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História Falling in love for the last time. - I never meant to cause you trouble.


Escrita por: gimavis

Notas do Autor


Oi, meninaaas. <33 Bom, primeiro obrigado pelos comentários do capítulo anterior, foi lindo ver vocês surtando. >< USAUHSAAUSHHSUA Bem, para esse capítulo eu quero pedir que escutem "Trouble - Coldplay" para a leitura. O capítulo ficou um pouco grandinho, eu acho, mas tinha que ficar exatamente assim, então... Aproveitem, sofram, façam o que quiserem. Depois me contem, é claro, vou esperar. Amo vocês. ♥

Capítulo 38 - I never meant to cause you trouble.


 

Lauren POV.

 

2:00 da manhã.

Meu dedo indicador direito traçava incansavelmente o contorno dos meus lábios separados, minha respiração feroz saindo pela brecha oferecida por eles. Meus olhos fechados me ajudavam pacificamente em uma contagem silenciosa, números ímpares e pares sendo repetidos por minha mente inconsolável enquanto eu balançava os joelhos de um lado para o outro. Meu corpo tenso sentado sobre uma das poltronas naquele quarto, um silêncio irritante me deixando cada vez mais inquieta. O que eu sentia? Raiva, muita raiva. Os meus motivos? A ausência de Camila. O que mais? Ciúmes de Camila. Mais um ponto? A rejeição de Camila. Mais um para finalizar? A minha falta de controle.

Eu havia perdido quaisquer vestígios do meu ego quando canalizei com amargura a rejeição. O ciúme ardia, a raiva descontrolava, mas a rejeição doía. Ser obrigada a ficar sozinha foi um golpe final na paciência que eu já quase não tinha, meu ego ferido fazendo lágrimas pesadas rolarem por todo o meu rosto, pingando sem pausa na regata vermelha que eu vestia. Se existe uma coisa que você precisa aprender sobre mim, é que nunca deve me rejeitar, nunca. Jamais me deixe de lado, jamais me troque por alguém, jamais me diga com todas as letras que “não quer, não vai” fazer qualquer coisa comigo. Jamais faça isso, não se eu amar você, com toda a certeza estará pisando nos meus sentimentos de uma maneira lastimável. Eu perdi as forças das minhas pernas quando ouvi da boca de Camila que seu desejo não era dormir ao meu lado naquela noite.

Como? Por quê? Por birra? Eu não conseguia, eu não queria entender, tudo o que eu queria e precisava era dormir... Com o corpo grudado, fundido ao dela. Eu não precisava dizer, pensar, me desculpar ou fazer qualquer coisa desde que ela estivesse ali, sentada do meu lado, debaixo dos meus olhos, seu cheiro doce entrando na minha respiração e me fazendo perceber que ela era minha e de mais ninguém. Eu estava querendo matar o Diabo e o mundo no auge da minha irritação, e quando mais precisava dela, tudo o que ela fez foi me colocar para fora. Eu queria esganá-la, ou beijá-la... Não, eu queria estapeá-la, eu queria... Ela.

 

3:30 da manhã.

A ponta da unha do meu dedão deslizava sem pausa pela carne do meu dedo indicador, eu podia sentir uma pequena ardência, um incômodo que me fazia torcer o nariz vez ou outra, mas eu estava ocupada demais para pensar em parar. Minha cabeça trabalhava de forma eficaz, meu coração bombeando sangue tão rápido por minhas veias que fazia a pulsação no meu pescoço tornar-se feroz. Ergui os joelhos e plantei os pés sobre a poltrona, me encolhendo. Lembranças e mais lembranças me rasgavam por dentro, notificações de erros em todos os parágrafos daquela história me deixando sem ar. Eu solucei quando fui puxada pelas pernas de volta para as recordações, meu subconsciente me castigando sem dó. Ele deveria ter dó?

:::: - Não faça isso, não feche seus olhos.

: - Por quê? – Perguntei abrindo-os novamente.

: - Se você soubesse o que essas iris verdes causam em mim, você nunca os fecharia, lolo. – Sorri com meu coração mudando de ritmo drasticamente. – Eu sei que isso parece meloso demais, mas não consigo dizer isso de outra forma. Eu amo os seus olhos, amo quando eles amanhecem cinza e terminam à noite nesse tom de verde, nesse tom que está agora. Se eu pudesse ficar parada aqui o olhando por tempo indeterminando, eu ficaria.:::

Cravei meus dentes na carne rígida do meu joelho esquerdo e mordi com toda a força, um grito mudo inchando a minha garganta. Lembrar estava me deixando dormente, lembrar estava me fazendo perceber o quanto eu era horrível.

:::: - Who are you?

Perguntei como parte da música, erguendo meu dedo para dedilhar seus lábios trêmulos. Se eu pudesse escolher uma frase para embalar os meus sonhos dali por diante, eu escolheria a que ela me presenteou em sua resposta.

: - Sua mulher. A mulher que te ama e que não trocaria você por nada e nem ninguém nesse mundo. Essa sou eu.:::

As lágrimas pesadas molhavam meus joelhos, escorriam por minhas coxas. Meus dentes batendo uns contra os outros por conta da tremedeira incontrolável que acertou o meu corpo. Sabe qual era o gosto daquelas lágrimas que molhavam a minha boca? O gosto amargo da culpa. A raiva pela ausência de Camila foi embora na mesma rapidez com a qual chegou, dando lugar a culpa. Uma culpa feita de remorso, arrependimento e ódio, ódio de mim, da minha desonestidade, do meu descontrole, do meu egoísmo, da minha falta de consideração.

:::: - Minha namorada. – Sussurrei vendo-a sorrir, nossos olhos não se desviavam em nenhum momento. – Sinto um frio gostoso na barriga ao dizer isso, sabia?

: - Sabe a única coisa que eu sei?

Perguntou-me erguendo sua mão esquerda para enfiá-la entre minhas mechas de cabelo. Adorava aquela pegada que era marca registrada de Camila.

: - Qual?

Desci a mão por seu pescoço, costas, até parar em sua cintura, puxando-a mais para mim.

: - Que eu te amo.:::

Gemi dolorosamente ao retirar meu rosto do meio dos meus joelhos, minha mente traiçoeira me assombrando de uma forma que me fez resfolegar. Meu dedo indicador manchado de sangue me avisando que eu deveria parar de arrastar a unha por ali. Abaixei as pernas e apoiei os cotovelos sobre as coxas, tampando meus ouvidos com as mãos.

Está vendo só como você é uma pessoa horrível, Lauren? Minha consciência dizia, meu corpo indo para trás e para frente lentamente, meus olhos fechados com força. Olha o que você fez, Camila vai guardar mágoa por isso pelo resto da vida. Você prometeu que nunca voltaria a machucá-la, e olha só o que você fez.

: - Para.

Eu disse para mim mesma, ou melhor, para o fantasma da culpa que me assombrava enquanto apertada mais as mãos contra os ouvidos, como se aquilo fosse me fazer parar de escutar.

Você não a merece, afaste-se, deixe que ela arrume alguém melhor que você. Neguei com a cabeça ferozmente, abri meus olhos para enxergar o nada, a visão embaçada me fazendo tornar a fechá-los. Logo você vai machucá-la novamente, você sempre faz isso, você nem mesmo consegue confiar nela cem por cento.

: - Eu confio... – Corri as mãos para o cabelo, curvando ainda mais a coluna. – Eu a amo.

Amor não é o bastante. Você não é o bastante para ela. Fechei as mãos em punhos. Você não vai cumprir a promessa, não vai parar de machucá-la nunca.

: - CHEGA. – Eu gritei ao me levantar, minhas mãos descendo para o meu pescoço, meus olhos pesados e inchados custando para abrir. – Por favor, eu não posso mais lidar com isso.

Andei pelo quarto pouco iluminado à procura da minha mala, assim que a achei me agachei ao lado dela para revirar com pressa. Tirei tudo de dentro para encontrar o que eu queria, a peça de seda lilás com o cheiro que eu precisava. Se eu não podia sentir direto da fonte, que aquele pedaço de pano pudesse me satisfazer. Levei o baby doll de Camila até o nariz e inalei com toda a força, meus pulmões se expandindo dolorosamente. Joguei-me para o lado e me sentei com as costas na parede, minha mão mantendo a peça de roupa contra o meu nariz.

Nós tivemos a nossa primeira briga desde que começamos a namorar, e o pior era saber que a culpa do que vi nos olhos dela foi exclusivamente minha. Você ai, por acaso já foi culpada pela mágoa da pessoa que mais ama no mundo? Já a fez chorar? Já deixou nos olhos dela aquele brilho fosco da decepção? Se você nunca teve o desprazer de fazer isso, nunca se deixe levar pela insegurança e pela falta de controle, porque a pressão da culpa é a pior que existe, nada no mundo pode te fazer sentir mais ódio de si mesma do que a sensação de ter errado com quem amamos.

 

5:30 da manhã.

Eu não conseguia e não queria mais abrir os olhos, estava com vergonha de me olhar no espelho. Deitei-me naquela cama grande demais em uma posição fetal, meu Iphone do lado do meu ouvido tocando sem parar o solo de Camila em “RED”. Eu não conseguia parar, pausar, mudar de música ou deixar a canção rolar sem interrupções, eu apenas queria ouvir a voz dela sem alterações, pura, arranhada.

Tantas vezes a despi com olhares sobre o palco em seus solos, onde ela fechava os olhos e se entregava de corpo e alma para a letra, para o que sentia. Eu ficava vidrada, meu coração saltando dentro do peito em resposta, eu simplesmente não conseguia desviar os olhos, fazer qualquer outra coisa que não fosse olhar, olhar e olhar. E era exatamente em “RED” onde eu mais me perdia, então seria “RED” que embalaria a minha vontade de Camila naquele final de madrugada. Eu ficaria ali me machucando até sentir vontade de vomitar, quem sabe assim eu não limpava um pouco do ódio que sentia de mim mesma.

 

6:30 da manhã.

Bocejei com dificuldade quando o céu já estava claro, não que eu tivesse dormido, muito pelo contrário. Forcei meu corpo para cima e me sentei, vejamos, sentei-me apenas porque batidas fortes na porta desviaram a atenção que eu mantinha em meu celular, no visor minhas fotos com Camila em Paris, no X Factor, em casa, em todos os lugares possíveis.

Coloquei os pés para fora da cama e me levantei, praticamente me arrastei até a porta do meu quarto, minha cabeça doendo tanto que ficava difícil piscar. A ponta do meu dedo indicador da mão direita ainda manchado de sangue, um corte pequeno e ardente me fazendo torcer o nariz. Se a minha aparência poderia ser comparada a de um Zumbi naquele momento, ela mudou para a alegoria fantasmagórica quando vi Dinah de pé na minha porta, assim que a abri.

: - Vai me deixar entrar ou prefere conversar na porta? Tanto faz pra mim.

Eu tive a certeza naquele segundo de que estava fodida, mais fodida do que estive a madrugada inteira. Engoli a saliva que se formou em minha boca e dei dois passos para o lado, liberando a passagem. Dinah entrou sem nem ao menos olhar na minha cara, eu já podia sentir as lágrimas brotando nos meus olhos novamente.

Fechei a porta e respirei fundo antes de me virar, a encontrando de pé no meio do tapete, os braços cruzados embaixo do peito, uma expressão de sono tão grande que imaginei que ela deveria ter passado a noite em claro... Com Camila.

: - Eu não sei o que te traz aqui es...

Tentei desconversar, ou talvez eu quisesse um tempo para pensar por onde começar a falar.

: - Você sabe o que me traz aqui a essa hora da manhã, e sabe com todos os detalhes. – Pressionei os lábios, estava trêmula sob o olhar feroz que Dinah mantinha em mim. – Olha, Lauren, eu não sou Camila, Normani e muito menos a Ally, então vou lhe implorar para não se fazer de cínica comigo. Eu estou sendo boazinha em vir até aqui com toda a calma do mundo para ouvir da tua boca a tua versão, porque se eu fosse levar em consideração o estado em que Camila passou a madrugada inteira, eu teria entrado aqui já te pegando pelos cabelos.

Respirei fundo e abaixei a cabeça, eu não tinha nada mais para fazer além de abaixar a minha cabeça para o esporro que tomaria, que merecia.

: - Eu perdi o meu controle. – Confessei em um fio de voz, meu corpo se abaixando até que eu estivesse sentada com as costas contra a cama. Dinah Manteve-se de pé na minha frente. – Eu já estava estressada antes, quando vi o sms de Ariana no celular de Camila eu surtei, eu não a suporto. Perdi o controle que estava em minhas mãos e falei o que não devia, fiz o que não devia. Eu estou tão arrependida, eu passei a madrugada inteira me condenando por isso.

: - Posso ver que passou a madrugada inteira em claro, você está horrível. – Sua voz fria estava me dando arrepios. – A minha vontade era de entrar aqui e te deixar mais horrível ainda, não vim porque Camila não permitiu. Doce demais, não é? Pois é. Talvez o problema dela seja esse, ser doce demais. E sabe qual é o teu problema? Idiotice demais. Depois da merda que você fez, ela ainda zelou intensamente pela tua paz de espírito.

: - Eu sei...

Abracei os joelhos e fechei os olhos, não conseguia mais prender o soluço na minha garganta.

: - Não, você não sabe. – Dinah bufou curvando-se para frente. – Camila passou a noite inteira chorando no meu colo por culpa tua. Eu senti vontade de te torcer ao meio quando ela bateu na minha porta com os olhos vermelhos, porque eu tive a certeza que você tinha feito merda sem ela ao menos ter dito.

: - Dinah...

Tentei falar, mas ela me interrompeu. Estava chorando compulsivamente, alto, não conseguia controlar. Meu corpo tremendo tanto que minhas costas batiam contra o encosto da cama.

: - Eu estou falando, não terminei. – Levei as costas da minha mão direita até a minha boca. – Aquela garota te ama, Lauren, ela vive, ela respira você. Pelo amor de Deus, é assim que você agradece? É assim que você a ama de volta? Nós erramos? Erramos, errar é humano e todo mundo faz isso, mas acontece que errar uma vez é tolerável, mas errar duas se torna completamente desnecessário.

: - Eu sinto muito. – Cobri o rosto com as mãos, todos os cantos do meu corpo ardiam, aquela culpa filha da puta me deixando dolorida fisicamente. – Eu sinto muito por isso, eu... Eu estou arrependida, eu vou pedir desculpas, eu não queria causar problemas no nosso relacionamento, eu juro por Deus. Eu fiquei cega por um determinado tempo e quando cai na real já havia sido estúpida. Eu sei que errei, eu estou reconhecendo isso. Já estou me sentindo culpada o bastante, você não pode imaginar o quanto está doendo, me rasgando por dentro.

Dinah ficou em silêncio por algum tempo, o único barulho presente era o som de meus soluços. Arrependimento é algo que consome a gente, tira qualquer rastro de bem-estar, nos joga em um mar de espinhos que se infiltram por baixo da pele sem intenção de sair.

: - Você sabe o que significa pra mim, não sabe? – Ela me perguntou um pouco mais perto. Apenas sacudi a cabeça em positivo, estava com vergonha de olhá-la. – Sabe que você e as outras meninas são a minha segunda família, não sabe?

: - Sei...

Funguei ainda de cabeça baixa.

: - Olha pra mim. – Dinah ordenou com um tom de voz um pouco mais suave, seu corpo ainda de pé. Demorei alguns segundos para olhá-la, e acho que iria gostar mais se não tivesse feito isso. Sua postura era extremamente protetora, como uma leoa raivosa curvada sobre seus filhotes, pronta para arrancar a cabeça de qualquer animal que se atrevesse a mexer com eles. O problema todo é que eu havia mexido com um de seus filhotes, eu mexi com Camila e aquilo nitidamente era algo inadmissível para Dinah. – Você sabe que de vocês quatro, Camila é o meu bebê. É como se fosse Regina ou Seth, os mais novos, protejo os dois com unhas e dentes e dou tapa na cara de quem for se algo os machucar. Mila é assim para mim e eu realmente não posso suportar que ela esteja machucada. O problema é que está me doendo do mesmo jeito te ver assim, entrei aqui com vontade de te matar, mas posso enxergar nos teus olhos o tamanho do teu arrependimento e sei o quanto você a ama.

: - Muito. – Engoli a saliva, fechei meus olhos. – A amo muito.

: - Eu sei disso. – Senti Dinah se abaixar na minha frente, suas mãos pousando sobre meus joelhos dobrados. – Portanto, o que vou lhe dizer pode soar um pouco grosseiro, mas é necessário. Você precisa parar de ser idiota, Lauren, precisa parar de surtar por qualquer merda, qualquer sms ou qualquer indireta no Twitter. Camila é tua namorada, Camila te ama, lutou por você durante todo esse tempo, ela jamais olharia para outra garota.

: - Eu tenho noção disso, por isso está doendo tanto saber que fiz merda.

: - Fez merda e das grandes, tua idiotice ultrapassou limites quando tocou no nome daquele fodido do Keaton. Aquele garoto é o demônio para a Mila, tocar no nome dele é arrastá-la de volta para aqueles meses em que sofreu te vendo nos braços desse verme. Você precisa fazê-la superar isso, precisa fazer com que ela não se doa mais ao ouvir o nome dele, precisa fechar a ferida que abriu no peito dela, Lauren.

: - Eu não sei como fazer isso, não sei como consertar o que fiz da primeira vez, nem o que fiz agora. – Agarrei em suas mãos e as trouxe para o meu rosto, me segurando nelas como se estivesse prestes a cair. – Eu pensei que já tivesse a feito esquecer as burradas que cometi no passado, mas ela ainda lembra e se machuca, isso prova que não sou boa o bastante.

: - Para com essa insegurança, isso é outra coisa que você precisa parar. – Dinah bufou acariciando minhas mãos. – Mila se dói porque ainda é recente, ela ainda sofria por rejeição da sua parte há três meses, Lauren, pensa em como é difícil pra ela. Você precisa fechar as feridas devagar, com paciência, não vacilando e cometendo esses pequenos erros, erros que vão se juntando e virando uma bola.

: - O que eu faço? – Perguntei secando o rosto com uma das mãos, encarando seus olhos em busca de respostas. – Me ajuda, eu não sei por onde começar, não sei nem ao menos como vou levantar daqui.

: - Você vai começar indo se desculpar. Vai levantar desse chão, jogar uma água nesse rosto e ir conversar com Camila, dizer que está arrependida, que a entende, que surtou por nada. Diga que vai ajudá-la a superar as burradas, que vai fechar cada cantinho que você deixou aberto.

Dinah soltou sua mão da minha para secar as lágrimas embaixo dos meus olhos, sua expressão estava torcida em tristeza. E a minha? Em dor, dor e dor.

: - Vocês estão vivendo um momento muito difícil, Lauren, o céu caiu sobre suas cabeças e eu estou orgulhosa demais por estarem se mantendo de pé, por estarem juntas nisso, por se amarem além de toda essa sujeira que nos cerca. Você não pode deixar que esses surtos de ciúmes desnecessários fiquem entre vocês. O relacionamento de vocês é tão bonito, são namoradas e melhores amigas, não estrague isso. Durma sempre com a sua cabeça ligada no fato de que Camila te ama, que é você quem ela quer, só você. Não solte a mão dela nunca, pela pressão que estão passando qualquer motivo besta será o suficiente para gerar brigas se estiverem um centímetro longe. A mantenha sempre ao seu lado, sempre, esqueça a amizade dela com Ariana, esqueça tudo, lembre-se apenas que é você a namorada dela, mais ninguém.

Curvei meu corpo para frente e abracei Dinah com força, seus braços maternais me envolveram com firmeza, me puxando para ela. Fiquei chorando sobre seu ombro por longos minutos, podia sentir pequenas carícias em meus cabelos, minhas costas, meus braços. Ela nos embalava de um lado para o outro, tinha certeza que estava tentando me consolar de alguma forma, mas me consolar de verdade só aconteceria quando eu estivesse nos braços de Camila.

Depois que Dinah saiu do meu quarto, me levantei daquele chão frio e fui tomar um banho quente, estava na hora de parar de chorar e consertar meus erros. Relaxei embaixo da água por quase meia hora, queria melhorar um pouco aquela aparência horrorosa da qual estava revestida. Nossa coletiva seria uma hora antes do almoço, então eu tinha bastante tempo para correr atrás do prejuízo que causei.

Vesti um shortinho de renda branco e uma blusinha de alça azul, calcei havaianas brancas e deixei o cabelo solto para que secasse. Não passei maquiagem nenhuma, meus olhos estavam tão sensíveis por causa do choro que era capaz de eu me cegar colocando aquela química sobre eles. Respirei fundo e me empurrei para fora do quarto, um frio na barriga que me fez começar a respirar com força enquanto eu ganhava o corredor. Parei na porta do quarto de Camila com o coração na boca, virei de costas e fechei meus olhos, pensei em sair correndo, mas me lembrei que ser covarde pela segunda vez seria nojento demais.

Tornei a me virar de frente e ergui a mão direita, hesitando por alguns segundos antes de dar três pequenas batidas. Larguei o braço ao lado de meu corpo, já estava impaciente e quando iria erguer a mão para bater de novo, a porta se abriu.

O ar que saia das minhas narinas com fúria ficou preso na minha garganta quando meu olhar caiu sobre ela. Seu corpo pequeno estava vestido por aquele pijama rosa que eu tanto amava, aquele que me fazia chamá-la de Pink princess. Seus cabelos bagunçados, seus olhos vermelhos e inchados. Fechei os meus e respirei fundo antes de abrir a boca para falar.

: - Eu... Posso entrar? – Perguntei tornando a olhá-la. Camila separou os lábios um pouco, arfou profundamente, piscou vezes seguidas, me encarou por trás de cílios desconfiados e quanto iria pestanejar, me adiantei. – Eu só quero conversar, por favor. Preciso te dizer umas coisas, me deixa entrar.

Eu disse tão desesperada que quase pulei em cima dela para prendê-la em meus braços.  

: - Tudo bem.

Sua voz fraquinha e ressentida me esfaqueou, a culpa que eu sentia ficando cada vez maior, se possível, ao notar o estrago que havia feito nela. Camila me deu espaço e eu logo entrei, parei ao lado de sua cama bagunçada, o quarto ainda bem escuro por conta das cortinas fechadas. Ouvi o som da porta se fechando e seus passos se aproximando. Tremi involuntariamente quando ela passou ao meu lado, seu cheiro me fazendo fechar os olhos e inalar com força. Queria sentir, precisava sentir aquele aroma queimar os meus pulmões, precisava que ele me aliviasse de certa forma, mas só conseguiu me deixar ainda mais inquieta.

: - Não quer se sentar?

Perguntou-me sem me encarar, seus olhos fixos em seu colo. Era como se fossemos duas estranhas, como se nunca tivéssemos nos beijado, feito amor e trocado juras em todos os cantos. E por culpa de quem? Minha culpa, é claro. Não respondi nada, apenas me aproximei de sua cama e me sentei de frente para ela, minha boca seca em receio, minhas mãos suando de nervoso, meu coração saltando em arrependimento. Por onde começar a me desculpar?

: - Camz...

Comecei correndo a ponta do dedo indicador pelo lençol, em círculos. Torci o nariz pelo desconforto por conta do pequeno corte.

: - Se você vai me dizer que tem razão e que só está vindo conversar comigo porque não quer que fiquemos mal, pode ir embora. Eu realmente não preciso ouvir isso.

Ela começou a se defender ao erguer o olhar para me fitar, eu rapidamente neguei com a cabeça, me aproximando um pouco mais.

: - Não, não. – Respirei fundo. – Eu não vim fazer isso, eu..

: - Você o que, Lauren?

Seu tom chateado me balançava, ficava difícil falar quando a tinha daquela forma. Agarrei um pouco do lençol em meus dedos e encarei seus olhos, os verdes nos castanhos, aquela troca de olhares mais antiga que o mundo. Uma troca de olhares um pouco mais úmida, mas ainda sim em uma perfeita intensidade.

: - Vim pedir desculpas. – Minhas pernas tremiam. – Eu vim dizer que sinto muito, que eu sinto muito, Camz.

Quebrei nossos olhares e abaixei a cabeça, meus olhos doeram quando as lágrimas os alcançaram novamente, eu não aguentava mais chorar.

: - Você sente muito? É só isso o que você sente?

Não a olhei, mas senti pelo tom embargado de sua voz a vontade de fazer o mesmo que eu... Chorar.

: - Não, eu me sinto uma merda, um lixo. – Ergui a cabeça e a olhei – Eu fui uma estúpida, estou me sentindo horrível pelas coisas que lhe disse. Eu sou uma idiota, eu sei que sou.

: - Sim, você é. – Camila fungou.

: - Você deveria me xingar, me bater, me desprezar pela burrada que cometi... de novo. – Limpei o nariz com as costas da mão esquerda. – Eu não tive consideração contigo, não fui honesta. Você passou o dia inteiro correndo atrás de mim, se certificando para que eu ficasse bem e na primeira oportunidade que tive lhe abri uma ferida desnecessária.

: - Isso, foi exatamente o que você fez.

Ela ia concordando com o que eu dizia, suas lágrimas rolando por seu rosto angelical. Uma vontade de abraçá-la me martirizando, minha cabeça latejando.

: - Eu não deveria ter dito o que disse, não poderia ter agido daquela forma, eu não queria causar problemas, Camz, por favor, acredita em mim. – E por um momento eu me vi naquele quarto de hotel em Paris, naquela tarde conturbada em que Camila implorava sob lágrimas para que eu acreditasse nela, que não havia feito nada de errado, que não foi culpa dela. Mas a situação tinha duas diferenças, naquele momento era eu quem implorava para que ela acreditasse em mim, e eu era culpada. – Me desculpa, eu não sei mais como dizer o quanto me arrependo, que está doendo saber que te fiz chorar, que te magoei. Por favor, me perdoa, eu fui uma imbecil e estou reconhecendo. Eu faço o que você quiser, eu prometo o que quiser, eu aceito levar quantos tapas você quiser me dar, mas me perdoa... Por favor.  

: - Quem é que me garante que você não vai fazer a mesma coisa de novo? Em? Você me prometeu em Paris que não voltaria a me machucar, mas olha só onde estamos. Como é que posso ter a certeza que na primeira oportunidade que você tiver não vai voltar a me magoar?

: - Eu garanto. – Curvei meu corpo para frente e segurei seu rosto molhado entre as mãos, nossos olhos se fuzilando, nossas respirações em confronto, meu coração sambando dentro do meu peito. – Eu garanto porque eu aprendi pela segunda vez com o meu erro, eu fui uma estúpida pela segunda vez e aprendi que não posso errar de novo. Eu passei a madrugada inteira na merda, Camila, na merda, eu chorei por horas a fio porque sabia que havia pisado na bola contigo. Eu não posso lidar com isso...

Aproximei minha boca de seus olhos e beijei cada um deles, suas lágrimas salgadas misturando-se as minhas em meus lábios. Ela tremia, suas mãos com firmeza em meus braços.

: - Não posso suportar seu choro, não posso. – Colei nossas testas e fechei meus olhos, um desespero horrível fazendo minha nuca suar. – Me perdoa, eu estou implorando. Eu juro que vou trabalhar todos os dias para te curar, eu juro, amor. Eu sei que tudo é muito recente pra você, que ainda te machuca ouvir e falar sobre certas coisas, eu sei. Por favor, confia em mim, eu não vou pisar na bola de novo... Perdoa-me.

E eu estava soluçando novamente enquanto a mantinha o mais perto possível, estava ao ponto de me ajoelhar aos seus pés para implorar por perdão. Talvez se ela me desse um tapa na cara me curaria de toda aquela culpa mais rápido, eu merecia, eu merecia muitos.

Camila respirou fundo e retirou minhas mãos de seu rosto, eu iria reclamar, mas ela segurou meus punhos com força e eu perdi a fala quando encontrei seu olhar.

: - Independente do que tenha acabado de me dizer, preciso que saiba que ainda estou muito magoada. – Concordei com a cabeça piscando rapidamente, queria enxergá-la melhor, mas minhas lágrimas me atrapalhavam. – Mas também estou orgulhosa por você ter caído na real o quanto antes, por ter engolido o orgulho para vir atrás de mim e assumir que errou.

: - Nunca vou parar de dizer que errei e que me arrependo, nunca.

: - Eu sei que se arrepende, posso ver isso nesses olhos que bem conheço. – Ela sorriu triste e abaixou a cabeça, secando os próprios olhos. – Infelizmente tive que lhe causar uma boa noite de insônia para lhe mostrar que não é assim que as coisas funcionam, que não é do teu jeito que a banda vai tocar sempre. Eu não posso deixar meus amigos de lado por tua causa, não posso mandar todo mundo pra merda porque você quer que eu mande. Preciso deixar claro aqui e agora, mesmo que você não goste, que Ariana é minha amiga e continuará sendo.

: - Camz...

: - Me deixe terminar. – Concordei com a cabeça e me desculpei rapidamente, puxando sua mão direita de volta para entre as minhas. – Ariana é minha amiga, nada mais que isso. É apenas uma amiga e só, não precisa se corroer de ciúmes por causa dela ou me atingir de todas as maneiras quando ler um sms que venha dela. Entenda que sou sua namorada, entenda que eu te amo e que estou lutando por ti com todos os pingos das minhas forças. Lauren, eu não desejo e não quero ninguém mais além de você. Olha pra mim...

Ela pediu tocando em meu queixo, erguendo minha cabeça para me olhar. Sentia-me tão envergonhada, tão pequena perto dela. Camila era um alguém muito melhor que eu, como eu queria aprender a ser como ela, por mim e por ela.

: - Está vendo isso aqui? – Usando a ponta de seu dedo indicador ela apontou para os olhos. – São seus. Isso aqui é teu...

Eu pisquei completamente mole quando ela pegou uma de minhas mãos e a colocou sobre seu peito, batidas rápidas e fortes de seu coração bombardeando a palma da minha mão. Fiquei arrepiada pela explosão de sentimentos que aquilo me causou.

: - Nunca em dezessete anos ele bateu assim por outro alguém, nunca. Sabe qual foi a primeira vez que ele bateu desse jeito? Quando nos vimos nos bastidores do X Factor. Eu tive uma primeira vez contigo naquele momento quando sorriu pra mim, foi a primeira vez que eu senti meu peito sacudir desse jeito. Depois do nosso primeiro encontro ele sacudia assim todas as vezes que você estava por perto, todas as vezes que eu escutava a tua voz nos ensaios, todas as vezes que pensava em você, todas as vezes que confessava para mim mesma que estava apaixonada por ti. E sabe por quê ele nunca vai parar de bater assim na sua presença, ou quando eu me cercar de qualquer coisa que me lembre de você? Porque eu te amo, eu te amo e isso é tudo o que você precisa entender. Eu posso estar chateada, eu posso ter chorado a noite inteira, eu posso ter sofrido o que for, mas eu te amo e isso não vai mudar. Entenda que eu sou tua, por favor.

O que eu disse? Nada. O motivo? Ela tirou qualquer palavra que eu pudesse ter colocado na ponta da língua. Deixou-me ofegante, fez meus lábios tremerem, me passou uma segurança tão grande que quaisquer ciúmes que eu tenha sentido pareceu completamente desnecessário. Ergui a mão para acariciar seu rosto, tracei o contorno de seus lábios com as pontas dos dedos - os meus lábios -.

: - Eu vou fazer essa mágoa passar, a mágoa do passado que eu sei que ainda lhe machuca, e a mágoa que lhe causei ontem por ter feito aquela infantilidade. Eu prometo, eu vou cumprir dessa vez, confie em mim.

Camila fechou os olhos e descansou o rosto na palma da minha mão, sua coluna curvando-se levemente na minha direção.

: - Espero que você saiba que dá próxima vez que isso ocorrer as coisas vão andar do meu jeito, esteja ciente disso.

Sua voz estava um tom mais baixo, ela estava apenas me avisando, me deixando saber com nitidez o que pensava.

: - Não haverá uma próxima vez. – Informei correndo meus dedos por entre suas mechas lisas de cabelo. – Eu não vou ser estúpida novamente, eu aprendi durante essa madrugada outra vez que não posso passar nenhum minuto se quer longe de você. Foi da pior maneira? Foi, mas aprendi, passar à noite em claro sem poder colocar meus olhos em você sabendo que era por minha culpa foi a pior sensação da minha vida, pior do que foi passar aquelas duas semanas em Miami, muito pior.

: - Não sei quantas vezes eu pedi a Deus essa madrugada para trazer era Lauren de volta, eu realmente não sei.

Eu não podia mais esperar para fazer o que necessitava, por isso pulei para fora da cama e me coloquei de pé, puxando Camila pela mão até que tivesse seu corpo contra o meu. A abracei com força, nossos corpos tão grudados que eu podia sentir meu coração batendo desesperado contra o dela.

Relaxei instantaneamente em seus braços, meu nariz sentindo o meu cheiro preferido no mundo direto da fonte, direto de seu pescoço macio. Uma de suas mãos perdidas em meu cabelo, a outra cravada em minhas costas. As minhas? As minhas apalpando todos os cantinhos daquele corpo pequeno que eu tanto senti falta. Suspirei com as pernas bambas e deslizei meu nariz por sua orelha, sussurrando assim que segurei em sua nuca.

: - Me perdoa?

Perguntei sem descolar nossos corpos, a respiração de Camila no pé do meu ouvido me arrepiando inteira.

: - Perdoo.

Eu sorri tão abertamente que senti meu maxilar doer, era como se estivesse tomando um banho para lavar a alma, lavar a alma da culpa que me fez respirar com dificuldade a noite inteira.

: - Eu amo você.

Sussurrei em seu ouvido, meus lábios separados em uma respiração agitada acariciando todas as curvas da orelhinha perfeita que ela tinha. Seu corpo tremeu em meus braços, uma lufada de ar deliciosa saindo de sua garganta, ela estava completamente arrepiada. Eu adorava todas as reações que causava nela, eu adorava, amava saber que era mérito meu, só meu. Estava a ponto de chorar por saber que depois de toda a merda que fiz, ela ainda se rendia pra mim daquele jeito.

: - Me beija. – Seu tom rouco e ansioso cortou um calafrio na minha coluna, meu estomago vibrando de... Felicidade? Alivio? – Não diz mais nada, só me beija. Eu senti a tua falta. Eu só preciso do teu beijo, do teu gosto... Por favor.

Com as mãos trêmulas e suadas segurei seu rosto, seus olhos molhados e brilhantes sorriam pra mim, sorriam ansiosos e nostálgicos. Eu já não conseguia controlar o ritmo dos meus batimentos cardíacos, os arrepios que meu corpo sofria e muito menos a saudades que sentia. Segurei nossos olhares uma última vez antes de fechar meus olhos e juntar nossos lábios, um suspiro longo e pesado saindo ao mesmo tempo de nossas bocas. Porra, que sensação maravilhosa era estar ali novamente, eu não sei como explicar o jeito que estava me sentindo naquele momento.

Camila se agarrou em mim de um jeito sufocante, seus braços rodearam o meu pescoço ao mesmo tempo em que sua língua quente invadiu a minha boca. Suguei toda a extensão entre baixos gemidos, seu gosto doce me deixando inebriada. Perdi minhas mãos em seus cabelos, meus dedos embolando as mechas, puxando de leve, puxando mais forte, acariciando, arranhando. Nos beijávamos com intensidade, aquele barulho molhado se fazia presente toda vez que mudávamos a posição de nossas bocas, ou quando a língua de Camila vez ou outra sugava meu lábio inferior com sabedoria.

Enquanto eu me perdia na boca dela, fui juntando todos os pedaços da minha coerência de volta, do meu autocontrole, da minha honestidade, do meu eu de sempre, da Lauren vidrada e completamente apaixonada por aquela garota de dezessete anos com os olhos castanhos mais lindos do mundo. Eu percebi que nada poderia ser melhor do que uma madrugada inteira sentindo culpa para nos fazer dar mais valor para quem amamos. O gosto amargo da culpa machuca, mas dá um tapa na cara na intensidade certa para nos fazer acordar, custe o que custar. 



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