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História Falling in love for the last time. - Tan cerca aunque estes tan lejos.


Escrita por: gimavis

Notas do Autor


Boa noite, gente, ou boa madrugada. Enfim. UHSAUSHASHASAUHSAUH Eu disse que não iria demorar a postar, não disse? Pois é. Agradecendo aos comentários do cap. anterior, amo vocês demasiadamente. ♥ Mais um capítulo prontinho, prontinho e enooorme, escrevi com todo o carinho e espero que gostem. Se quiserem ouvir "Sabes - Reik" para acompanhar a leitura, façam isso. Vocês vão saber onde começar a escutar a música. Façam uma boa leitura, qualquer coisa me gritem no Twitter. <3

Capítulo 30 - Tan cerca aunque estes tan lejos.


 

A volta para casa foi um tormento, os paparazzi’s passaram dos limites. Eu quase bati com o carro tentando fugir deles de tão nervosa que fiquei. Estava ao ponto de chorar quando estacionei na porta de casa, sabia que eles estavam amontoados em algum lugar não muito longe dali. Bati a porta furiosa e andei em passos largos na direção de casa, Taylor e Chris quase correndo para me acompanhar.

Chris abriu a porta e eu passei batida por ela, esbarrando em Clara que segurava um jarro de plantas na mão ali perto. Ela deu dois passos para trás, uma expressão assustada no rosto quando viu Chris e Taylor entrarem com a mesma cara que a minha.

 : - O que aconteceu? Você não andou aprontando, não é Lauren? Era só o que faltava.

 Clara colocou o jarro de plantas em cima de uma bancada de mármore atrás dela e me olhou, levando as mãos na cintura. Aprontando? Que merda eu poderia estar aprontando?

 : - Para a sua felicidade, não, eu não aprontei. Aliás, o que eu poderia “aprontar”... – Usei os dedos para formar aspas enquanto dizia à palavra. – Aqui em Miami? Cometer assaltos? Juntar-me com viciados na esquina e cheirar carreirinhas de pó? Por favor, não comece com tuas acusações.

 : - Lauren.

 Chris me olhou apreensivo, seu olhar me dizia que eu deveria me acalmar. Mas me acalmar como? Quase matei nós três em um acidente de carro, estava com vontade de chorar por conta daquela pressão toda, chego em casa e ainda tinha que ouvir aquilo? Bufei rindo ironicamente e me joguei no sofá, erguendo a cabeça sobre o encosto do mesmo para puxar o ar com força. Desejei Camila respirando junto comigo.

 : - Nós fomos seguidos por paparazzi’s durante todo o caminho de volta para casa, mãe. Lauren ficou nervosa e quase bateu o carro por causa disso, se ela não fosse tão boa na direção, provavelmente, a senhora estaria sem teus três filhos agora.

 Taylor contou a ela largando a mochila que tinha nas costas sobre a mesma bancada. Não olhei para o rosto de minha mãe, mas tinha certeza que sua expressão estava aterrorizada. Deixe-me comentar uma coisa, sim? Desde que cheguei em Miami, Clara, vulgo minha mãe, estava fingindo que nada tinha acontecido, agindo como se eu não estivesse namorando Camila, agindo como se as fotos na People não existissem, ou seja, estava tratando a verdade como uma mentira por medo de enfrentá-la. E o que eu faria em relação a aquilo? Ai é que está, eu não sabia.

 : - Não diga isso, Taylor, pelo amor de Deus.

 Sua voz era puro horror. Fechei meus olhos para tentar me acalmar, ainda estava tremendo. O barulho dos pneus do carro derrapando me perturbando de um jeito que me fez colocar lágrimas nos olhos. Estávamos bem? Estávamos, mas se eu tivesse perdido o controle naquele momento, poderia ter nos matado. Tudo por culpa daqueles infelizes, até quando aquilo iria durar? Eles nunca ficaram no meu pé daquele jeito, sempre foram muito pacíficos, nunca me deixaram irritada ou algo do tipo. Por que todo aquele inferno? A resposta era óbvia.

 : - É a verdade, mãe. Mas graças a Deus estamos vivos. Meu pai ia ter um prejuízo e tanto com três caixões de uma só vez. – Chris riu em seu humor negro de sempre e eu ouvi quando ele ganhou um tapa estalado no braço. – Ai, caramba!

 : - Nunca mais diga isso, ouviu bem?

 Voltei à cabeça para a posição normal e olhei para eles. Minha mãe estava com o dedo apontado para Chris, que tinha uma mão esfregando o braço golpeado. Se a situação fosse outra eu iria rir da cena, mas...

 : - Tá bom, desculpa.

 Ele disse sorrindo e distribuiu beijos pela bochecha dela antes de sair em direção à cozinha. Taylor também havia sumido, provavelmente estava atacando algo na geladeira, logo éramos apenas eu e Clara, nossos olhos se encarando intensamente. O meu gélido, o dela preocupado. Sua expressão era quase interrogativa, sua testa estava enrugada. Rolei meus olhos e me levantei, ainda não conseguia ficar na presença dela por muito tempo, meu estômago reclamava. Estava saindo pronta para ir na direção do meu quarto quando ela segurou o meu braço, um aperto firme. A encarei novamente, mas não falei nada.

 : - Você está melhor? Não posso nem se quer imaginar algo acontecendo com você por causa dessas pessoas. Não sei por que el...

 : - Você sabe o por que deles estarem atrás de mim. – A interrompi e puxei meu braço com raiva, meu peito subindo e descendo em uma respiração furiosa. – Até quando vai continuar fingindo que não está acontecendo nada?

 Cuspi as palavras e fiz um movimento de negação com a cabeça antes de virar as costas e sumir pelo longo corredor. Entrei em meu quarto e me joguei na cama, minha cabeça latejando de dor. Eu não queria, mas comecei a chorar compulsivamente de tanto nervoso. Se fosse apenas por mim, que tudo fosse para o inferno, mas se algo tivesse acontecido com os meus irmãos sob a minha responsabilidade, eu jamais me perdoaria, jamais.

 Depois de ficar ali por longos minutos me martirizando pelo o que poderia ter acontecido, sentei na cama e respirei fundo. Iria tomar um banho, relaxar embaixo da água quente por meia hora e ligar para Camila assim que acabasse, só a voz dela me acalmaria. Estava de pé mexendo em minha gaveta quando ouvi três batidas na porta. Olhei rapidamente por cima dos ombros.

 : - Entre.

 Gritei voltando os meus olhos para o que fazia. Quando me virei com um conjunto de calcinha e sutiã nas mãos, dei de cara com uma Taylor de ombros levantados e um sorriso sem dentes no rosto.

 Sorri para ela e larguei o que segurava em cima da cama.

 : - Vem cá.

 Chamei suspirando, abrindo os braços para recebê-la assim que ela ficou perto o bastante. Taylor me abraçou com força, sua boca apertada em meu ombro direito. Fechei meus olhos e a segurei contra mim sem vontade de soltar. Sentia tanta falta dela, passávamos tanto tempo sem nos ver que as duas semanas que eu ficaria ali, no final, seriam poucas.  A afastei gentilmente pelos ombros depois de um tempinho, a olhando nos olhos e erguendo minha mão para acariciar seu rosto.

 : - Desculpe por ter quase nos matado. Isso não é um bom exemplo de irmã mais velha.

 Eu disse sem graça. Ela sorriu.

 : - Você é o melhor exemplo de irmã mais velha que alguém poderia ter, Lauren, não diga besteiras. – Taylor beijou a palma da minha mão. Ouvi-la dizer aquilo me tranquilizou bastante. – E você não teve culpa.

 : - Eu sei, mas é que...

 : - É que nada, a culpa não foi tua e acabou.

 Ela repetiu birrenta e fazendo carinha de brava. Eu ri me rendendo e ergui minhas mãos para apertar suas bochechas.

 : - Está ok, você venceu. – A peguei pela mão e a puxei comigo até a cama. Tínhamos uma conversa para ter, não é mesmo? – Agora sente-se aqui, relaxe e vamos conversar um pouquinho.

 A expressão de Taylor foi hilária, seus olhos quase saltando da face. Suas bochechas coraram e ela tossiu rapidamente.

 : - Conversar sobre o quê?

 Perguntou-me. A encarei séria e peguei uma de suas mãos entre as minhas. Eu não sabia muito bem como começar o assunto, mas...

 : - Você sabe que pode me contar tudo, não sabe? – Eu disse enquanto deslizava o dedo indicador pela palma de sua mão. Taylor balançou a cabeça em positivo. – Sabe que o que contar pra mim não vai sair daqui, não sabe?

 : - Eu sei, Lauren.

 Ela disse impaciente, bem Taylor. Eu ri porque ela era igualzinha à mim, ficava brava fácil, sem paciência em segundos e odiava enrolação. Respirei fundo e passei meus olhos por trás dela, especificadamente na porta, estava fechada e eu me autorizei a começar.

 : - Taylor, me fale sobre essa sua amiga, essa que eu fui lhe buscar na casa dela...

 Ficamos nos olhando por alguns segundos, a luz do sol que entrava pela janela aberta refletia parcialmente no alto de seus cabelos, compostos por aquela cor maravilhosa. Seus olhos mais claros por conta da mesma luz. Eu observei ansiosa quando ela piscou umas cinco vezes da forma mais lenta possível, como se estivesse pensando no que me dizer. Seus lábios rosados se abriram, se fecharam, se abriram de novo. Pronto, eu estava impaciente.

 : - Tay, me diga alguma coisa sobre essa menina.

 : - O quer saber? Ela é uma amiga.

 Ela disse não muito convencida de suas palavras. Nem preciso dizer que muito menos eu me convenci, não é mesmo?

 : - “Amiga” como a Vero é minha, ou amiga como a Camila foi?

 Perguntei mordendo o canto da bochecha. Taylor respirou profundamente abaixando os ombros, ela estava tensa, podia sentir. Demorou alguns longos segundos até que ela respondesse.

 : - Se eu disser que somos só amigas de novo você não vai acreditar, não é? – Neguei com a cabeça, porque era claro que eu não acreditaria. Ela bufou e retirou sua mão da minha, me fazendo sentir falta daquele calor. A olhei com atenção, sua expressão me dizia que aquilo estava... Incomodando? Ergui a mão e toquei seu ombro. – Nós somos amigas, mas eu queria poder tentar algo a mais. Eu disse a ela que tínhamos que conversar, mas perdi a coragem.

 Sua voz saiu por um fio, tão baixo que eu quase não escutei. Eu fiquei tensa, fiquei porque por mais que eu esperasse aquela resposta, esperar a verdade não é o mesmo que ouvir a verdade. Era como esperar uma traição, conhecendo a pessoa com quem se relaciona, e depois ouvir da boca dela que você ganhou um par de chifres na cabeça. É... Complicado. Acariciei a pele nua de seu ombro esquerdo por conta da blusa caída abaixo dele.

 : - Você gosta dela? É apaixonada por ela? – Perguntei baixinho.

 : - Não. Bom, apaixonada não, mas gosto dela. Sinto-me... Atraída. Essa atração está me incomodando um pouco, não por ela ser uma garota, mas sim porque não sei se ela também se sente atraída por mim.

 Ela confessou me olhando, seus olhos perturbados. Sorri triste e acariciei seu rosto, meu coração estava apertado. Primeiro por saber que ela estava sofrendo de uma certa forma, segundo por saber que se aquela atração se intensificasse, pular para a paixão seria fácil, e terceiro porque nossa mãe faria com ela o que estava fazendo comigo, se desconfiasse de algo.

 : - Por que você não pergunta para ela, Tay? Sente com ela para conversar e pergunte, seja sincera, não esconda teus sentimentos.

 : - Você fez isso com Camila?

 Ela me perguntou curiosa, virando-se de frente para mim sobre a cama, colocando uma mecha solta de seu cabelo atrás da orelha. Sorri de canto e abaixei a cabeça, fitando minhas mãos em meu colo.

 : - Minha história com Camila é diferente, foi paixão de imediato, sabe? Por mais que eu não tenha percebido logo de cara. – Taylor suspirou. – Demorou um tempo até que eu dissesse a ela o que realmente sentia, e depois fugi como o diabo foge da cruz. Fiz Camila sofrer, Tay e nunca vou me perdoar por isso. – Ergui meu rosto para ela e peguei sua mão entre as minhas de novo, acariciando intensamente. – Por isso, se posso lhe dar um conselho de irmã mais velha, não esconda isso da sua amiga e não fuja do que sente. Ela pode sentir o mesmo e você pode estar perdendo uma boa chance de se manter bem alegre.

 Ela sorriu sem graça e abaixou a cabeça, fitando nossas mãos unidas.

 : - É, você tem razão, como sempre.

 Taylor riu e me encarou de novo, seus olhos úmidos. Suspirei. Precisava fazer uma pergunta, precisava saber o que ela pensava sobre, precisava buscar ajuda em alguma coisa, mesmo que ela não soubesse disso.

 : - Você não tem medo, Tay?

 Perguntei segurando nossos olhares.

 : - De quê?

 Ela perguntou de volta. Meu coração estava levemente acelerado, angustia, sabe?

 : - De que possa... Ser gay?

 Eu fiquei com vergonha de encará-la depois daquela pergunta, como se tivesse fraquejado em alguma coisa. Passei meus dedos nervosamente pelas costas de sua mão esquerda.

 : - Medo de ser gay? – Ela riu baixinho. – Não, não tenho. Eu não sou gay, mas também não sou hétero. – Ela riu novamente e eu a acompanhei. – Eu nunca fiquei com uma menina, mas quero ficar, então digamos que eu seja bi, é, sou bi. E se daqui há alguns anos eu descobrir que sou gay, assim como eu acho que você é... – Ela disse na minha cara, esfregando a merda bem esfregada. Minhas mãos soaram e ela usou o dedo indicador da mão direita para erguer meu rosto, me fazendo olhá-la nos olhos naquele jeito maduro de sempre. – Eu não terei medo, porque eu não escolhi ser assim, eu simplesmente sou e acabou. Eu sei que você está confusa, Laur, sou tua irmã e por mais que nos vejamos muito pouco durante o ano, eu conheço você. Sou mais nova e todas essas coisas, mas sou bastante madura. Você precisa se decidir logo, essa confusão toda só está fazendo mal pra você.

 Peraí, quando foi que aquela conversa havia se tornado sobre mim? Respirei fundo e desviei nossos olhos, olhando ao meu redor rapidamente.

 : - Eu sei que não vou conseguir ficar com homem nenhum se algum dia me separar de Camila, porque o que eu senti com ela, com uma garota, eu não senti com garoto algum.

 : - Então, Laur, assume para você mesma o que você já sabe, o resto é resto. Não tenha medo de ser quem você é ou quem talvez tenha se tornado.

 Veja bem, minha irmã mais nova do que eu era mil vezes mais madura e mais coerente. Por que diabos eu nasci antes dela? Passei a mão pelo rosto e me coloquei de joelhos na cama, encostando meus lábios em sua testa e selando um pequeno beijinho.

 : - Eu vou pensar, eu prometo. – Sorri dando beijinho na ponta de seu nariz. – E você me prometa que vai conversar com sua amiga, que o nome é? – Perguntei sorridente.

 : - Ashley. – Ela sorriu, os olhos brilhando.

 : - Ashley. – Repeti apenas para não esquecer. – Promete que vai falar com ela?

 : - Prometo.

 : - De dedinho?

 Eu disse erguendo meu dedo mindinho e Taylor rolou os olhos enquanto ria, envolvendo seu dedinho no meu. Aquilo era tão... Camila.

 : - De dedinho. – Ela negou com a cabeça rapidamente. – Você é uma criançona, Lauren. Camila só está piorando a sua situação.

 : - Cala a boca. – A puxei para um abraço apertado enquanto ainda ríamos. Ficamos daquele jeito por algum tempo. Taylor era o meu bebê, minha irmã mais nova, minha novinha bochechuda que eu protegeria com a vida pelo resto dos meus dias. – Eu te amo, Tay.

 : - Eu também te amo. – Com um beijinho no rosto ela nos separou. – Mas vamos à surpresa da Camila, certo? Eu não me esqueci.

 Taylor me lembrou eufórica, batendo palmas sobre a cama. Abri um sorriso enorme e me levantei, correndo até a mesinha ao lado para pegar o not.

 : - Pois bem, vamos lá. Procure o telefone para mim, tem que ser em Los Angeles, enquanto isso eu vou resolver outras coisas.

 : - É pra já.

 Ela disse rindo, erguendo a mão esquerda para que eu pudesse bater. Estiquei-me na cama e dei um tapa em sua mão erguida com a minha direita. Taylor e eu formávamos uma dupla e tanto.

 

Camila POV.

 : - Kaki. – Ouvi Sofia me gritar do banheiro, estava fuxicando o Twitter enquanto ela tomava um banho. – Kaki, vem cá.

Larguei o celular em cima da cama e andei em passos largos até o banheiro de Lauren, porque sim, eu havia me mudado para o quarto dela desde sua partida. Abri o vidro transparente que cercava o banheiro e encarei Sofia toda ensaboada com as mãos na cintura.

 : - O que foi, Sofi? Tira logo esse sabonete do corpo, se isso cair nos seus olhos você vai chorar por uma semana. – Levei a mão até o chuveirinho. – Fecha os olhos pra eu tirar a espuma do seu rosto.

 Sofi fechou os olhos e segurou com uma das mãozinhas na parede ao lado.

 : - Kaki... Pera, eu... Kaki, eu quero falar.

 Eu estava jogando tanta água no rosto dela para tirar o sabonete que a bichinha estava quase engasgando. Eu ri me abaixando para ficar mais ou menos em sua altura, coloquei o chuveirinho de lado e tirei um pouco do cabelo molhado que caía em seus olhos.

 : - Vamos lá, diga.

 Sofi olhou para baixo, metade do corpo gordinho livre da espuma. Ela analisou um local por um tempo, me olhou, analisou de novo e tornou a olhar. Era audácia minha imaginar que dali sairia merda? Não, né?

 : - Como é o nome disso aqui, Kaki?

 Ela ergueu o dedo indicador e tocou de leve o pequeno biquinho de seu seio esquerdo. Eu quis rir, mas acho que corei primeiro. Por que ela não estava perguntando aquilo para a mama? A obrigação de explicar aquelas coisas era dela, não minha. Mas como irmã mais velha...

 : - Isso se chama mamilo, Sofi.

 Eu disse erguendo o chuveirinho para terminar de lavar suas pernas.

 : - Por que eu nunca vi o seu? Eu vi o da mama, mas ela nunca me disse qual era o nome. Eu também nunca perguntei, mas eu pensei “Eu vou perguntar pra Kaki, ela deve saber explicar melhor.” Eu sei que todas as meninas têm peito, mas eu não sabia mesmo o nome disso.

 O vaso estava próximo? Porque se estivesse eu teria enfiado a minha cabeça dentro dele em questão de segundos.

 : - Você nunca viu o meu porque eu nunca fiquei pelada na tua frente depois que você cresceu, só quando você era pequenininha.

 Levantei-me e joguei água em seus cabelos, passando a mão para tirar o excesso.

 : - E o seu é igual ao meu? Nós somos irmãs, tem que ser igual.

 Ela disse distraída, aproveitando para cheirar os shampoo’s de Lauren enquanto eu terminava de enxaguar seus cabelos. Da onde aquela menina tirava aquelas coisas? A pior fase de uma criança é dos cinco aos dez anos, fase da descoberta é sempre uma bosta, eu sabia por que passei por aquilo, e você ai que está sentada também.

 : - Não, Sofi, o meu não é igual ao teu. Todas as garotas têm mamilos diferentes, ninguém tem igual. Assim como os seios e outras partes do corpo.

 : - Ah, queria que o meu fosse igual ao seu. E seu peito é maior, olha só o meu.

 Ela disse frustrada me fazendo rir. Desliguei o chuveiro e peguei a toalha pendura no vidro, colocando ao redor dela.

 : - Seus seios ainda vão crescer, não se preocupe com isso. Na verdade, esqueça isso, lembre-se apenas de brincar, não precisa se preocupar com isso agora.

 Eu disse me abaixando um pouco para pegá-la no colo, encerrando o assunto e a levando para o quarto. Eu conversaria com mama sobre essas coisas.

 Depois de ter Sofia arrumada novamente e de cabelos penteados, que eu fiz com muito gosto, desci para cozinha à fim de pegar algo para ela comer. Preciso comentar sobre uma coisa, aquela casa ficou estranha demasiadamente no final da tarde, uma movimentação esquisita que me fazia enrugar a testa. Sem contar o fato de eu estar sendo ignorada pelas meninas, ignorada entre aspas, vai, mas elas saíram com minha mãe e nem me chamaram. Está certo que Sofia não queria largar das minhas pernas, mas custava chamar?

 Entrei na cozinha e meu pai estava sentado no banco alto, os cotovelos sobre a bancada americana e nas mãos um jornal. Abri a geladeira e tirei uma jarra de suco.

 : - Papa, cadê a mama?

 Perguntei enquanto derramava um pouco do líquido dentro da caneca rosa de Sofia. Ele ergueu os olhos rapidamente para me olhar.

 : - Não sei, filha, ela estava aqui até pouco tempo.

 Ele comentou voltando para a sua leitura e eu ergui as sobrancelhas. Andei até a despensa, peguei um saco de salgadinho, um potinho da mesma cor do copo e despejei o conteúdo do saco bem ali.

 : - Se ela aparecer por ai diga que quero falar com ela, papa. Estou no quarto vendo filme com Sofia, ela não quer desgrudar nem dois segundos.

 Eu ri pegando o copinho rosa e girando sobre os meus calcanhares. Estava saindo da cozinha quando ouvi a voz risonha de meu pai.

 : - Ela é igual a você quando era pequena, Mila, não largava das minhas pernas nem para respirar.

 Eu sorri negando com a cabeça e andei de volta para a sala, subindo as escadas para chegar ao quarto de Lauren. E por falar em Lauren, ela havia me mandado uma última mensagem há mil anos dizendo que me ligaria e nada. Eu alimentaria Sofia, tomaria um banho e ligaria para perguntar o por que da demora.

 Entrei no quarto de Lauren e Sofia estava deitada na grande cama, o controle da TV nas mãos onde ela passava de canal rapidamente. Sentei-me ao lado dela e coloquei o potinho sobre o colchão.

 : - Toma, come tudo, não quero ver nenhum salgadinho ai.

 : - Kaki, isso é biscoito.

 Ela disse torcendo o nariz, pegando o copo da minha mão.

 : - Posso chamar de salgadinho em paz?

 Fiz cara de emburrada e ela riu.

 : - Pode, se te chamarem de burra na rua, não quero nem saber.

 : - Chata.

 Dei língua para ela e me inclinei para beijar sua cabeça. Depois de comer todo o biscoito, como ela havia dito e beber todo o suco, nos deitamos agarradinhas para assistir um filme. Ficamos ali por um bom tempo, duas horas para ser mais exata. Acabou que Sofia dormiu nos meus braços, tadinha, estava cansadinha depois de passar a manhã pulando em todos os cantos da mansão. Tirei meu braço debaixo dela com cuidado, beijei sua bochecha rosada e puxei o cobertor da cama para cima, a cobrindo até a cintura. Desliguei a televisão e caminhei para o banheiro, iria tomar um banho e ligar para Lauren. E mama, onde estava? E as meninas que nem a voz eu escutava? Se elas estivessem marcando de sair escondido apenas para não me levar por conta dos paparazzi’s, eu ia ficar muito brava.

 Tirei toda a roupa com calma e entrei embaixo da água quente, correndo o sabonete por meu corpo, fechando os olhos e lembrando do cheiro gostoso do corpo da minha namorada. Que saudades eu sentia dele, da pele macia que se arrepiava facilmente com meu toque, do sabor delicioso que ela tinha. Mordi os lábios e suspirei, me deixando ficar ali por um bom tempo apenas pensando... Nela. Depois do banho demorado, me sequei e vesti minha camisola preta de alcinha, ela era curtinha e tinha um pequeno lacinho no meio do decote. Eu não iria sair para nenhum lugar mesmo, então era bom adiantar a roupa de dormir.

 Andei até a mesinha ao lado da cama e peguei meu Iphone, digitando os números de Lauren. Coloquei no ouvido e comecei a andar pelo quarto enquanto chamava... Chamava... Chamava... Chamava e chamava. Mas que merda era aquela?

 : - Ótimo, além das minhas amigas e da minha mãe, até minha namorada resolveu me ignorar?

 Eu comecei a falar sozinha enquanto bufafa, abrindo o app do wpp para digitar uma mensagem.

 “Lauren, eu estou esperando a tua ligação a trilhões de anos. Eu estou com saudades, sabia? Se você não está, poderia me ligar mesmo assim apenas para dizer isso? Ao menos eu iria ouvir tua voz. Enfim.”

 Enviei a mensagem com raiva e levei a mão até o cabelo, deslizando os dedos entre as mechas. Olhei Sofia uma última vez antes de sair do quarto, fechando a porta quando passei. Desci para à cozinha e meu pai ainda estava lá, dessa vez usando o not. Sentei-me no banco de frente para ele e puxei um assunto qualquer, queria conversar com alguém, estava me sentindo sozinha.

 Ficamos batendo um papo gostoso por um bom tempo, falamos sobre um pouco de quase todos os assuntos do momento. Mas é claro que o ponto alto foi sobre o casamento gay, meu pai com sua teoria incansável de que eu tinha que me casar aos 27 anos, dizia ele que era uma idade linda para casamentos. Disse que Lauren e eu teríamos que morar perto, pois ele não iria tirar seus olhos de nós por nenhum dia se quer. Lauren... Meu pai gostava mesmo dela, seus olhos brilhavam quando ele me ouvia falar sobre ela. Isso era bom, não era?

 Estávamos rindo sobre uma coisa que vimos na internet quando ouvi passos, olhei para trás e dei de cara com Dinah. Na mão uma sacola e um sorriso estranho em seu rosto. Virei-me sobre o banco.

 : - Pensei que tivesse se mudado, está certo que a casa é grande, mas se esconder dentro dela já é sacanagem.

 Eu disse irritada e meu pai tossiu atrás de mim. Dinah sorriu sem graça e andou até a geladeira para pegar uma garrafa de água.

 : - Chancho, ninguém está se escondendo, apenas estamos programando uma saída.

 Eu não falei? Ela largou a garrafa sobre a bancada.

 : - Saída? E essa saída não está me incluindo, né? Olha, Cheechee, eu real...

 : - Mila. – Ela andou até a mim e segurou meu rosto entre as mãos, beijando minha testa. A sacola sacudindo em seu braço direito. – Você sabe que não pode sair, não sabe? Lauren disse que quer você dentro de casa e todos nós temos consciência disso. Não queremos sua noite sendo destruída por conta de paparazzi’s, eles são malucos e não queremos você estressada com isso. Então, até que estejamos trabalhando novamente, é bom que você fique aqui dentro de casa.

 Bufei rolando os olhos. No fundo ela tinha razão, mas eu não queria ficar sozinha, caramba!

 : - Está, enfim. Mas onde vocês vão? Mama também vai? – Perguntei sem rodeios.

 : - Vai. Vamos ao centro, dançar, comer, fazer qualquer coisa, a noite está boa para isso.

 : - É, e eu ficando em casa.

 : - Mila, sem reclamações. Se você e Lauren tivessem sido mais discretas, talvez você pudesse sair agora também.

 Meu pai disse sério atrás de mim e eu me virei para olhá-lo.

 : - Eu sei, papa, mas é que... Tudo bem, parei de resmungar.

 : - É o melhor.

 Ele me deu uma piscadela e voltou a atenção para o not. Olhei para Dinah e sorri triste.

 : - Vocês venceram. – Fiz beicinho e ela riu.

 : - Nós vamos voltar cedo, prometo. Agora deixa eu ir me arrumar. – Dinah beijou minha testa novamente e encheu um copo com água, o pegando em mãos antes de se virar de costas. – Se cuida, Mila.

 Dei de ombros e bufei, permanecendo ali em cima daquele banco, sozinha e emburrada.

 Pedi licença para o meu pai e voltei para o quarto, trancando a porta. O que me restava fazer? Deitar com Sofia, é claro. Acomodei-me ao lado dela e peguei o Iphone, entrando no Twitter e verificando outras coisas. O assunto principal do fandom ainda era sobre o meu relacionamento com Lauren. Perguntei-me quando que aquilo iria parar, e sabia a resposta: NUNCA. É sobre harmonizers que estamos falando, e sobre eles só posso dizer uma coisa: Não esquecem nada.

 Perdi a noção do tempo ali no Twitter, quando dei por mim já eram 23:10. Sofia ainda dormia profundamente, estava virada para o meu lado e a mãozinha na minha barriga. Sorri e acariciei seus cabelos, sentindo meu celular vibrar em meu peito. Ué, será que alguém no reino distante resolveu dar sinal de vida? Rolei os olhos e abri o wpp, estava mais irritada ainda porque nem de se despedir de mim minha mãe foi capaz.

 23:11 “Minha garota está acordada?”

 Juro que se Lauren estivesse perto de mim eu tacaria o Iphone na cara dela.

 23:11 “Acordada e muito brava, fique você sabendo.”

 Enviei erguendo o dedo indicador para coçar entre as sobrancelhas.

 23:12 “Não me faça dizer que você fica linda brava e muito mais, porque você sabe onde iremos parar.”

 Eu não queria sorrir, mas sorri. Não queria me derreter, mas... Não, não me derreti.

 23:12 “Não começa com tuas gracinhas, meu humor está péssimo e a culpa é tua, Jauregui. Você me deixou esperando o dia todo, caramba! Eu estou realmente puta.”

 Mordi o lábio inferior e suspirei, Sofia se mexeu rapidamente ao meu lado.

 23:14 “Ok, amor, pode ficar puta, mas enquanto isso dá um pulo lá no estúdio e vê se eu esqueci o carregador do meu celular por lá. Ele tem uma fitinha vermelha amarrada no fio. Eu estou tendo que usar o do Chris e já estou me irritando.”

 A filha da puta ficava o dia sem falar comigo, quando falava me desdenhava e ainda queria favor?

 23:15 “Vai se foder, Lauren. Eu estou reclamando e você pedindo favores. Pra isso você me responde, né? É assim? Ok, então.”

 Levantei puta da vida com o Iphone na mão e andei até a porta, abrindo e a fechando assim que passei por ela. E o cacete da luz do corredor, ninguém acendia mais?

 23:16 “Para de reclamar e vai procurar meu carregador, por favor. Se eu perdi essa merda terei que comprar outro.”

 23:16 “Eu vou quando eu quiser, para de me mandar fazer as coisas com pressa.”

 Respondi com birra quando cheguei ao final do corredor. Onde ficava mesmo a luz daquela merda? A porta do estúdio era acolchoada, coberta por um couro preto e brilhoso. Como ela era pesada, apoiei as duas mãos para empurrá-la, uma delas segurando o Iphone que vibrava com uma mensagem de Lauren. Quando abri a porta por completo, eu juro que meu queixo só não caiu em meus pés porque estava muito bem encaixada no lugar.

 : - O que...?

 Eu disse para mim mesma entrando no estúdio, a porta se fechando atrás de mim. Meu coração estava saltando a mil por hora, meus olhos estavam arregalados em surpresa, uma bela surpresa. Eu vou detalhar o que eu estava vendo.

 Uma cascata de pisca-piscas com luzes brancas desciam pelas paredes laterais até tocarem o chão. O centro do estúdio estava ocupado por uma mesa pequena e quadrada, tipo aquelas mesas japonesas onde temos que nos sentar no chão para ficar na altura certa. Uma toalha branca e brilhosa estendida sobre ela, duas velas vermelhas colocadas perfeitamente nas laterais em dois apoios de prata. Uma tigela do lado esquerdo repleta de morangos e uvas, ao lado da tigela transparente estava uma panela para fondue, que chamamos de ‘caquelon’, eu podia ver a pequena chama acesa embaixo esquentando o chocolate dentro dela.  Na ponta sul daquela mesa arrumadinha havia um prato branco e grande, talheres ao lado e uma taça um pouco mais em cima. E para completar todo o visual, meu notebook estava colocado perfeitamente no pólo norte da mesa, ligado, aberto no Skype, e eu podia ver pela web cam ligada a mesma decoração do outro lado, e eu sabia que aquele era o quarto de Lauren.

 Resfoleguei e tremi sobre minhas pernas ao engolir a saliva que havia se formado em minha boca. Eu não estava conseguindo assimilar o que via, meu coração queria sair pela minha garganta. Meu celular vibrou novamente em minha mão, eu a ergui com dificuldade para ler a mensagem.

 23:22 “Você aceita jantar comigo?”

 Eu posso te falar com toda a certeza que eu esperava por tudo, menos por aquilo. Não sei como tentar lhe explicar o tamanho da minha surpresa. Eu estava estática, eu estava... Ah! Lauren.

 23:23 “Pode responder falando, amor, eu estou ouvindo.”

 Mais uma mensagem. Eu fechei os olhos com força rapidamente antes de deixar um sorriso enorme e sem controle surgir em meu rosto. Dei três passos para frente, em direção à mesinha magnificamente arrumada.

 “Eu quero.”

 Eu disse em êxtase enquanto corria meus olhos mais uma vez por todo o local. As coisas estavam começando a fazer sentido.

 “Então sente-se, eu estou esperando para vê-la à tarde inteira.”

 A voz de Lauren inundou o ambiente, minha boca se abrindo quando eu a vi pela web, sentando-se atrás de uma mesinha igual a que eu tinha bem ali. Meus olhos arderam, ela estava linda, linda. A luz de seu quarto estava acesa, o local estava igualmente decorado, as mesmas coisas em cima da mesa, na mesma posição. Sem conseguir parar de sorrir eu me arrastei até a almofada preta colocada no chão, me sentando sobre ela em perninha de chinês. Sabe quando você não consegue acreditar no que vê, mesmo sendo verdade? Pois é.

 “Lauren, isso...”

 Eu comecei tentando dizer sem sucesso, minhas mãos trêmulas arrumando o meu cabelo. Se ela tivesse me avisado... Eu estava descabelada, de camisola. Minhas bochechas arderam. Meus olhos úmidos piscaram rapidamente, eu estava com o meu nível de emoção no máximo.

 “Nós vamos ter um jantar romântico essa madrugada, só eu e você. Via Skype, é claro.” 

 Ela sorriu no final da frase e eu desejei atravessar aquela tela para beijá-la. Seus lábios estavam cobertos suavemente por um batom vermelho, aquele que eu amava, seus cabelos presos perfeitamente sobre seu ombro direito, as mechas caindo por cima de seu seio. Eu só podia vê-la da cintura para cima, então identifiquei com olhos molhados a blusinha branca que ela usava, caída no ombro esquerdo. Mesmo de longe e pela web, eu podia enxergar a coloração intensa de seus olhos, verdes e brilhantes. Eu suspirei perdida, uma vontade absurda de me entregar à emoção daquela surpresa e choramingar a semana inteira com o complemento da saudade.

 “Tudo está perfeito.” Comentei a fitando intensamente. “Você... Eu nem sei o que dizer, sinceramente.”

 Funguei baixinho e sorri, passando as costas das mãos por cima dos olhos. Lauren mordeu o lábio inferior, curvando o corpo para frente levemente.

 “Não chora, amor. Eu fiz tudo isso para te ver sorrir, então, apenas sorria para mim. Eu quero todos os teus melhores sorrisos essa madrugada. Eu estou louca de saudades deles, de você. Apenas sorria.”

 Ela pediu sem tirar aquele sorriso magnífico dos lábios, e eu estava chorando que nem uma boba. O que eu poderia fazer se estava sensível? Eu estava sensível e depressiva e ela ainda me aprontava uma coisa daquelas, não tem mulher com emoções o bastante que aguente isso. Ri sem graça e mordi o lábio inferior.

 “Desculpe, é que não tem mesmo como não chorar com algo assim, ainda mais morrendo de saudades desse jeito.”

 “Eu sei, mas nós vamos matá-la um pouco, está bem?” Concordei com a cabeça. “Agora olha ai do teu lado, bem ai no chão.” Desviei meus olhos para o cantinho da mesa e sorri de orelha a orelha com o que vi. Lauren sorriu de volta. “São suas.”

 Mordi o lábio inferior e peguei em mãos o buquê maravilhoso de rosas vermelhas. Ela me fitava com olhos apaixonados enquanto eu levava as rosas até o nariz para cheirá-las. Meu coração em sacudidas sem fim, eu amava aquela mulher mais que tudo na minha vida.

 “São lindas.” Cheirei novamente, uma essência tão gostosa. “Eu mal consigo dizer o quanto”

 “Você é linda.” Eu vi quando os ombros de Lauren se ergueram, eu sabia que com aquele gesto ela estava suspirando. “E você está mais linda ainda com esse cabelo bagunçado, essa carinha de sono. Linda em todos os tons.”

 Agora adivinha? Eu corei, e corei intensamente enquanto colocava as rosas em minhas pernas.

 “Você e esse poder de me fazer corar mesmo a distância.” Nós rimos juntas. “E você está... Sem palavras. Sou mesmo uma garota de sorte.”

 “Uma garota que faz por merecer, eu diria.”

 A dei língua e ela me mandou um beijinho. Estava quase me colocando sobre a mesa para beijar a tela. Respirei frustrada. Lauren ergueu as mãos com o Iphone e digitou algo rapidamente, confirmei que não era para mim porque meu celular não vibrou.

 “Como você fez tudo isso? Estou morrendo de curiosidade. As meninas te ajudaram, não foi?”

 Perguntei sorrindo e ela riu enquanto largava o Iphone sobre a mesa.

 “Sim, ajudaram, eu não iria conseguir sem elas.”

 “Sabia.” Joguei minha cabeça para trás em uma pequena risada, estava claro que toda aquela movimentação estranha de mais cedo era por causa daquilo. Eu estava no quarto de Lauren o tempo todo, então não senti falta do meu notebook. “E como você fez? Conte-me.”

 Ela respirou fundo antes de começar a falar.

 “Não conto, coisas minhas.” Me deu uma piscadela “Tudo o que direi sobre é que o que você vai comer ai, eu vou comer aqui, o que vai beber ai, eu vou beber aqui, tudo exatamente igual. Assim vamos nos sentir um pouco mais perto.”

 E quando eu pensei que não poderia me surpreender mais com aquela mulher, ela deu a tacada final.

 “Você é surpreendente.”

 Eu disse perdida em um olhar apaixonado, agradecendo a Deus pela milésima vez por ela ser minha.

 “Eu amo você.”

 Ela respondeu com um sorriso de canto, onde eu iria respondê-la se a porta do estúdio não tivesse sido aberta. Olhei para trás e quem estava parada lá? Minha mãe, isso mesmo. Um prato e uma mão e uma garrafa de vinho na outra. A olhei incrédula enquanto ela se aproximava, um riso besta saindo da minha boca. Lauren ria do outro lado.

 : - Mama, até a senhora está metida nisso?

 Perguntei enquanto me afastava um pouco para que ela pudesse colocar o prato na minha frente, dentro do grande que já estava na mesa. A garrafa de vindo sendo aberta logo depois.

 : - Mama? Quem é mama? Hoje eu sou apenas uma serviçal, não sei quem é mama.

 Ela disse séria e eu olhei para Lauren, que ria alto do outro lado. Minha mãe era demais. Com calma ela virou minha taça e despejou dentro dela uma quantidade razoável de vinho, posicionando a garrafa no cantinho da mesa. Eu vi Lauren se levantar e começar a andar pelo quarto, observei com atenção ela colocando em cima da mesinha presente lá o mesmo que minha mãe colocou na minha.

 : - Você é perfeita.

 Eu disse para ela, segurando em sua mão antes de beijar. Ela sorriu doce, aquele sorriso maternal e atencioso.

 : - Não conte sobre isso para Alejandro, mocinha. É um segredo nosso.

 Dona Sinu me alertou apontando para a garrafa de vinho.

 : - Sim senhora.

 Bati continência e ganhei uma piscadela em resposta. Antes de se afastar ela se virou de frente e fez um sinal de positivo com o dedão para Lauren, que retribuiu da mesma forma. Nós rimos as três juntas e minha mãe logo se virou, saindo porta do estúdio a fora. Encarei Lauren abobalhada.

 “Vocês formam uma gangue e tanto, sabia?”

 “Tua mãe é a melhor sogra do mundo, amor.”

 Ela riu gostosamente enquanto me fitava. Neguei com a cabeça sorrindo e abaixei meus olhos para o prato. Posso dizer que minha barriga roncou no mesmo instante.

 “Lord! O que é isso?”

 Perguntei pegando o garfo ao lado do prato.

 “Isso se chama ‘Quiche Lorraine’ é uma comida francesa. A massa é bem simples, feita apenas de manteiga e farinha de trigo. O recheio que é ponto. Bacon, creme de leite fresco e noz-moscada. Uma delícia. Como acompanhamento uma salada verde bem temperada. O que você acha?”

 Pelo sorriso divertido de Lauren, ela sabia muito bem que minha boca estava salivando mais do que o normal. Engoli a saliva e tirei um pedaço com o garfo.

 “Eu acho maravilhoso, e eu vou comer agora mesmo, desculpe.”

 Ela riu alegre pegando um garfo ao seu lado, onde eu levei o meu rapidamente até a boca. Fechei os olhos para sentir o sabor com mais intensidade, e aquilo era...

 “Isso é delicioso. Deveríamos ter comido dele na França.”

 “Também acho, é de um gosto único.”

 Ao terminar a frase ela repetiu o meu gesto, comendo um pedaço. Eu não conseguia parar de comer e nem de olhá-la, enquanto ela me observava atentamente, comendo devagar, bebendo devagar. Como ela conseguia? Será que eu era a única esfomeada? Bebi um gole do meu vinho delicioso, diga-se de passagem, e me pronunciei.

 “Amor, onde você mandou comprar isso?”

 Perguntei curiosa. Ela sorriu bebendo um pouco, seu batom vermelho ficando marcado na taça.

 “Pedi para as meninas comprarem em um restaurante francês ai perto de casa, é o mesmo que tem aqui no centro de Miami.”

 “Bom saber, amanhã estou indo lá jantar.”

 Eu disse voltando a comer e ouvi a risada contente de Lauren, eu sabia que ela estava rindo a toa por eu estar comendo, e o melhor, ela estava fiscalizando. Não voltei a falar até terminar, no meu prato nem uma folha de alface havia sobrado. Peguei o guardanapo no cantinho da mesa e limpei os lábios.

 “Eu amo quando você come bastante, quando não deixa nada no prato. Só de pensar que você pode não estar se alimentando direito eu fico nervosa.”

 “Ei, eu estou comendo, ok? E não vamos falar sobre isso.”

 Pedi me inclinando um pouco sobre a mesa. Lauren sorriu e bebeu mais um pouco do vinho.

 “Ok, desculpe.” Colocou a taça no lugar e começou a passar a ponta do dedo indicador pelo contorno do cristal cintilante. “Você quer morangos? Aposto que o chocolate está bem quentinho. Coma um, eu sei que você ama.”

 Aquele tom no pedido dela me fez estremecer levemente, seu dedo indicador não parava ao redor da boca da taça, seus lábios separados em um sorriso. Aquela imagem era digna de uma moldura, se eu estivesse pensando rápido o bastante teria tirado um print.

 Peguei um morango na tigela transparente e molhei na panelinha de chocolate, deixando pingar um pouco sobre a toalha da mesa antes de levá-lo a boca para uma mordida. Nossos olhares não se desviaram, eu observei vibrante quando ela suspirou, aquele mesmo gesto passado de ombros se erguendo.

 “Não vai comer um? Você tinha razão quando disse que o chocolate está quentinho.”

 Passei a língua pelo canto dos lábios e mordi mais um pedaço. Suspirei em deleite, queria tanto estar provando daquilo na boca dela.

 “Eu não gosto de chocolate, você sabe... Prefiro lhe ver comer, vou me satisfazer como se estivesse comendo, acredite. Ele fica melhor sujando os seus lábios ao invés dos meus.”

 Ao terminar de dizer, ela ergueu a taça e bebeu mais um pouquinho de vinho. Eu não sabia se estava suspirando por conta do chocolate, do morango ou por causa da provocação que ela estava me fazendo. Ok, por causa da provocação.

 Sorri de lado completamente inebriada por aquela imagem e levei a mão até tigela novamente, dessa vez pegando uma uva. A molhei no chocolate e coloquei na boca de uma só vez, parte da calda ficou em meus lábios, onde eu rapidamente usei a língua para limpar. Bom, eu também sabia provocar. Lauren mordeu o lábio inferior antes de deslizar a ponta da língua por cima de seus dentes superiores, me fazendo arfar.

 “Você sabe o que causa em mim até comendo morangos?”

 Perguntou-me sorrindo, apoiando os cotovelos sobre a mesinha para se inclinar um pouco mais para frente.

 “Aposto que é o mesmo que você causa em mim enquanto bebe esse vinho.”

 Ela riu pelo nariz e abaixou a cabeça, negando rapidamente. Chupei um de meus dedos sujos de chocolate sem deixar de olhá-la, eu estava hipnotizada, as coisas que ela causava em mim com pequenos atos me faziam tremer insanamente.

 “Está me sentindo um pouquinho mais perto, agora?”

 Perguntou-me com os lábios pressionados, os olhos verdes repletos daquela saudade que me machucava por segundo.

 “Estou, amor. Ainda tenho saudades, mas posso te sentir bem mais perto.” Me inclinei na mesa assim como ela, meus braços me apoiando. “Obrigado por ter feito tudo isso, você é maravilhosa, me surpreende todos os dias, sempre se supera. Não sei como dizer o quanto te amo.”

 “Eu também te amo, Camz, se eu puder te surpreender todos os dias só para ver esse sorriso em teus lábios, eu farei. Você é minha base, ok? Meu apoio moral e físico, o que eu sinto por ti ninguém nunca vai sentir igual.”

 Se ela queria me deixar emocionada de novo, conseguiu. Seus olhos também estavam marejados, eu percebi pelo brilho intenso. Eu sabia que se continuássemos nos encarando iríamos acabar chorando, chorando de saudade. Fazia menos de uma semana que ela havia partido, mas uma noite longe dos braços dela para mim era um martírio. Lauren suspirou e ergueu as costas, fechando os olhos rapidamente.

 “Volte para perto, Lo, me deixe ver seus olhos mais um pouco”

 Pedi manhosa e ela sorriu para mim.

 “Espere, eu vou cantar uma música que escolhi a dedo pra você, me permite? Não tem acompanhamento e nem nada, apenas a minha voz e a letra.”

 E ela ainda precisava pedir permissão para cantar pra mim? Abri um sorriso de orelha a orelha.

 “É claro que eu permito, Lo. Sua voz não precisa de acompanhamento nenhum para ser perfeita, ela é mágica por si só.”

 Foi a vez dela de corar, observei com o coração vibrando suas bochechas ficarem vermelhas. Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha completamente ansiosa. Ela voltou para a posição anterior, inclinada, seus olhos bem perto, seus lábios cobertos pelo batom vermelho me fazendo suspirar. Queria tanto tocá-la, tudo o que me impedia era aquela maldita tela.

“Eu vou cantar baixinho, só pra você, chegue mais perto para ouvir.”

 Ela pediu e eu quase enfiei minha cara na tela, ficando tão próxima quanto ela. Nossos olhares conectados, até mesmo a tela quente no notebook não podia impedir a intensidade do momento. Ela sorriu e fechou os olhos antes de começar a cantar a música que embalaria meus sonhos pelo resto da semana.

“Sabes, no pido nada más

Que estar entre tus brazos

Y huir de todo el mal

Que a todo he renunciado

Por estar junto a ti”

(Sabe, não peço nada mais que estar entre teus braços, e fugir de todo o mal que tudo há renunciado por estar junto a ti)

Meu coração intensificou as batidas quando eu reconheci a música, tanto tempo que não escutava, e naquele momento era na voz profunda de Lauren que a canção me emocionava. Ela abriu os olhos para me fitar, a boca movendo-se perfeitamente quando ela continuou depois da pausa própria da música.

“Sabes, no dejo de pensar

Que estoy enamorada

Te quiero confesar

Que soy solo um esclava

Que no sabe vivir sin ti”

(Sabe, não deixo de pensar que estou apaixonada, e quero confessar que sou só uma escrava que não sabe viver sem você)

Meus olhos estavam abarrotados de lágrimas, eu queria piscar rapidamente para que elas caíssem, mas não queria perder nenhum segundo da visão que tinha do rosto de Lauren tão perto, tão perto e tão distante.

“Cuando llegaste tu

Te metiste em mi ser

Encendiste la luz

Me llenaste de fe

Tanto tiempo busque

Pero al fin te encontre

Tan perfecta como te imagine”

(Quando você chegou, entrou no meu ser, acendeu a luz, me encheu de fé. Tanto tempo busquei, mas ao fim te encontrei tão perfeita como te imaginei)

 Ela cantou o refrão tão emocionada quanto eu, podia sentir todas as gotas de intensidade no tom de sua voz, no brilho de seus olhos mais verdes do que nunca. Peguei uma das rosas do buquê em meu colo e levei até o nariz, cheirando como pudesse preencher a falta dela em meu peito.

 “Sabes, te quiero confesar

Que te encuentro irresistible

No dejo de pensar

Que haria ló imposible

Por quedarme cerca de ti”

(Sabe, quero te confessar que te encontro irresistível, não deixo de pensar que faria o impossível para ficar perto de você)

Eu também faria, eu também faria o impossível para ficar perto de você. Foi tudo o que pensei, estava desesperada para dizer. Meu coração batendo na cabeça, meu corpo tremendo e uma vontade louca de sair pelas ruas de Los Angeles a pé até que a tivesse sob a minha visão novamente.

Logo ela estava cantando o refrão de novo, os olhos fechados naquela expressão profunda de quem canta com o coração. Aquela voz maravilhosa puxando o tom fino até o mais grave, meus pelos eriçando-se em cada nota, em cada palavra. Lauren era a melhor pessoa que eu já havia escutado cantar na vida, e não digo isso apenas por amá-la, mas sim por ser a verdade. Ela era completa, todos os traços e todos os pontos. E Deus, quando ela cantava em espanhol... Era como andar descalça em veludo, uma sensação digna de ser vivida para sempre.

“Sabes, no pido nada más

Que estar entre tus brazos.”

(Sabe, não peço nada mais que estar entre seus braços)

A última frase daquela música do “Reik” foi cantava como um lamento, um choro, um pedido sufocado pela distância, uma agonia tão grande que eu fechei meus olhos para deixar que as lágrimas que me cegavam caíssem. Respirei profundamente, meu corpo tensionado. Eu podia estar chorando de saudades, mas também estava de felicidade. Porque era aquilo o que ela me causava, um misto inimaginável de sentimentos que acabavam sempre escorrendo por meus olhos, fossem eles felizes ou tristes.

 Lauren abriu seus olhos e me encarou, ela se inclinou mais ainda para frente e selou um beijo em cima da tela do not, me fazendo sorrir entre lágrimas. Seus lábios lindos em um biquinho bem na câmera. Eu ri de forma apaixonada e sabia o que ela estava fazendo, estava esperando que eu fizesse o mesmo, pois permaneceu na mesma posição. Inclinei-me sobre a mesa com a pequena rosa na mão e fiz um biquinho sobre a câmera do meu not, selando da mesma forma que ela. Depois de repetir o gesto duas vezes, voltamos para a posição de antes entre risadas leves, onde observei com nostalgia ela limpar o canto dos olhos molhados. Daria o mundo para abraçá-la.

 “Você me faz feliz mesmo quando eu quero gritar de agonia por estarmos longe. Eu só posso agradecer tudo isso dizendo que te amo muito.”

 Eu resfoleguei umas duas vezes antes de tornar a falar, mas na verdade eu estava apenas citando, citando o trecho de uma música que cabia perfeitamente para o momento, e que responderia com todas as letras o que eu estava sentindo, assim como ela fez comigo.

“A varios cientos de kilómetros

Puede tu voz darme calor igual que un sol

Sé que seguir no suena lógico

Pero no olvido tu perfume mágico

Y en nuestro encuentro telefónico

He recordado que estoy loca por ti”

 (A centena de quilômetros sua voz pode me aquecer como um sol. Sei que seguir não seria lógico, mas não esqueço seu perfume mágico, e este nosso encontro "telefônico" me lembrou que estou louca por ti)

Aproximei-me quando ela fez o mesmo, o castanho de meus olhos no verde dos dela, naquela troca de olhares mais antiga que o mundo.

 “Que todo el mundo cabe en el teléfono

Que no hay distancias grandes para nuestro amor

Que todo es perfecto cuando te siento

Tan cerca aunque estes tan lejos”

 (Que o mundo todo cabe num telefone, que não há distâncias grandes para o nosso amor. Que tudo é perfeito quanto te sinto tão perto ainda que esteja tão longe.)

Ela fungou, seu rosto torcido naquela expressão que eu amava. Tanto eu quanto Lauren sabíamos no fundo que nada e nem ninguém poderia ser grande o bastante para nos fazer desanimar, fosse os quilômetros, o preconceito ou a hipocrisia. Éramos nós contra o mundo, quem é que poderia dizer que não iríamos vencer? O céu poderia cair ao meu redor, mas a minha certeza continuaria a mesma: Eu lutaria por ela.



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