História Hyuuga - Capítulo II - Sofrimento

«Já não aguento mais!», pensou uma rapariga de cabelos compridos azulados e de olhos perolados, que os fechava, enquanto se abraçava a si própria, com força. «Já não aguento mais…».

Triste, a rapariga deixou o seu corpo escorrer pela porta do quarto abaixo, à qual estava encostada, começando a chorar compulsivamente.

Hinata Hyuuga, a menina que fora adoptada pela família Uchiha, tinha agora 17 anos. Haviam-se passado, portanto, 14 anos desde então, embora Hinata não se lembrasse do que realmente acontecera nesse dia, muito menos quem era a sua família e o seu sobrenome. Para ela, a sua única família eram os Uchiha.

No entanto…apesar de se ter integrado muito bem naquela família, os seus verdadeiros problemas começaram a surgir depois, quando se começou a notar mudanças no seu físico.

A partir daí, a sua vida nunca mais foi a mesma…

Fugaku obrigou-a a trabalhar como empregada da família, pois lhes devia muito. E se alguma coisa não estava certa, ele mesmo ralhava com ela e lhe batia. Não suportava a incompetência.

Mikoto, por sua vez, foi quem mais lucrou com esta decisão do seu marido, já que assim não teria de arrumar a casa sozinha, teria alguém a quem mandar fazer por ela. No entanto havia uma excepção. Nunca a deixava arrumar os quartos dos filhos enquanto eles estivessem lá, dentro deles. Não gostava nada quando a via junto deles, pois não queria que nenhum dos filhos se apaixonasse por ela. A sobrevivente do clã Hyuuga não era digna de pertencer e de se misturar com a família Uchiha, apesar de no princípio a ter recebido com carinho. Mas as coisas agora eram diferentes.

Quanto aos manos, Itachi, sempre que a via sozinha quando chegava a casa, começava a seduzi-la e a fazer-lhe insinuações sexuais. Hinata não gostava nem um pouco deste seu comportamento e tentava sempre arranjar uma desculpa para se esquivar na medida do possível. Já o Sasuke…esse era o melhor de todos. Desde que eram miúdos que se davam super bem um com o outro. Naquela casa ele era o seu único e verdadeiro amigo. Falavam um pouco de tudo e notava-se a cumplicidade que existia entre os dois. Daí que a Mikoto não gostasse dela perto dos filhos, principalmente do mais novo.

Contudo…já começava a desesperar!

Sentada no chão do seu quarto com as costas encostadas na porta, Hinata revivia o seu sofrimento com profunda angústia. Muitas vezes se via a perguntar, o que fez de mal para merecer tanta desgraça em sua vida. Primeiro foram os seus pais, depois isto…a vida miserável que levava com os Uchiha, à excepção do Sasuke, desde os seus 12 anos. No entanto…já não aguentava mais! Que mais é que tinha de aguentar? Será que algum dia teria o seu momento de felicidade?

Limpando as lágrimas, levantou-se, saiu do quarto e foi ter ao quarto do Uchiha mais novo. Se havia alguém que a compreendia e com quem podia desabafar, esse alguém era o Sasuke.

- Entre.

Hinata entrou no quarto do moreno timidamente.

- Posso entrar Sasuke?

- Ah! És tu, Hinata! - Sasuke estava deitado na cama a ler um ler e assim que a vê, fechou o livro, pousando-o na mesinha de cabeceira, que estava ao lado da cama, um pouco atrapalhado – É claro que podes!

Hinata fechou a porta devagar, ao passo que o moreno foi ter com ela. Notou que algo não estava bem.

- O que se passa, Hinata? – perguntou, preocupado, pousando as mãos nos seus ombros – Anda. Vem sentar-te aqui comigo e conta-me o que se passou desta vez, ok?

Assim que ele a levou até a uma ponta do final da cama e lhe pediu que se sentasse, fazendo o mesmo, Hinata obedeceu-lhe de bom grado.

- Eu já não aguento, Sasuke… - começou a chorar e agarrou-se à camisa dele procurando consolo – Eu já não aguento mais…

- Hinata… - compreendendo o seu sofrimento, o moreno a abraçou forte, acariciando-lhe com uma mão o cabelo, enquanto lhe sussurrava palavras de esperança ao ouvido.

Sasuke sabia o que Hinata sofria nas mãos da sua família. Mas, por ainda ser novo, não podia enfrentá-la sozinho. Não a podia proteger como queria. Porque se dependesse dele, haveria justiça no mundo e a sua “maninha” seria muito feliz.

No entanto…ele não a considerava realmente sua irmã. Há muito tempo que sabia que ela fora adoptada pelo pai e…desde que pusera os olhos nela soube que havia algo de especial naquela menina, que foi durante aqueles anos todos a sua melhor amiga. Mas de uns tempos para cá, ele tem sentido algo diferente por ela. Já não a via como uma amiga, mas sim, como uma mulher por quem se apaixonou perdidamente. Por isso…faria de tudo para que ela fosse feliz. Enquanto ela o desejasse, estaria sempre a seu lado.

- Hinata. – a rapariga não respondeu. Continuava a chorar. – Hinata. – levantou o rosto dela com suavidade para que ela o olhasse nos olhos – Por favor…Não chores. Sabes como me parte o coração ver-te nesse estado…

- Eu sei, Sasuke, mas…eu não consigo me conter…

- Consegues. Respira fundo, ok? - Hinata, a custo, fez o que ele lhe pediu com amabilidade. – Melhor?

Hinata acenou que sim com a cabeça.

- Sasuke. Obrigada por aturares os meus ataques.

- Não tens de agradecer, Hinata. Eu gosto que desabafes comigo. Ficaria chateado era se não o fizesses. – tocou-lhe com o indicador no nariz, enquanto sorria – Eu estarei sempre aqui para o que precisares. Sabes que podes contar comigo, não?

- Sim. Eu sei. – deu-lhe um sorriso tímido – És o único que me compreende e sei que não me vais desiludir. – pousou uma mão sobre a dele – Gosto muito de ti, Sasuke.

Olharam-se nos olhos e, por alguns momentos, se viram atingidos por uma força inexplicável que os atraia. As suas cabeças iam-se cada vez mais aproximando-se uma da outra…A pouco e pouco iam fechando os olhos…As suas bocas estavam a centímetros uma da outra…

- Sasuke! Era para avisar que o jant… Posso saber o que se passa aqui? – perguntou, Mikoto, depois de ter entrado no quarto, apanhando-os no flagra.

Envergonhados, os dois jovens afastaram-se, sendo o Sasuke o primeiro a responder.

- Mãe. Não é nada do que estás a pensar, ok? – levantou-se e foi ter com ela, abraçando-a – Eu e a Hinata estávamos apenas a conversar. E, como eu tinha um cisco no olho, pedi-lhe que mo tirasse.

Mikoto olhou para ele desconfiada. Burra ela não era!

- Sei… Enfim. – suspirou. Preferiu manter-se na ignorância. – Vê lá se desces, se não o jantar esfria.

- Sim, mãe. – deu-lhe um beijo na cara e depois saiu do quarto.

- Bom… - Hinata levantou-se e começou a ajeitar-se para se ir embora – acho que também é melhor eu ir…

- Não tão depressa, minha menina! – exclamou, Mikoto, fechando a porta para que o Sasuke não as ouvisse – O que foi que eu te disse sobre não entrares nos quartos dos meus filhos, enquanto eles estavam aqui?

- Mãe…eu não fiz por mal…eu…

- Nem mas, nem meio mas! – estava zangada, apontando-lhe o indicador constantemente à cara – E nunca mais me voltes a chamar de mãe, ok? Tu não és minha filha! E aí de ti, se isto que acabei de presenciar se volte a repetir! – olhou-a com ódio e desprezo – Agora vai!

Hinata saiu a correr para a porta. Odiava quando a “mãe” lhe gritava como se ela fosse mesmo uma empregada. E o pior de tudo, é que não sabia o porquê de tanto ódio.

Voltou para o seu quarto. Aquilo que havia acontecido com a “mãe”, tinha-lhe feito perder o apetite.

Deitada na cama, veio-lhe então à mente o que quase estivera a acontecer entre ela e o Sasuke. «O que será que aconteceu? Eu ia mesmo beijar o Sasuke? Ele ia também me beijar?». Um sorriso começou a brotar na sua boca. Ao menos aquele dia não tinha sido assim tão terrível. Descobrir que amava o Sasuke e perceber que ele talvez gostasse dela para além de uma amiga haviam compensado o seu dia. Muito mais do que poderia imaginar…