História Project DIVA - I Kissed a Girl

Argh! Tive outro sonho ruim. A pior parte disso é que isso não era um simples sonho, mas sim uma lembrança que sempre vem na minha cabeça quando a ponho no travesseiro. Um evento triste que ocorreu quando eu era bem pequena. Não quero falar sobre isso. Mas crescer sem uma figura paternal é doloroso. Os outros sempre perguntam “onde está seu pai?”, “sua mãe é mãe solteira?”, “por que você não foi à festa de dia dos pais na escola ontem?”... Coisas do tipo me magoam muito.

Acordei cedo para o meu primeiro dia de aula no Ensino Médio. Como eu não passei para nenhuma escola técnica, estou numa escola comum aqui perto de casa.

Para começar o dia fui até a cozinha para tomar meu café-da-manhã.

—Bom dia, Demi — disse minha mãe tomando chá na sua xícara.

—Bom dia, mãe.

Na mesa havia torrada, pasta de amendoim, leite e achocolatado. Bem... havia, porque eu comi tudo.

—Depois reclamam quando te chamam de go...

—Dallas! Bom dia! Nem notei que você estava aí! — interrompeu minha mãe. —Sente-se. Vamos comer.

Ela bufou, mas logo se sentou junto a nós. De vez em quando, Dallas implicava comigo. Eu fingia que estava levando na esportiva, mas não estava.

Depois que comemos, tomei um bom banho, vesti minha calça e casaco jeans, minha blusa rosa, uma pulseira bonita, calcei minha bota, coloquei uma maquiagem leve, deixei meus longos cabelos castanhos caírem pelas minhas costas e entrei no carro da minha mãe.

—Filha — disse minha mãe enquanto dirigia.

—Sim.

—Pode ir lá, no meu bar, depois da aula para me ajudar?

—Uhum.

Dez minutos se passaram, me despedi da minha mãe e entrei na escola. Os corredores dos armários estavam cheio de gente, e o clássico momento clichê aconteceu.

—Opa! — um garoto de óculos escuros disse ao esbarrar em mim, jogando todo o meu material no chão. Ele tinha um topetinho engraçado no cabelo e estava com um casaco azul. Ele tinha um pouco de corpo.

Fiquei distraída com sua beleza, olhando para ele, esperando ele catar meu material, assim como nos filmes que a gente vê na TV. Mas pelo visto ele não era o príncipe que eu esperava.

—Você não cabe nos corredores, não? Quer fazer uma dieta, sua gorda?

Nem tudo é o que parece ser. Aos olhos, o Príncipe Encantado. Aos ouvidos, um ogro.

Ele foi embora correndo, sem nem ao menos ter ouvido minha resposta. Mas para falar a verdade, eu nem tinha uma resposta.

Seis horas haviam se passado. O meu primeiro dia de aula havia acabado, mas o meu dia de trabalho só havia começado.

Cheguei ao Bar Dallas às 15h30min, e nem estava tão cheio assim. 

O Bar Dallas faz justo ao estilo country. Móveis de madeira, chapeuzinhos de cowboy para todos os lados, rapazes jogando pôquer, garotas “vulgares”, minha irmã cantando Billy Ray no palco com seu violãozinho... Tudo bem “country”. Por mais que minha família ame esse estilo de vida, eu nunca fui fã disso. Eu faço mais o estilo “rock”, sabe?

—Filha! — disse a minha mãe, a dona do bar, colocando uma camisa xadrez em mim e um chapéu de cowboy. —Quero que tome conta do bar enquanto eu estou fora, pode ser?

Eu assenti.

—E você?

—Eu vou precisar sair com urgência.

Ela não me disse que tipo de urgência seria essa. Ela só beijou minha testa e meteu o pé.

Fiquei mais ou menos duas horas servindo os clientes ao som dos covers ao vivo de Dallas Lovato, até que notei que Dallas não havia parado de cantar. Eu direcionei meu olhar que estava concentrado numa moça simpática de cabelos doirados para o palco, no qual estava cheio de pessoas em volta.

Larguei tudo para me aproximar de minha irmã, atravessando aquela multidão de curiosos.

—Dallas, Dallas, você tá bem?

—Ai! Eu acho que torci minha perna — quando ela disse isso eu notei que ela havia acabado de cair do palco. —EU VOU MORRER! SOCORRO! ESTOU MESTRUANDO PELOS PÉS! ME AJUDA, DEMETRIA!

—Calma, cacete! — disse a ela dando um tapa em seu rosto.

—A JUKEBOX QUEBROU E MINHA MÃE PEDIU PRA EU CANTAR HOJE AQUI NO BAR! E AGORA? O QUE VAI SER?

—Fica forte, irmã. A ambulância já está vindo — tentei conforta-la piscando para a bargirl que estava do meu lado. Acho que ela captou a mensagem.

Dez minutos se passaram desde que a ambulância levou Dallas para o Hospital. Eu estava confusa. O pessoal do fan club de Dallas já estava começando a sair. Aos poucos notei que o bar iria ficar sem clientes. Então, eu tomei uma decisão estranha...

Caminhei até o palco, peguei o microfone caído no chão, saquei o violão jogado de lado e disse:

—Que seja o que Deus quiser — coloquei o microfone próximo a minha boca. — VAMOS AGITAR ISSO AQUI,DEMIANS! — Nem sei por que disse isso, mas como os fãs da Dallas se chamam Dallians, eu acho que Demians cairia bem, ou não. Pensando melhor, isso parece “lesbians”.

Realmente não sabia que música cantar, mas sabia que seria lixada por quebrar a tradição country cantando rock. Então arrisquei no pop. Pensei na primeira música que vier na telha, e como estava ainda no espírito de “lesbians”, vocês já podem imaginar o que saiu.

A plateia olhou para mim constrangida e eu fiquei vermelha.

Havia acabado de cantar "Eu beijei uma garota" e a pior parte disso foi que:

a) Tinha gente filmando;

b) Jogaram um tomate na minha cara;