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História Fenestra - Capítulo I


Escrita por: Nevertheless

Notas do Autor


Olá, bru aqui! Trazendo uma nova fic completamente não programada.

Primeiro de tudo, gostaria de dizer que toda a culpa desse enredo é da Luiza, uma grande incentivadora de plots BaekSoo. Sendo assim, eu fui uma mera (escrava) escritora que ficou encantada com a ideia de escrever esse couple love-hate que tanto gosto <3


A capa também foi feita pela Lulu! (Obrigada por tudo, espero que tenha ficado como você tinha imaginado <3)

Como sei que o couple não é muito comum, espero que a fic agrade mesmo a quem não shippa Baekhyun/D.O. Os eventuais errinhos que eu for encontrando serão arrumados ;;

Sem mais enrolações, boa leitura <33

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Capítulo 1 - Capítulo I


Fanfic / Fanfiction Fenestra - Capítulo I

 

 

Não fazia muito tempo desde que, depois de muito esforço, consegui sair da casa de meus pais e procurar um lugar para chamar de meu. Minha mãe era definitivamente contra, mas acho que me compreendeu quando citei mil e um motivos para a mudança: primeiro, o emprego que consegui ficava a uma distância tão grande que o trajeto de ônibus era mais cansativo do que todas as tarefas novas que assumi naquela empresa. Segundo, era difícil ser independente e viver da forma que eu desejava quando tinha minha mãe chamando “Kyungsoo, Kyungsoo, Kyungsoo” a todo o momento, e cuidado de mim incansavelmente. Já era hora de sair do ninho. Então, assim que encontrei aquele condomínio pequeno a três quarteirões do meu trabalho, sabia que seria ali que eu começaria uma nova etapa da minha vida.

 A vizinhança era pequena e a maior parte das casas era ocupada por solteiros ou casais novos e sem filhos. As casinhas eram modestas e todas pintadas com o mesmo verde claro, criando um belo contraste com as janelas grandes e brancas. Algumas estavam descascadas pelo tempo, mas nada que uma nova pintura não melhorasse sua aparência. Todas as seis casas ficavam espremidas e grudadas uma na outra, criando uma sequencia de janelas e portas idênticas e charmosas.

Assim que me mudei para lá, pude me sentir finalmente em casa. Eu gostei do lugar no mesmo instante, apesar da privacidade ser um problema. Quando a janela estava aberta e sem presença de cortinas, todos os vizinhos conseguiam espiar o que estava acontecendo ali dentro, já que a distância entre as casas era realmente a mínima possível.  Por muitas vezes fui cuidar das pequenas plantas que ficavam no parapeito da minha janela e acabei olhando diretamente para dentro da casa do vizinho. Uma ou duas vezes esqueci a janela aberta e sei que alguém me viu circulando pela casa sem calças.

Baekhyun já vivia no condomínio quando eu cheguei.

Acho que ele foi um dos primeiros vizinhos a me cumprimentar e conversar comigo sobre como as coisas funcionavam no condomínio – mesmo não sendo segredo para ninguém. Só depois que nos tornamos amigos ele me contou que só estava sendo simpático comigo porque meus olhos pareciam assustados e perdidos (“Não Baekhyun, meus olhos são assim mesmo”). Apesar disso, fiquei feliz em ser recebido daquela maneira já que não sou muito chegado a sair conversando com quem não conheço. Depois de dois anos de convivência e uma insistência muito grande em saber mais sobre mim, Baekhyun se tornou um grande amigo.

Com a intimidade, o mais velho passou a abusar da minha amizade e pegar no meu pé apenas para me ver bravo ou irritado com ele, algo que o divertia até que seu rosto estivesse repleto de lágrimas. Lembro que um dia ele convidou diversos amigos de sua faculdade para sua casa e me chamou para conhecer todos eles. Ao final da festa, ofereceu a minha (!!!) casa para que alguns deles passassem a noite, o que me deixou completamente desconfortável. E ele ria descaradamente da minha expressão de desagrado!  

Tive sorte porque os dois garotos eram legais e 1) não roncavam tanto quanto o Baekhyun e 2) não vomitaram no tapete da minha sala (apesar do loiro simpático parecer prestes a isso). E, claro, eu pude me vingar de Baekhyun o torturando até que pedisse desculpas por me fazer passar por aquilo.

Depois desse dia e mais alguns, os amigos de Baekhyun se tornaram meus amigos também, o que me deixou contente de várias maneiras. Além de estar me virando bem na minha própria casa, fazendo um ótimo serviço em meu emprego, eu ainda tive a oportunidade de fazer novos amigos.

 

✖✖✖

 

Em algumas das reuniões que fizemos na casa de Baekhyun, o mais velho insistia em fazer brincadeiras e jogos constrangedores. Enquanto ele e seu amigo gigante imitavam animais no jogo de adivinhação, eu ria da forma como seu rosto parecia sempre feliz e sua língua sempre pronta para soltar uma piada. Ao contrário de muitas pessoas que conheci, ele tinha um senso de conforto que eu não tinha com ninguém. Claro que as brincadeiras que Baekhyun fazia comigo as vezes me irritavam, mas era só uma pequena parte do que nós éramos.

Eu contei muitos segredos para ele na noite em que bebemos mais do que deveríamos. Baekhyun me contou de seus sonhos e sua vida e eu percebi que éramos parecidos em tantas coisas que me senti estranhamente feliz. Coincidências me deixavam crente de que havia mais pessoas no mundo que pensavam como eu, o que era bom. Quando Baekhyun dava uma pausa em seu papel de brincalhão da turma, as nossas conversas fluíam em seriedade e em corações abertos para grandes sinceridades.

Só ao seu lado eu me sentia tranquilo de todas as formas possíveis.

Em algum momento entre o outono e a primavera, meus olhos se tornaram escravos de Baekhyun. Foi nesse período que passei a reparar em suas feições e seus traços, na forma como os casacos cobriam o seu rosto e em como o vento bagunçava seus cabelos. Baekhyun foi ruivo por alguns meses e, apesar de dizer que não tinha gostado da cor, me peguei com saudades dos fios brilhantes que contrastavam com sua pele branca. Eu não sabia exatamente o porquê, mas passei a observá-lo com mais cuidado todos os dias, adorando principalmente a forma com que qualquer detalhe diferente poderia mostrar um novo Baekhyun todos os dias.

E me peguei o espiando pela janela do quarto mais vezes do que eu mesmo poderia entender.

 

✖✖✖

 

Em meados de Maio, o sol já brilhava com força por toda a cidade e deixava o clima às vezes ameno e às vezes extremamente quente e insuportável. Trabalhar de roupa social era um dos meus maiores problemas nessa época do ano, onde só de respirar com um pouco mais de força, eu já sentia minha nuca ficando úmida. Mesmo com o ar-condicionado ligado enquanto digitava e organizava os processos da empresa, eu só conseguia imaginar o quão bom seria estar no conforto da minha casa, sem as incomodas calças ou qualquer outro tecido sobre a minha pele. 

Naquele dia, lembro-me de que passei em minha mãe para mostrar a ela que estava vivendo bem e ainda não tinha morrido de fome ou me intoxicado com minha própria comida. Ela havia lavado algumas roupas minhas, que levei para casa e deixei para organizar depois de um banho frio. As janelas abertas deixavam que o ar quente da casa fosse trocado pela brisa do fim de tarde, muito mais fresca.

Quando o dia estava chegando ao fim, subi para meu quarto para ler um livro antes de dormir. A brisa que vinha da janela havia levado o calor para longe do lugar, me fazendo desejar que ela nunca fosse fechada. Talvez tenha sido a melhor decisão que havia tomado naquele dia, já que não poderia imaginar o que encontraria através dela.

Não era de espiar pela janela por muito tempo e, pelo tempo que vivi ali, sabia que era uma mania comum. E parece que, com Baekhyun sendo meu vizinho, essa se tornou a minha mania também, mesmo que quisesse evitar ao máximo. A janela sem cortinas poderia ter sido ignorada por mim, mas por algum motivo, resolvi olhar para fora e apreciar a brisa diretamente contra meu rosto. Assim que apoiei os braços no parapeito, dei de cara com a janela do quarto de Baekhyun, que ficava exatamente na mesma altura da minha.

Não sei se falei ou estou sendo repetitivo, mas diferente das janelas frontais da casa, as laterais tinham uma distancia ridiculamente pequena entre uma e outra. Daquela distância, eu conseguia visualizar cada detalhe do quarto de Baekhyun quase como se eu estivesse dentro dele. A luz acesa foi à primeira coisa que me prendeu a atenção, já que era tarde para que ele estivesse acordado. Mais do sua escrivaninha visivelmente desarrumada e sua atenção voltada para a tela do computador, os sons que dali vieram me paralisaram no mesmo lugar.

Baekhyun gemia.

Sonoro e manhoso.

As pessoas costumam julgar, talvez pela minha aparência, que sou lerdo e inocente, mas de certa forma elas estão completamente erradas. Não precisei me esforçar muito para entender que Baekhyun estava se masturbando lentamente diante da tela do computador, onde um filme com diversos gemidos se misturavam ao seu sonoro arfar. Seu cabelo estava uma completa bagunça e me perguntei se ele havia começado aquilo deitado na cama ou em qualquer lugar que fizesse suas costas arquearem. E eu via cada movimento com uma riqueza de detalhes que me fizeram crer que o mundo ao meu redor ficou mais lento do que o normal.

A mão descia e subia lentamente, e eu contemplava a forma como os músculos de seu  braço se contraíam em cada movimento. Um segundo depois, os movimentos ficaram cada vez mais velozes e os músculos e as veias mais aparentes do que nunca. Perguntei-me se ele estava próximo do orgasmo e se o que ele estava vendo era realmente tão bom para que os olhos de Baekhyun se fechassem. Meu baixo ventre formigava de forma estranha e eu me perguntava se estava sendo afetado por aquela cena tanto quanto Baekhyun pelo filme.

Engoli em seco.

Eu estava me perguntando coisas demais.

Depois do que pareceram décadas, ouvi um gemido tão arrastado que suspirei e me obriguei a dispersar minha atenção de Baekhyun, correndo dali como se eu nunca tivesse flagrado nada daquilo. Porém, os sons da tela prenderam a minha atenção novamente. Como eu disse, a distância entre nossas janelas era tão ridícula que até mesmo aquilo eu conseguia enxergar, mesmo que não muito bem. Ao contrário do que imaginei no começo, fiquei surpreso ao perceber que o filme não era um pornô comum a qualquer homem da minha idade, mas sim o de dois homens que pareciam saber exatamente o que fazer para satisfazer o outro.

Minhas pernas tremeram.

Desde quando aquele formigamento pelo meu corpo estava ali?

E desde quando Baekhyun se masturbava com pornô homossexual?

Ele era gay?

E , por deus, por que eu estava me questionando tantas coisas novamente?

Assim que senti algo estranho em meu próprio corpo, retomei o controle de meus olhos e fechei a janela. A ideia era que nenhum barulho fosse emitido, mas a pressa e o desespero de minhas mãos fizeram com que ela batessem em um estrondo alto. Respirei e expirei mais de cinco ou dez vezes até que meu corpo parasse de tremer daquela maneira. Por mais que eu tentasse esquecer, a visão que presenciei não ia embora com meus suspiros. 

Resolvi tomar outro banho antes de dormir, mas assim que fechei os olhos, foi como se eu tivesse aberto a janela novamente.

 

✖✖✖

 

 

Não tive coragem de encontrar com Baekhyun no dia seguinte.  

Nós dois sempre saíamos para o trabalho mais ou menos no mesmo horário, mas assim que acordei – de uma noite mal dormida - corri com as tarefas para sair o mais cedo possível e não esbarrar com ele no portão. Todo o caminho até o fim da rua me deixou nervoso e eu me senti como um fugitivo completo.

Não havia parado pra pensar porque estava agindo daquela maneira.

Acho que meu chefe foi o único que gostou da minha atitude. Ao longo do dia, eu me distraia com lembranças da noite anterior e esquecia o que estava fazendo assim que aquelas perguntas voltavam a me incomodar. E mesmo que tenha sido a coisa mais natural de se acontecer a um homem solteiro e que morava sozinho, toda a questão em torno da sexualidade de Baekhyun me incomodava mais do que o normal.

Sim, nós éramos amigos e nos conhecíamos a tempo suficiente para que alguns segredos fossem compartilhados. Eu sabia que tipo de comida ele gostava e as frases cheias de frescura que usava sempre que queria pedir algum favor. Ou me provocar. Ele sabia o que me deixava bravo e o que me deixava só incomodado. Tínhamos amigos em comum e compartilhávamos o mesmo gosto de música e eu amava isso, apesar de ele insistir que eu deveria emprestar todos os CDs que eu tinha.

Uma dor de cabeça insuportável me forçou a ir com calma com todo o trabalho, o que me deixava mais propício a encarar meus sentimentos.

Parei o texto que digitava e revirei mentalmente nossas conversas de anos atrás. Nunca esse tópico surgiu entre nós dois, mesmo que eu soubesse que ele havia namorado uma pessoa antes de mudar para aquele condomínio. Ele não mencionou se era homem ou mulher. Ok, eu confesso que sempre achei estranha a forma com que ele vivia agarrando seus amigos, mas o que antes era só uma demonstração de carinho pareceu para mim um sinal oculto de sua sexualidade. E era algo que eu nunca havia reparado ou me preocupado em saber.

Mas, por algum motivo, naquele momento me despertava uma curiosidade dolorosa.

Depois de um ou dois remédios, pelo menos a dor de cabeça me deu uma trégua enquanto o ecoar dos gemidos de Baekhyun não sumiam de meus ouvidos.

 

 

O dia passou tão rapidamente para uma sexta-feira que talvez aquela fosse a primeira vez que eu não estava tão ansioso para ir para casa. Fiz o caminho mais longo e decidi que passaria o final de semana trancado dentro de casa em silêncio, como se não houvesse ninguém ali. E então eu tive uma sensação de que evitar Baekhyun por um tempo me faria superar a cena que presenciei.

A única ideia que me consolava era a de que as coisas melhorariam se eu mantesse uma distância razoável do meu amigo por um tempo. Nada radical, mas o suficiente para que eu esquecesse tudo aquilo e não acabasse lhe perguntando alguma coisa que poderia ser entendido de fora ... errada.

O plano já estava tão pronto e certo que foi algo extremamente perturbador quando cheguei ao portão do condomínio e me dei conta que havia esquecido uma parte importantíssima da minha ideia de sumir por um tempo.

Como consequência da minha pressa para sair naquela manhã, esqueci as chaves do portão do condomínio na minha mesa.

Droga.

As chaves eram individuais e únicas. Naquele horário não havia ninguém no condomínio que poderia abrir o portão para mim, já que o único funcionário que tínhamos já havia ido embora. E eu não tinha amizade com ninguém dali para pedir por aquele favor.

A não ser para Baekhyun.

“Tem que ter outra maneira” pensei alto, olhando fixamente para a grade alta que me separava do meu refúgio. Fiz pelo menos três cálculos do que eu precisaria para pular a grade e cair do outro lado do condomínio sem espantar os vizinhos ou rachar minha cabeça na queda. Assim que eu pulasse, eu poderia segurar nos ferros e descer devagar até o chão, mas lembrei de que não tinha força nos braços para aguentar meu próprio peso.

Definitivamente eu ia quebrar pelo menos um osso. Dali pra frente só escolhi qual deles faria menos falta nas semanas em que eu ficaria de gesso.

“Hey!” Ouvi alguém se aproximando de mim e me neguei a virar o rosto quando a risada conhecida atingiu cada milímetro dos meus músculos. Baekhyun estava do lado de fora do condomínio e pelo cheio que vinha de onde ele parou, carregava uma sacola com comida e pães.

“O que está fazendo parado do lado de fora?” Perguntou, e foi só então que virei o rosto em sua direção para logo me arrepender.

Seus cabelos estavam bem penteados em um topete, o que me remetia ao jeito que ele saia de casa para trabalhar. Porém, não parecia ter saído do serviço naquela hora, pois vestia jeans confortáveis e uma camiseta branca bem larga e sem mangas. Eu posso dizer que primeiramente me surpreendi por estar reparando em tantos detalhes de Baekhyun, já que a forma que se vestia ou seu sorriso quadrado nunca me despertaram tanto interesse como naquele segundo.

“E-eu esqueci a ... chave” respondi, a voz saindo um tanto rouca e trêmula. Baekhyun arqueou as sobrancelhas de uma forma enigmática, e passou em minha frente para abrir o portão para nós dois. O cheio da sacola fez meu estômago roncar e Baekhyun rir alto de mim.

“Quer almoçar em casa? Já que você chegou agora eu sei que vai demorar pra você cozinhar alguma coi—“

“Não, eu estou bem” Respondi. Baekhyun encarou-me com certo espanto com a minha rispidez gratuita e eu desviei o olhar, incapaz de manter-me controlado quando as lembranças de sua expressão entregue a luxúria invadiram os meus pensamentos. Eu nunca me recusei a almoçar com ele porque todos os almoços que ele comprava eram porções maiores para que alimentasse a nós dois. Então senti naquele momento que estava me comprometendo de alguma forma.

“Ok então, sobra mais” Disse, e eu aproveitei sua distração para desviar do caminho e seguir para casa. Antes que eu abrisse a porta, ouvi Baekhyun convidando-me para alguma coisa, mas no impulso entrei e fechei a porta antes que ele terminasse a frase.

Aquela minha reação foi realmente ruim, e Baekhyun era curioso demais para deixar a minha atitude passar em branco. Mesmo que eu não fosse o seu amigo mais carinho, nunca o tratei com aquela frieza e indiferença e nem mesmo entendia porque estava agindo daquela forma.

Minhas mãos suavam mais do que o normal.

Fui para a cozinha dizendo a mim mesmo que dois dias longe da vista de Baekhyun seria o suficiente para que meu desconforto passasse.

 

 

Algumas horas depois, minha campainha tocou e ecoou por toda casa.

Eu não recebia visitas e nem ao menos estava apresentável para isso, então ignorei o som enquanto me concentrava em um programa musical na TV. Certamente era Baekhyun e não, eu não iria atendê-lo. Quando as batidas passaram a ser mais insistentes que a campainha em si, desliguei o aparelho e fingi que não havia ninguém em casa (essa estratégia sempre falhava, mas eu não cansava de tentar usá-la como último recurso).

Acho que até minha mãe poderia ouvir meu suspiro aliviado quando as batidas cessaram e eu estava novamente imerso no silêncio da minha casa. O plano parecia estar caminhando para um resultado, e logo Baekhyun entenderia que eu precisava do meu espaço (sem que eu revelasse os motivos, claro). Porém, quando achei que estava livre para ligar a televisão novamente, ouvi o telefone tocar.

Esperando ouvir a voz de meus pais, quase deixei o telefone cair quando aquele timbre conhecido fez meu coração disparar.

“Atende a porta, Soo!” O susto que tomei quando ouvi Baekhyun do outro lado da linha quase fez o telefone cair de minhas mãos. Claro que ele não iria desistir tão fácil assim!  

“Estou sem calças” até hoje não sei o motivo pelo qual disse isso a ele, mas as palavras escaparam como a única forma de dar uma desculpa do por que eu o ignorei Um pequeno riso preencheu meus ouvidos, e Baekhyun desprendeu um tom de voz que parecia aliviado.

“Duur, eu sei disso assim como sei que você deve estar assistindo algum programa musical. Só me atenda rapidinho pela janela então, ok? Tchau Dodo”.

Eu odiava aquele apelido mais do que tudo na minha vida! Uma vez Baekhyun ouviu minha tia chamando-me dessa forma e passou a usá-la sempre que pudesse me provocar. Duas batidas na janela e meu coração, que antes palpitava rápido, parou por alguns segundos enquanto meu corpo ainda não se movia.

Ok, talvez não fosse tão fácil assim longe de Baekhyun.

“Olá, que bom ver você de novo!” Baekhyun já não estava com as mesmas roupas de horas atrás. Desviei o olhar antes que meu rosto me traísse e lhe mostrassem o quanto aquela calça jeans branca deixava suas coxas um pouco mais salientes do que se era saudável. E eu realmente gostava da camiseta xadrez que ele estava vestido, e imaginava que ninguém ficaria tão belo quanto ele.

Olhar para mim já não era uma opção, e sim uma tortura.

E eu respirava várias vezes enquanto implorava por não estar fazendo uma careta qualquer. Eu odiava não disfarçar tão bem as minhas reações.

“Mais tarde a turma vem em casa jogar videogame e ver uns filmes. Você vem, certo?”

“E-eu não sei...” respondi com sinceridade, focando na situação social em si e no fato de passar bastante tempo no mesmo espaço que Baekhyun. Sabia que ele poderia ser insistente nesse assunto, então completei com algo que o deixasse feliz sem ser completamente verdade. “Acho que sim. Passo lá quando eles chegarem”.

“Ok. Venha mesmo senão venho te buscar mesmo sem suas calças” riu de como meus olhos provavelmente registraram suas palavras como algo que ele realmente faria.  “não fuja” Baekhyun disse, e eu acompanhei seus passos até que a se porta fechasse e me deixasse como um bobo olhando pela janela.

Alguma coisa definitivamente estava errada e eu não sabia dizer se era comigo ou com ele.

 

✖✖✖

Chanyeol e Jongdae são os melhores amigos de Baekhyun e sempre passam mais tempo na nossa vizinhança do que em suas próprias casas. As reuniões que Baekhyun costumava fazer já eram comuns a mim, e sua casa sempre criava um ambiente em que todos se sentiam confortáveis. Meu vizinho sempre foi um excelente anfitrião e eu sabia disso por experiência própria. Aquela comida que vi em sua sacola se triplicou no horário da reunião, e o videogame e o violão de Chanyeol viraram a atração principal da noite.

Entre uma partida e outra, todas aquelas sensações estranhas que me perturbaram durante todo o dia começaram a evaporar aos poucos. Talvez fosse porque eu estava super concentrado em vencer Jongdae na partida de luta, ou talvez porque a ideia de que Baekhyun tinha alguns segredos e preferências já não me incomodava tanto. Nós éramos amigos de fato, mas ele não precisava contar para mim todos os seus segredos, porque eu mesmo não contara a ele sobre ... minhas experiências. Sendo assim, ele poderia levar tempo para tocar nesse assunto.

Confortar-me com minhas próprias palavras deixava meu corpo mais calmo, mesmo que, no fundo, não fosse apenas isso que me deixava inquieto.

Quando perdi para Jongdae e Chanyeol tomou meu lugar, Baekhyun se aconchegou ao meu lado e envolveu meus ombros com uma de suas mãos, puxando-me pra perto. Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, senti o mais novo sentando em meu colo, seu quadril chocando-se com a minha pélvis no mesmo instante. Senti uma pontada no peito e, no mesmo segundo, meu corpo enrijeceu ao toque de nossas peles. Meu rosto ficou sério. Eu fiquei muito sério. Acho que ele não reparou de imediato, já que os olhos estavam fixos na televisão e nos gritos de apoio a Chanyeol, mas eu senti um arrepio novo e diferente percorrer minha espinha.

Os segundos se tornaram milênios.

E minhas mãos suavam.

Em uma reação quase impensada, eu o afastei com um empurrão nada delicado, fazendo com que Baekhyun quase caísse do sofá. Seu rosto me encarou com espanto, quase fazendo com que eu me sentisse culpado pela força que usei contra ele. Afinal, era até comum eu recusar os carinhos que Baekhyun costumava me dar, mas a forma com que recusei foi totalmente sem sentido para mim e para ele.

E isso eu tive certeza de que Baekhyun não deixaria passar.

Aquele olhar fez com que o meu estômago revirasse. Desejei inventar uma desculpa qualquer e sair correndo para minha própria casa, mas Chanyeol começou a conversar com nós dois e foi o suficiente para que a troca de olhares e a situação de rejeição que eu criei ficassem menos constrangedoras. Eu não gostava como Chanyeol aparecia e invadia as conversas alheias sem ser convidado, mas naquele segundo eu forcei um sorriso que refletia meu alívio por ele agir assim.

De alguma forma, aquele foi apenas o primeiro de meus problemas.

Baekhyun sempre se forçava a atitudes fofas e eu costumava torcer o nariz para qualquer tipo de aegyo que não cabia a um homem adulto e mais velho do que eu. Porém, havia aquele certo ar inocente que me pegou desprevenido uma ou duas vezes enquanto discutíamos quem era o vencedor da partida. Eu não cedia a atitudes como aquela, mas não resisti à maciez e infantilidade com que sua voz soava quando me fez aquele pedido bobo. E acho que até mesmo Baekhyun surpreendeu-se quando eu me rendi.

O seu sorrisinho no fim da noite denunciava algo que eu não consegui compreender até que Chanyeol e os outros garotos resolvessem voltar para suas casas.

As horas passavam e Baekhyun encarava ainda mais o meu rosto.

Eu sentia que logo seria colocado contra a parede, então resolvi recolher a bagunça da casa antes que ele viesse perguntar alguma coisa a mim. O plano ainda estava de pé e eu ainda via necessidade de me esconder dele por um tempo. Eu só precisava sair dali o quanto antes.

 

“O que houve com você?” Baekhyun me surpreendeu assim que estávamos sozinhos na cozinha. Os copos que eu segurava quase escorregaram de minhas mãos quando notei a forma como ele me encarava, sem tirar o sorriso estúpido de seu rosto que brincava de sério. Limpei um ou dois copos em silêncio enquanto sentia o peso do olhar de Baekhyun sobre minha nuca, mas nenhuma resposta parecia fazer sentido.

Eu estava encurralado.

“Como assim?” Dei de ombros, sem coragem de encará-lo de imediato. Não tinha nenhuma certeza do que estava acontecendo, mas desejava que o problema fosse completamente sem sentido.. Quando senti uma das mãos de Baekhyun em minha cintura, afastei-me em puro reflexo como se estivesse recebendo um choque. Baekhyun me encarou, parecendo incomodado.

“Isso!” Disse, apontando para mim e minha reação exagerada. “Eu fiz algo pra você? Por que está me afastando assim, como se eu estivesse doente ou sujo?”

“Não é nada” Respondi antes mesmo que ele pudesse reviver qualquer outro ato em que eu o tratei de forma estranha. Quando me dei conta do silêncio que acompanhou a minha resposta, percebi que Baekhyun havia saído da cozinha em direção à sala de estar. Respirei fundo assim que percebi que eu poderia realmente ter o magoado de alguma forma.

“Desculpe” Pedi sem muito pensar. Baekhyun já estava sentado no chão em frente ao sofá, arrumando o videogame e os CDs que deixamos espalhados pelo chão. O moreno virou-se em minha direção e permaneceu olhando para mim como se não entendesse o porquê das minhas desculpas.

“Não entendi” disse o óbvio, e voltou a perguntar: “O que houve? Somos amigos e você pode confiar em mim para dizer o que quiser”.

Minha reação imediata foi levar a mão à nuca, onde comecei a sentir o suor de meu repentino nervosismo, piorando cada vez que eu tentava explicar o que eu sentia. Afinal, como contaria a ele que espiei sua ... intimidade? Sobre minhas perguntas? Sobre o que eu ... pensei ...

“Eu sei que somos amigos...” afirmei, sentando-me no sofá na direção oposta aonde Baekhyun ainda arrumava os jogos. “Eu só não sei como dizer...”

“Então aconteceu alguma coisa” Baekhyun encarou-me e desviei o olhar no mesmo segundo ao lembrar-se daquela cena como se ela estivesse acontecendo diante de meus olhos. Acabei cansando de negar e soltando uma verdade que ele não desistiria de descobrir qual era.

“O que você viu para ficar tão assustado assim?”

Engasguei.

“N-não, eu não vi—“.

“AH, então você viu alguma coisa” Baekhyun sorria.

Eu mordi os lábios e encarei a janela da sala.

Por algum motivo, fiquei mais nervoso com a forma com que seus lábios se abriam em malícia do que por ele adivinhar exatamente o que eu estava tentando esconder. Havia dias em que Baekhyun era como qualquer outro homem que eu conhecia, mas naquele dia algo estava diferente. “Kyungsoo, não adianta negar, seu rosto está dizendo toda a verdade por você”.

“Você está bonito hoje”

Não

Não, eu não havia elogiado Baekhyun bem diante de seus olhos e diante daquela situação.

Não, não poderia.

“Obrigado?” Baekhyun murmurou, rindo do meu elogio aleatório e iluminando-se com confiança quando sentiu que as palavras saíram sem querer. Ele tinha essa habilidade de ler o ambiente e as pessoas como se elas fossem livros abertos, e por isso voltou a repetir.

“Me elogiar não vai te salvar. Não adianta negar que algo aconteceu porque seu rosto está dizendo toda a verdade por você”.

 

“Eu odeio isso” Rolei os olhos ao que ouvia com muita frequência.

 Acho que deveria começar a fazer aulas de teatro.

“Conta” Baekhyun disse, inclinando-se em minha direção quando todos os CDs já estavam organizados. Engoli em seco e tentei organizar em minha mente todas as possibilidades. Mentir não me salvaria, então por que não aproveitar a oportunidade e sanar as minhas dúvidas de uma vez? Será que ele me interpretaria mal? Suspirei profundamente e resolvi confiar na minha intuição.

“Bom, isso não é da minha conta de qualquer forma” Ativei o modo defensivo. Esperei a resposta.

“Kyungsoo, somos amigos há anos e eu nunca escondi nada de você...”.

“Certeza?” Soltei, ativando o modo ofensivo.

O moreno parou por alguns segundos como se refletisse de tudo o que um dia conversamos e o quanto ele havia me falado sobre sua vida. Ainda mantinha a ideia de que nada daquilo era da minha conta, e não sabia dizer por que aquela curiosidade me consumia por dentro. Eu não costumava fazer questão de saber da intimidade dos meus amigos, a não ser que eu não pensasse neles como amigos...

Oh não.

“Talvez uma coisa ou outra que deixei para te contar no tempo certo” Baekhyun ainda não havia tirado aquele sorriso estúpido e pretensioso dos lábios, o que causava constantes rubores em meu rosto. Não fiquei tão à vontade quanto deveria ficar. Alguma coisa estava indo para o caminho errado e eu podia sentir.

“O que é?” Por que eu estava querendo saber?

“Kyungsoo, o que você viu?”

Por um segundo, achei que estava livre das perguntas diretas que eu não sabia como responder. Podia lançar a verdade e constranger a nós dois ou deixar que Baekhyun entrasse no assunto sem que eu precisasse ser direto. Escolhi o segundo caminho.

“Eu não... sei como di-dizer. É sua intimidade e isso não tem nada a ver comigo de qualquer maneira...”.

Ao contrário do que imaginei, Baekhyun não deixou de sorrir.

“Ah, tem a ver com você sim. Se não, por que a curiosidade?”

Eu desejei mais do que nunca levantar e correr para minha casa, mas não havia meios de fazer alguma coisa naquele momento.

“Só curiosidade” Me defendi.

“E quando foi isso?” Baekhyun me perguntou, cruzando os braços com a minha resposta obviamente falsa. Não sabia como ele conseguia me ler tão bem, mas sabia que todas as perguntas estavam o divertindo como ninguém. O moreno já tinha certeza do que eu estava falando, eu podia sentir, porém Baekhyun continuava me cercando para me ver falar o que ele queria ouvir.

“Ontem” Falei a verdade e lhe a indicação que ele precisava para que soubesse exatamente o que eu estava falando.

“Te incomoda o fato de eu ter me masturbado, ou o fato de fazer isso olhando dois homens transando?”

Baekhyun, sempre tão direto.

Ar, onde está você quando eu preciso respirar e fingir que não ouvi nada disso?

Meu rosto aqueceu-se tanto que, com certeza, eu estava tão vermelho quanto um tomate gigante. Queria enfiar meu rosto dentro do sofá e nunca mais olhar para Baekhyun ou para qualquer pessoa desse mundo porque QUE TIPO DE PERGUNTA ERA AQUELA? Não é exagero quando digo que engasguei e quase perdi o ar de tanto tossir, o que tornou impossível negar que a frase me chocou mais do que nunca.

 Baekhyun ria baixinho quando me entregou um copo de água que veio da cozinha. Eu nem ao mesmo vi que ele havia se levantado para me ajudar enquanto tentava buscar pelo ar que perdi. Aquela pequena proximidade de nossas mãos quando o copo veio para mim tornou a situação ainda pior, já que o aroma de sua colônia podia ser sentido facilmente daquela distancia. E era um perfume que me entorpecia.

“Não achei que você era tão sensível assim a esse assunto” Baekhyun disse, preferindo voltar a sentar-se ao chão do que tentar ficar mais próximo de mim. Eu respirei fundo, agradecendo mentalmente pela percepção de que distancia era necessária.

“Não sou...” disse.

“O que mais você vai negar hoje, Kyungsoo?” Baekhyun riu alto, parecendo uma criança que se diverte com um filme de comédia ou uma cena hilária do dia a dia. Na verdade, eu se divertia com a situação que havia me colocado. A pergunta retórica foi ignorada, e eu olhei uma ou duas vezes para a porta da casa, planejando esquecer aquele diálogo e me esconder por décadas.

“Você não respondeu a pergunta”.

E como eu deveria responder? Pensei. Baekhyun me encarava com curiosidade, correndo os olhos pelo meu corpo como se me analisasse mais do que o normal. Achei que o mais seguro era ser sincero, já que a parte principal do assunto tinha sido trazida diretamente por Baekhyun. E, pelo visto, ele não parecia chateado ou envergonhado com a situação.

“Eu s-só fiquei meio... surpreso. Só isso”.

Foi o único momento em que ficamos em silêncio. O mais velho parecia refletir sobre alguma coisa enquanto eu só desejava que tudo aquilo acabasse o quanto antes. Ainda sentia o meu rosto quente e milhares de perguntas circundando minha mente, o que me fazia ficar em dúvida se elas seriam ou não respondidas. Foi Baekhyun que rompeu o silêncio, quase em um sussurro.

“O que você quer saber?”

 

Saber como você estava se sentindo.

Saber como é aquela sensação

Saber por que meu corpo está reagindo estranhamente a sua presença.

 

Pensei em milhares de respostas e as deixei morrer em minha garganta. A coragem não era grande o bastante para que nenhuma das sentenças chegassem em Baekhyun. Mas, ao encontrar seus olhos castanhos, eu percebi que ele já sabia. E era ali que eu comecei a sentir o meu maior desespero.

“Entendo” Baekhyun disse, e seu semblante mudou. Ao olhar diretamente em meus olhos, o moreno pareceu plenamente satisfeito e, no segundo seguinte, felino? Como um gato selvagem, seus olhos fixaram-se nos meus como uma presa prestes a ser abatida. Seu tom de voz saiu baixo e rouco quando se moveu pelo chão, engatinhando em minha direção e se aproximando lentamente de onde meu corpo paralisou no sofá. “Você gostou do que viu?”

Engoli em seco e um arrepio intenso percorreu o meu corpo.

E mais uma vez, fiquei sem palavras. Baekhyun chegou diante de minhas pernas e ele apoiou as duas mãos em minhas coxas para levantar-se diante de mim. Tudo pareceu acontecer em câmera lenta, contrastando com a velocidade absurda com que meu coração pulsava no peito, quase audível. Eu deveria desviar dos olhos de Baekhyun e deveria impedir que ele deixasse o rosto tão próximo do meu, mas nenhum músculo do meu corpo reagia. Minhas coxas queimavam sobre o toque de seus dígitos e meu rosto fervia com a enxurrada de sentimentos contraditórios que invadiam minha mente.

Não consegui me afastar e nem mesmo responder. Baekhyun foi buscar minha resposta ao inclinar-se em minha direção e selar nossos lábios de forma gentil. A pressão do toque foi macia e superficial, mas o suficiente para tirar todo o meu fôlego. Minhas mãos, antes jogadas ao lado de meu corpo, instintivamente criaram vida e buscaram apoio nos ombros de Baekhyun, como se não quisessem que ele se afastasse.

E então notei que estava desejando por aquilo e que queria que ele se afastasse.

Baekhyun não deixou que o beijo se prolongasse e se afastou minimamente de mim, deixando-me como um bobo de olhos fechados. O riso baixo que ouvi em seguida parecia zombar de mim, o que me irritou de imediato.

“O QUE?” Exclamei, afastando-me apenas o suficiente para tocar as costas no sofá. Baekhyun ainda estava em pé diante de mim, e suas mãos não abandonaram minhas coxas mesmo que eu tenha tentando afastá-lo pelos ombros. Os membros ombros que antes eu puxava em minha direção.

“Você gostou do que viu e não conseguiu parar de pensar sobre isso, não é Kyungsoo?”

Eu não seria capaz de responder nada a Baekhyun depois do beijo que me foi roubado e da forma com que seus lábios sorriam de forma maliciosa para mim. Ele sabia que eu permaneceria em silêncio, e eu sabia que ele não pararia de me provocar até que eu confirmasse em voz alta cada uma de suas certezas. Ele era esse tipo de garoto que desejava que tudo fosse dito em voz alta, de forma clara e precisa. E cada vez que o ouvia sendo tão direto, tinha mais certeza de que o que tanto me incomodava era o quanto meu corpo desejava o de Baekhyun, mesmo que um pouco.

Ou muito.   

“É” balbuciei, e Baekhyun sorriu com a confirmação que ele achava que não viria.

“Já te tocaram daquela maneira?”

Abri os lábios para responder, mas os fechei assim que não achei uma boa resposta. Não era comum para eu pensar sobre sexo e por isso não lidava bem com situações ou conversas como aquela, tornando tudo ainda mais constrangedor. Eu não tinha tantas experiências e talvez parte da minha mudez sobre o assunto entregasse a resposta que ele adoraria ouvir.

“Ah, nunca?” Baekhyun me interpretou, e eu só fui capaz de acenar em silêncio. Os lábios do menor se abriram como nunca, e a malícia estampou cada pedaço de seu rosto.

“Fofo. Eu realmente queria te beijar agora, mas acho que te mostrar o quanto isso é bom é uma ideia muito melhor” Baekhyun disse com a normalidade que dizia respeito a ele. Voltei a sentir vergonha da forma sincera com que ele lidava com a situação, mas não demorou muito até que meu rosto ficasse ainda mais rubro.

Voltando a atenção para minhas calças, Baekhyun levou as mãos ao meu cinto e o abriu lentamente.  Só o barulho da fivela me fez suspirar. Minha mente girava em ansiedade e receio, e eu só conseguia pensar em como evitar que ele fizesse o que estava planejando. Baekhyun era meu amigo, meu vizinho e eu precisava pará-lo antes que a situação ficasse mais constrangedora do que nunca. Porém, assim que ele murmurou ao pé de meu ouvido para que eu me levantasse um pouco, meu corpo respondeu de imediato. As calças foram puxadas até o chão com nenhuma delicadeza, deixando minhas pernas trêmulas completamente expostas.

Puxei a blusa para baixo para cobrir qualquer vestígio que os olhos de Baekhyun buscavam.

Antes que eu pudesse negar até para mim mesmo, eu já estava excitado com toda a situação e meu membro não negava o quanto Baekhyun foi capaz de me enlouquecer com tão pouco. Entretanto, a sensação de constrangimento ainda me sufocava de uma forma que eu não conseguia manter meus olhos abertos ou meu corpo sendo encarado daquela maneira. Quando senti seus dedos deslizando pelas minhas coxas unidas e tensas, tentei murmurar para que Baekhyun parasse de me tocar e que esquecesse aquela ideia estúpida, mas só pequenos sopros de palavras desconexas saíram de meus lábios grossos.

Quando ele me tocou sobre o tecido fino, senti como se fogos de artifício estivessem explodindo em meu estômago. Sem deixar de massagear minha ereção, Baekhyun voltou-se para meu rosto e depositou mais um selo em meus lábios, sussurrando diante de mim que eu deveria relaxar. E como raios eu deveria relaxar quando ele estava deslizando seus dedos longos e delicados por mim como se já conhecesse cada ponto sensível de meu corpo? Nenhum pedaço foi esquecido ou renegado, tornando a sensação de seu toque macio e lento ainda mais intenso do que qualquer momento em que me toquei.

“Está bom assim?” perguntou em sussurro quando seus dedos faziam círculos sobre a pele coberta pelo pano, e eu só tive forças para acenar para que ele parasse. “Eu vou te mostrar exatamente o que eu estava assistindo—“

“B-baek, n-não—“.

“Shh ...” Disse, tocando meus lábios levemente com um de seus dedos. “Tenho certeza de que você vai gostar e implorar por mais”

A forma como seus lábios sopravam às palavras em sussurros abafados era capaz de fazer meu corpo inteiro se contorcer em desejo. Eu percebi naquele instante que queria beijá-lo de verdade e com todo o libido que crescia dentro de mim, mas Baekhyun tinha outros planos. E não havia muito que eu pudesse fazer para mudar o que o moreno tinha em mente. Sem tirar os olhos dos meus, que desviavam daquele olhar, Baekhyun tocou os joelhos no chão entre as minhas pernas, levando os dedos longos para a aba da cueca já tão incomoda e úmida.

Pudera.

Eu nunca admitiria isso diante de meu vizinho, mas a cena em si poderia fazer com que meu corpo atingisse o orgasmo por si só. Eu não tinha noção da experiência que Baekhyun tinha até perceber que mal notei quando suas mãos deslizaram pela minha ereção, com movimentos de um ritmo lento que me torturavam. As mãos de Baekhyun eram tão perfeitas, delicadas e macias como pareciam ser, e os dedos longos em volta de mim foram as principais responsáveis pelo gemido baixinho que não consegui segurar.

Se eu achava que aquilo já era o melhor toque que poderia sentir em meu corpo, Baekhyun destruiu-me completamente quando passou a língua levemente sobre minha glande, provocando-me. O gemido que soltei do fundo de minha garganta foi ínfimo diante do que eu sentia. Meu estômago revirava e os fogos continuavam ali, percorrendo todo o meu corpo. Aquele misto de novas sensações que eu descobria aos poucos se revelou uma completa tortura.

Quando não aguentei manter meu rosto afastado do que acontecia entre as minhas pernas, espiei de canto dos olhos apenas a tempo de ver Baekhyun piscar em minha direção, e me abocanhar por inteiro.

Foi ali que descobri que o céu existia. Quando sua língua deslizou sobre minhas veias, senti que iria morrer ali mesmo. Seus lábios finos e pequenos deslizavam firmemente sobre mim, subindo e descendo em um ritmo indefinido e surpreendente. Às vezes Baekhyun ia até o fundo, não deixando que nada ficasse visível a quem visse de fora, e outras vezes ele sugava a ponta em pequenos chupões, nunca deixando de vigiar minhas reações. Eu não sabia se queria que tudo aquilo terminasse logo ou que ele viesse e fosse com ainda mais força e saliva, então tudo o que implorei não fazia sentido algum.

Implorei para que ele, por favor, parasse, e ao mesmo tempo gemi abafado para que Baekhyun fizesse mais uma vez aquele movimento com a língua. Para que ele não visse as lágrimas que se formavam no canto de meus olhos, leve uma das mãos ao rosto e até mesmo me vi tapando os lábios para impedir que o barulho saísse alto demais. E então Baekhyun acenou negativamente com a cabeça, ainda com a ponta da minha ereção na boca até soltá-la em um estalo.

“Não não não...” Disse, e pela primeira vez senti como se meu corpo se irritasse e sentisse falta da ausência de estímulo. Baekhyun mordeu de leve a parte interna da minha coxa esquerda e me encarou, autoritário. “Sem tapar o rosto, Kyungsoo. Olhe pra mim. Quero ver você gritar meu nome quando eu te fizer gozar”.

Filho da puta, eu quis dizer. Você quer morrer? Pensei, e quase murmurei aquilo em sua direção. Ou talvez quisesse xingar a quinta geração da família Byun e todo o projeto de filho que lançaram no mundo.

Eu estava ao mesmo tempo irritado e envergonhado por tudo o que ele dizia com uma facilidade que eu não tinha e talvez nunca tivesse. O conforto com que ele sorria com minhas reações alimentou uma raiva que não durou muito. Seus lábios voltaram a engolir-me de maneira mais faminta e intensa do que da primeira vez.

Arfei alto com a investida e desisti de impedir o gemido que rasgou minha garganta. Desisti até mesmo de desviar de seu olhar felino, acreditando que encará-lo me tornaria mais forte diante da forma como ele controlava meu corpo. Eu me sentia nervoso com qualquer tipo de controle, mas Baekhyun foi convincente o suficiente para que os músculos tensos de meu corpo finalmente relaxassem com seus toques e sofressem com a adrenalina que pulsava sobre minhas veias. E foi então que percebi que poderia controlá-lo se eu quisesse.

E eu queria mais do que tudo.

Baekhyun tinha os lábios inchados e a tez úmida, coberta com uma pequena camada de suor causada pelo esforço contínuo. Meu rosto deveria estar da mesma forma, mas qualquer detalhe em mim era menos importante do que eu via diante de mim. Decidi levar uma das mãos no rosto de Baekhyun, tocando e acariciando as bochechas vermelhas para depois tirar os fios úmidos de seus olhos delineados com um pouco de maquiagem escura. Qualquer detalhe como aquele que via ainda mais claramente deixava Baekhyun ainda mais provocante.

Grande parte daquela provocação começou assim que o moreno percebeu o que eu faria em seguida. O ritmo mais forte parou no mesmo segundo, e Baekhyun permaneceu sugando-me em movimentos irritantemente lentos e dolorosos. Minhas pernas tremiam e minha pele queimava com o calor que emanava de nós dois. Eu podia sentir que estava muito muito próximo, e Baekhyun não poderia parar. Não agora. Como instinto, minha mão enroscou-se em seus fios castanhos e o forçaram de leve sobre meu quadril, impondo o ritmo que me agradava.

A sensação de foder a boca de Baekhyun ao meu gosto e vontade foi o suficiente para que eu não durasse mais do que algumas investidas fortes no calor de sua boca. Pequenas lágrimas cruzaram seu rosto quando fui um pouco mais forte e rápido, atingindo o ápice murmurando várias e várias vezes o seu nome.

Baekhyun se afastou rápido e trocou os lábios pelos dedos belos e longos, estimulando-me. E logo tudo o que vi diante de minha visão nublada foi o sêmen se espalhando por sua mão e seu sorriso satisfeito. A explosão fez meu corpo jogar-se contra o sofá, sem forças para respirar ou se mexer. Minha cabeça rodopiava, meus olhos piscavam em um ritmo fora de série mesmo que fechados e Baekhyun murmurava as maiores besteiras em minha direção.

Permaneci por um tempo dentro de meu próprio mundo até que o chamado de Baekhyun chamasse minha atenção. Antes que pudesse dizer alguma coisa, encarei o moreno e o peguei lambendo seus dedos como se saboreasse o maior dos sabores. O meu prazer era provado por ele e tudo era demais para que eu suportasse apenas encará-lo provocando-me daquela maneira. Puxando-o pelo pescoço, que sabia ser sua parte mais sensível, fiz com que ele viesse em minha direção e então beijasse meus lábios ansiosos por ele.

Tudo em seu corpo tinha meu cheiro e meu gosto. Mesmo ao primeiro toque superficial, eu sentia a mim mesmo e ao inchaço de seus lábios vermelhos como morangos. Assim que ele partiu os lábios e aprofundou o beijo, a saliva se misturou com uma série de prazeres que eram tão marcantes como qualquer pensamento mais sujo que eu já possa ter tido. Nada chegaria aos pés da forma como seus beijos eram gentis e doces, quase um contraste estranho com que havia me presenteado com o melhor oral da minha vida.

Depois de alguns estalos, afastei-me minimamente de seu rosto.

 “E então?” Baekhyun respondeu assim que nossos corpos se afastaram e ele ocupou o espaço vazio do sofá ao meu lado. Seus cabelos eram uma completa bagunça e seus olhos brilhavam marejados.

“... eu... nem sei o que dizer” Tentei formular alguma resposta minimamente gentil, mas o meu eu voltou a bloquear qualquer coisa que eu tentasse dizer. Ao invés de dar o discurso que minha mente formulava, inclinei-me em direção a Baekhyun e busquei por seus lábios novamente. Acho que jamais enjoaria da forma como o encaixe se tornava perfeito e os beijos se combinavam para agradar e transmitir o que sentíamos um pelo outro. Era ali que eu tinha todas as certezas e as respostas das mais longas perguntas. Uma de suas mãos pousou sobre minha nuca e eu sorri entre os beijos.

“Vamos ter que conversar sobre nós dois...” disse, e logo me senti estúpido por isso. Fiquei por um momento parado, sentindo que havia estragado completamente qualquer clima que existia ali com a minha racionalidade estranha e de péssimo timing. Porém, Baekhyun beijou-me mais uma vez e sussurrou em minha direção.

“Eu gosto de você. E eu sei que você também gosta, mesmo que finja que me odeia. Agora, precisamos mesmo perder nosso tempo conversando? Estou com um probleminha aqui embaixo por sua culpa”.

Não vamos perder mais tempo, quis dizer. Porém, prender seu lábio inferior sobre meus dentes e puxá-los até mim foi o suficiente. Baekhyun sabia me ler como um livro traduzido e me saborear como o seu vinho preferido. Provocá-lo e fazê-lo rir com a mão que abriam os botões de sua blusa era mais do que o suficiente por hora. Eu não precisava dizer mais nada para aquele que, de uma forma ou outra, já tinha conquistado uma parte desconhecida de mim mesmo. Os métodos de conquista e constante provocação eram típicos de Baekhyun, mas funcionariam bem para mim.

 

 

A partir daquela noite, todos os vizinhos souberam que nós passávamos mais em uma só casa do que separados por paredes. A privacidade era um problema ainda maior quando percebi que Baekhyun era sonoro como a melodia que descobrir amar e odiar ao mesmo tempo. E as janelas teriam que permanecer fechadas enquanto estivéssemos ali, afinal, não seria interessante que ninguém espiasse o nosso relacionamento como espiei aquilo que me trouxe até ele.

 

✖✖✖

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Obrigada a todo mundo que resolveu dar um pouco de amor a um couple pouco comum<3
Só por curiosidade, "Fenestra" é o mesmo que "Janela", porém seu uso é menos comum hoje em dia. A ideia da palavra é mais ampla, podendo significar algo que você espia e observa não só de fora para dentro como de dentro para fora~

Até mais!


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