História The Only Reason - New Partner

- Bom dia, querida! – Meu pai entra no quarto puxando as cortinas.

- Será que posso dormir mais dois minutos? – Coloco o travesseiro sobre a cabeça, irritada.

- Já está quase atrasada para a escola. – Ele puxa o travesseiro e beija meu rosto me fazendo sorrir.

- Eu amo esse sorriso, levanta raio de sol. - Meu pai liga o rádio e começa a dançar ao som de Shut Up and Let Me Go da The Ting Tings. – Eu amo essa música! É tão... tão jovem!

Não controlo o sorriso, pulo da cama e lhe dou meu melhor abraço.

-Bom dia, papai. – Beijo o topo da sua cabeça que antigamente costumava ter cabelos loiros, acho que puxei minha mãe, já que sou ruiva.

-Carona para a escola? 

- Não, estou bem, pode ir trabalhar sem se preocupar. – Faço sinal de positivo com os polegares.

-Como quiser, senhorita Parker. – Meu pai coloca o meu travesseiro sobre a cama e se despede.

Minha relação com o meu pai era muito mais que um normal convívio entre pai e filha, já que depois que minha mãe faleceu após o parto, ele se sentiu na obrigação de sempre fazer tudo para preencher a falta que uma mãe faz.

Hoje o dia está absolutamente lindo, mas ultimamente o clima frio em Sydney persiste em dizer olá.

Arrasto uma cadeira até a parte alta do meu armário para pegar alguns suéteres e acabo encontrando uma pequena caixinha bem escondida.

Meu coração pula quando abro e encontro lá dentro meu antigo diário que ganhei do meu melhor amigo, Luke.

Folheio algumas páginas e revivo cada palavra ali escrita, as lembranças nem sempre são tão agradáveis como queríamos que fosse.

Sorrio com alguns trechos como: “Mike pintou o cabelo pela quarta vez e ainda nem é sexta feira.” Ou “Calum brigou com um garoto dois anos mais velho porque ele o chamou de asiático.”

Mas o que mais me chamou a atenção não era tão engraçado assim: “Querido diário, não sei se é assim que devo te chamar, já que nem somos íntimos ainda... O Luke me disse que você me ajudaria bastante então acho que é verdade, ele nunca mente pra mim e só quer o meu bem. Sem mais enrolações, hoje é dia 5 de novembro, ou seja, 1 dia antes do meu aniversário de 12 anos e não estou tão animada assim, a tia Liz e  meu pai sempre fazem de tudo para todos os meus aniversários serem incríveis e como eu estou crescendo, resolvi criar coragem e chamar algumas meninas da minha sala, já que meu único convidado de todos os anos é sempre o Hemmo, não que ele não seja importante, eu só queria fazer algo legal e tentar superar todas as críticas e brincadeiras malvadas que elas sempre faziam comigo [...]”

Fecho o diário e enfio dentro da minha bolsa, não quero relembrar o meu passado, ele passou e deixou muitas cicatrizes... Mas o que importa é o presente, não estou dizendo que agora tudo seja excelente, mas parei de ligar para várias coisas e tenho os 3 melhores amigos do mundo. Ok, confesso que também queria deixar de ser invisível mas é quase impossível! Talvez seja pelo meu cabelo ruivo ou pelas minhas sardas ou pelas minhas notas extremamente perfeitas ou pela minha timidez...

Um barulho de pedra jogada contra minha janela arranca meus pensamentos.

Debruço contra a sacada e ali estava Luke Hemmings e Michael Clifford rindo, como imaginei.

-Eu odeio quando você faz isso! – Grito irritada.

-Eu sei. – Luke sorri sarcástico. – Por isso eu continuo fazendo.

-Ah é? – Faço careta. – E você vai adorar receber um balde de água gelada às 7:35 da manhã, que tal?

-Luna Parker! – Luke grita e Michael corre com medo, sorrio debochadamente. – Por favor, não começa e desce logo, a escola não espera por você.

Olho para o relógio em cima da minha cama e bato na minha testa, estou completamente atrasada, não devia ter ficado sentada lendo o diário.

Ainda bem que separei minhas roupas ontem antes de dormir, visto tudo rapidamente e vou até o banheiro para escovar meus dentes apressadamente, pego meus materiais e desço as escadas quase voando.

Abro a porta e antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Michael me pergunta onde estão meus óculos. – Droga! – Jogo minha mochila nos braços dele e volto correndo para pegar meus malditos fundos de garrafa, parece que quando estou atrasada tudo começa a dar errado.

-Você disse droga? – Michael pergunta com os olhos semicerrados quando volto, essa semana seu cabelo está alaranjado, pelo visto a próxima cor será uma peruca multicolor.

-Algum problema? – Mostro a língua, ele odeia quando faço isso.

-Não sabia que boas garotas falavam palavras inadequadas. – Luke interrompe ironizando.

- Eu não sou uma boa garota. – Reviro os olhos, odeio quando me rotulam, eu apenas deixo de aproveitar a minha adolescência para ficar em casa lendo romances do tipo John Green, ok, na verdade eu sou excluída mesmo e acabei me tornando “isso”.

-Sim, você é uma boa garota. – Luke provoca.

– Ela fala francês, acho que é fluente. – Michael entra na onda do Luke, faço cara feia.

-Nossa, que incrível! – Bato palmas. – Escrevam uma música sobre isso. – Digo sarcástica.

Ainda bem que a escola é perto de casa e não vou precisar aturar os dois por muito tempo.

-Vou escrever, senhorita Parker fluente em Francês. – Mike bagunça meus cabelos.

Reviro os olhos puxando as mangas do meu suéter para cobrir minhas mãos, a brisa gelada faz meu corpo tremer.

-Falando em música. –Luke começa a falar sério e envolve os braços sobre meus ombros, acho que ele percebeu que estou com frio. – Precisamos de um baterista. 

Os meninos montaram uma banda há alguns anos, sempre tocam nas festinhas da escola que nunca sou convidada e fazem cover na internet.

-Eu conheço um, ele é filho de uma amiga da minha mãe. – Michael começa a falar com pressa quando vê uma menina que ele anda conversando na porta da escola.  

-Ui, isso vai dar namoro. – Aperto a barriga dele.

-Ai! – Michael faz careta. – Isso dói, menina linda.

-Obrigada pelo elogio, gordo. – Começo a rir mas instantaneamente paro quando Mike diz, “Linda é ela, não você” antes de correr para o lado da ficante.

- Linda é ela, não você. – Repito a frase várias vezes, fazendo drama. - Você ouviu isso, Luke?  

Luke revira os olhos mordiscando o canto inferior da boca onde se encontra um piercing, e segue em direção para sua aula de história. – Até o final da tarde, ferrugem dramática!

Mostro a língua pra ele mas sorrio por causa do apelido, ele me chama assim desde quando éramos crianças.

Minha primeira aula é de literatura, apesar do professor sempre esquecer meu nome, sou apaixonada pela matéria.

Percorro o campus da escola e avisto Calum acompanhado do nosso professor de matemática. O sinal toca impedindo que eu vá até lá cumprimenta-lo, então só aceno de longe e recebo um coração imaginário em troca.

Se eu pudesse escolher apenas uma pessoa para me fazer sorrir pela eternidade, essa seria Calum, ele tem um senso de humor incrível e contagiante.

Com o começo da primeira aula os alunos começaram a se amontoar nos corredores dificultando a passagem.

Esbarro em uma garota fazendo todos seus livros caírem no chão, isso que dá ser tímida e andar de cabeça baixa.  -Ai meu Deus, me perdoa! – Ajoelho recolhendo os livros esparramados.

-Ei, está tudo bem, não precisa se desculpar. – A garota me olha com seus grandes olhos verdes que combinam perfeitamente com os longos cabelos loiros, ela é pelo menos 1 ano mais nova que eu.

-Eu sou uma desastrada. –  Dou um pequeno sorriso desconfortável, não tenho costume de conversar com garotas.

-Esqueceram de tirar o lixo do corredor hoje. – Jasmine para diante de mim. –Uau, Lunática conversando com uma garota, já vi que ela é uma perdedora como você.

Jasmine Carter é o pior pesadelo que todas as crianças temem ter embaixo da cama, ela fez da minha infância e parte da minha adolescência um inferno e se sou assim, a culpa é dela e da sua turma ridícula.

Levanto e ajeito meus óculos, encarando Jasmine. – Pois é, esqueceram mesmo, você continua aqui.

Ok, essa não foi a melhor tirada do mundo, mas desconheço essa súbita coragem e necessidade de defender aquela garota.

-Não vou perder meu tempo com uma perdedora e sua nova aliada, tomara que o Luke Hemmings tenha consciência esse ano e pare de andar com gente do tipo você, ele merece algo melhor. – Jasmine empina o nariz e saí desfilando com sua bolsa falsificada da Lacoste.

-Vadia. – Reviro os olhos e ajudo a garota levantar do chão. – Não liga, infelizmente galinhas podem frequentar a escola.

-Eu sou Mia. – A garota sorri e aperta minha mão.

-Prazer, sou Luna ou Lunática, como preferir. – Brinco, revirando as mãos no ar.

-É... eu tenho que ir, tchau. – Mia se despede desajeitadamente.

 Confesso que senti uma coisa boa nela, ela não é como as outras. Coloco minha mochila nos ombros e caminho até a sala de aula. Vários alunos já estavam esperando o professor, eles conversavam e riam entre si. Sento no meu lugar de costume perto da janela, gosto de admirar a paisagem do outro lado.

Abri meu caderno e finjo estar lendo alguma coisa, pra não parecer tão excluída.

Percebo um silencio repentino e levanto a cabeça curiosa, todos os olhares estavam voltados para um garoto novo, ele era alto, tinha um cabelo bagunçado cor de mel e seus traços me lembravam alguma pessoa.

Mrs. Martin entrou na sala e todo mundo se ajeitou na carteira, menos o novato que continuou ali parado.

-Bom dia turma... Ah, você deve ser Aaron, certo?

-É Ashton.- O novato corrige o professor, mordo os lábios contraindo o riso.

-Tanto faz, você pode sentar bem ali... – O professor olhava a sala atentamente e eu rezava pro seu olhar não parar em mim.

-Ali, na mesa da senhorita Parker.

Ótimo! -Bufo.

-Quem? – A ruiva? – Ashton me encara.

-Isso, Luana Parker. – O professor continua apontando pra mim.

Trinco os dentes. – É Luna. – Respondi timidamente, odeio como toda vez ele confunde ou esquece meu nome, sou sua aluna desde a 1° série.

Mrs. Martin sorri, ajeita seu suspensório e volta para perto do quadro.

Ashton senta na minha mesa, bom, na nossa mesa e consigo perceber o quão lindo seus olhos são de perto.

Hoje absolutamente não é um bom dia, fico nervosa com o decorrer das horas, três aulas inteiras já se passaram e a única coisa que ganhei do meu novo parceiro foi seu absoluto silencio. Esse garoto me irrita.