se nós caíssemos dali, abraçadas, eu não me importaria. Eu estaria nos braços dela e nenhuma forma de morrer seria mais aconchegante que aquela.

A vida é engraçada, lhe prega peças o tempo todo e lhe faz perceber que se é preciso apanhar muito antes de segurar a felicidade. Coisas simples, pequenos detalhes, um “bom dia!” em um dia ruim, um “como vai você?” quando ninguém mais se importa, fazem uma diferença monstruosa no seu interior. Como um “parabéns” dado de uma forma fria pode destruir o aniversário de alguém, uma simples revelação pode fazer desse mesmo aniversário o melhor de todos. As melhores coisas da vida nem sempre são vistas, mas sim sentidas. Você pode senti-las com as mãos, com o corpo inteiro, com apenas os lábios, com o coração. Você vai apanhar muito até que possa desfrutar delas, você vai chorar e sangrar até chegar o dia em que vai se sentar para tratar as feridas. Elas vão sarar e você vai se levantar, lembrar-se de todo mundo que lhe deu “bom dia!” quando o seu dia estava uma merda, de todos que perguntaram como você estava quando nem mesmo seus “amigos” se importavam. Você vai lembrar de todas essas pessoas e agradecer, porque querendo ou não, elas lhe deram um ânimo a mais quando você queria desistir. Lauren estava ali, em meus braços, pronta para contar essa história à quem quisesse ouvir. Ela mais do que ninguém sabia que a vida traçava caminhos tortos, mas que no final de todos eles o seu prêmio estaria lá, lhe esperando em forma de felicidade. 


Notas Finais


Twitter: @gilylas


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...