Realmente, ficar com mamãe no jardim foi muito reconfortante. O céu estava limpo e de um azul celeste incomparável, raios de sol pousavam sobre minha pele branca por alguns instantes – até mamãe me puxar para de baixo de uma frondosa árvore ali perto de onde estávamos. Ela tinha horror à minha exposição ao sol por eu ser muito branca – e o vento soprava numa brisa tão agradável que me ofereceu paz por breves minutos.
Enquanto eu aproveitava meu momento de tranquilidade, observava mamãe trabalhar... Era interessantíssimo vê-la escrever quando estava inspirada, ela transmitia um entusiasmo encantador! Era uma das coisas que eu mais admirava nela.
Voltei do jardim por volta das dez e meia, sem mamãe – ela preferiu aproveitar mais um pouco seu momento de trabalho – e, devo dizer: eu estava faminta. Eu não costumava sentir muita fome mas, levando em consideração que não havia tomado café da manhã, era normal sentir um vazio no estômago.
- Tereza querida, por favor, você saberia me responder se o almoço já está pronto?- Perguntei em um tom reservado e esperançoso ao mesmo tempo para minha criada.
- Oh senhorita Broullette ! Perdoe-me mas ainda são dez e meia... E a senhorita sabe que a senhora Amélia, sua mãe, não iria gostar que eu lhe desse algo de comer antes do almoço. –
Respondeu-me Tereza calmamente. Ela tinha razão, o café da manhã era servido das nove às dez em minha casa... Passando deste horário, se eu comesse algo perderia minha fome para o almoço e deixaria mamãe furiosa. Ela apreciava minha companhia no almoço pois, como eu não tinha irmãos ou irmãs, e papai sempre viajava a trabalho, eu era a única família que a famosa escritora Amélia Broullette tinha a maior parte do tempo, presente. Talvez por essa necessidade de termos sempre uma a outra, eu fosse tão apegada à mamãe e.... claro, além de nossos laços maternais.
- Tem razão. Não se preocupe, eu espero.... – Me decepcionei um pouco por ter que esperar aproximadamente 2 horas para comer, mas minha aulas de etiqueta me ajudariam à aguardar.
- Ah! Senhorita Broullette!- Chamou-me Tereza num grito, do nada. - Chegou algo para a senhorita pouco antes que retornasse do jardim, tomei a liberdade de deixar na escrivaninha em seu quarto....
- Okey, obrigada Tereza irei ver... Você sabe o que é?
- Acho melhor ver com seus próprios olhos, acredite a senhorita vai gostar.... – Tereza me respondia sorrindo discretamente despertando uma curiosidade repentina em mim.
- Está bem, verei então o motivo de todo este mistério de sua parte ... – Fingi irritação o que fez com que Tereza risse mais ainda. Dei um sorriso simpático para minha criada e me virei em direção ao corredor.
Andei normalmente ao passo que fui me afastando de Tereza e, ao vê-la ir para cozinha, apertei o passo , quase que correndo para ver o misterioso presente. Subi as escadas rapidamente, cheguei ao meu quarto e..... Oh ! Um lindo buquê de hortênsias azuis repousava sobre minha escrivaninha!
Azul era minha cor preferida, eu amava flores azuis, exóticas.... Sempre pedia a papai- O grande Doutor James C. Broullette - para trazer algumas. Adorava enfeitar meu quarto com elas. Talvez fosse ele que tivesse me mandado de Clermont, onde estava viajando a procura de clientes....
Ao examinar o buquê notei um bilhetinho em um papel simples do lado. O bilhete fora bem cuidado, o envelope não havia sido violado por Tereza – ela era meio enxerida algumas vezes, lembro-me do Natal quando Tereza abriu todos os meus presentes antes de mim... Não me importei, afinal sempre ganhei presentes, nunca fiz questão de abri-los, o que não descaracterizava o enxerimento notório de minha criada - Cheguei a imaginar por que papai necessitaria mandar um bilhete para mim junto às flores. Abri delicadamente o bilhete, parecia tão frágil.... Era perfumado com a mesma essência das hortênsias... Ah! Perfumes... O cheiro era algo que sempre marcava muito para mim.... Comecei a ler:
Hortênsias,
Azuis como seus olhos, acompanhadas de belas e delicadas pétalas assim como seu corpo... E por mais que se assemelhem à você, nenhuma delas chegará aos pés de seu esplendor para mim.
Espero que príncipe Maxon não lhe escolha....
Carinhosamente,
K.D.
Quem diria! Um bilhete romântico faltando dois dias para a Seleção.... Bom... Com certeza, não foi um presente de papai...
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